Tuesday 30 April 2013

Todos os israelitas à espera do Papa

"Todos à minha espera? Todos mesmo? Ena! Então vou!"
O presidente de Israel visitou hoje o Papa Francisco e convidou-o a ir a Jerusalém, dizendo que todo o povo o espera lá. O Papa aceitou o convite, mas não há datas previstas.

Ontem monsenhor José Avelino Bettencourt foi condecorado por Cavaco Silva e comentou dizendo que “A condecoração transcende a pessoa que eu sou”.


Não deixem de ler o artigo da semana passada de The Catholic Thing e amanhã, feriado, não deixem de estar atentos porque será publicado um artigo novo no blogue. Os mails voltam na quinta, até lá novidades no Facebook e no Twitter.

Monday 29 April 2013

Minaretes pelos ares

Now you see it... now you don't
É hoje condecorado o chefe do protocolo do Vaticano, o luso-canadiano José Avelino Bettencourt. Diz que ficou surpreendido com a decisão e que tem orgulho em ser português.

Por volta destes dias começam as peregrinações a Fátima. A GNR vai ter sete mil militares nas estradas para ajudar e deixa conselhos aos peregrinos.

O Papa presidiu ao crisma de vários jovens em Roma, ontem. O Santo Padre pediu aos mais novos que tenham coragem de permanecer no caminho da fé.


Nada de novo na Síria. Mortos e destruição. Nem o património mundial escapa à fúria da guerra. A mais recente vítima foi um minarete do século XI em Alepo.

Recordo novamente o artigo do The Catholic Thing, publicado na passada quarta-feira, que aborda a questão do sentido do sofrimento para os cristãos, e também a entrevista a D. José Jorge de Pina Cabral, o bispo da Igreja Lusitana que foi empossado na passada quinta-feira.

Wednesday 24 April 2013

Novo bispo anglicano e perdão no Cacém


Ontem ainda surgiu a notícia de que os dois bispos sírios que foram raptados esta semana tinham sido libertados. Infelizmente, isso não corresponde à verdade. Ambos os bispos continuam nas mãos de rebeldes.

Vai decorrer em Maio um curso sobre o Perdão no Cacém (o curso é no Cacém, o Perdão pode ser em qualquer lado, imagino). Um evento a ter debaixo de olho, sem dúvida!
Amanhã é sagrado o novo bispo da Igreja Lusitana. D. José Jorge de Pina Cabral fala à Renascença das suas expectativas e da crise que a Comunhão Anglicana atravessa actualmente. Aqui podem ler a transcrição completa da entrevista, em que ele fala também do ecumenismo e dos problemas levantados pelos ordinariatos criados por Bento XVI.

Deus permite o mal? O mal faz parte dos planos de Deus? A dúvida é eterna e tão depressa não terá resposta. Mas pode-se ir pensando e reflectindo sobre ela. Curt Lampkin ajuda-nos a fazê-lo com o artigo desta semana de The Catholic Thing. Este é um texto com o qual não estou inteiramente de acordo, mas que levanta questões e perspectivas interessantes!

Por hoje é tudo, eu volto na segunda-feira e desejo a todos um bom feriado e, se for o caso, fim-de-semana comprido! Actualizações urgentes irão para o twitter e facebook.

“A comunhão anglicana sempre viveu numa grande diversidade”

Transcrição integral da entrevista a D. José Jorge de Pina Cabral, novo bispo da Igreja Lusitana. Notícia aqui.

Qual é a sua expectativa para a sagração de quinta-feira?
Há alguma ansiedade, perfeitamente natural, dado que é um momento muito significativo para a vida da Igreja e para a minha vida pessoal, mas é sobretudo uma expectativa de alegria, de satisfação por este dia, por esta cerimónia e este evento.

