Wednesday 28 August 2019

O Que Pensamos Importa

Recentemente escrevi sobre os Thomistic Institutes, uma iniciativa da Dominican House of Studies em Washington D.C., que organiza palestras e conferências proferidas por católicos ortodoxos de primeira categoria em quase cinquenta (e cada vez mais) das mais prestigiosas universidades e faculdades da América. E a organização está em expansão. Muitos leitores escreveram-me para expressar a sua apreciação por esta rede tão valiosa, mas também para perguntar o que podem fazer se não houver nada do género na sua zona.

Agora temos uma resposta.

No dia 26 de Agosto foi para o ar o Aquinas 101 – um site criado pelos mesmos dominicanos. Cliquem e preparem-se para uma experiência fascinante. Quando estiver completa, esta série terá oitenta e seis breves palestras, cuidadosamente preparadas e dirigidas a qualquer pessoa com um nível de capacidade e de interesse comum.

Este curso é aberto a todos, e é gratuito!

Estamos a falar de uma introdução bem construída e acessível a um dos maiores de todos os pensadores dominicanos, São Tomás de Aquino, que não só nos coloca em contacto com o homem que mais fez para formar o pensamento católico ao longo dos séculos, mas também nos ajuda a ver como essa enorme obra de pensamento tem grande relevância para algumas das questões nevrálgicas que hoje enfrentamos.

Por exemplo, muitas pessoas hoje, incluindo cristãos e até católicos, caíram em algumas confusões básicas sobre a natureza da Fé e da Razão. Conforme explica uma das primeiras palestras desta série, isto leva, por um lado, ao cepticismo – não podemos saber verdadeiramente nada sobre Deus – mas também, por outro, ao que tem sido apelidado de “fideísmo”, a ideia de que cremos sem saber em quê.

Ambas são reações naturais numa era de pós-verdade, mas um católico curioso não quererá deixar que o seu pensamento se mantenha preso neste lamaçal actual. Há ideias melhores e mais “verdadeiras” sobre a verdade, que Aquino e outros nos podem fornecer.

Talvez já tenham visto a sondagem recente que mostra quão poucas pessoas, até entre católicos praticantes, acreditam na Presença Real de Cristo na Eucaristia. Muitos acham que não passa de um mero símbolo. No final de contas, a Eucaristia é um profundo mistério, mas homens santos e dotados como Aquino recorreram às várias ferramentas da tradição e da razão humana para fornecer abordagens racionais e sérias àquilo que no fundo nos transcende a nós e a toda a Criação.

Recentemente o jesuíta Thomas Reese comentou essa sondagem dizendo que não acredita em termos como “substância”, “acidente”, “matéria” e “forma” que Aquino utilizou para explicar a Eucaristia. Mas sem uma qualquer forma de explicação e descrição sólida, não admira que a Eucaristia pareça simplesmente simbólica e que a crença na mesma se torne “fideísta”.

Muitos rejeitam estes conceitos porque acham que as ciências modernas as desacreditaram. Na verdade a ciência não o fez, nem o pode fazer, precisamente porque os pensadores escolásticos usaram esses termos de forma filosófica. Não pode contradizer a ciência – nem antiga, nem moderna, nem pós-moderna, nem nada que ainda aí venha. Mas seria necessário estudar e perceber como os termos Fé e Razão se relacionam para o compreender.

A principal razão pela qual os jovens de hoje abandonam a verdadeira religião e adoptam a descrição “espiritual e não religioso” é porque acreditam que a ciência tornou a religião tradicional inviável.

Podemos simplesmente cruzar os braços e lamentar que tantos tenham caído nesta falácia simplista. (“Ex-católicos” são o segundo maior grupo religioso na América e os “Nenhuns”, i.e., pessoas que dizem que não têm qualquer forma de filiação religiosa, são provavelmente a categoria religiosa que mais cresce na nossa sociedade.) Ou então podemos decidir fazer alguma coisa sobre o assunto, a começar por nós mesmos.

Estudar São Tomás não é pera doce e o próprio admite, em vários pontos da sua vasta obra, que nem toda a gente tem capacidade para estudar filosofia e teologia. Mas esta série foi montada por pessoas perfeitamente cientes destas dificuldades. Como o próprio site explica: “Não é tão difícil como pensa. Na verdade, quando nos habituamos, o pensamento de Aquino ilumina algumas das questões mais importantes. Perceberá até que ele se tornou seu amigo e guia nos caminhos da sabedoria”.

