Friday 30 March 2012

Bispos, gangues, prisões e 1.3 milhões para o Dalai Lama

O Dalai Lama recebeu ontem o prémio Templeton. Trata-se de um dos mais importantes prémios na área da religião/espiritualidade. Aqui podem ver o vídeo de agradecimento do líder tibetano.

O Papa falou de liberdade em Cuba, mas centenas não o puderam ouvir porque foram… presos pelo regime, precisamente para não irem às celebrações de Bento XVI.

Ainda pela América Latina, boas notícias. Dois bispos, um nas Honduras e outro em El Salvador, intervieram junto de presos e de criminosos para assegurar a paz, tendo obtido efeitos práticos. Notícias que dão gosto dar.

Dalai Lama vence prémio Templeton

A Fundação Templeton atribuiu o seu prémio de 2012 ao Dalai Lama.

O prémio Templeton, no valor de 1,3 milhões de euros, é uma das mais importantes distinções na área da religião/espiritualidade.

Leiam a notícia aqui. 

E vejam o vídeo de agradecimento do monge budista.

Wednesday 28 March 2012

Che e Bento, frente-a-frente

El Che e El Papa, frente-a-frente
Bento XVI pediu hoje mais liberdade religiosa em Cuba. O Papa falou ainda de dois dos seus temas de eleição, o relativismo e a razão na fé. Tudo aqui.

Já ontem o Papa esteve com Raul Castro e tudo indica que hoje ainda se encontre com Fidel, antes de partir. Logo à noite, por volta das 22h30, o Papa falará pela última vez. A Renascença transmitirá o discurso em directo, se puderem ouçam-no.

Depois, se puderem, aproveitem para ouvir o debate que, esta semana, é quase exclusivamente sobre a visita do Papa a Cuba. A partir das 23h30.

O Patriarca de Lisboa fará no Domingo a sua última catequese quaresmal de 2012. Para esta estão convidados os jovens.


Porque hoje é Quarta-feira publiquei no blogue mais um artigo de The Catholic Thing. Já aqui falámos muitas vezes de minorias que enfrentam dificuldades, mas Randall Smith fala daquela que será talvez a mais fortemente perseguida. 90% são mortos. Saiba de quem falamos e o que isso diz sobre a nossa sociedade.

Fraqueza que nos fortalece

Randall Smith
Teorias recentes da evolução sugerem que a antiga ideia social-darwinista da “sobrevivência dos mais fortes” não podia estar mais enganada. O que fez do homo sapiens a espécie dominante, segundo muitos biólogos actuais, é precisamente a nossa capacidade de cooperar, agir de forma altruísta e de proteger os membros mais fracos da tribo.

Esta teoria torna ainda mais incompreensíveis os actuais esforços da comunidade médica no sentido de purificar a “piscina” genética através da eugenia. Actualmente, por exemplo, 90% dos bebés por nascer diagnosticados com Síndrome de Down são abortados. De facto, há forças poderosas que já anunciaram repetidamente a sua intenção de erradicar as crianças com Síndrome de Down nos próximos anos. Não se referem ao tratamento da condição, querem erradicar as crianças, abortando-as depois de as diagnosticarem.

As mulheres perguntam-me frequentemente se é verdade que a lei as obriga a fazer uma amniocentese, porque os médicos disseram que sim. A resposta a esta pergunta é, (por ora), não. Mas as pessoas insistem que sim por duas razões: primeiro porque se querem defender – isto é, não querem ser processadas se vier ao mundo uma criança que a mãe preferia ter abortado (o termo para isto é “vida injustificada”). Em segundo lugar, talvez queiram juntar-se ao movimento eugenista que está actualmente a tentar erradicar aqueles que considera terem “vidas indignas de serem vividas”.

Este termo, “vidas indignas de serem vividas” (Lebensunwertes Leben), era usado pelos médicos alemães para descrever crianças com atrasos mentais nos anos 30, enquanto desenvolviam métodos de “eutanásia” que seriam o primeiro passo na erradicação de todos estes “indesejáveis”, a caminho da “Solução Final”.

O que é que torna estas crianças tão ameaçadoras que alguns querem que sejam totalmente erradicadas? Porque é que nos incomodam tanto? Permitam-me um pequeno impulso freudiano: Eu acho que é porque nos revemos neles. Isto é, revemos os momentos mais embaraços das nossas vidas: Quando deixámos cair o tabuleiro na cantina e toda a gente se riu e bateu palmas, quando não sabíamos a resposta que toda a gente sabia, quando nos comportámos da mesma maneira de sempre, acabando por descobrir que era muito “pouco fixe” e todos os miúdos fixes reviraram os olhos em desprezo.

Estas crianças somos nós no nosso estado mais fraco, mais vulnerável, mais envergonhado. E ninguém quer parecer ou sentir-se assim. De facto, o medo de passar vergonhas é talvez uma das razões pelas quais, em estudo após estudo, o medo de falar em público ultrapassa em muito o medo da morte nas prioridades dos inquiridos. “Aqueles a quem os deuses pretendem destruir, primeiro envergonham”. Estas crianças ferem-nos no nosso ponto mais fraco e preferimos não olhar para essa parte do nosso ser.

É precisamente por isso que elas são dos maiores dons de Deus para a humanidade. Recordemos Paulo: “Quando sou fraco, então é que sou forte.” Assim é connosco também. Quando conseguimos olhar aquela parte de nós que é fraca, vulnerável e socialmente desajustada e dizer: “Sim, também isto é amado por Deus, também isto é santificado por Deus”, então estaremos finalmente no caminho da saúde e do desabrochar da nossa humanidade.

Eu temo uma cultura que queira erradicar as crianças com Síndrome de Down e os deficientes mentais, e todos os que não são fortes, activos e produtivos. Temo-a porque os promotores de uma tal cultura estão a tentar matar aquilo que é mais humano em nós. Cuidar e viver com crianças com Síndrome de Down humaniza-nos: ensina-nos a amar desinteressadamente, como Cristo nos amou. Ensina-nos a amar-nos a nós mesmos, mesmo aquelas parte de nós que preferíamos que os outros não vissem, que nós mesmos preferimos não ver.


Precisamos destas crianças entre nós. Precisamos delas mais do que precisamos do mais recente iPad ou “smart” phone. Daqui a cem anos ninguém vai querer saber da nossa tecnologia, como os meus alunos se estão a marimbar para a tecnologia francesa do século XVIII ou alemã do século XIX. O que vai mesmo fazer diferença é a forma como tratámos os mais fracos e vulneráveis de entre os nossos.

Se cumprirmos fielmente esse chamamento, então a nossa será uma cultura que merece ser recordada. Se valorizarmos a nossa capacidade tecnológica acima de tudo o resto, e tivermos tal sucesso nesse campo que não deixamos espaço nas nossas vidas para os mais desfavorecidos, seremos recordados da forma como recordamos a Alemanha dos anos 30: puseram os comboios a andar a horas – depois usaram-nos para transportar seis milhões de judeus e outros “indesejáveis” para os campos de concentração.