Fale-nos um pouco do seu percurso pessoal.
Nasci numa família tradicional da Igreja Lusitana, sou de quarta geração, portanto fui educado na fé em cristo desde criança e fiz o meu percurso no seio da Igreja Lusitana. A minha vida foi sendo ocupada por sucessivos cargos de responsabilidade no seio da Igreja. Fiz uma primeira licenciatura em educação física e desporto, fui professor, mas depois percebi que Deus me estava a chamar para outros caminhos e para outras responsabilidades e então licenciei-me em ciências religiosas na Universidade Católica.

A par disso fiz todo um percurso de envolvimento na Igreja, naquilo a que Deus me foi chamando, e fundamentalmente foi um percurso de sensibilidade e de escuta ao que Deus me foi chamando a fazer até este ponto.

Que planos tem para o exercício da sua responsabilidade?
Não se trata de fazer planos. Olhando para o meu passado e para a minha vida pessoal, percebo que os meus planos foram sempre ultrapassados, e bem, pelos planos de Deus, por isso para o meu episcopado procurarei ser fiel ao que Deus me está a chamar para realizar no seio da Igreja Lusitana e, naturalmente, todo o trabalho pastoral com as outras igrejas.

Mas fundamentalmente pretendo que seja um episcopado de compromisso, de responsabilidade, de continuação do muito que já foi feito no seio da Igreja, mas é acima de tudo uma abertura ao que o Espírito Santo me vai chamar a realizar.

Acha que os ordinariatos pessoais criados por Bento XVI foram uma medida positiva?
Foi uma medida que provocou tensão, a nível das Igrejas, embora aquilo que tenha transparecido para a opinião pública tenha sido um equilíbrio no tratamento da questão. O que soubemos foi que o próprio arcebispo de Cantuária e o palácio de Lambeth foram apanhados de surpresa com a medida.

O que me parece é que ele dá um espaço para aquele grupo de anglicanos que se revêem mais numa relação mais próxima com o Papa, com a Igreja Católica Romana, e portanto diversos anglicanos, desde bispos, presbíteros e leigos têm aderido a ele. De qualquer das maneiras, isto num contexto de relação ecuménica não me parece muito relevante.

O que me parece de relevar é a boa relação entre Rowan Williams, o anterior arcebispo de Cantuária e o Papa Bento XVI, o profundo diálogo teológico que se travou entre os dois, que estou certo que criou ainda mais pontes entre as duas comunhões, apesar das diferenças e das sensibilidades que existem entre as duas comunhões eclesiais.

Vamos ver agora o que o futuro nos reserva, sendo que naturalmente os líderes mudaram os dois no mês de Março. Penso que aos olhos da fé e na sensibilidade do espírito estas coisas não vêm ao acaso, as duas comunhões têm novas lideranças e portanto vamos ver o que é que cada um dos líderes, na sua maneira de ser, na sua sensibilidade, vai conseguir estabelecer um com o outro. Portanto é um tempo de expectativa.

Como é que tem assistido a estes primeiros tempos do Papa Francisco?
Em primeiro lugar com alegria. É muito bom ouvir um Papa a ter um discurso simples, acessível e compreensível pelas pessoas, sejam ou não da Igreja. Realmente o Papa tem tocado nestas grandes questões que hoje tocam o mundo, tocam a sociedade, tocam as pessoas. O tema da pobreza, as preocupações de natureza social que as pessoas têm e tem sensibilizado a Igreja para outro tipo de postura no seu relacionamento com o mundo. É uma figura muito simpática, que cativa, mas vamos ver agora o que é que poderá vir daqui para a frente.

São conhecidas as divisões que há a nível mundial na Igreja Anglicana. Esta divisão é um caminho sem retorno?
Para percebermos esses problemas, essas tensões, temos de perceber o que é a própria natureza e eclesiologia da comunhão anglicana. A comunhão anglicana sempre viveu numa grande diversidade de sensibilidades litúrgicas, eclesiais, doutrinais, e sempre conseguiu manter esse equilíbrio ao longo dos tempos.