São Tomás de Aquino
Imagine poder falar de sabedoria nos nossos dias e afirmar que “o que pensamos importa”, tal como a Igreja sempre ensinou.

Católicos e protestantes, por exemplo, diferem sobre muitas coisas. Mas, classicamente, podemos dizer que tudo se resume à fórmula central de Lutero: Sola Scriptura – Só a Escritura é que constitui a fé, por oposição à Tradição e à Escritura, ou à Bíblia e a Igreja, ou à Fé e a Razão.

Neste último departamento tem havido filósofos protestantes sérios, claro, e teólogos protestantes como João Calvino ou Karl Barth, que empreenderam reflexões racionais profundas. Ainda assim não seria um exagero dizer que de todas as formas de Cristianismo, a que cultivou quer a fé quer a razão de forma mais consistente ao longo dos séculos é o Catolicismo.

E entre os Católicos o grupo intelectualmente mais fértil, ao longo de quase mil anos, tem sido a Ordem Dominicana. A lista de santos intelectuais e místicos é longa: O próprio São Domingos, Mateus de Paris, Raimundo de Peñafort, Alberto Magno, Tomás Aquino, Mestre Eckhart, Catarina de Sena, Fra Angelico, Bartolomeu de las Casas, Francisco de Vitória, Cardeal Cajetan, Rosa de Lima, Martim de Porres, Pio V (cujo longo pontificado legou aos Papas o seu traje branco), Louis de Montfort, Lacordaire, A. G. Sertillanges, Reginald Garrigou-Lagrange, Vincent McNabb, Aidan Nichols e muitos outros nos tempos modernos.

Claro que há outras escolas de pensamento católico para além do Tomista e do Dominicano. Mas ao familiarizar-se com qualquer uma das figuras citadas acima, já ficará com uma formação valiosa em pensamento e prática católicos – bem como uma perspectiva poderosa sobre muitas questões perenes e controvérsias actuais.

Mas a Dominican House tornou mais fácil para todos estudar Aquino, agora. Vá até ao site e inscreva-se. É grátis; pode estudar ao seu próprio ritmo, a partir de casa; não há notas. O que é que tem a perder? E pense só no que tem a ganhar.


Robert Royal é editor de The Catholic Thing e presidente do Faith and Reason Institute em Washington D.C. O seu mais recente livro é A Deeper Vision: The Catholic Intellectual Tradition in the Twentieth Century, da Ignatius Press. The God That Did Not Fail: How Religion Built and Sustains the West está também disponível pela Encounter Books.

(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing na Segunda-feira, 26 de Agosto de 2019)

© 2019 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução contacte: info@frinstitute.org

The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.

Wednesday 21 August 2019

Oração e Ascese

Michael Pakaluk
Se estiver a pensar quantos minutos de exercício é que devia fazer por dia para manter-se saudável, talvez já saiba que a resposta é 30 minutos. Mesmo que não soubesse, não duvidaria que existe uma resposta objectiva, e saberia onde a procurar (por exemplo, através do Ministério da Saúde).

E compreenderia que esse número corresponde a um mínimo. Alguém que precisa de perder peso, ou um atleta em treino, teria de fazer muito mais que isso. Mas compreenderia esta ideia do que, objectivamente, uma pessoa precisa para se manter saudável. Viver bem implica conseguir encaixar pelo menos 30 minutos de actividade vigorosa no seu dia. Todos sentimos e compreendemos isto, de forma implícita.

Mas eu gostaria de colocar a pergunta equivalente em relação à alma. Dizemos que existe uma alma, e que o corpo representa, de várias formas, a alma. Existe a actividade da alma, em como força e saúde. Por isso parece evidente que se possa colocar a pergunta: quantos minutos por dia é que devia exercitar a minha alma para uma boa saúde espiritual? Mas neste campo, embora seja muito mais importante, tendemos a pensar que não existe resposta objectiva e que não saberíamos bem a quem perguntar se precisássemos de uma indicação.

