Tuesday 29 December 2015

A Guerra Mais Longa

David Carlin
A actual luta contra o Estado Islâmico e o “terrorismo islâmico radical” (que o Presidente Obama me perdoe por usar esta expressão) é apenas a mais recente fase de uma guerra que dura há mais de 3.000 anos, uma guerra que tem sido combatida ao longo da maior falha sísmica geopolítica do mundo, a que separa a Ásia ocidental da Europa. Vejamos alguns dos pontos principais da guerra mais longa do mundo.

1. O primeiro registo deste conflito encontra-se na Ilíada: A Guerra de Troia, de Homero, em que uma coligação de gregos ataca Tróia, uma cidade comercial importante do lado asiático do mar Egeu.

2. No início do século V antes de Cristo, o Grande Rei da Pérsia, Xerxes, invadiu a Grécia com um tremendo exército e uma marinha significativa. Para além da batalha das Termópilas (“Estrangeiro, dizei a Esparta que aqui jazemos, em obediência às suas leis”), Xerxes enfrentou pouca oposição na Grécia e ocupou Atenas. Mas depois foi derrotado na batalha naval de Salamina (480 AC) e, um ano mais tarde, perdeu também em terra, em Plateias.

3. Em 330 AC, Alexandre liderou um exército de gregos e macedónios pela Ásia adentro, e numa campanha militar brilhante conquistou o vasto Império Persa. Num acto de vingança pelo incêndio da acrópole de Atenas em 480, Alexandre – enquanto bêbado – deitou fogo à capital persa de Persépolis. (Alexandre era conhecido por ser casto, não por ser sóbrio).

4. Começando em meados do Século III Antes de Cristo e terminando em meados do segundo, Roma combateu duas granes guerras contra Cartago, mais uma guerra mais pequena. Depois desta terceira guerra Cartago – que apesar da sua localização ocidental, era uma cidade Asiática, sendo uma colónia de Tiro – foi derrotada e arrasada.

5. No Século II AC os judeus (que naquele tempo eram asiáticos e não europeus), sob a liderança dos Macabeus, saiu debaixo do jugo do rei da Síria, que era de tradição helénica. Mas em meados do Século I AC Roma tinha reestabelecido o domínio ocidental na Palestina. Cerca do ano 70 da Era Cristã, os judeus ergueram-se contra os romanos, mas foram totalmente esmagados. No segundo século houve outro levantamento, mas o resultado foi o mesmo.

6. Durante séculos houve guerras intermitentes entre Roma e os impérios sucessivos da Pérsia e de Pártia. Numa destas batalhas (primeiro século AC), Marcos Crassos, membro do Primeiro Triunvirato, foi morto e, noutra (século IV DC), morreu o Imperador Juliano (“O Apóstata”).

7. No começo da década de 630 os guerreiros de uma nova religião, o Islão, emergiram dos desertos da Arábia e conquistaram grande parte de Ásia e todas as porções africanas do Império Romano. Os Árabes conquistaram quase toda a Península Ibérica e o seu avanço para Ocidente só foi travado quando Carlos Martel (avô de Carlos Magno) os derrotou perto da cidade francesa de Tours.

8. Na Península Ibérica, onde alguns enclaves cristãos sobreviveram à conquista árabe, começou em breve a Reconquista, mas esta só ficou completa quando os reis Fernando e Isabel ocuparam Granada, o último dos reinos muçulmanos em Espanha, e expulsaram todos os muçulmanos (e judeus).

9. Enquanto os cristãos estavam a recuperar a Península, os cristãos noutras partes da Europa Ocidental estavam a marchar e a navegar rumo à Palestina. As cruzadas começaram no final do Século XI e continuaram, intermitentemente, durante os próximos 200 anos. Depois de algum sucesso inicial, o Ocidente falhou na tentativa de reconquistar as partes da Ásia Ocidental que tinha perdido com o levantamento dos Árabes no Século VII.

10. Entretanto o Império Romano (ou Bizantino) caiu em 1453, quando os otomanos muçulmanos capturaram a sua praça forte, Constantinopla, depois de mais de um século a conquistar bocadinhos do que tinha sido até então um vasto império.

Aquiles depois de matar Heitor, na batalha de Tróia
11. Não contentes com isto, os turcos invadiram o coração da Europa, subindo pelo vale do Danúbio, vencendo a Batalha de Mohács (1526). Isto deu-lhes controlo de grande parte da Hungria e uma rampa de lançamento para dois ataques mal sucedidos contra Viena, o último dos quais aconteceu em 1683. Entre estas duas datas o Ocidente cristão venceu a grande batalha naval de Lepanto (1571)

12. A grande mudança deu-se com a modernização do Ocidente, enquanto o Império Otomano se foi tornando “o homem doente da Europa”. A começar pela Grécia no início do Século XIX, as províncias europeias do império turco foram ganhando independência um após outro. No final da Primeira Guerra Mundial a frente Islâmica/Asiática na Europa estava reduzida a Istanbul, seus subúrbios e a Albânia.

13. À medida que o Império Otomano entrou em declínio e finalmente colapsou, as nações europeias, sobretudo a Grã-Bretanha e França, preencheram o vácuo, controlando, através de colónias ou de outras formas, os países da África do Norte e do Médio Oriente que tinham feito parte do império turco.

14. No final do Século XIX começou o movimento sionista. Muitos judeus (que por esta altura já eram europeus) emigraram para a Palestina. Os seus colonatos foram legitimados pela Declaração de Balfour (1917). Eventualmente estes colonatos levaram à criação do Estado de Israel (1948) e a uma série de guerras com os países árabes vizinhos.

15. Depois da Segunda Guerra Mundial surgiu o nacionalismo árabe, cujo elemento agregador era um ódio universal por Israel. Os árabes não viam (nem vêem) Israel da mesma maneira que os judeus, isto é, como o restabelecimento de uma pátria antiga. Vêem-na como uma invasão ocidental do seu território.

16. If we can believe Homer, this whole tragic series began when the beautiful wife of an important European ruler ran off with a handsome and charming young fellow from Asia – an illicit love affair that touched off centuries of even more illicit hatred.

Se acreditarmos em Homero, toda esta série trágica começou quando a mulher lindíssima de um importante líder europeu fugiu com um jovem charmoso e vistoso da Ásia – um romance ilícito que espoletou séculos de um ódio ainda mais ilícito.


