Em Novembro a nossa equipa publicou um segundo
relatório, demonstrando algumas perspectivas adicionais da ENPC, olhando
mais de perto para a polarização intergeracional entre o presbiterado.
Os padres mais velhos tendem a descrever-se mais como
teologicamente “progressistas” e politicamente “liberais” enquanto os mais
novos tendem a descrever-se como sendo teologicamente “ortodoxos” e
politicamente “conservadores”.
O resultado em si não é especialmente surpreendente. Temos
visto sinais a apontar nesta direcção há décadas, e estudos recentes sobre
padres americanos têm demonstrado uma tendência conservadora semelhante entre
jovens padres. É de notar que recentemente tanto o Papa Francisco como o
Cardeal Christophe Pierre indicaram que Roma está inquieta com aquilo que
considera ser uma tendência conservadora entre o clero americano mais novo.
Resumindo, o nosso estudo demonstra com provas concretas
aquilo que já todos sabiam: os padres jovens americanos tendem a ser mais
conservadores que os seus pares mais velhos. Mas há mais. Parece que a
narrativa de que o presbiterado americano está a ser tomado de assalto por
jovens conservadores não é tão simples como possa parecer à primeira vista.
Em primeiro lugar, mais do que um dilúvio triunfante de
vocações conservadoras, o que os nossos dados demonstram é um colapso quase
total de vocações sacerdotais entre homens que se consideram teologicamente
progressistas ou politicamente liberais. Mais, esse colapso não é repentino ou
recente, mas parece ser constante e contínuo, radicando nas coortes que foram
ordenadas logo a seguir ao Concílio Vaticano II. Se eu fosse bispo, ou director
vocacional, quereria muito poder compreender melhor este colapso.
Uma possível explicação pode ser encontrada numa homilia
feita pelo já falecido Cardeal Francis George. Um quarto de século mais tarde,
as suas palavras mantêm uma relevância surpreendente:
O Catolicismo Liberal é um projecto cansado.
Essencialmente uma crítica, uma crítica até necessária em dada altura da nossa
história, tornou-se agora parasítica de uma substância que já não existe.
Revelou-se incapaz de passar a fé na sua integridade, e por isso desadequada
para fomentar a entrega alegre que é pedida no casamento cristão, na vida
consagrada e no sacerdócio ordenado. Já não vivifica.
Note-se que o Cardeal George disse “cansado” e não
“morto”. Justamente, pode-se dizer que os anos recentes demonstraram que as
notícias da morte do catolicismo liberal têm sido muito exageradas. Não
obstante, se o cansaço do catolicismo liberal explica, pelo menos em parte, a
quebra de vocações de certas alas na Igreja, o aviso que o Cardeal George faz
sobre certo tipo de “Catolicismo conservador” é igualmente pertinente. “A
resposta, porém, não se encontra num tupo de catolicismo conservador obcecado
com práticas particulares e tão sectária na sua mundivisão que não pode servir
de sinal de unidade para todos os povos em Cristo”.
Jesuítas americanos ordenados em 2023 |
Junte-se a isto o facto de a coorte mais nova de padres
ser também a mais diversa, étnica e racialmente, de todas as que sondámos e
aquilo que emerge é um retrato de jovens padres americanos que contradiz muitos
estereótipos persistentes. Os jovens padres americanos são mais teologicamente ortodoxos,
politicamente moderados e etnicamente diversos do que qualquer coorte de padres
desde antes do Concílio Vaticano II.
Se estivéssemos à procura de padres que pudessem evitar o
“cansaço do catolicismo liberal” e ao mesmo tempo evitar formas de
conservadorismo “obsessivo” e “sectário” – se estivéssemos com esperança de
encontrar padres que fossem “sinal de unidade de todos os povos em Cristo” –
então provavelmente procuraríamos uma geração de padres que, pelo menos no
papel, fosse muito semelhante à geração de padres mais novos que temos hoje nos
Estados Unidos.
Mas o sacerdócio, como todas as vocações, não se
desenrola no papel. Tem de ser vivido por entre todas as armadilhas do mundo.
Contudo, o Cardeal George também tinha algo a dizer sobre isso na sua homilia:
A resposta é, simplesmente, o Catolicismo, em toda a
sua plenitude e profundidade, uma fé capaz de se distinguir de qualquer cultura
e de se envolver com todas, transformando-as, uma fé alegre em todos os dons
que Cristo nos quer dar e aberta a todo o mundo que ele morreu para salvar. A
fé católica molda uma Igreja com muito espaço para diferentes abordagens
pastorais, para discussão e debate, para iniciativas tão variadas como os povos
que Deus ama. Mas, mais profundamente, uma Igreja capaz de distinguir entre
aquilo que encaixa na tradição que a une a Cristo e o que é uma falsa partida
ou uma tese distorcida, uma Igreja unida aqui e agora, porque é sempre una com
a Igreja pelos séculos e com os santos no Céu.
O Cardeal Francis George viu claramente o que significa
ser fiel, mas também unido em tempos de conflito e divisão. Os nossos jovens
padres – bem como o resto de nós todos – devem ter em conta a sabedoria das
suas palavras.
Stephen P. White é investigador em Estudos Católicos no
Centro de Ética e de Política Pública em Washington.
(Publicado em The Catholic Thing na Quinta-feira, 30 de Novembro de
2023)
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Belo texto. Muito obrigado.
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