Repare que me estou a referir a tempo que “pomos de parte”. Claro que há esforços físicos que fazem parte do dia-a-dia – ir a pé para o trabalho, levantar sacos de compras, etc., e é bom que a nossa vida inclua estas coisas. Da mesma forma, podem existir actos de “exercício espiritual” nas actividades diárias. Mas eu estou-me a referir a períodos de tempo que são apenas para exercício corporal ou espiritual.

Vejamos a questão desta forma. Pode-se distinguir, em princípio, a oração da ascese. A oração pode ser entendida como uma conversa com o Senhor. A ascese é qualquer actividade que requeira e construa autodisciplina.

Teoricamente, pode haver conversas com o Senhor que não requeiram autodisciplina. Muitas pessoas entendem a oração desta forma. Pensam numa conversa entre dois amigos, como dois homens sentados em cadeirões, a fumar charutos e a beber whisky, tendo uma grande conversa. E então acham que a oração é assim, como se estivessem confortavelmente sentados a ter esse tipo de conversa agradável com Deus.

O Asceta - Pablo Picasso
Também em princípio pode existir ascese de algum tipo sem oração. O filósofo Thomas Reid resolvia problemas de cálculo todas as manhãs, pela disciplina mental, antes de se dedicar a escrever filosofia. O filósofo analítico Roderick Chisholm disse-me um dia que todas as manhãs, antes de começar a trabalhar, estuda um artigo da Summa Teológica, não pelo conteúdo, mas pela disciplina que implica.

Outro exemplo seria Benjamin Franklin, que fazia um autoexame todos os dias, com base numa tabela de virtudes, e há ainda quem resolva problemas de sudoku ou palavras cruzadas, para manter a mente alerta.

Mas embora a oração e a ascese espiritual sejam, em princípio, coisas diferentes, na prática conjugam-se. A oração é uma conversa com o Senhor, de facto. Mas se o Senhor estiver a caminho do deserto? Então não poderá conversar com ele sem se despir de tudo o resto.

Ou então imagine que o Senhor está a escalar uma montanha, e que para conversar com Ele é preciso subir também? Talvez já tenha escalado montanhas e saiba exactamente quanta autodisciplina precisa para empreender uma subida íngreme durante quatro ou cinco horas. Mas Nosso Senhor deu-nos precisamente estes exemplos de sair para o deserto para rezar, e de escalar uma montanha para rezar (Lc. 5,16, 6,12). Duvido que o tenha feito se não nos quisesse mostrar algo sobre a natureza da oração.

Bem vistas as coisas, não existem exemplos no Novo Testamento de Jesus a procurar um cadeirão para rezar.

A ideia errada de que se “encontra” tempo para rezar parece ligada à confusão de que a oração é, na prática, separável da ascese – como se a oração simplesmente aparecesse ou ocorresse de forma espontânea. Como se escalar uma montanha fosse apenas algo que surgisse naturalmente na nossa vida do dia-a-dia: “Fui trabalhar, acabei aqueles projetos, e então a ocorreu-me que o melhor a fazer era escalar uma montanha”.

A oração requer ascese – por causa do pecado original, por causa das exigências do discipulado, por causa do poder da Cruz. Também nos podemos espantar com o facto de (embora a oração seja fruto de uma busca de amor, tal como a conversa), a ascese não deixa de ser uma forma eficiente de desenvolver autodisciplina para todas as áreas da vida. Mais até do que práticas de ascese directa (excepto para disciplina intelectual pura – aí mais lhe vale resolver problemas de cálculo).

Voltando, portanto, à questão original: Quanto tempo por dia devia dedicar à oração? Podemos responder que seria o tempo necessário para exercitar a alma.

Afinal, para esta questão parece haver uma resposta objetiva, e autoridades competentes. Olhando para os santos e grandes Papas, vemos que recomendam a missa diária (30 minutos); a oração do terço (15 minutos); a oração do Evangelho do dia e de um livro espiritual (15 minutos) e oração mental diária (pelo menos 15 minutos, mas idealmente uma hora) – o que leva a um total de duas horas. Por isso, ao que parece, para viver uma boa vida cristã devemos encaixar duas horas de oração no nosso dia.