No fim de contas Deus é o nosso único verdadeiro espectador e comparado com ele, o Criador do Universo, temos a capacidade intelectual de uma minhoca. Mas Ele consegue amar-nos apesar disso. Nunca estamos mais próximos dele, do que quando abraçamos aquela parte de nós que podemos ver nas crianças com Síndrome de Down: Simples, cheio de alegria, vulnerável.

Estas crianças precisam da nossa ajuda, mas nós precisamos mais delas. Elas tornam-nos humanos. O maior presente que Deus dá àqueles que estão cheios de presunção é o dom da humildade. Como disse, e bem, o poeta T.S. Elliot: “A única sabedoria que podemos esperar alcançar é a humildade: a humildade é infinita.”

Hoje [dia 21 de Março] é o Dia Mundial de Síndrome de Down. Perca cinco minutos e veja o vídeo feito pela Coligação Internacional de Síndrome de Down pela Vida [abaixo]. Serão os melhores cinco minutos da sua semana.

Veja o vídeo e dê graças a Deus por estas crianças. Depois reze por uma cultura que é suficientemente humana para as acolher e não insensata ao ponto de as erradicar – juntamente com a sua própria alma – no seu esforço de alcançar a “força” física e a “pureza” genética perfeitas. Esse caminho não traz senão loucura.


Randall Smith é professor de teologia na Universidade de St. Thomas, Houston.

(Publicado pela primeira vez na Quarta-feira, 21 de Março 2012 em www.thecatholicthing.org)


© 2012 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução contacte: info@frinstitute.org

The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.

Tuesday 27 March 2012

Papa nas entrelinhas, Kiril directo ao assunto

"Não conhecem a sensação de
nos arrancarem os crucifixos à força” 
O Papa continua em Cuba e hoje fez um discurso que, quanto a mim, é para se ler nas entrelinhas. Ora vejam.

Mas porque nem só de Papa vive a actualidade religiosa, temos notícias de outras paragens. Na Tunísia, por exemplo, o Governo pôs de parte a ideia de incluir referências à “Sharia” na Constituição.

Se há países que tudo fazem para promover as causas de beatificação ou canonização dos seus cidadãos, outros há em que tudo se faz para dificultar. É o caso do Vietname…

E o Patriarca de Moscovo criticou hoje aqueles que, no Reino Unido, procuram obrigar as pessoas a retirar os seus símbolos religiosos. Palavras fortes de Kiril, mas cheias de sentido.

Finalmente, há vários dias foi publicado um texto da minha autoria no site do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura. Em resposta à pergunta “O que é mais importante (criar, manter, repensar) na relação da Igreja com a Cultura?”, respondi que “A Igreja tem de reconciliar-se com a sua própria cultura”.

O texto publicado no meu blogue tem a vantagem de não estar escrito segundo o acordo ortográfico!

A Igreja tem de reconciliar-se com a sua própria cultura

Quem quer ter uma relação profunda com alguém deve primeiro estar em paz consigo mesmo. Por essa razão, diria que a coisa mais importante a fazer neste campo é a Igreja reconciliar-se com a sua própria cultura.

Não estamos a falar de uma instituição que nasceu ontem, ou há uma década. A Igreja tem dois mil anos de cultura, fora outros tantos milhares que herdou da civilização judaica no seio da qual nasceu. Durante centenas de anos esta Igreja não só interagiu com a cultura dominante como foi a sua principal impulsionadora e mecenas.

Este estado de coisas levou a uma certa reacção. O mundo da cultura revoltou-se contra a Igreja e toda a tradição cristã, ao ponto de ambos os universos terem ficado quase de costas voltadas. Mas a revolta não se deu só do lado da cultura, também a Igreja se revoltou, em larga medida, contra si mesma. Um mal definido “espírito” do Concílio Vaticano II foi interpretado por muitos como uma licença para ignorar dois milénios de cultura católica, na vã esperança de que diluindo essa identidade a instituição se tornasse mais apelativa a quem tinha criado anticorpos a tudo quanto era clerical.

Modernizou-se a liturgia, tudo bem. Mas era preciso criar um clima em que o mero interesse pela liturgia antiga fosse vista praticamente como crime? Quantas dioceses em Portugal aplicaram o Summorum Pontificum? Não é por falta de interessados.

Existem na Igreja Ocidental três dioceses que têm o privilégio de usar uma variante distinta do rito romano. Milão, Toledo e Braga. Os dois primeiros cultivam e protegem essa riqueza. Por cá, quantos dos leitores já assistiram a uma celebração do rito Bracarense?

Damos por nós, enquanto Igreja, a incentivar os cristãos orientais a redescobrirem as suas raízes e a manterem as suas tradições e culturas distintas (e que fontes de riqueza são!), ao mesmo tempo que fechamos os olhos a séculos de cultura litúrgica e espiritual ocidental. Sempre achei a pior forma de paternalismo lutar pela cultura alheia enquanto tudo se faz para suprimir a nossa, dando a ideia que somos muito modernos mas que os outro devem ser preservados, quais peças de museu, para podermos observar e admirar.

Mais grave, ao abandonar a nossa herança permitimos que estes domínios se tornem bandeira quase exclusiva de movimentos tradicionalistas, e por vezes cismáticos, de carácter frequentemente duvidoso.

Hoje em dia percebemos cada vez melhor que não podemos ir ao encontro de outros sem conhecer algo sobre eles. Vemos a um ritmo quase diário o custo da falta de preparação cultural de agentes ocidentais que actuam em regiões como o Médio Oriente ou, para citar um caso mais recente, no Afeganistão.

Não temos então a obrigação de nos reconciliarmos com a nossa própria cultura? Familiarizar-nos com ela, explorá-la, recuperar o que for para recuperar, antes de nos sentirmos capazes de olhar nos olhos os nossos interlocutores do mundo da cultura?

Penso que sim. Sei que há uma nova geração, quer de leigos quer de padres, menos próximos do Concílio e que rejeitam o ambiente de ruptura que dele surgiu em muitos lados. Caberá a estes cristãos pôr fim a uma guerra fratricida com o qual não nos identificamos e que apenas prejudica a Igreja. Acredito mesmo que é urgente fazê-lo, sob pena de o mundo cultural nos considerar insignificantes e não ver qualquer utilidade em dialogar connosco.

Filipe d’Avillez

Monday 26 March 2012

Bento de Sombrero, a Igreja e Cuba e 30º imolado tibetano

A viagem de Bento XVI ao México domina absolutamente as notícias religiosas. Não há espaço para elencar todas as notícias, mas pode ver as mais importantes aqui.