Efectivamente tem havido, ultimamente, pontos de grande tensão, que têm a ver com questões ligadas à sexualidade, neste caso concreto à questão do bispo homossexual sagrado na Igreja Episcopal dos EUA. Isso provocou uma reacção grande, mas ao mesmo tempo permitiu também um diálogo grande. Parece-me que a tensão e a diversidade existente, apesar de causar, numa primeira análise, uma vivência um bocado tensa, trazem também a necessidade de diálogo e de um processo de escuta das diversas sensibilidades.

Aquilo que se tem passado nos últimos anos é precisamente um diálogo muito intenso de confronto entre perspectivas diferentes e acho que é assim que as questões no seio da Igreja se têm de tratar, dialogando e não escondendo as diferenças.

Se me pergunta se isso vai trazer danos irreversíveis em termos de unidade no seio da Comunhão Anglicana, neste momento não lhe sei dizer. O que sei, e o que se percebe, é que há um forte desejo de manter a unidade na Comunhão Anglicana, uma unidade nos aspectos fundamentais nos aspectos da doutrina, sacramentos e liturgia. Nesse aspecto o novo arcebispo de Cantuária, Justin Welby, vai ter um papel decisivo.

Portanto eu olho o futuro com muita esperança, muita serenidade também. Nesta perspectiva que efectivamente é interessante percebermos que nestes anos marcados por divisões, tem havido também um caminho de unidade muito grande ao nível da criação de muitas comissões ligadas ao trabalho social, ao trabalho da Bíblia, da cooperação entre as diversas províncias. O que significa que é possível, apesar da tensão, construir pontes e caminhos de unidade.

Em Portugal já há sacerdotisas na Igreja Lusitana?
Sim.

E como é que a Igreja Lusitana encara a ordenação de pessoas em relações homossexuais?
A questão pode pôr-se aqui, naturalmente. Na Igreja Lusitana, como em qualquer igreja anglicana, estas questões mais polémicas, que exigem um aprofundamento grande têm de ser debatidas e tratadas a nível do sínodo da Igreja.

O sínodo é o órgão máximo da Igreja e reúne o bispo, o clero e os leigos da comunhão anglicana. Até aqui não surgiu a necessidade de tomar uma posição pública oficial dessa questão.

Naturalmente estamos atentos ao diálogo que tem havido a nível internacional, e se vier a colocar-se iremos trata-la com abertura, com sensibilidade, com maturidade e procurando discernir o que o Espírito Santo está a dizer à Igreja. Não nos podemos fechar. Acho que aqui a meia via é a posição equilibrada.

Essa meia via tem sido um bocado a posição da Igreja de Inglaterra…
A questão da cultura é muito importante. A cultura é o contexto em que a Igreja exerce a sua missão. Nem a Igreja se pode fechar à cultura. A Igreja tem de ter uma prática de inculturação. Ou seja, de perceber o que o Espírito Santo suscita na cultura que a rodeia, e depois procurar um diálogo e procurar que a Graça do Espírito ajude a própria cultura e a sociedade onde está inserida a perceber qual é a posição mais equilibrada e mais positiva para os homens e para as mulheres.

No caso da Igreja Lusitana temos a nossa própria sensibilidade cultural, diferente da da Igreja de Inglaterra e muito diferente daquela das igrejas africanas. Cada questão tem de ser analisada no seio do seu contexto cultural, naturalmente tendo por base os princípios de identidade da Igreja, de doutrina, procurando discernir o que a tradição da Igreja nos dia e o que a própria palavra de Deus nos diz.

São questões que têm de ser tratadas por nós, no nosso relacionamento com a Igreja Universal, atendendo ao que é a sensibilidade e o pensar da sociedade portuguesa nessa matéria também. A Igreja de Inglaterra realmente caracteriza-se por conseguir, graças à sua capacidade de diálogo, escuta e análise, reunir diversas sensibilidades, o que nem sempre é fácil e naturalmente terá também momentos de tensão.