Se viajar para os Estados Unidos poderá surpreender-se com a quantidade de americanos obesos que existem. Mas talvez encontre também uma equipa de atletas universitários a caminho do seu voo. Desconfio que se existissem juízes capazes de ver as nossas almas, como acontece num dos mitos de Platão, eles ficariam espantados ao ver o quão espiritualmente obesos nós parecemos todos.

E os cristãos, que deviam parecer-se mais com aquela equipa de atletas, são iguais a todos os outros.


Michael Pakaluk, é um académico associado a Academia Pontifícia de São Tomás Aquino e professor da Busch School of Business and Economics, da Catholic University of America. Vive em Hyattsville, com a sua mulher Catherine e os seus oito filhos.
  
(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing na terça-feira, 20 de Agosto de 2019)

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Wednesday 14 August 2019

Ahh... Os Bispos

Pe. Bevill Bramwell, OMI
No Rochedo de Cashel, na Irlanda, visitei as ruínas de uma fortaleza de um bispo. Alguém comentou: “Eles tomam sempre bem conta de si”. Eles eram os bispos. No tempo dos apóstolos os bispos eram pobres e viviam vidas de risco. Mas com o Édito de Milão (313) passaram a ter estatuto de funcionários imperiais, controlando terras, vilas e províncias. Ganharam honras civis e estipêndios. Eram barões e senhores.

Nada na forma como o cargo foi originalmente constituído indicaria que se deveriam comportar assim, mas em vez de darem testemunho na cultura, alinharam com ela. Nem todos os bispos o fazem, mas os que fazem são em número suficiente para que a sua taxa de consumo e ambição sejam um problema para a presença da Igreja no mundo.

Os palácios episcopais podem ser um grande problema. Claro que há bispos que vivem em casas modestas, mas quanto ao resto, as suas residências são um gigantesco contratestemunho para o trabalho oficial da Igreja. A Igreja é um corpo de testemunho. Por razões legais, está organizado numa série de corporações. Mais importante, a Igreja é fundamentalmente um testemunho de Jesus Cristo no mundo. E isso não implica ter muito dinheiro ou um estatuto social mais elevado.

O problema, do ponto de vista teológico, é que o bispo está limitado pelos parâmetros materiais da vida de Jesus Cristo e é simplesmente impossível dar testemunho credível de Jesus Cristo enquanto se vive uma vida significativamente mais rica que a de Jesus Cristo – a não ser que a mensagem da Igreja seja um mero acrescento. Viver a vida de Cristo é uma coisa pessoal, no sentido em que compromete toda a pessoa, corpo e alma. Cada aspecto da existência do indivíduo deve manifestar Cristo. Isto aplica-se igualmente aos padres, mas isso é tema para outra conversa.

Fatos Armani ou passatempos caros demonstram uma dependência de coisas materiais e não do Espírito. Também podem sugerir que a pessoa se imagina superior àquelas que a rodeiam, ou que se sente mais à vontade com as classes altas. Depois existem as outras benesses do trabalho – os convites para restaurantes caros, onde a conta é paga por outro; bilhetes grátis para grandes eventos; casas de férias emprestadas, e por aí fora, aparentemente sem limite.

Devia ser difícil, psicologicamente e espiritualmente, pregar o Evangelho aos domingos enquanto se vive este tipo de vida durante o resto da semana. Pelo menos se conhecer o Evangelho.

Uma vez perguntei sobre um caso de consumismo suspeito e responderam-me que o bispo podia fazer o que quisesse com o seu salário diocesano. Um excelente argumento – no mundo secular. O problema do testemunho mostra a falsidade da proposição. Há bispos que recebem o mesmo salário de padres com o mesmo tempo de serviço.

Os nossos valores não devem radicar no mundo secular. Se assim fosse, as conversões e a redenção seriam supérfluos. Para além disso, já existem bastantes organizações e pessoas a espalhar os valores seculares. A espalhar os valores contrários existe apenas a Igreja. Uma Igreja que é verdadeiramente contracultura. Demasiados católicos tentam viver nas margens de dois sistemas de valores contraditórios.

Residência do Arcebispo de Chicago, EUA
O dinheiro sempre foi uma matéria ruinosa para a vida dos funcionários da Igreja. Já ouvimos todas as desculpas. Que é necessário para o funcionamento da Igreja. Que o Clero precisa dele para arranjar os edifícios escolares e as igrejas e para dar conta de todas as necessidades na paróquia e na diocese.