Hoje o Papa vai a Cuba. É uma vista importante também a nível político, e constitui a primeira visita de Bento XVI a um país comunista. Hoje falei com a antropóloga Diana Espírito Santo, que nos ajuda a compreender a relação entre Cuba e a religião. Podem ler a transcrição completa da entrevista aqui.

Noutros assuntos, as auto-imolações dos tibetanos passaram as fronteiras. Na Índia um homem tibetano tornou-se o 30º a incendiar-se em protesto contra a China.

E ontem foi dia de catequese quaresmal, dedicada de forma especial a políticos, o Patriarca falou da coragem necessária para tomar decisões à luz da fé.

Havana e Religião: Se não os puderes vencer, junta-te a eles

Diana Espírito Santo com um curandeiro tradicional, em Cuba
Diana Espírito Santo é antropóloga Social e investigadora no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.

Especialista em religião popular cubana, ela ajuda-nos a compreender como se vive a religiosidade num dos últimos países comunistas do mundo

Aqui deixo a transcrição integral da entrevista. Para ler a notícia clique aqui.


Como é que o povo cubano vive a religiosidade?
É um povo que, ao contrário daquilo que se pensa, tem uma religiosidade bastante aprofundada, que não desapareceu ao fim destes anos todos, e que por um lado é mal documentada e por outra continua a existir de uma maneira muito forte e muito popular.

Há números?
Só houve dois censos minimamente fiáveis. O primeiro foi em 1954 pela Agrupacion Católica Universitária e que mostrou 72,5% da população a declarar-se católica, em vários graus de compromisso; 19% declarou-se indiferente, 6% protestante e 1% espírita, o que deve incluir praticantes da religião afro-cubana.

Em 1988 foi o próximo e já mudou muito a estatística. Foi do Departamento de Estudos Socio-religiosos. 55,9% disse acreditar nalguma coisa de conteúdo mágico, mas que não pertence a nenhum grupo organizado; 13,6% dizem que são crentes em algo sobrenatural, em milagres, e 6,3% dizem que pertencem a um grupo especificamente religioso. Finalmente 13,8% são não-crentes e 10,4% não determinados. Mas este censo tem um problema, é que até bastante tarde nos anos 90 havia muito pouca possibilidade de se declarar religioso sem consequências. Não se podia ser praticante católico ou de religião afro-cubana e ao mesmo tempo ter-se acesso a muita coisa, como ser membro do partido, por exemplo, eram dificultadas as possibilidades de trabalho, de acesso à universidade, ou seja há um grande incentivo para não declarar, não havia instituições religiosas nessa altura.

E como tem sido a evolução da relação com a Igreja Católica?
Fidel Castro teve uma relação muito complicada com a Igreja Católica, no princípio da revolução houve vários passos dados pela Igreja que demonstravam uma certa aliança com os poderes neo-coloniais dessa altura, com a ditadura, e logo após a revolução, também. A Igreja foi instrumental em tirar do país uma série de crianças, na operação Peter Pan, derivada do medo instalado na Igreja de que o Regime ia mandar as crianças para campos de reeducação na União Soviética e que iam levar uma lavagem cerebral e ser separadas dos pais, que era a antítese do que se pretendia.

A Igreja demonstrou-se oposta aos ideais da revolução e Fidel consolidou esse antagonismo depois do fiasco da Baía dos Porcos, em que alguns dos que foram detidos, que tinham sido treinadas pela CIA, eram padres católicos. Castro, em 1961, tem uma viragem completa contra a Igreja, fecha seminários, invalida títulos de universidades católicas e deporta padres. Muitos dos padres nessa altura e foram expulsos, ou presos.

Freira católica em Cuba (Foto Diana Espírito Santo)
O que é que se passa para que haja a abertura nos anos 90?
É simplista dizer que foi só a queda do regime soviético, mas Cuba tinha uma dependência quase a 100% do Comecon e ficou completamente devastada, passou por uma época de crise chamada “o período especial”, que desencadeou uma série de outros fenómenos. As pessoas estavam sob enorme pressão e a religião tornou-se não só um ponto de escape espiritual e existencial, mas também de apoio económico e social.

Sobretudo entre as religiões afro-cubanas, as redes que sempre existiram forneciam uma espécie de família que era uma fonte de apoio e de comida, até.

Ao mesmo tempo abriu-se um bocado o país nessa altura, para turismo, para intercâmbios culturais. Fidel disse, em 91, que não havia opção se não abrir o país.

A partir daí as coisas começaram a progredir muito rapidamente. No congresso de 1992 do partido salientou-se que era preciso dar mais liberdade às pessoas de exprimirem-se, porque o projecto comunista de aniquilação das crenças religiosas não tinha resultado.

O Comunismo pensou que a crença religiosa era uma questão de falta de conhecimento, de educação, de recursos, e afinal não era. Ao fim de 30 anos de comunismo as pessoas estavam a praticar mais até do que antes do comunismo, então o regime decidiu aliar-se a isso e não opor-se. Isso foi das primeiras fortes mudanças de atitude.

Durante os anos 90 foi-se cultivando essa liberdade religiosa e em 98 quando veio o Papa João Paulo II foi a cristalização desse processo todo. Foi extraordinário, foi recebido por milhares de pessoas em Havana, foi recebido por Fidel Castro sem farda, um acto de reverência. Disse que não aprovava o embargo americano e por outro lado pediu ao regime que fosse mais tolerante com os religiosos, de toda a espécie. E Fidel prometeu que iria ser mais tolerante e mais flexível, e foi. Os anos 2000 foram completamente diferentes. 

Friday 23 March 2012

Papa a caminho da América Latina, Laboratórios e Feriados

Pope Says No...
Bento XVI está a caminho do México. A viagem é longa e quando chegar vai passar a maior parte do Sábado a descansar. Mas no avião o Papa já criticou o modelo comunista de Cuba (para onde vai a seguir), e falou da violência no México.


Ontem o Patriarca de Lisboa esteve num debate sobre ciência e fé e disse que há “verificações que não se podem fazer nos laboratórios”. À margem do debate falou ainda da questão dos feriados religiosos.


Dois avisos de agenda, ambos para amanhã. Durante todo o dia, na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, realiza-se o “Verdade ou Consequência”, descrito pelos organizadores como um TED católico.

Em Lisboa, pelas 16h, na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, podem assistir à leitura de excertos das Confissões, de Santo Agostinho, com acompanhamento musical de Rão Kyao.

Um TED católico

Clicar para aumentar

Thursday 22 March 2012

O caso dos 20 mil católicos desaparecidos em Viseu

D. José Policarpo quer que os políticos e gestores compareçam na Sé para ouvir a sua Catequese Quaresmal, que lhes é dedicada.

Já o bispo de Viseu quer descobrir por onde andam os 20 mil católicos que deixaram de ir à missa nos últimos 10 anos

Hoje faz 700 anos que a ordem dos Templários foi extinta. O principal responsável terá sido Filipe “o Belo”, não confundir com este vosso humilde servo.