Portanto relativamente a essas questões diria que vamos caminhando, discernindo o que o Espírito Santo procura dizer à Igreja de Cristo, na qual também se insere a Igreja Lusitana.

Os Atentados de Boston e o Problema do Mal

Curt Lampkin
Os crentes costumam dizer que é em nome de um bem maior que Deus permite os males que vemos no mundo. Mas pressionados a dizer que bem poderá vir da dor e sofrimento que se segue a um terramoto terrível ou – como acabamos de assistir em Boston – a um atentado terrorista, muitas vezes ficam sem argumentos.

Este parece ser um poderoso argumento contra Deus e tem levado não poucas pessoas a duvidar do seu amor por nós, ou mesmo da sua existência. A principal objecção prende-se com o tamanho e a natureza repentina do aparente mal.

Reflectindo, porém, as catástrofes repentinas ou grandes não são desprovidas de sentido, como podem parecer, nem provam a inexistência de um Deus que nos ama ou que permite o mal por boas razões.

A única forma de medir o amor é pelo sofrimento e sacrifício. Quem não está disposto a sofrer e/ou sacrificar-se pelo seu amado revela um amor que não é forte – que na verdade nem é amor. A profundidade do sacrifício e do sofrimento revela a força do amor.

A Paixão e Crucificação de Jesus mostram o quão grande é o seu amor por nós. Por isso parece razoável que Deus queira algum sinal do nosso amor por Ele, tendo em conta que o primeiro mandamento nos pede que amemos Deus com todas as nossas forças e todo o nosso coração. Isto pode servir de aviso de que algum sacrifício e sofrimento farão parte do nosso futuro.

A ideia de um Deus a formar cruzes, ou caminhos de sofrimento, para o nosso benefício é bem conhecida da Igreja. As pessoas com vidas luxuosas e moles tendem a ter carácter fracos, resultantes de não terem sido suficientemente desafiados ou testados. É tal como os atletas que não têm verdadeira competição. Não chegam a desenvolver os seus talentos. A experiência de muitos, ao longo dos séculos, comprova que a força de carácter é desenvolvida quando lidamos com dificuldades.

Consideremos estes aspectos do sofrimento:

1. O sofrimento separa-nos do mundo e aumenta a nossa capacidade de escuta da mensagem de Deus. Deus fala numa “voz mansa e delicada”, que é facilmente abafada pelo ruído do mundo. O sofrimento capta-nos a atenção.

2. O sofrimento pode envolver dificuldades económicas, físicas, mentais ou espirituais, ou qualquer combinação dos mesmos. As dificuldades podem levar-nos a concentrar as nossas atenções naquilo que verdadeiramente nos faz falta.

3. O sofrimento pode alterar radicalmente a nossa relação pessoal com outras pessoas, e pode mudar a nossa perspectiva sobre nós mesmos, elevando ou diminuindo a nossa auto-estima.

Se os efeitos do sofrimento são benéficos ou prejudiciais a longo prazo depende da nossa atitude, força de carácter e sentido de valores. A ideia de um Deus que cria, ou pelo menos permite, uma “cruz pessoal” para cada um de nós parece aceitável, ou até inevitável. Pensemos nele como um treinador a tentar desenvolver o talento de um atleta.

Algumas pessoas pensam que as cruzes pessoais precisam de tempo para alcançar os objectivos. Como é que se pode justificar isto à luz de um terramoto ou atentado terrorista, em que a morte pode ser repentina? De facto, uma morte repentina e inesperada não difere muito de qualquer outra morte, como por exemplo de doença ou de idade ou de acidente.

Vigília pelas vítimas do atentado de Boston

Do ponto de vista cristão a morte é a porta para a vida eterna. Como os próprios pagãos compreendiam, essa porta está sempre aberta e é bom que sejamos recordados dessa verdade. A tragédia está na angústia dos sobreviventes que não tiveram tempo de se preparar. Em todo o caso, esse sofrimento repentino não contradiz a ideia de um “Deus bom”.