David Carlin é professor de sociologia e de filosofia na Community College of Rhode Island e autor de The Decline and Fall of the Catholic Church in America

(Publicado pela primeira vez no sexta-feira, 18 de Dezembro de 2015 em The Catholic Thing)

© 2015 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução contacte: info@frinstitute.org

The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.

Monday 28 December 2015

Ramadi quase livre e polémicas patriarcais na Eritreia

Dioskoros, ex-Patriarca da Eritreia... ou não?
Boas notícias do Iraque, onde o exército local parece prestes a garantir a libertação de Ramadi das mãos do Estado Islâmico. O grupo terrorista perde assim um ponto importante… É menos uma cidade onde podem aplicar as suas normas sobre escravatura e colheita de órgãos de “infiéis”.

O dia de Natal foi assinalado, como é evidente, por todo o mundo cristão. Do Iraque veio esta mensagem muito forte do Arcebispo de Erbil, no Curdistão.
O Papa Francisco também escolheu falar sobre as vítimas das perseguições e o Patriarca de Lisboa sublinhou a necessidade de termos “corações decididamente voltados para tudo quanto seja pobre, carente e frágil”. D. Jorge Ortiga, de Braga, enalteceu o trabalho dos voluntários em prol dos necessitados e o bispo do Porto, D. António Francisco dos Santos, falou do acolhimento aos refugiados.

Já ontem, o Papa voltou a falar da importância da família como lugar privilegiado de Perdão e, numa altura em que se fala sobretudo dos refugiados que vêm para a Europa, lembrou o drama enfrentado pelos que fogem de Cuba.

Na passada semana publiquei o artigo do The Catholic Thing, em português, sobre se muçulmanos e cristãos têm o mesmo Deus. O tema pode parecer claro em termos do magistério católico, mas continua a motivar muita discussão e desta vez não foi excepção, com um debate aceso e esclarecedor no Facebook, aqui e aqui.

E por fim, para dar um tom um pouco mais exótico, conheça aqui o abune Dioskoros, que morreu recentemente, e toda a questão que envolve a liderança da Igreja Ortodoxa da Eritreia.

Wednesday 23 December 2015

Um Carlos Magno para Francisco no Natal

Santo Natal para todos!
Um ex-oficial muçulmano bósnio vai ser julgado por crimes de guerra cometidos por jihadistas internacionais, sob o seu comando, durante a guerra da Bósnia.

O Papa Francisco foi escolhido para vencer o Prémio Carlos Magno de 2016. Se não sabe o que é o prémio, nem porque é que o Papa quebrou o seu hábito de não aceitar este tipo de galardões, está tudo explicado aqui.


Hoje temos mais um artigo do The Catholic Thing. À pergunta “Cristãos e muçulmanos adoram o mesmo Deus?” Francis Beckwith responde que sim e explica como e porquê.

Amanhã ainda trabalho, mas não devo enviar mail. Desejo por isso um santo e feliz Natal a todos os leitores! Se ainda têm presentes para comprar, que Deus vos perdoe, mas podem sempre aproveitar as minhas sugestões.

Muçulmanos e Cristãos Adoram o Mesmo Deus?

Francis J. Beckwith
A 15 de Dezembro a universidade evangélica Wheaton College, de Chicago, suspendeu uma professora residente de ciências políticas. O comunicado de imprensa da universidade afirma que a professora Larcyia Hawkins foi suspensa “devido a questões significativas sobre as implicações teológicas de afirmações que fez sobre a relação entre o Cristianismo e o Islão”. Que afirmações são essas?

Segundo um artigo na Christianity Today, a Drª Hawkins atraiu as atenções quando afirmou publicamente no Facebook que iria passar a usar o véu islâmico como parte do seu percurso de Advento como gesto “de solidariedade religiosa com os muçulmanos porque eles, como eu, uma cristã, são um povo do livro. E como o Papa Francisco afirmou a semana passada, adoramos o mesmo Deus”.

Para ter a certeza que a utilização do véu islâmico por uma não muçulmana não seria ofensiva para os muçulmanos, Hawkins pediu ajuda ao Conselho para as Relações Americanas e Islâmicas (CAIR), que lhe disse que seria permissível. Mas a universidade não está preocupada com a mudança de vestuário da professora. Nas palavras do presidente Phillip Ryken, “a universidade não tem qualquer posição sobre a utilização de véus como sinal de cuidado e preocupação por membros da comunidade muçulmana, ou outras, que possam enfrentar discriminação e perseguição”.

Parece evidente, portanto, que aquilo que preocupa a universidade é a afirmação teológica de que os muçulmanos são um “povo do livro” com os quais “adoramos o mesmo Deus”. Esta última parte da afirmação foi mesmo apelidada de “incrível” e “verdadeiramente de deixar de boca aberta” por Denny Burk, um conhecido professor evangélico de Estudos Bíblicos.

Antes de eu passar a explicar porque é que Hawkins tem razão no que diz respeito a muçulmanos e cristãos adorarem o mesmo Deus e, por isso, que a sua suspensão por negar implicitamente a Posição de Fé da Universidade não tem cabimento, é importante mostrar porque é que ela está errada sobre os cristãos e muçulmanos serem “povos do livro”.

Em primeiro lugar, a vasta maioria dos cristãos não pensa assim sobre a sua fé. Os católicos, por exemplo, embora acreditem na autoridade das Escrituras, não encaram a sua fé como sendo fundada num livro. Como diz o Catecismo da Igreja Católica “No entanto, a fé cristã não é uma ‘religião do Livro’. O Cristianismo é a religião da ‘Palavra’ de Deus, ‘não de uma palavra escrita e muda, mas do Verbo encarnado e vivo’. Para que não sejam letra morta, é preciso que Cristo, Palavra eterna do Deus vivo, pelo Espírito Santo, nos abra o espírito à inteligência das Escrituras”.

Depois, na teologia islâmica, a frase “povo do livro” diz respeito apenas a seguidores de outras religiões abraâmicas (como judeus e cristãos) e não aos próprios muçulmanos. É uma confusão parecida com aquela que não-católicos cometem quando confundem a Imaculada Conceição com o nascimento virginal.