E notícias tristes, também. Morreu ontem o padre que era, na altura, o mais velho do País. O cónego Sezinando (na foto) tinha 100 anos e 8 meses.

Ontem como prometido foi colocado o artigo desta semana de The Catholic Thing. Este é interessante sobretudo para quem se questiona sobre a utilidade do jejum nesta altura da Quaresma.

E termino com um aviso. Amanhã, aqui mesmo na Renascença, na Rua Ivens 14, é apresentado o livro “Francisco e Jacinta de Fátima, duas estrelas na noite do mundo”, de Jean-François de Louvencourt. O lançamento é às 18h e a entrada é livre, apareçam!

Wednesday 21 March 2012

Jejum Quaresmal: Guerra Espiritual

Por David G. Bonagura Jr.
Aguentar este período do meio da Quaresma é um dos maiores desafios da vivência católica. O entusiasmo inicial pela penitência e reforma pessoal esvaneceu, e a Páscoa ainda está no horizonte distante. O estômago começa a dar horas e o corpo acusa a falta de comida, bebida e outros prazeres de que abdicámos. No meio do sofrimento perguntamos, “mas afinal de contas, para o que é que serve o jejum?”

Encontramos a resposta na própria liturgia. No quarto prefácio para a Quaresma (que é igual ao único prefácio da forma extraórdinária do Rito Romano [vulga missa tridentina]), rezamos a Deus: “Pela penitência da Quaresma, corrigis nossos vícios, elevais nossos sentimentos, fortificais nosso espírito fraterno e nos garantis uma eterna recompensa.” Negar os prazeres mundanos ao nosso corpo resulta em benefícios espirituais. Libertos dos desejos do mundo, concentramo-nos mais intensamente em ultrapassar o pecado e caminhar em direcção ao Senhor e às graças prometidas pelo mistério Pascal.

Claro que isto é o ideal. Mas no meio da fome e provação facilmente damos por nós a lamentarmo-nos da nossa miséria em vez de elevarmos os corações a Deus. Pior, o sentido de pena induzido pelos nossos actos de piedade podem mesmo espicaçar os nosso vícios em vez de os suprimir. Como, então, é que o jejum quaresmal pode promover o crescimento espiritual em vez do desejo pelos bens de que temporariamente abdicámos?

Na sua magnífica exegese da Quaresma, em “The Church’s Year of Grace” , o teólogo alemão Pius Parsch compara a Quaresma à guerra espiritual. A Quaresma é, sem dúvida, uma luta entre o reino de Deus e o reino de Satanás. Mas é ao mesmo tempo um combate que se trava noutra frente: dentro da alma de cada um. Neste campo de batalha defrontam-se as nossas naturezas altas e baixas, isto é, o espírito – a vida sobrenatural da alma – e a carne – a natureza humana, enfraquecida pelo pecado original (cf. Gálatas 6,8).

Parsch leu o prefácio quaresmal à luz desta batalha e da afirmação de Jesus de que não podemos servir a Deus e a Mamon. Este inclui os vícios de certos prazeres sensuais, referidos no prefácio quaresmal. O propósito da Quaresma é exirpá-los. A contenda entre Jesus e Satanás no deserto – que lemos anualmente no primeiro Domingo da Quaresma – propõe um modelo para a nossa luta. Como Jesus viria a explicar mais tarde no seu ministério, Satanás – e com ele o pecado – apenas pode ser expulso com uma combinação entre oração e jejum.

Nem todos os prazeres sensuais são vícios, mas mesmo os prazeres mais nobres podem-nos consumir a mente e desviar-nos de Deus. Quando negamos voluntariamente estes prazeres bons o espírito, agora menos sobrecarregado, pode reorientar-se para o divino. A nossa natureza caída, sedenta dos seus desejos, esbracejará em protesto e sentiremos a nossa determinação a fraquejar, mas temos de nos lembrar que estamos em guerra, e continuar a marcha.

O sucesso contra o prazer sensual deve então dar lugar à luta contra um inimigo mais traiçoeiro que é o orgulho. Mais uma vez, Parsch explica como se trava esta batalha:

A abstinência dos prazeres sensuais dá força à alma. Os prazeres do corpo são como chumbos que prendem a alma à terra; quando são removidos a alma eleva-se, qual balão, para as alturas celestiais. Agora percebe-se a importância da moderação, castidade e virgindade para o reino de Deus. O jejum, portanto, eleva a mente e concede à alma o poder de praticar as virtudes e de alcançar a santidade. Por fim, ajuda-nos a atingir a coroa da glória eterna.

Pius Parsch

A vontade é, portanto, a mais importante arma do nosso jejum quaresmal, mas só por si não é capaz da vitória total. A vontade deve ser fortificada pela oração e purificada pela confissão sacramental. As graças recebidas não destroem o inimigo, isto é, a tentação de pecar e de quebrar as nossas resoluções por Deus. Antes, elas ajudam-nos na nossa luta e tornam possível a vitória.

Uma aluna contou-me certa vez que o seu pároco aconselhou-a a não abdicar de nada durante a Quaresma, não fosse, na Páscoa, estar demasiado preocupada em consumir toda a comida de que se tinha abstido para poder concentrar-se na Ressurreição. Esta sugestão bem intencionada ignora a nossa natureza corporal e, como tal, remove a Quaresma do campo de batalha da santidade, optando antes por uma abordagem demasiado espiritual.

Quando jejuamos o nosso corpo reza juntamente com a nossa alma e aprendemos que só o pão celeste pode satisfazer os nossos mais profundos desejos. Nas palavras de Bento XVI, o “verdadeiro jejum significa comer o ‘verdadeiro alimento’, que é cumprir a vontade do Pai (cf Jo 4,34).” A Páscoa é o grande triunfo da vontade do Pai. A nossa alegria por partilhar desse triunfo é enaltecida quando oferecemos ao Senhor ressuscitado a nossa vitória no campo de batalha da Quaresma.

Com cada contracção de fome a que resistimos e com cada acto penitencial que cumprimos, os nossos corpos subjugados gritam por conforto físico. Os gritos apontam-nos a Páscoa, que nos dá a graça de conquistar o pecado e viver a vida do espírito. Orientando os nossos corpos quebrados por esta alma mergulhada em graça, sejamos considerados dignos do jejum que o Senhor empreendeu pela nossa salvação.

David G. Bonagura, Jr. é professor assistente de teologia no Seminário da Imaculada Conceição, em Huntington, Nova Iorque.

(Publicado pela primeira vez no Sábado, 17 de Março 2012 em www.thecatholicthing.org)


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Tuesday 20 March 2012

México, Golfo Pérsico, Irlanda e Egipto


Foi hoje a sepultar Shenouda III, Papa da Igreja Copta Ortodoxa. Milhares de pessoas estiveram presentes no funeral, incluindo uma delegação do Vaticano.