Numa grande e repentina calamidade, a principal objecção a Deus parece ser o número de mortes. Mas ao longo de uma semana o número de pessoas que morre em acidentes de carro costuma ser bem maior que as vítimas de qualquer terramoto ou atentado.

Num sismo, ou num atentado, os sobreviventes sofrerão perdas económicas, pessoais, físicas ou mentais repentinas. Por isso um evento destes faz-se acompanhar, de facto, de cruzes inesperadas. Mas mesmo que o sofrimento nos chegue de forma repentina, a ideia de que tenha sido planeado ou pelo menos permitido por Deus não é irracional, por uma série de razões.

Também é importante notar que um atentado resulta de um exercício de livre-arbítrio por parte do terrorista. O terrorista poderá subscrever uma crença que apoia tais actos, mas não deixa de ser um acto de livre-arbítrio. O livre-arbítrio é uma característica essencial, o maior dos dons de Deus.

O sacrifício é um acto voluntário e pode ser combinado com o sofrimento. Pode ser um esforço pessoal de, apesar de grandes dificuldades, praticar boas acções. Pode ser a aceitação paciente de pequenas irritações ou de um mal inevitável por forma a revelar amor por Deus. Isto não é fácil, certamente, mas uma boa atitude pode atenuar o sofrimento, por vezes de forma considerável.

No final de contas poderemos ter de enfrentar aquilo a que São Paulo e Santo Agostinho chamam o mysterium iniquitatis, o “mistério do mal”. Tal como o mistério do Bem, não temos explicações para este tipo de realidade profunda. Mas podemos, ao de leve, tentar compreender de que forma encaixam no bom plano de Deus.


Curt Lampkin, um físico reformado que vive no Texas, é um colunista novo do The Catholic Thing.

(Publicado pela primeira vez na quinta-feira, 18 de Abril 2013 em http://www.thecatholicthing.org/)

© 2013 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução contacte: info@frinstitute.org

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Tuesday 23 April 2013

Abusos arquivados, dia de São Jorge

São Jorge
O Ministério Público arquivou o processo iniciado pelas denúncias de Catalina Pestana em relação a abusos praticados por sacerdotes católicos. O porta-voz da CEP considera que esta notícia liberta os sacerdotes de “graves acusações”, mas diz que a Igreja continuará a combater esta “grave chaga social”.


Foram ontem raptados na Síria dois bispos ortodoxos. É o caso mais grave até agora a envolver clero cristão naquele país dilacerado por uma guerra civil. Hoje o Papa Francisco mostrou-se preocupado e garantiu que irá rezar por eles.

Hoje é dia de São Jorge, padroeiro de muitas coisas, entre as quais Portugal. É também o santo do nome de baptismo do Papa. Por isso hoje Francisco celebrou missa na Capela Paulina, disse que é absurdo procurar Cristo fora da Igreja e até fez uma piada… mas ao que consta poucos cardeais se riram. Falta de hábito, talvez.

Monday 22 April 2013

Oscar Romero nos altares?


Os “judeus da nação portuguesa” comem bacalhau, têm apelidos portugueses e guardam boas memórias, apesar de tudo. Leia aqui a transcrição completa da entrevista com o Luciano Lopes, vale a pena!

O Papa poderá ter aberto o caminho à beatificação de Oscar Romero, a notícia não é ainda oficial mas está a ser atribuída a fontes do Vaticano.

À medida que se vai conhecendo melhor a história dos irmãos chechenos que levaram a cabo os atentados em Boston vai ganhando consistência a ideia de que terão sido motivados por radicalismo islâmico. O mais velho, Tamarlan, tinha sido considerado demasiado radical para a sua mesquita em Boston.

Ontem foi o Domingo do Bom Pastor, dia escolhido pela Igreja para rezar pelas vocações. O Papa aproveitou para celebrar ordenações em Roma. O Patriarca de Lisboa participou num evento para jovens e falou sobre o sentido de missão da Igreja. Outro participante foi Marcelo Rebelo de Sousa.