Larciya Hawkins, com o seu véu
Passamos agora à grande questão: Os muçulmanos e os cristãos adoram o mesmo Deus? Para responder adequadamente temos de fazer algumas distinções filosóficas importantes. Primeiro, o que é que significa dois termos referirem-se à mesma coisa? Tomemos, por exemplo, os nomes “Muhammed Ali” e “Cassius Clay”. Embora sejam termos diferentes, ambos se referem à mesma coisa, pois têm propriedades idênticas. O que for verdade em relação a Ali é verdade em relação a Clay e vice-versa. O mesmo se aplica a Robert Zimmerman/Bob Dylan, e Norma Jean Baker/Marilyn Monroe.

Por isso, o facto de os cristãos chamarem a Deus “Javé” e os muçulmanos lhe chamarem “Allah” não faz qualquer diferença desde que ambos tenham propriedades idênticas. De facto, aquilo que conhecemos como teísmo clássico foi adoptado por alguns dos maiores pensadores das religiões abrâamicas: São Tomás de Aquino, Maimonides e Avicena. Uma vez que, de acordo com o teísta clássico, por princípio apenas pode haver um Deus, os cristãos, judeus e muçulmanos que adoptam o teísmo clássico devem estar a adorar o mesmo Deus. Não pode ser de outra maneira.

Mas não é verdade que o Cristianismo afirma que Deus é uma Trindade e os muçulmanos o negam? Isto não significa que, na verdade, adoram “Deuses” diferentes? Não necessariamente. Atente-se neste exemplo. Imaginem que o Fred acredita que existem provas convincentes de que Thomas Jefferson teve vários filhos com a sua escrava Sally Hemings e, por isso, o Fred acredita que Jefferson possui a propriedade de “ser pai de vários dos filhos de Hemings”. Por outro lado, o Bob não se deixa convencer por essas provas e acredita que Jefferson não possui essa propriedade de “ser pai de vários filhos de Hemings”.

Não será lógico então dizer que o Fred e o Bob não acreditam no mesmo terceiro Presidente dos Estados Unidos? Claro que não. Da mesma maneira, Abraão e Moisés não acreditavam que Deus era Trindade, mas Santo Agostinho, São Tomás de Aquino e Billy Graham acreditam. Isso significa que Agostinho, Aquino e Graham não acreditam no mesmo Deus que Abraão e Moisés? Mais uma vez, claro que não. O facto de uma pessoa ter um conhecimento incompleto ou falso sobre outra pessoa – seja humana ou divina – não significa que alguém com informação melhor ou mais completa não esteja a pensar na mesma pessoa.

Por estas razões, seria uma verdadeira injustiça se a Wheaton College fosse despedir a professor Hawkins simplesmente porque quem está a avaliar o seu caso não consegue fazer estas distinções filosóficas subtis, mas importantes.


(Publicado pela primeira vez na Quinta-feira, 17 de Dezembro 2015 em The Catholic Thing)

Francis J. Beckwith é professor de Filosofia e Estudos Estado-Igreja na Universidade de Baylor. É autor de Politics for Christians: Statecraft as Soulcraft, e (juntamente com Robert P. George e Susan McWilliams), A Second Look at First Things: A Case for Conservative Politics.

© 2015 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução contacte:info@frinstitute.org

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Monday 21 December 2015

Sugestões para o Natal

Se é daquelas pessoas que todos os anos fica sem ideias para presentes de Natal, precisamente nas últimas semanas antes da data, aqui ficam algumas dicas da Actualidade Religiosa. Cada dia divulgarei mais uma dica.

1. Que Fazes Aí Fechada
Sim, sou mesmo tão desenvergonhado que começo por sugerir um livro da minha autoria. Mas faço-o sem problemas de consciência porque, como já disse várias vezes, este livro não vive de mim, mas sim das histórias fantásticas das entrevistadas.

Ao longo de oito conversas com freiras ou monjas de diferentes ordens e congregações, desfazem-se vários mitos sobre a vida consagrada. Desde a cantora de jazz que faz um esforço para não sofrer pelo Benfica num convento de clausura, no Alentejo, até à rapariga de Viseu cujo pai queria que assumisse a exploração agrícola, mas agora dedica a vida ao trabalho com prostitutas e a combater o tráfico humano.

Há ainda a história da freira cujo pai deixou de praticar quando ela disse que ia para o convento, a dominicana albanesa que cresceu a pensar que os padres e as missas eram coisas do tempo dos contos de fadas e o fantástico prólogo de Maria João Avillez, cuja filha se tornou carmelita e que fala do assunto de uma perspectiva muito diferente, de matriarca de uma família que ainda luta por aceitar essa decisão.

O livro é da Aletheia e custa cerca de 15 euros. Pode ser adquirido nas principais livrarias ou encomendado do site da editora.


2. O Meu Deus é um Deus Ferido
Este livro é da autoria do padre checo Tomás Halík. Recebi-o há alguns meses da editora Paulinas e logo na altura despertou-me a atenção, mas acabou por ir parar a uma prateleira e só peguei nele novamente há duas semanas. Foi preciso pouco para ficar fã.

Halík faz uma leitura da passagem do Evangelho em que São Tomé duvida da ressurreição de Jesus e explora o significado de Cristo lhe ter mostrado as chagas, de Cristo, mesmo ressuscitado, continuar a ter chagas, concluindo que é através da identificação com as chagas dos mundo, dos pobres e dos oprimidos, nos vários sentidos da palavra, que nos salvamos.

Trata-se de um autor que foi ordenado sacerdote na clandestinidade, durante o regime comunista, e que sofreu perseguições mas agora é um perito em diálogo intercultural e inter-religioso. Um livro, sem dúvida, a não perder.

Não é uma obra leve, mas também não é preciso ter um curso de teologia para o ler, e custa € 14,90 no site das Paulinas.


3. Uma Vida de Doação – Padre Dâmaso Lambers
Há vários anos que estou a trabalhar na Renascença e tem acontecido muita coisa boa. Mas um dos maiores privilégios que sinto que tenho tido é ter conhecido e poder acompanhar, pelo menos semanalmente, o padre Dâmaso. Em 2010 entrevistei-o para a série “Vidas Consagradas” e fiquei fascinado com a sua história.

Agora todos podem conhecer a vida do padre Dâmaso. Dedicou a vida aos reclusos; sobreviveu à Segunda Guerra Mundial; diz, com naturalidade, que foram poucos os dias que não comungou desde criança e, acima de tudo, é profundamente apaixonado por Jesus.