Também hoje foi divulgado o relatório de uma visitação apostólica à Irlanda, sobre os abusos sexuais praticados por membros da Igreja. Recomenda-se mais atenção aos fiéis, mas também mais fidelidade ao Magistério.

O Conselho das Conferências Episcopais da Europa alerta para o aumento da perseguição anticristã na Europa, mais ou menos na mesma altura em que o 14º muçulmano mais influente do mundo apela à destruição de todas as igrejas no Golfo Pérsico.

Os rebeldes que “estão no Céu” e os Bispos que “estão no Inferno”

Hoje realiza-se, em Roma, a ante-estreia do filme “Cristada”, que está na forja há pelo menos dois anos.

O filme aborda a guerra dos Cristeros, uma força paramilitar composta por católicos que se levantaram contra o regime anticlerical do México.

Os Cristeros combatiam sob o estandarte de Cristo Rei e muitos foram martirizados, entre eles alguns são santos da Igreja Católica.

O movimento Cristero está para o século XX como a revolta da Vendeia está para a época da Revolução Francesa.


O ano passado, no âmbito do congresso sobre os 100 anos da separação entre Igreja e Estado, que se realizou na Universidade Católica, tive a oportunidade de entrevistar Laura O'Dogherty Madrazo, historiadora da Universidade Autónoma de México.

Ela explicou da seguinte maneira o enquadramento da insurreição cristera:

Depois da revolução de 1910 aprovou-se uma Constituição que tinha uma série de artigos anticlericais, como por exemplo que o Estado poderia limitar o número máximo de clérigos de cada Igreja. O primeiro sítio onde esta lei foi posta em prática foi em Guadalajara, e as pessoas manifestaram-se pacificamente contra a sua implementação, conseguindo que ela fosse revogada. Uma das medidas tomadas em protesto foi a supressão do culto por parte da Igreja.

Em 1926 o Estado procura implementar a mesma lei, e a Igreja tenta combatê-la da mesma forma, declarando a suspensão do culto. Mas nesta altura já tinha havido muitos anos de anticlericalismo, e penso que foi isso que provocou um levantamento popular nas zonas mais católicas.

Como é que a situação foi resolvida?
A Igreja hierárquica nunca aprovou o levantamento armado, salvo algumas excepções isoladas. A partir do momento em que começa o levantamento alguns bispos procuram intervir, juntamente com Roma, para alcançar a paz.

Mas para o cristeros, negociar com este Estado era como negociar com o demónio. As negociações culminam em 1929 com um acordo que não anula as leis anticlericais mas deixa subentendida uma aplicação mais lata das mesmas.

Os cristeros não estão de acordo, mas a partir do momento em que volta a haver o culto, em que as Igrejas reabrem ao culto, os cristeros depõem as armas.

Voltará a haver um levantamento na década de 30, também por causa do anticlericalismo.

Em meu entender os cristeros perderam. Perderam, não por terem sido derrotados pelas armas, mas porque foram traídos pela hierarquia da Igreja.


Certa vez, num jantar em que se falava deste assunto, um padre meu conhecido exclamou, com um estilo muito próprio: “Os bispos traíram os fiéis. Neste momento, os bispos estão no Inferno e os cristeros estão no Céu”…

Filipe d'Avillez

Monday 19 March 2012

Shenouda III RIP e a "hora dos cristãos" na Síria

Morreu Shenouda III, Papa da Igreja Copta Ortodoxa. Tinha 88 anos e liderava esta Igreja há mais de 40 anos. Leia aqui a reportagem com uma biografia bastante completa.

Neste video pode ver como os ortodoxos orientais prestam homenagem aos seus patriarcas falecidos.

Renascença V+Ver todos os videos
Milhares de coptas formam filas para se despedirem de Shenouda III

Rádio RenasceçaMais informação sobre este video

Para mais informação sobre os coptas, leia este post, entretanto actualizado.

Ali perto, na Síria, o núncio apostólico considera que “chegou a hora dos cristãos” naquele país. Optimismo!

Tragédia em França, onde alunos de uma escola judaica foram assassinados a tiro esta manhã. Aqui têm a notícia principal, podem seguir os links para os desenvolvimentos.


Já D. Manuel Clemente falou, no Sábado à noite, sobre a importância de defender a vida com gestos concretos.

Friday 16 March 2012

Anglicanos, Lefebvrianos e jornais diocesanos

Mais velho que Rowan Williams e sem vontade de resignar
Hoje, nem sei bem por onde começar!

O Arcebispo de Cantuária anunciou que vai renunciar ao cargo em Dezembro deste ano. Falámos com o bispo anglicano de Portugal e com o padre Peter Stilwell sobre o assunto.

Os interessados podem ler no blogue a transcrição completa das entrevistas a D. Fernando e ao Pe. Peter.

Novidades nas negociações entre a Igreja Católica e os “lefebvrianos”. A bola volta para o campo da Sociedade de São Pio X.

Confirmou-se hoje que Bento XVI vai mesmo ao Líbano, como já se suspeitava. A viagem decorrerá em Setembro.

A Congregação para a Doutrina da Fé criou um site para facilitar a consulta dos seus documentos. Já os assistentes espirituais e religiosos dos hospitais portugueses, de diversas confissões, ficaram-se por um livro de bolso.

Este fim-de-semana é lançado um CD sobre Fátima e a Eucaristia, que contém orações nunca antes musicadas.

E terminamos em Évora, onde o jornal diocesano está prestes a completar 89 anos, apesar dos tempos difíceis, querem continuar!

Rowan Williams é um dos maiores teólogos do mundo, a par de Bento XVI

Transcrição completa da entrevista a D. Fernando Luz Soares* sobre a anunciada renúncia do Arcebispo de Cantuária. Veja a notícia aqui.

  
Ficou surpreendido com esta notícia?
Já desde o ano passado que havia rumores. Ele próprio foi questionado directamente sobre isso, ele nunca disse que sim nem que não, mas havia rumores que agora se vieram a concretizar.

Já nessa altura o que se dizia era que iria renunciar a Arcebispo de Cantuária para se dedicar à reitoria de uma faculdade de teologia em Cambridge.

Conheceu pessoalmente o Arcebispo de Cantuária, fica com pena desta renúncia?
Eu nunca trabalhei com ele directamente enquanto Arcebispo de Cantuária. Trabalhei com o anterior, porque eu fui membro do Conselho Consultivo Anglicano desde 93 a 99. Mas com este nessa minha função tive contactos directos. Recordo-me disso, na altura era primaz da Igreja do País de Gales. Ele esteve em Portugal em 2000, 2001, nessa qualidade.

Encontrei-me várias vezes com ele, por exemplo na última Conferência de Lambeth em 2008 [encontro de todos os bispos anglicanos, que se realiza de 10 em 10 anos] e em outras ocasiões mas de uma forma mais fugaz, já que normalmente o bispo da Igreja Lusitana e convidado a participar nos encontros entre os bispos anglicanos de Inglaterra, País de Gales, Escócia, Irlanda e Espanha e Portugal.

