No passado dia 7 de Março o jornal “O Público” trazia um artigo fascinante assinado por Laura Ferreira dos Santos sob o título “O cardeal e a "essência" das mulheres”.
A autora revela-se revoltadíssima, mas pouco espantada, com o teor das declarações do Cardeal D. Manuel Monteiro de Castro sobre as mulheres.
Cito a passagem chave: “Assim, o cardeal Monteiro de Castro não disse nada de extraordinário quando afirmou - cf. PÚBLICO online de 17/2/12 - que a função essencial da mulher é a "educação dos filhos". Não disse nada de extraordinário, mas até o próprio facto de o jornal ter colocado o termo "essencial" entre aspas mostra a distância que, no Ocidente, fomos criando em relação a este tipo de linguagem.
Para proteger as famílias, este cardeal não disse querer mais creches e infantários a preços acessíveis, se possível dentro das próprias empresas ou instituições, não disse querer horários de emprego razoáveis para homens e mulheres e com salário "justo", não exigiu períodos de descanso semanais a serem gozados em simultâneo por mãe e pai, não pediu uma melhor política de emprego para ambos os géneros, não falou dos problemas da habitação e do transporte, etc., etc.”
Sobre o teor das palavras de D. Manuel Monteiro de Castro e a forma como foram deturpadas pela imprensa, nomeadamente pelo Público e pelo Correio da Manhã, já escrevi aqui. Quem estiver por fora, ou continua a pensar que o cardeal disse aquilo que estes jornais lhe atribuíram, façam favor de o ler.
Agora interessa-me mais analisar este texto de Laura Ferreira dos Santos. Reparem então como ela parte de uma declaração fantasiosa (sublinho que o Cardeal NÃO DISSE AQUILO) e logo à partida tece um juízo de valor sobre o homem.
Depois, sobre esse primeiro erro constrói toda uma tese, começando por elencar uma série de outras coisas que o Cardeal não disse mas, segundo ela, devia ter dito, para compensar a primeira coisa que não disse, mas que ela pensa que ele disse.
Segundo Laura Ferreira dos Santos o Cardeal não deveria ter respondido a esta pergunta do jornalista, devia era ter escrito um manifesto eleitoral, mas enfim.
O melhor, porém, está para vir. Laura Ferreira dos Santos aproveita para extravasar as suas opiniões sobre a mulher, os homens e a igualdade. Os argumentos são perfeitamente válidos, está no seu direito, é pena estar a esgrimi-los contra um moinho de vento que a imprensa criou e no qual ela confia cegamente.
Mas, dizia, o melhor é quando ela começa a citar autores e insinua que o pobre do Cardeal talvez já não tenha capacidade intelectual para acompanhar o seu raciocínio: “Temo, porém, que o cardeal Castro já não consiga seguir esta linha de raciocínio. Pior ainda se eu recorrer a D. H. Lawrence e disser, como ele, que uma mulher é como "uma estranha e suave vibração do ar...””.
Demasiado intelectual para o Cardeal |
Deixem-me ver, então, se entendi bem. A mesma senhora que foi incapaz de compreender uma mera frase de uma entrevista, ou que então não leu a entrevista e limitou-se a basear a sua opinião num título enganador (o que é francamente mais grave), está agora a acusar o mesmo homem de não ter capacidade intelectual de seguir o seu raciocínio? Lindo...
Poderão perguntar-me porque é que eu insisto tanto na defesa de D. Manuel Monteiro de Castro, mas é a pergunta errada. Eu não conheço o Cardeal, não faço ideia se ele é simpático, inteligente e civilizado ou se de facto corresponde mais exactamente à caracterização que os seus detractores têm feito dele. Francamente, nem isso me interessa.
Estou é farto de ver mau jornalismo e os efeitos que isso traz. Algum idiota achou que seria engraçado fazer um título sensacionalista sobre o cardeal, algo que pegasse num estereótipo sobre homens da Igreja e atraísse muitos leitores. Conseguiram, mas para o conseguir sujaram de forma desonesta a reputação de um homem e criaram um mito que perdura e que, pelos vistos, se continua a espalhar.
Sei que este é um problema geral, não são só os clérigos os atingidos, mas eu especializo-me nesta área, daí a minha insistência. O Público e o Correio da Manhã prestaram um mau serviço ao jornalismo. Milhares de pessoas foram na conversa e Laura Ferreira dos Santos, que talvez até seja um encanto de pessoa, teve o azar de o fazer nas páginas de um jornal diário com milhões de leitores. É pena.
Filipe d'Avillez
Filipe d'Avillez
È de justiça!
ReplyDeleteAcho que a unca forma de resolver estes assuntos, que são francamente em demasia, é ignorar e não dar resposta e também evitar de dar entrevistas, pois já sabem como não exist ética, tudo pode ser deturpado sem pudor. A regra de ouro para esta gente é: Tudo serve para ganharmos dinheiro e protagonismo
DeleteMuito bem respondido Felipe!
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