A necessidade do dinheiro, contudo, desencadeia toda uma corrente de eventos relacionados com a angariação de fundos, como os bispos a serem tratados como ornamentos em jantares faustosos e bajulados por ricos.

E vai mais longe, estamos sempre a ouvir histórias de bispos a tratar de forma especial ricos ou poderosos e até a menosprezar a doutrina da Igreja.

Algumas devem ser verdade, uma vez que situações como católicos ricos a defenderem impunemente o aborto têm-se tornado um verdadeiro escândalo público. A afirmação de que estão a ser tratados de forma “pastoral” já não cola ao fim de todo este tempo.

Estamos perante um temor dos ricos? Ou dos poderosos? Ou será a vontade de ser aceite por eles? Será que os directores espirituais destes bispos falam com eles sobre estas questões? Afinal de contas, o trabalho de um director espiritual é ajudar o dirigido a tornar-se mais católico, ou por outras palavras, a assumir mais do ensinamento católico como verdadeiro. De tal forma, aliás, que se deve vivê-lo na prática.

Por último, devemos perguntar também em que hotéis chiques é que se encontra a Conferência Episcopal e em que restaurantes se juntam para comer durante as reuniões. Talvez se optassem por locais mais simples isso ajudaria a quebrar a ilusão de que os bispos se devem sentir magicamente em casa entre os ricos e os poderosos. Mandar vir umas pizas para uma reunião de trabalho talvez fosse simultaneamente um bom testemunho público e um acto de humildade.

Rezemos para que Deus nos conceda um corpo de bispos a viver vidas consistentes e a ensinar doutrina consistente – não movidos pela arbitrariedade, mas vivendo a vida e Cristo – o único Cristo.


(Publicado pela primeira vez no Domingo, 11 de Agosto, 2019 em The Catholic Thing)

Bevil Bramwell é sacerdote dos Oblatos de Maria Imaculada e professor de Teologia na Catholic Distance University. Recebeu um doutoramento de Boston College e trabalha no campo da Eclesiologia.

© 2019 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução contacte: info@frinstitute.org

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Wednesday 7 August 2019

Dois Caminhos

Pe. Jeffrey Kirby

Na vida encontramos duas correntes, que Nosso Senhor Jesus descreveu como dois caminhos. São Paulo desenvolveu mais esta noção ao descrever a batalha entre os que têm coração de carne e os que têm coração espiritual. Santo Agostinho, o protegido espiritual do Apóstolo dos Gentios, elaborou toda uma teologia com base na noção de duas cidades: A Cidade de Deus e a Cidade dos Homens. Fazendo eco da sabedoria do Senhor, o Doutor da Graça compreendeu que estas duas cidades eram formadas por dois tipos diferentes de amor. Uma das cidades procurava amar a Deus, a sua Lei e o próximo – enquanto a outra cidade era refém do narcisismo.

O Papa São João Paulo II traduziu estas duas noções para uma linguagem mais contemporânea. Na sua monumental encíclica Evangelium Vitae, de 1995 (em larga medida uma continuação mais desenvolvida da anterior Humanae Vitae do Papa São Paulo VI), o amado Papa criou dois termos que agora são parte integrante da visão católica do nosso tempo: a cultura da vida e a cultura da morte. Nestas expressões o Papa santo voltava a mostrar que existem dois caminhos e dois amores na vida. Estes caminhos e os amores que revelam dão aso não só a “cidades” mas também a culturas. Alimentam-se dos seus próprios amores.

A cultura da vida chama-nos a um serviço sacrificial a Deus e ao nosso próximo, sobretudo aos mais vulneráveis e necessitados, cada vez mais elevada. Radicado num amor por toda a gente, a cultura da vida crê, vive e labora para espalhar a mensagem de que toda a gente tem dignidade, todas as pessoas são um dom de Deus e todas as pessoas – por mais manchadas de pecado original e pessoal – devem ser estimadas e respeitadas.

Esta afirmação é um irritante para a cultura da morte. Essa cultura odeia a mensagem, despreza o mensageiro e procura retirar a dignidade e o respeito – enquanto professa o contrário – aos mais vulneráveis e fracos de entre nós.