“Jesus é fantástico” é a expressão que mais se ouve da sua boca. Tudo isso transparece neste livro tremendamente simples e tremendamente inspirador.

A edição é das Paulinas e, no site, custa 10 euros.


4. Artesanato da Terra Santa
Tempos houve em que um em cada cinco palestinianos era cristão, mas com o passar dos anos e devido ao conflito interminável e o aumento do clima de perseguição aos cristãos por parte de movimentos islâmicos fundamentalistas, esta percentagem tem diminuído drasticamente.

Ainda assim, alguns permanecem e sobretudo na zona de Belém ganham a vida muito à custa do turismo e da vende de artigos de artesanato religioso, esculpido em madeira de oliveira.

À imagem do que se passou noutros anos, este Natal encontram-se em Portugal alguns membros dessa comunidade para vender esses artigos. É uma forma de ajudar directamente os cristãos da Terra Santa a enfrentar as dificuldades diárias e as peças, para além de serem de boa qualidade, são muito bonitas.

Em Lisboa é possível encontrar estes artigos à entrada da Basílica dos Mártires, no Chiado.

5. Fiat Lux
O número especial da Invennire, publicação do secretariado dos Bens Culturais da Igreja, é de um beleza de cortar a respiração.

Ao longo de 130 páginas, pode encontrar aqui imagens de altíssima qualidade de algumas das mais bonitas iluminuras feitas em Portugal.

A revista está esgotada na loja online, mas encontra-se à venda em vários locais, incluindo na Férin, em Lisboa, ou na Voz Portucalense do Porto, Museu de Arte Sacra e Etnologia de Fátima ou no Museu Diocesano de Santarém, entre outros.

Claro que a palavra "revista" é pouco para caracterizar uma obra destas, que tem tanta ou mais qualidade que muitos livros. O preço reflecte isso, 18 euros, mas vale cada cêntimo, sobretudo se o destinatário for um apreciador de arte.

Tigres enjaulados em Évora e antibióticos na Santa Sé

Metade do mundo está apostado em eliminar o Estado Islâmico, mas hoje um estudo veio dizer que se o grupo desaparecer há 15 grupos iguais prontos para ocupar o vazio. Encorajador!

O terrorista indiano que foi detido no Algarve vai ficar em prisão preventiva, à espera para ver se a Índia pede extradição. Pamma, como é conhecido, é um activista de religião Sikh, que luta por um território independente para os Sikhs no Punjab, na Índia.

Depois de no discurso de Natal do ano passado o Papa ter partido a loiça toda enumerando as 15 doenças de que sofriam os cardeais da Cúria Romana, hoje receitou o “antibiótico”, enumerando as várias virtudes que são necessárias.

Já ontem, depois da recitação do ângelus, o Papa agradeceu à comunidade internacional o princípio para acordo de paz alcançado para a Síria.

O Patriarca de Lisboa este na celebração da missa de Natal da Comunidade Vida e Paz, ontem, e anteontem esteve numa vigília pela paz, em que pediu o fim das barreiras de indiferença entre os homens.

Hoje coloquei a última sugestão na lista de presentes de Natal que podem dar aos vossos familiares e amigos. Trata-se da edição Fiat Lux do secretariado dos Bens Culturais da Igreja.

Wednesday 16 December 2015

Enviem mas é os manhosos para Pyongyang

Perigosa ameaça ao regime da Coreia do Norte
O Papa Francisco alertou esta quarta-feira para os “manhosos” que tentam ganhar dinheiro com o Jubileu da Misericórdia, vendendo bênçãos falsas e acessos a portas santas, por exemplo.

Um pastor evangélico com nacionalidade canadiana foi condenado, na Coreia do Norte, a prisão perpétua em regime de trabalhos forçados, por actividades contra o Estado. A acusação queria pena de morte, mas a defesa pediu clemência, para que o condenado possa “ver por si a realidade da nação do Sol enquanto cresce em poder e prosperidade”.

Vai-se realizar no fim-de-semana o 10º concerto solidário dos movimentos católicos, em Lisboa. Saiba tudo aqui.


E hoje é dia de artigo do The Catholic Thing. Hadley Arkes aborda a importância da declaração Dignitatis Humanae, que faz 50 anos mas nunca foi tão actual!

Dignitatis Humanae: Uma Lição para um Mundo em Desaparecimento

Hadley Arkes
Assinala-se por esta altura o 50º aniversário da Dignitatis Humanae, ou “Sobre a Dignidade da Pessoa Humana”. Trata-se de um daqueles documentos que é relativamente curto, mas de enorme impacto, pois representa o verdadeiro alcance da Igreja na afirmação do sentido de “pessoa humana” enquanto portadora de direitos humanos inalienáveis, incluindo um direito à liberdade religiosa, mesmo quando essa religião não radica nas verdades professadas pela Igreja.

O ano de 1965 foi um ponto de viragem em muitos sentidos, com a chegada da pílula e uma injecção de energia na revolução sexual. Com cada vitória desse movimento, tornou-se mais claro que ele é alimentado pela paixão de recusar cada vestígio de ensinamento moral que levanta barreiras à libertação sexual. O mundo tem sido tão virado de pernas para o ar desde a publicação do Dignitatis Humanae que actualmente contesta-se o próprio significado de “dignidade” de “pessoa” e de “religião”.

Um amigo de longa data tentou, a dada altura, escrever um livro sobre a Dignidade Humana. Insistia que “os seres humanos têm uma dignidade incomparavelmente maior [do que os membros de outras espécies]. São mais importantes por causa daquilo que são: membros da espécie humana, com traços e atributos únicos e incomparáveis”. Mas o que é, exactamente, que torna os seres humanos superiores, que lhes permite reclamar essa “dignidade”?

O Dignitatis Humanae foi claro sobre isso desde o primeiro momento: A Dignidade assiste a “pessoas dotadas de razão e de vontade livre e por isso mesmo com responsabilidade pessoal.” A dignidade começa com a capacidade para fazer juízos sobre questões de bem e de mal e com a capacidade de assumir responsabilidades. Só um tipo de criatura compreende o que significa respeitar uma promessa, ou um “compromisso” mesmo quando isso deixa de coincidir com os seus interesses.