Por um lado tenho pena que ele tenha resignado, se bem que poucos mais anos teria. Mas tenho pena porque ele trouxe um outro perfume ao modo de encarar as circunstâncias difíceis com que a Igreja Anglicana está a lidar. Problemas derivados da homossexualidade, a ordenação de mulheres e de homossexuais. Ele trouxe um perfume particular à discussão desses assuntos, porque ele era um homem de uma grande espiritualidade e de uma grande capacidade teológica.

Ele era dos melhores teólogos do mundo. O outro dia vi que alguém tinha escrito, sobre o encontro recente dele com Bento XVI, que estariam ali os dois melhores teólogos do mundo. Provavelmente será assim.


Do que eu pude recolher de várias intervenções em que esteve presente é de um homem que respira teologia, que tem uma sensibilidade particular pra a exegese bíblica, um homem que tem uma sensibilidade particular para a exegese bíblica, para todo um conjunto de situações. Às vezes temos teólogos que são excelentes na teoria, mas ele tem essa facete de por a teologia ao serviço da própria vida, ele tem uma ligação extraordinária entre a teologia e a vida de cada um. Por isso eu tenho pena.

Agora, considero também que o Rowan Williams é um homem que está talhado exactamente para a pedagogia, para o ensino, para a reflexão, para a liderança no contexto da razão, mas acho que nalguns aspectos da vivência prática, de uma liderança como é a do Arcebispo de Cantuária, acho que ou por ele mesmo ou por má informação ou acompanhamento das pessoas que o ajudavam, houve coisas que não correram muito bem. De qualquer maneira respeito plenamente a decisão dele.

Arcebispo John Sentamu
Fala-se na possibilidade de ser sucedido por John Sentamu, Arcebispo de York, parece-lhe uma boa escolha?
Eu conheço também o Arcebispo Sentamu, é uma pessoa completamente diferente de Rowan Williams, é um homem que se fez a ele próprio, ele era juiz no Uganda, um homem com grande projecção social no seu pais de origem.

É um homem muito simples, mas em Inglaterra estamos perante uma sociedade que ainda vive alguns daqueles tiques, de uma certa aristocracia, uma certa estrutura conservadora, as pessoas olham-no com respeito, com consideração, mas creio, por aquilo que são os comentários que ouço… acho que há algumas dificuldades.

Nos últimos anos, tanto quanto me lembro, nunca houve um Arcebispo de York que sucedesse a um Arcebispo de Cantuária. Não é uma regra. Só espero que o Espirito Santo nos dê alguém que nos ajude a encontrar caminhos para que as pessoas descubram o rumo e possam orientar as suas lideranças à luz da função cristã.

* D. Fernando Luz Soares é líder da Igreja Lusitana, ramo português da Comunhão Anglicana

“Não sei se haverá quem o possa manter a Comunhão Anglicana unida”

Transcrição completa da entrevista ao padre Peter Stilwell*, sobre a anunciada renúncia do Arcebispo de Cantuária. Veja a notícia aqui.

Esta renúncia é o assumir de uma derrota por não ter conseguido conciliar liberais e conservadores no seio da Igreja Anglicana?
Não, os arcebispos de Cantuária tradicionalmente renunciam ao cargo, penso que aos 65 anos. Não sei bem que idade é que ele tem, mas está dentro do tempo considerado normal para os arcebispos de Cantuária renunciarem. O que acontece é que essa divisão que atravessa a Comunhão Anglicana tem sido uma preocupação para os vários sectores e há conversas de bastidores na comunhão anglicana de que de facto ele não tem sido capaz de fazer a ponte entre os diversos sectores.

O seu sucessor terá dificuldades também nesse aspecto…
A função do Arcebispo de Cantuária é ser mais um primus inter pares, ele tem igualdade de estatuto com os outros bispos anglicanos, mas tem a função de tentar conciliar as partes, de falar com elas e criar pontes entre os diversos sectores. Não sei se haverá quem o possa fazer neste momento, porque as posições estão extremadas sobre assuntos que parecem tocar mesmo o coração das questões doutrinais e morais.

Portanto não é fácil ver como é que se consegue criar uma abrangência tal para posições aparentemente antagónicas que se possam dizer ainda em comunhão e como é que se vai evitar que a comunhão se fragmente entre sectores que aceitam uma forma de doutrina ou uma forma de aplicar o entendimento do ministério sacerdotal e episcopal.

Vamos ter de esperar para ver qual é o homem providencial que a Igreja Anglicana vai escolher.

Qual é o Estado actual do diálogo ecuménico entre anglicanos e católicos, e que papel teve Rowan Williams nesse campo?
O diálogo ecuménico processa-se em diversos níveis. Um dos níveis é através da amizade e fraternidade entre diversas comunhões. A esse nível o Arcebispo Rowan Williams mostrou grande dignidade e mestria, inclusivamente quando o Vaticano anunciou a criação de um ordinariato para acolher anglicanos que quisessem entrar na Igreja Católica. Isso foi anunciado de uma forma pouco cuidada, poderíamos dizer, visto de fora, porque o Arcebispo de Cantuária nem sequer tinha sido devidamente avisado do anúncio, embora soubesse que havia algo a ser preparado. No entanto reagiu com grande dignidade e sem criar maiores atritos por causa dessa falta de cuidado.

Outro nível é doutrinal, nesse nível as igrejas Anglicana e Católica mais ou menos esgotaram os grandes temas doutrinais sobre os quais se debruçaram. Encontraram sintonia em todos eles, mas ficaram em suspenso novos problemas que surgiram entretanto, como a ordenação de mulheres e a questão de aceitar ou não os ministros que estivessem numa relação homossexual. Isso são questões que ferem a própria comunhão anglicana e sobre as quais não me parece haver qualquer possibilidade de diálogo com a Igreja Católica.

* O padre Peter Stilwell é responsável pelo diálogo ecuménico no Patriarcado de Lisboa. Como o nome indica, é filho de ingleses (católicos), mas nascido em Portugal. Por uma questão de transparência, acrescento que o padre Peter é meu tio.
Filipe d'Avillez

Thursday 15 March 2012

O mistério da mesquita, excepções só para alguns e medo em Angola

Imã da mesquita incendiada,
que morreu por inalação de fumo
Terão ouvido falar certamente na mesquita atacada na Bélgica. O incidente deu-se na Segunda-feira, mas as motivações do autor permanecem misteriosas.

Os bispos americanos estão unidos e concentrados na defesa da liberdade religiosa. Soube-se entretanto que o Governo isentou os Amish e outros grupos de cumprir a polémica lei. A Igreja Católica não teve tanta sorte!

O porta-voz da Conferência Episcopal de Angola diz que o aumento do número de portugueses naquele país pode vir a ser um problema.