Não obstante estas provas de consciência pesada, a cultura da morte preocupa-se unicamente consigo e com os seus desejos. Procura destruir tudo o que lhe seja inconveniente ou desconfortável. Os fracos e os vulneráveis são presa fácil numa cultura destas.

Por isso, para além de alimentar o seu próprio amor a Deus e ao próximo, uma cultura da vida robusta deve expor e combater a cultura da morte. Esta batalha é inevitável e quem vive uma forte cultura da vida compreende a sua necessidade. Logo, trabalha para desmantelar os argumentos, enfraquecer a sedução e impedir a influência e as estruturas de uma cultura antivida.

No Evangelium Vitae o Papa João Paulo II identificou correctamente uma “conjura contra a vida”, que “não se limita apenas a tocar os indivíduos nas suas relações pessoais, familiares ou de grupo, mas alarga-se muito para além até atingir e subverter, a nível mundial, as relações entre os povos e os Estados.” (#12)

As raízes desta conspiração encontram-se na revolta de Lúcifer contra Deus. O maligno espalhou essa revolta através das mentiras que contou aos nossos primeiros pais e do seu pecado no Jardim do Paraíso. Esta cultura da morte levou ao homicídio do seu primeiro filho Abel pelo seu irmão Caim. Esse acto de fratricídio conduziu a ofensas ainda maiores à dignidade humana.

E assim o palco estava preparado. As opções tornaram-se claras e as pessoas, cidades e culturas tiveram de decidir-se pela vida ou pela morte. Quem escolhe a vida tem de estar disposto a combater em sua defesa.

Historicamente, a batalha sobre a vida tem sido de uma só frente. Os arautos da cultura da morte atacam os nascituros. Negam a sua personalidade. Classificam-nos como indesejáveis. Partiram para uma batalha de palavras e redefiniram termos como autonomia, dignidade e escolha para apoiar os seus esforços. Travaram uma guerra particularmente feroz contra quem tem necessidades especiais, sobretudo quem tem Trissomia 21.

Mas a cultura da morte alimenta-se de si mesma. Não se satisfaz apenas com uma frente de batalha. E por isso a guerra tem agora duas frentes, incluindo o final da vida.

As notícias estão cheias de relatos de crianças a quem são negados os cuidados de fim de vida, doentes como Vincent Lambert, que morreu recentemente em França depois de lhe ter sido recusada comida e água e Estados como o Maine vão criando leis para facilitar o suicídio medicamente assistido.

A guerra de palavras deu aso a novas definições de termos como fardo, qualidade de vida e até misericórdia.

Chegou o momento – enquanto os ataques à vida se tornam mais sofisticados e alargados – de as pessoas se tornarem mais criativas e ativas, mais assertivas em sublinhar o contexto e a definição próprias das palavras, em dar testemunho do amor desinteressado pelos fracos e vulneráveis, em protestar e mudar as leis contra a vida e em partilhar com paroquianos, vizinhos e colegas a beleza e a dignidade objetiva de toda a vida humana.


O padre Jeffrey Kirby, STD é professor-adjunto de Teologia em Belmont Abbey College e pároco da paróquai de Our Lady of Grace em Indian Land, SC. O seu mais recente livro é Be Not Troubled: A 6-Day Personal Retreat with Fr. Jean-Pierre de Caussade.

(Publicado pela primeira vez no domingo, 4 de Agosto de 2019 em The Catholic Thing)

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Friday 2 August 2019

Tomem lá esta celebração




Em Fátima já começaram as férias para famílias com filhos deficientes. É um projeto fantástico e muito generoso, que tem tido cada vez mais sucesso.

O Papa Francisco pede que se reze pelas famílias durante o mês de Agosto. E por falar em família, que dizer desta campanha de um grupo holandês? (Ver foto). Querem festejar o facto de haver cada vez menos bebés a nascer em Portugal (e não só). Fui lá com a minha família para mostrar um festejo tradicional português.


Agora o Actualidade Religiosa vai de férias. Continuarei a publicar os artigos do The Catholic Thing às quartas-feiras e a partilhar informação no Twitter e Facebook.

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