O meu amigo, escrevendo do ponto de vista de académico, porém, recusou colocar essa capacidade de juízo “moral” como sendo central para o assunto. Para ele, aquilo que distinguia os seres humanos era a liberdade de “se tornarem diferentes através de um rasgo de criatividade livre”. Mas então a questão, certamente, torna-se o saber se podemos olhar para as coisas que criamos e classifica-las como boas ou más. Podíamos ter a criatividade estonteante de um Bernie Madoff para a fraude, algo que revela grande génio Não era essa a criatividade que o meu amigo tinha em mente, embora apenas esteja ao alcance de humanos.

E quando nos encontramos cercados por pessoas que claramente não beneficiam de grande criatividade – pessoas perpetuamente maçadoras – concluímos que elas têm menos dignidade? Serão elas menos humanas, com menos direito ao nosso respeito?

Levanto a questão porque o meu amigo diz que “uma vida é uma vida… Se alguma coisa é sagrada, então a vida é sagrada”. E não obstante, se todos os seres humanos possuem dignidade, e se a vida é sagrada, o que dizer do ser humano no útero? Mas o meu amigo leva a cabo a manobra familiar, insistindo que o “feto” claramente não é uma “pessoa”, é uma “vida em potência”. Ele reconhece então que se trata de contrastar a vida inocente de uma “pessoa em potência” contra a recusa da “dignidade” de uma mulher grávida, pois se lhe for recusado um aborto ela “tornar-se-ia um mero instrumento de um propósito que não é o seu”. Claro que, quando se vê a questão pela perspectiva da moral, a pergunta normal é saber como é que uma pessoa pode encontrar a sua “dignidade” no acto de matar um ser absolutamente inocente.

Para os escritores académicos, o aborto continua a ser um osso duro de roer. Se querem reclamar a dignidade para todos os seres humanos, têm de explicar porque é que omitem desta protecção este grupo de pequenos humanos. Se a personalidade depende da capacidade para criatividade já manifestada em obras, então o mantra liberal de “igualdade” foi posto decididamente de lado.

O Dignitatis Humanae foi generoso na sua abertura mesmo a formas exóticas de experiência religiosa e na disponibilidade para respeitar a busca sincera pelo divino. Mas nos nossos dias encontramos advogados a defender a “liberdade religiosa” e a recusar rejeitar qualquer reivindicação de religiosidade como ilegítima. A Igreja do Monstro do Esparguete Voador tem procurado reconhecimento oficial ao abrigo de leis locais e há dois anos uma das suas exposições foi colocada junto a um presépio, no Tallahassee.

Argumenta-se que é possível detectar grupos religiosos insinceros ou que são meros pretextos. Mas estas pessoas levam muito a sério a ideia de que o seu gozo com o Cristianismo é a sua religião antirreligiosa. E na ausência de qualquer teste substantivo, porque não haver uma Igreja da Insinceridade? 

Na Dignitatis Humanae lida-se com a questão assim: “A sociedade civil tem o direito de se proteger contra os abusos que, sob pretexto de liberdade religiosa, se poderiam verificar, é sobretudo ao poder civil que pertence assegurar esta protecção. Isto, porém, não se deve fazer de modo arbitrário, ou favorecendo injustamente uma parte; mas segundo as normas jurídicas, conformes à ordem objectiva.”

Por outras palavras, assume-se que as leis que barram o homicídio e outros males evidentes servirão também para limitar a existência de movimentos fraudulentos que se tentam apresentar como “religiões”. O problema agora, claro, é que as leis deixaram de radicar na “ordem objectiva”. O que temos agora é um direito positivista que obriga as organizações católicas a fechar portas se recusarem colocar crianças com casais homossexuais para adopção. O mesmo direito que pune pasteleiros e floristas se estes se recusarem a participar na celebração de um casamento entre pessoas do mesmo sexo. 

Daí que a Dignitatis Humanae seja, sim, um ensinamento duradouro para um mundo que vai desaparecendo mas que cabe a nós restaurar.


Hadley Arkes é Professor de Jurisprudência em Amherst College e director do Claremont Center for the Jurisprudence of Natural Law, em Washington D.C. O seu mais recente livro é Constitutional Illusions & Anchoring Truths: The Touchstone of the Natural Law.

(Publicado pela primeira vez na Terça-feira, 15 de Dezembro de 2015 em The Catholic Thing)

© 2015 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução contacte: info@frinstitute.org

The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.

Tuesday 15 December 2015

Sugestões de Natal para quem quer ter coração de carne

O Papa Francisco autorizou a proclamação das “virtudes heróicas” de uma portuguesa, Teresa Saldanha, dando força ao processo de beatificação.

Foi conhecida esta manhã a Mensagem pela Paz do Papa Francisco, que tem data de 1 de Janeiro. O Papa quer que as pessoas transformem os seus corações de pedra em corações de carne.

Entretanto o Conselho da Europa quer que o Vaticano seja mais agressivo no combate à corrupção e lavagem de dinheiro, admitindo porém que muito já foi feito de bom.

Porque sou muito vosso amigo, presto a partir de hoje um grande serviço à humanidade. Se não têm ideias de presentes de Natal, não desesperem! Hoje temos duas dicas e ao longo da semana teremos mais. Não percam!

Também, para quem quiser, há sempre a possibilidade dos presentes solidários da FEC.

Termino com outra sugestão, mas desta vez musical. Os meus amigos dos Simplus estão prestes a lançar novo disco. Aqui podem ouvir desde já uma das músicas para ir aguçando o apetite. Na imagem podem ver onde comprar o CD ou fazer download das faixas.

Monday 14 December 2015

Jubileu da Misericórdia e as dificuldades do maçon

De regresso depois de uma semana de férias, trago-vos novamente o essencial da informação religiosa.


Neste link encontra uma série de perguntas e respostas sobre o que é um jubileu, porque é que este é extraordinário e o que são indulgências, por exemplo.

Ainda ligado a este assunto, o Papa elaborou hoje sobre a história da Portuguesa que conheceu e que lhe deixou muito boa impressão, que tinha mencionado em entrevista à Renascença.

E da série de conversas sobre Deus, na Capela do Rato, Henrique Monteiro afirma que tem muita dificuldade em explicar às pessoas que é maçon e não católico, mas que isso não o impede de acreditar em Deus.