Banda feminista em maus lençóis por “oração punk” em catedral

Não se sabe ao certo se o objectivo da banda punk feminista russa, que dá pelo nome de Pussy Riot, era de protestar contra alguma coisa ou de chocar, mas neste momento pelo menos três membros da banda estão detidas.

O “concerto” que a banda diz ter sido uma “oração punk” teve lugar no dia 21 de Fevereiro. Membros da banda entraram na Catedral de Cristo Salvador, em Moscovo, aproximaram-se da iconóstase, que separa a nave principal das igrejas ortodoxas do altar, a que só os padres podem ter acesso, e irromperam numa música que deixou os presentes estupefactos.

As cantoras de Pussy Riot costumam actuar vestidas com saias ou vestidos curtos e collants, e sempre com a cara tapada por “balaclavas” coloridas. As suas músicas costumam ser de intervenção social ou de protesto e a identidade das artistas é escondida.

Contudo, as autoridades terão conseguido descobrir pelo menos três das intervenientes que se encontram agora detidas, acusadas de vandalismo. O caso está a mexer com a opinião pública russa com movimentos humanitários a considerá-las “prisioneiras de consciência” e várias organizações religiosas a pedir uma punição exemplar.

A Igreja Ortodoxa Russa, em cuja catedral o “concerto” teve lugar, já admitiu perdoar as jovens, mas diz que para isso é necessário que mostrem arrependimento, o que não parece estar próximo de acontecer.

Também a principal organização muçulmana da Rússia sugeriu que as detidas sejam castigadas mas sugere que as condenações sejam de trabalho comunitário. “Se as mãos estiverem ocupadas a fazer algum trabalho físico, como por exemplo apanhar lixo do chão nas ruas de Moscovo, a cabeça poderá ocupar-se de coisas úteis, talvez isso tire estas parvoíces das suas mentes”, disse Muhammedgali Huzin, dirigente desta organização.

Wednesday 14 March 2012

Cesar, Deus, os nossos santos e beatos

Antes de mais, e porque hoje é quarta-feira, temos um novo artigo em português do site The Catholic Thing no blogue. Segundo o autor: “Estão-nos a pedir que demos a Cesar o que é de Deus.” Não deixem de ler.

No plano nacional temos a antecipação da próxima catequese quaresmal do Patriarca de Lisboa, este dedicado a quem trabalha na área social. Temos também a Pastoral Universitária a congratular-se com a medida de aumentar as propinas 30 euros para quem puder pagar.

Da Nigéria vêm notícias preocupantes, com os islamistas do Boko Haram a prometer “erradicar” o Cristianismo do país.

Temos também a entrevista feita por Rodrigo Santos ao autor do livro “Os Nossos Santos e Beatos”. Sabiam que podem rezar a São Bernardino de Sena para vos livrar do ressonar? Isso e muito mais aqui, onde podem ouvir ainda a entrevista completa.

Termino com um aviso. A Renascença tem agora um debate semanal sobre assuntos de actualidade da Igreja, com moderação de Ângela Roque e participação de Aura Miguel e D. Nuno Brás, mais um convidado. É todas as quartas depois do noticiário das 23h00. Hoje a convidada é Isilda Pegado que falará do Congresso da Federação Pela Vida e de outros assuntos do movimento pró-vida. Não percam!

A Separação entre Igreja e Estado Revisitada

James V. Schall S.J.
“A acusação mais estranha em toda esta manipulada discussão pública é a de que os bispos estão a desrespeitar a separação entre a Igreja e o Estado”. Assim escreveu o Cardeal Francis George, de Chicago, no dia 26 de Fevereiro no Catholic New World. “Os bispos adoravam poder ter a separação entre Igreja e Estado que pensávamos gozar há poucos meses, quando eramos livres de gerir as instituições católicas de acordo com os preceitos da Fé Católica, quando o Governo não se julgava no direito de nos dizer quais dos nossos ministérios eram católicos e quais não eram, quando a lei protegia as consciências em vez de as esmagar.”

A longa história daquilo a que chamamos “separação entre Igreja e Estado” já deu uma volta completa. Começou com preocupações sobre uma influência exagerada das religiões na esfera da política, pese embora o grande perigo fosse normalmente o contrário. Os Estados Unidos eram o único país no qual os bispos católicos podiam ser nomeados sem interferência do Governo e no qual os católicos eram livres de ter e gerir as suas próprias instituições.

A Igreja Católica formou uma compreensão incisiva sobre os papéis dos poderes secular e espiritual. Ambos têm o seu lugar. No último mês, porém, a administração de Obama reclamou o direito de controlar a maioria dos aspectos da vida pública, incluindo a vida religiosa. A administração manifesta não só uma falta de respeito pela posição católica, como uma falta de compreensão da tradição e da Constituição do próprio país.

A Igreja Católica acomodou-se ao entendimento histórico entre a prática e os princípios. De repente a Igreja, com as instituições que trabalhou tantas gerações para erguer, está na mira de um Estado totalitário. Muitos dos principais actores que promovem esta situação são católicos. Reclamam, claro, o “direito” a explicar o que é a Igreja e o que é o Estado. Os mais optimistas contam com o apoio dos tribunais e do eleitorado, mas isso é precipitado.

A análise do Cardeal George é acutilante: “Este ano, está-se a dizer à Igreja Católica nos Estados Unidos que deve ‘abdicar’ das suas instituições de saúde, as suas universidades e muitas das suas organizações sociais. Não se trata de um sacrifício voluntário. É a consequência das regulações já muito discutidas do Departamento de Saúde e Serviços Humanos que já foram publicadas e promulgadas e serão implementadas no dia 1 de Agosto deste ano”. O assunto já não é apenas teórico.

O Cardeal não fala só por si. A maioria dos restantes bispos já se apercebeu da mesma ameaça, bem como o Santo Padre, como deixou claro numa recente visita ad limina de bispos americanos a Roma. Mas alguns bispos, grande parte do mundo universitário católico e uma boa parte dos leigos ainda não acredita, ou recusa-se a aceitar, que a situação chegou a este ponto. Mas chegou. Os bispos estão a ser obrigados a exercer o seu ministério de uma forma que poucos esperariam, o que em si não é mau.

Alguns católicos que votaram em Obama sentem-se agora “traídos” por esta política. Em grande parte trata-se de uma cegueira voluntária para com as políticas sociais que têm sido engendradas por esta administração desde o início. Agora é impossível escondê-lo. A agenda desta administração passa por mudar a Igreja para que se conforme aos princípios corruptos que motivam estas regulações. Os bispos parecem ter percebido que a própria natureza teológica do seu ministério está a ser testada na praça pública.

Cardeal Francis George
E agora? O Cardeal George propõe quatro possibilidades: 1) As universidades ou hospitais católicos podem secularizar-se voluntariamente para poder negar qualquer relação com o bispo ou inspiração católica. O Cardeal equipara isto a “furto”. 2) Podem-se pagar multas enormes para evitar pagar seguros que cubram aborto ou outros males a que a lei obriga. 3) As instituições podem ser vendidas a grupos não-católicos ou ao Governo local. 4) Fecha-se tudo.

