Robert W. Shaffern |
Para sua grande vergonha, algumas figuras da Igreja
Católica da Nicarágua contribuíram significativamente para esta catástrofe,
cujas sementes têm estado a germinar desde a conclusão, em 1979, da guerra
civil brutal e sangrenta que sacudiu o país durante uma década. Nesse ano os
bolcheviques sandinistas expulsaram os últimos membros da dinastia ditadora
Somoza do país. Muitos membros do clero católico apoiaram os sandinistas,
especialmente membros da ordem jesuíta.
Em vésperas da II Guerra Mundial os jesuítas aumentaram a
sua presença na América Central. Em 1937 a Sociedade de Jesus criou a
vice-província da América Central, separando-a da região administrativa do
México. O Padre Pedro Arrupe Gondra, superior geral da Sociedade de Jesus entre
1965 e 1983, elevou a vice-província a província plena em 1976, quando a guerra
civil da Nicarágua estava no seu auge.
Na sua tentativa de aliviar o sofrimento das massas de
pobres naquela região, e preocupados em evitar o surgimento de um regime
comunista, os jesuítas que trabalharam na América Central durante as décadas de
1940 e 1950 promoveram a formação de partidos e movimentos democratas-cristãos
semelhantes aos que foram criados na Europa depois da II Guerra Mundial. Uma
grande contribuição para esta missão aconteceu em 1960, quando os jesuítas
fundaram a Universidade da América Central. Ironicamente, foi a família Somoza
que doou o terreno onde viria a ser construída a única universidade privada da
Nicarágua.
Durante os anos 60 e 70, porém, os jesuítas da América
Central foram-se aliando cada vez mais à extrema-esquerda, seguindo os passos
de figuras oitocentistas como Abbé Sieyès e Talleyrand. Foram arautos e aliados
da vitória dos comunistas sandinistas. Aliás, muitos jesuítas chegaram a
desempenhar cargos importantes no regime sandinista, incluindo os irmãos
Fernando e Ernesto Cardenal, Miguel D’Escoto e Edgar Parrales, que foram todos
teólogos da libertação que apoiaram a revolução armada contra o regime Somoza.
Depois de 1979, todos eles ocuparam posições no governo.
Fernando Cardenal foi ministro da Educação (que obviamente promovia propaganda
do regime), Ernesto Cardenal foi ministro da Cultura (igualmente
propagandística), e D’Escoto foi Ministro dos Negócios Estrangeiros.
Por sua parte, Arrupe apelou a uma espécie de ralliement
na Nicarágua, parecida com a do Papa Leão XIII, quando este pediu aos católicos
franceses, em 1892, para não rejeitarem os governos anticlericais da III
República Francesa. Arrupe pediu aos jesuítas e a outros para dar o seu
“generoso apoio” aos sandinistas. Porém, Arrupe tinha algumas reservas em
relação aos comunistas, e dizia que estes também deviam ser criticados quando
necessário.
Infelizmente, um estudo feito pela UAC no final dos anos
90 encontrou pouco para criticar no Governo. Os jesuítas receberam os
sandinistas de braços abertos.
João Paulo II de dedo em riste a repreeender Ernesto Cardenal |
Os jesuítas reabilitaram-no em 1997, depois de ter
repetido o noviciado. Tal como um moderno Georges Danton (que virou de apoiante
para opositor do Reino de Terror francês), Cardenal acusou o movimento
sandinista de corrupção, e renunciou a sua ligação ao mesmo em 1994.
Contudo, nem todo este apoio católico impressionou
Ortega, que manipulou cinicamente os seus aliados na Igreja. Quando alguns
líderes católicos manifestaram o seu desagrado com o facto de ele ter uma
amante, decidiu casar. Claro que o casamento não foi realizado por
arrependimento dele, ou da sua amante, mas apenas para conseguir mais apoio de
católicos de esquerda. Estes foram na conversa.
No final dos anos 60 o filósofo italiano Augusto del Noce
avisou que o catolicismo progressista estava num beco sem saída, porque na
coligação entre os católicos e os esquerdistas o elemento progressista, que
rejeita os ensinamentos básicos do catolicismo sobre a pessoa, predominaria.
Sob pena de terem de abdicar dos seus objectivos utópicos no campo da política,
economia e sociedade, os marxistas não tinham como não perseguir e suprimir a
Igreja Católica. O marxismo rejeita totalmente as realidades transcendentais
que o Cristianismo entende como sendo o fundamento de tudo o que existe, bem
como a esperança última da raça humana.
O guião deste drama infeliz já tinha sido encenado na
Revolução Francesa. O pai de todos os movimentos de esquerda da civilização
ocidental, o jacobinismo, tentou erradicar o Catolicismo. Os jacobinos
Robespierre, Danton, St. Just e outros, enviaram milhares de católicos para a
guilhotina entre 1793 e 1794 por considerarem que a sua religião fomentava a
superstição, a credulidade e a intolerância. Ser católico era – alegavam – rejeitar
o patriotismo. Mais tarde movimentos semelhantes, como o bolchevismo, seguiram
o mesmo caminho.
A Igreja na Nigarágua está apenas a colher o que os
jesuítas e os teólogos da libertação semearam.
Robert W. Shaffern é professor de história medieval na
Universidade de Scranton. Também lecciona cursos de civilizações antigas e
bizantinas, bem como sobre o Renascimento Italiano e a Reforma. É autor de The Penitents’ Treasury:
Indulgences in Latin Christendom, 1175-1375.
(Publicado pela primeira vez em The
Catholic Thing na sexta-feira, 8 de Dezembro de 2023)
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Como então, também agora os teólogos e padres/bispos da teologia da libertação um pouco por todo o mundo ocidental (incluindo Portugal e no próprio Vaticano) vão semeando uma dourina inversa à do CATECISMO da IGREJA CATOLICA
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