Deixo-vos com o artigo da semana do The Catholic Thing, “Sobre o Conhecimento Divino”. 

Wednesday 9 December 2015

Sobre “Conhecimento Divino”

James V. Schall S.J.
Numa questão dirigida a Talássio (um ermita sírio), Máximo o Confessor (morto no ano 662) afirma: “Ele (Cristo) designou a Santa Igreja como candelabro, através do qual a palavra de Deus deita luz pela pregação e ilumina com os raios da verdade quem estiver na casa que é o mundo, e enche as mentes de todos os homens com conhecimento divino.” Lendo estas antigas palavras, perguntamos: Que é este “divino conhecimento” de que Máximo fala?

A lógica indica que o conhecimento “divino” não é o mesmo que o conhecimento “humano”, caso contrário não poderíamos compreender a diferença. O “conhecimento divino” diz respeito unicamente a Deus. Se alguém diz que o possui está a dizer que é Deus, algo que não é inédito entre a nossa espécie. Não segue, porém, que os seres humanos não tenham qualquer conhecimento. Claramente temos. O nosso desafio intelectual é relacionar o conhecimento “humano” ao “conhecimento divino”.

Tudo bem, mas como é que sabemos o que quer que seja sobre “conhecimento divino”? O facto é que não sabemos, a não ser que Deus nos informe sobre ele. Será que o fez? A Revelação não é mais que isso mesmo.

Onde é que isso nos deixa? Como é que sabemos que coisas nos são reveladas? Não podemos responder a essa questão enquanto não percebermos o que podemos conhecer por nós. Por outras palavras, a nossa atenção ao “conhecimento divino” depende do nosso conhecimento “humano”.

O que é que estou a dizer com tudo isto? Não conseguimos já compreender através da razão algumas coisas que em tempos eram considerados mistérios inefáveis? Sim. Contudo, muitos assuntos fundamentais continuam a confundir-nos. E então, qual é o mal de estar confundido?

A bem dizer, nada, só que não nos contentamos com a nossa incapacidade de compreender tudo. O nosso mundo está cheio de mitos e teorias que pretendem explicar tudo o que não conseguimos compreender por nós. À primeira vista esta incapacidade parece um sinal de caos. À segunda vista, contudo, significa uma verdadeira inquietação nas nossas almas. Sabemos que é suposto sabermos as razões últimas das coisas.

O próximo passo é delicado. Haverá alguma coisa que pretende ser conhecimento “divino” e não apenas “humano”?. Aristóteles disse que nos devíamos esforçar por saber tudo o que pudermos sobre coisas “divinas”. A diferença entre os deuses e os homens é que os deuses são sábios, mas os homens não passam de amantes e buscadores da sabedoria dos deuses. Aristóteles sugeriu ainda que, se os deuses sabiam o que é a felicidade, essa devia ser a primeira coisa que nos diriam.

Este tipo de observação deixa-nos a pensar. Será possível que os deuses tenham feito o que Aristóteles sugeriu? Bom, sim, é bem possível. Como é que poderíamos saber se o fizeram? Provavelmente, concluímos, porque as suas respostas ou instruções se dirigiram precisamente à nossa ignorância mais profunda sobre a nossa razão de ser neste mundo.

São Máximo, o confessor
Como é que formulamos esta questão? Em Mateus (19,16), um jovem pergunta: “Que devo fazer para obter a salvação?” Não é esta a pergunta que todos fazem? Talvez não nestes precisos termos, mas mesmo que digamos “a minha vida não tem significado”, estamos implicitamente a responder à questão do jovem.

O que é que este “bem”, este “ser salvo”, tem a ver com o “conhecimento divino”? Se não sabemos porque é que existimos, não segue que mais ninguém o saiba. Pode bem ser que a nossa falta de conhecimento seja precisamente o que nos abre à aceitação do conhecimento sobre nós mesmos. Compreendemos que este conhecimento sobre nós é justamente “divino”. É algo que aceitamos como verdade que vem de fora, não é algo que compreendamos por nós. Mas não deixa de explicar.

Onde é que isto nos deixa? Máximo prossegue: “Através da virtude e do conhecimento, Cristo conduz ao Pai todos os que estiverem resolvidos a caminhar com Ele, que é o caminho da rectidão, em obediência aos mandamentos divinos”.

Mas isto não implica que aqueles que não são obedientes aos “mandamentos divinos” e que não são virtuosos, rejeitando o conhecimento, estão em grandes sarilhos? É isso mesmo que implica.

Se o “divino conhecimento” sobre nós mesmos nos for oferecido, podemos recusá-lo? Claramente que sim. Então é possível que o mundo contenha tanto aqueles que ouviram falar sobre o “conhecimento divino” e aqueles que tendo ouvir falar dele, rejeitaram-no.

Se for este o caso, é provável que estas duas “cidades”, aqueles que aceitaram e os que rejeitaram, possam viver juntos em paz? Não é provável. Porquê?

O “conhecimento divino” é um conhecimento sobre aquilo que somos, e não apenas um sentimento. Máximo fala de “raios de verdade” na “casa que é o mundo”. Através da “virtude e do conhecimento”, ao caminhar em “obediência aos mandamentos divinos” – a rejeição dos mesmos deixa-nos em guerra uns com os outros. Nenhuma reflexão explica melhor o estado do mundo em que vivemos.


James V. Schall, S.J., foi professor na Universidade de Georgetown durante mais de 35 anos e é um dos autores católicos mais prolíficos da América. O seus mais recentes livros são The Mind That Is CatholicThe Modern AgePolitical Philosophy and Revelation: A Catholic Reading, e Reasonable Pleasures

(Publicado pela primeira vez na Terça-feira, 21 de Julho de 2015 em The Catholic Thing)

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Friday 4 December 2015

Atirador era do Estado Islâmico, Carminho é de Deus

A fadista Carminho
Ao que parece, e como parecia provável, o homicida que anteontem matou 14 pessoas na Califórnia tinha sido radicalizado e pelos vistos jurou lealdade ao Estado Islâmico.

Continuam a decorrer, na capela do Rato, as “Conversas sobre Deus” com Maria João Avillez e diversos convidados. Esta semana foi a vez da fadista Carminho, que falou sem cerimónias da importância de Deus na sua vida.