A ironia é que ambos os lados dizem estar a lutar pela “justiça social”. Muitos elementos da esquerda dita católica têm-se esforçado há anos para legitimar moralmente as práticas que levantam mais objecções – aborto, contracepção, eutanásia, casamento homossexual. Uma das partes considera que estes são assuntos de “justiça social”. O outro lado considera que a “justiça social” é algo diferente.

Aceitar a definição de “justiça social” desta administração tornaria a Igreja um baluarte, e não um opositor, deste Estado que pretende cuidar de tudo. À Igreja seriam concedidos apenas os locais de culto, como acontece na maioria dos estados totalitários, muçulmanos ou socialistas. Todos os assuntos “humanos” ficariam a cargo do Estado, para governar, definir e fazer cumprir.

“Muitos reconhecerão (...) uma táctica que se tem tornado familiar na nossa vida pública”, avisa o Cardeal George, “aqueles que não podem ser coagidos são isolados e depois destruídos. Os argumentos usados são tanto práticos como teóricos.”

Tempos houve em que este país era conhecido como “a terra da liberdade e lar dos bravos.” Hoje os livres e os bravos são aqueles que temem ser “destruídos” pelo Estado que noutra altura “separou” os dois poderes. Estão-nos a pedir que demos a Cesar o que é de Deus.


James V. Schall, S.J., é professor na Universidade de Georgetown e um dos autores católicos mais prolíficos da América. O seu mais recente livro chama-se The Mind That Is Catholic.

(Publicado pela primeira vez na Segunda-feira, 5 de Março 2012 em www.thecatholicthing.org)

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The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing. 

Tuesday 13 March 2012

Glóbulos vermelhos e barretes cardinalícios


No Tibete registou-se recentemente o 24º caso de auto-imolação em protesto contra a China. A data escolhida pela vítima de 18 anos foi simbólica…


Leia e ouça aqui também a reportagem da nossa correspondente em Braga sobre a capela Árvore da Vida.

E ainda, incrivelmente, o caso D. Manuel Monteiro de Castro. No dia 7 Laura Ferreira dos Santos escreveu uma crónica no Público sobre o assunto. Respondo-lhe aqui.

Monday 12 March 2012

Um moinho de vento chamado D. Manuel Monteiro de Castro

No passado dia 7 de Março o jornal “O Público” trazia um artigo fascinante assinado por Laura Ferreira dos Santos sob o título “O cardeal e a "essência" das mulheres”.

A autora revela-se revoltadíssima, mas pouco espantada, com o teor das declarações do Cardeal D. Manuel Monteiro de Castro sobre as mulheres.

Cito a passagem chave: “Assim, o cardeal Monteiro de Castro não disse nada de extraordinário quando afirmou - cf. PÚBLICO online de 17/2/12 - que a função essencial da mulher é a "educação dos filhos". Não disse nada de extraordinário, mas até o próprio facto de o jornal ter colocado o termo "essencial" entre aspas mostra a distância que, no Ocidente, fomos criando em relação a este tipo de linguagem.

Para proteger as famílias, este cardeal não disse querer mais creches e infantários a preços acessíveis, se possível dentro das próprias empresas ou instituições, não disse querer horários de emprego razoáveis para homens e mulheres e com salário "justo", não exigiu períodos de descanso semanais a serem gozados em simultâneo por mãe e pai, não pediu uma melhor política de emprego para ambos os géneros, não falou dos problemas da habitação e do transporte, etc., etc.”

Sobre o teor das palavras de D. Manuel Monteiro de Castro e a forma como foram deturpadas pela imprensa, nomeadamente pelo Público e pelo Correio da Manhã, já escrevi aqui. Quem estiver por fora, ou continua a pensar que o cardeal disse aquilo que estes jornais lhe atribuíram, façam favor de o ler.

Agora interessa-me mais analisar este texto de Laura Ferreira dos Santos. Reparem então como ela parte de uma declaração fantasiosa (sublinho que o Cardeal NÃO DISSE AQUILO) e logo à partida tece um juízo de valor sobre o homem.

Depois, sobre esse primeiro erro constrói toda uma tese, começando por elencar uma série de outras coisas que o Cardeal não disse mas, segundo ela, devia ter dito, para compensar a primeira coisa que não disse, mas que ela pensa que ele disse.

Segundo Laura Ferreira dos Santos o Cardeal não deveria ter respondido a esta pergunta do jornalista, devia era ter escrito um manifesto eleitoral, mas enfim.

O melhor, porém, está para vir. Laura Ferreira dos Santos aproveita para extravasar as suas opiniões sobre a mulher, os homens e a igualdade. Os argumentos são perfeitamente válidos, está no seu direito, é pena estar a esgrimi-los contra um moinho de vento que a imprensa criou e no qual ela confia cegamente.

Mas, dizia, o melhor é quando ela começa a citar autores e insinua que o pobre do Cardeal talvez já não tenha capacidade intelectual para acompanhar o seu raciocínio: “Temo, porém, que o cardeal Castro já não consiga seguir esta linha de raciocínio. Pior ainda se eu recorrer a D. H. Lawrence e disser, como ele, que uma mulher é como "uma estranha e suave vibração do ar...””.

Demasiado intelectual para o Cardeal
Deixem-me ver, então, se entendi bem. A mesma senhora que foi incapaz de compreender uma mera frase de uma entrevista, ou que então não leu a entrevista e limitou-se a basear a sua opinião num título enganador (o que é francamente mais grave), está agora a acusar o mesmo homem de não ter capacidade intelectual de seguir o seu raciocínio? Lindo...

Poderão perguntar-me porque é que eu insisto tanto na defesa de D. Manuel Monteiro de Castro, mas é a pergunta errada. Eu não conheço o Cardeal, não faço ideia se ele é simpático, inteligente e civilizado ou se de facto corresponde mais exactamente à caracterização que os seus detractores têm feito dele. Francamente, nem isso me interessa.

Estou é farto de ver mau jornalismo e os efeitos que isso traz. Algum idiota achou que seria engraçado fazer um título sensacionalista sobre o cardeal, algo que pegasse num estereótipo sobre homens da Igreja e atraísse muitos leitores. Conseguiram, mas para o conseguir sujaram de forma desonesta a reputação de um homem e criaram um mito que perdura e que, pelos vistos, se continua a espalhar.

Sei que este é um problema geral, não são só os clérigos os atingidos, mas eu especializo-me nesta área, daí a minha insistência. O Público e o Correio da Manhã prestaram um mau serviço ao jornalismo. Milhares de pessoas foram na conversa e Laura Ferreira dos Santos, que talvez até seja um encanto de pessoa, teve o azar de o fazer nas páginas de um jornal diário com milhões de leitores. É pena.

Filipe d'Avillez

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