Na próxima semana o Actualidade Religiosa vai descansar, voltando a partir do dia 14, se Deus quiser. Entretanto fiquem atentos à Renascença, que vai fazer uma excelente cobertura do início do Jubileu da Misericórdia, espreitem, caso ainda não o tenham feito, o meu artigo sobre a exposição “Real Bodies” e não deixem de ler o artigo desta semana do The Catholic Thing, sobre o futuro do Islão.

Thursday 3 December 2015

Mais uma tragédia nos EUA, porta da Misericórdia em Vila Viçosa

Alaa Murabit, a especialista canadiana de origem libía
Nova tragédia, desta feita nos Estados Unidos. Um casal matou 14 pessoas e feriu mais de 20 num ataque. Sabe-se que o casal é muçulmano e tudo indica que o ataque foi bem planeado, mas ainda não é dado como adquirido que se trata de um acto de terrorismo islâmico.

Sobre esta questão da radicalização, a Renascença falou hoje com uma jovem activista canadiana de ascendência líbia, que se encontra em Portugal para participar numa conferência, precisamente dedicada ao combate à radicalização.



Fátima já tem programa para o novo Ano Litúrgico e, atenção a todos os devotos de Nossa Senhora da Conceição, a única porta santa da diocese de Évora será no santuário em Vila Viçosa.

Wednesday 2 December 2015

Na Nigéria, mais 100 "real bodies" do Boko Haram

Forças Armadas dos Camarões
O Papa esteve esta manhã na audiência geral em Roma, mas ainda com o coração em África, lamentou as desigualdades que testemunhou e disse que a República Centro-Africana era o país que mais queria visitar.

Esta manhã os Camarões anunciaram terem morto 100 elementos do Boko Haram numa operação, libertando nada menos que 900 pessoas!

Em França continua a operação de “limpeza” depois dos ataques de Paris. Já foram encerradas quatro mesquitas e encontradas 330 armas, algumas das quais são consideradas de guerra.

Recentemente uma amiga perguntou-me se podia levar o meu filho a ver a exposição Real Bodies. Respondi que não e aqui explico porquê. Admito que a questão é debatível, deixe a sua opinião.

Hoje é dia de artigo do The Catholic Thing. David Carlin pergunta qual será o Islão do futuro, argumentando que é urgente eliminar o Estado Islâmico antes de a maioria dos muçulmanos se convencerem que é esse o tipo de religião que tem sucesso.

E Agora Islão?

David Carlin
Ao contrário do Catolicismo, o Islão não tem qualquer autoridade central, nenhum Papa que possa emitir sentenças definitivas sobre o que é ou não é ortodoxo. Nesse aspecto, o Islão é mais como o Protestantismo, que tem centenas de denominações concorrentes, cada uma das quais diz ser detentora da “verdadeira” versão do Cristianismo.

Pelo menos era assim no mundo protestante até há cerca de 100 anos. Com a chegada do protestantismo ecuménico, porém, uma grande parte do mundo protestante – a parte não-fundamentalista – decidiu que todas as versões do Cristianismo são basicamente iguais em termos de verdade. O mundo islâmico ainda não chegou a um ecumenismo tão abrangente. Os muçulmanos ainda insistem que a verdadeira versão do Islão é a sua.

O Estado Islâmico considera que representa o verdadeiro Islão. Por outras palavras, o verdadeiro Islão é aquele que estabelece (ou reestabelece) o Califado; que procura, com recurso à violência militar, conquistar o mundo; que pressiona os cristãos e outros não-muçulmanos, através da persuasão, da perseguição e do terror, a aceitar o Islão. Trata-se de uma versão moderna do Islão que imita o Islão primitivo que, surgindo na Península Arábica logo a seguir à morte do profeta, conquista rapidamente o Império Persa e uma grande secção do Império Romano, da Síria no Oriente até Espanha no Ocidente.

A maioria dos muçulmanos, incluindo uma grande maioria dos académicos muçulmanos, diria, como é evidente, que o Islão do Estado Islâmico não é o verdadeiro Islão. Podem não estar de acordo sobre o que constitui o verdadeiro Islão, mas concordam sobre o que não é, e não é o Estado Islâmico.

Mas perante isto o Estado Islâmico responde de duas maneiras. Uma é a resposta retórica: “Os nossos objectivos e práticas assemelham-se, muito mais do que as vossas, aos objectivos e às práticas dos primeiros califas, aqueles que sucederam imediatamente o Profeta. Como eles, somos muçulmanos militantes. Somos guerreiros de Allah. Somos jihadistas. Vocês, por outro lado, são gatinhos. Não estão dispostos nem a matar nem a morrer pela nossa santa religião”.

A outra resposta é dada no campo. O Estado Islâmico está a ter sucesso. Estabeleceu um estado (ou um quase-estado) no Iraque e na Síria. Estabeleceu alianças com organizações semelhantes desde a Indonésia à Nigéria; para todos os efeitos está agora à cabeça de uma federação jihadista global. Atingiu os infiéis em França, na Rússia e noutros locais e tudo indica que o fará novamente no futuro. Pela primeira vez desde o declínio do Império Otomano, o Ocidente teme o Islão militante. “Contra factos não há argumentos”, dirá o Estado Islâmico “e o facto é que nós temos sucesso, vocês não”.

Como já afirmei, não existe um Papa muçulmano que possa dizer que o Estado Islâmico não representa o verdadeiro Islão. A verdadeira definição do Islão será decidida numa espécie de referendo informal, levado a cabo ao longo dos próximos 50 a 100 anos pelos cerca de 1,5 mil milhões de muçulmanos do mundo. Se o Estado Islâmico continuar a ter sucesso, e se tornar ainda mais poderoso e bem-sucedido, é muito provável que uma maioria dos muçulmanos do mundo acabe por decidir que a versão de Islão do Estado Islâmico é a verdadeira.

Que Islão terá o futuro?
Esta é a verdadeira justificação para usar força militar massiva, incluindo algumas centenas de milhares de “botas no terreno”, para esmagar o Estado Islâmico antes que se torne maior e tenha ainda mais sucesso. O problema não é que o Estado Islâmico mate umas centenas de pessoas em Paris, mais uns milhares em sítios como Londres, Roma, Berlim, Madrid, Moscovo, Washington e Las Vegas. Podemos tolerar uns milhares de homicídios. Aqui nos Estados Unidos toleramos mais de 10 mil homicídios todos os anos. O que não podemos é tolerar uma redefinição do Islão segundo o modelo do Estado Islâmico – um Islão que mobiliza uma quinta parte da população do mundo para conduzir uma guerra santa contra os outros 80%.

Ao eliminar o Estado Islâmico estaríamos a fazer um grande favor a nós mesmos e sobretudo aos nossos netos e bisnetos. Mas estaríamos a prestar um serviço igualmente importante à maioria dos muçulmanos do mundo. Claramente, o mundo Islâmico está numa encruzilhada. Sente que deve responder de forma definitiva à cultura de modernidade que vem dos Estados Unidos em particular e do Ocidente de forma geral, uma cultura incompatível com o estilo de vida tradicional do Islão e que está a tomar conta do mundo e a transformá-lo.

Uma possível resposta é aquela que o Estado Islâmico está a propor: um regresso ao Islão militante do primeiro século depois de Maomé. Outra resposta possível é a modernização do Islão para que consiga abraçar os elementos menos maus da modernidade. Se o Estado Islâmico for eliminado, o mundo muçulmano não terá outra alternativa que não virar-se para a resposta da modernização.

Trata-se de um grande “se”. Quando falo do futuro com os meus alunos alerto-os sempre para o seguinte: “Embora seja possível prever os movimentos do sol, da lua e dos planetas, é praticamente impossível prever o futuro da humanidade”.


David Carlin é professor de sociologia e de filosofia na Community College of Rhode Island e autor de The Decline and Fall of the Catholic Church in America

(Publicado pela primeira vez no sexta-feira, 20 de Novembro de 2015 em The Catholic Thing)

© 2015 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução contacte: info@frinstitute.org

The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.

Tuesday 1 December 2015

Exposição Real Bodies? Nem morto, quanto mais vivo

Isto sim, corpos verdadeiros, em toda a sua beleza
Recentemente uma amiga perguntou-me se podia levar o meu filho mais velho, que está aprender agora sobre os diferentes sistemas do corpo humano, à exposição Real Bodies, na Cordoaria Nacional.

Agradeci, disse que sabia que tinha a melhor das intenções, mas que não queria que o meu filho fosse a essa exposição e que eu não seria visto lá morto, quanto mais vivo.

Não tenho nada contra o corpo humano, pelo contrário, a minha objecção vem de ter muito a favor do corpo humano e de sentir que a exposição não o trata com a dignidade que merece e que tem, mesmo depois de morto.

O grande problema desta exposição é precisamente aquilo que ela apresenta como sendo o seu principal trunfo: Os corpos são verdadeiros. E no meu entender o corpo é algo que não deve ser objecto de exposição cultural, precisamente porque o corpo não deve ser objecto de comércio.

Porque é disso que se trata. Quem vai à cordoaria paga um valor para obter algum tipo de satisfação a partir da exploração de um corpo que não é o seu. Podem chamar-lhe o que quiserem. Eu chamo-lhe prostituição cultural.

O problema da prostituição não é apenas a procura do prazer sexual de uma forma desregrada, se fosse estaria ao mesmo nível que a masturbação. O problema da prostituição é a redução de uma pessoa, de uma filha ou de um filho muito amado por Deus, a um objecto. É a diminuição de um ser humano a algo transaccionável. É isso que o “Real Bodies” faz.

A nossa dignidade é inerente à nossa condição humana e não termina com a nossa morte. Não nos é lícito pintar bigodes nos cadáveres dos nossos amigos nem embalsamar os seus membros para colocar por cima da lareira. O Cristianismo herdou do Judaísmo, e tem sublinhado sempre, que os restos mortais não são apenas lixo, ou a casca que deixamos para trás quando a alma vai para o Céu. Todos os domingos os cristãos afirmam a sua crença na Ressurreição dos Corpos no fim dos tempos porque este corpo que possuímos, que nos limita mas que é fonte inesgotável de alegria e do prazer que vem de vivermos em comunidade, da mais alargada à mais íntima, é igual àquela em que Cristo achou por bem encarnar.

Respondem-me os cépticos que as pessoas que estão no Real Bodies doaram os seus corpos para o efeito. E depois? Muitas prostitutas são escravas do tráfego humano, mas outras estão lá porque querem. Isso não torna a prostituição menos degradante e condenável. Pelo contrário, o facto de haver pessoas que sentem que a única forma de dar algum sentido à sua morte é serem plastificados, ou seja lá como se chama a técnica, e expostos para serem observados por turistas e curiosos para o resto da vida, é verdadeiramente triste e preocupante.

E o aspecto científico? Concordo que é perfeitamente lícito o estudo de cadáveres para fins científicos, seja de pesquisa, seja de aprendizagem. Mas não brinquem comigo, não é isso que se passa na cordoaria. De resto acho que é natural que mesmo um cadáver que seja doado para estudo científico seja depois dignamente sepultado.

Cada vez mais me convenço que um dos grandes problemas do mundo é a dessacralização do corpo humano, com uma sociedade que nos diz que o que interessa não é o corpo que temos, mas o que gostaríamos de ter; que os corpos dos nossos filhos são, nem que seja só até às 10 semanas, nada mais que “aglomerados de células”; cada vez mais ouvimos pessoas a dizer que querem ser cremadas para que os seus restos mortais não fiquem “a ocupar espaço”; a prostituição é legalizada, como se o problema naquela prática fosse apenas a falta de higiene; as nossas ideias de homem e de mulher são agora baseados em modelos totalmente artificiais promovidos pela comunicação social e a pornografia se tornou omnipresente.

Não somos almas numa carapaça descartável. Somos corpo e alma. Quando tudo à nossa volta nos diz que a nossa dimensão física de nada vale, sobretudo se não for fisicamente perfeita, isso desvaloriza a nossa humanidade.

Exposições como o Real Bodies não são o principal problema, são sintomas do principal problema e se alguns sintomas temos de aguentar, há outros que só contraímos se quisermos.

Eu preferia morrer do que ver um filho meu plastificado, montado e exposto para diversão das multidões. Cada uma das pessoas na exposição Real Bodies é filho de alguém, tão digno como eu e como os meus filhos. Não tomarei parte no festival da sua degradação. 

Filipe d'Avillez

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