Os "judeus da nação portuguesa"

Rabino Lopes, à direita
Transcrição completa da entrevista com o Rabino Luciano Mordekhai Lopes, da comunidade sefardita de origem portuguesa. A notícia pode ser vista aqui.

Quem são os sefarditas?
Os judeus sefarditas, historicamente, são os de origem ibérica. Embora hoje em dia, depois da criação do Estado de Israel sejam considerados todos os judeus que não de origem europeia, isto é, que não sejam alemães, franceses e posteriormente os de origem eslava, chamados Ashkenazis.

Os judeus ibéricos seriam sefarditas. Mas hoje em dia mesmo os judeus do
Iémen, ou Iraque, são chamados Mizrahim, orientais, e outros chamam sefarditas simplesmente para distinguir entre dois grupos, como se houvesse apenas dois grupos de judeus, mas não, há muitos grupos de muitos locais.

Portanto os judeus sefarditas são os de origem ibérica, mesmo que tenham emigrado como aconteceu depois de 1492 em Espanha, em que muitos foram para o Império Otomano, ou para a África do Norte. Alguns chegaram mesmo até à índia, mas esses eram de origem portuguesa. Portanto no sentido mais estrito são exclusivamente os de origem ibérica ou os que não sendo, foram criadas no seio dessa cultura.

Entre os que têm ligação histórica a Portugal, existe também uma ligação sentimental?
Isso é muito importante. Os judeus ibéricos são muito arreigados a essa questão da idade de ouro, que abarca Portugal, que na altura do domínio muçulmano fazia parte do Al-Andaluz.

Até hoje entre os judeus portugueses na Holanda, apesar de não falarem português e de 90% da comunidade ter sido exterminada durante a Segunda Guerra, mantêm palavras em português no ritual. Quando se chama alguém para ir ler o Livro da Lei a pessoa é chamada em português. Outra coisa é o apelido, raramente as pessoas mudam o apelido. É o caso da minha família que saiu de Portugal no século XVII e mantiveram o apelido em Itália até emigrarem de Itália para o Brasil.

Mantêm alguns pratos típicos. No ano novo é tradicional comer-se bacalhau. A questão cultural é muito arreigada e os judeus portugueses sempre se referem a si mesmos como judeus da nação portuguesa. Sempre foi deixado claro, as pessoas que conseguiram sair de Portugal sempre mantiveram laços com os familiares em Portugal, fosse por razões mercantilistas ou por casamento.

No meu caso sempre que posso vou a Portugal. Quando vivia em França, todas as férias que tinha ia a Portugal, só não conheço o Algarve.

A ligação é muito forte, o próprio rito usado é o luso-castelhano mas é o rito tipicamente português. A maneira de pronunciar o hebraico, o serviço na Sinagoga, é um serviço que tem origens em Portugal e a musicalidade do serviço é típica dos judeus portugueses. Embora os sefarditas sejam um só grupo, os hispano-portugueses, histórica e culturalmente diferem dos espanhóis que emigraram para o império otomano ou para Marrocos.

E como é que recebeu esta notícia da aprovação da lei que permite conceder nacionalidade portuguesa aos judeus sefarditas com ligação a Portugal?
Com muita felicidade, porque na verdade isto começou a nível pessoal há 13 anos. Eu já tinha vindo a consultar com cônsules e serviços portugueses no exterior. Tentei com o cônsul português em Vancouver, no Canadá, escrevi algumas vezes ao Governo, e as respostas não eram de má vontade, mas simplesmente as pessoas não sabiam o que responder.

Rabino Luciano, em Jerusalém
Há cerca de dois anos mantive contacto com o deputado José Ribeiro e Castro, do CDS, e na mesma época com o professor Mendo Castro Henriques, que me apresentou ao Francisco Cunha Rego, do Instituto de Democracia Portuguesa. O deputado Carlos Zorrinho, a Maria de Belém e o advogado Bruno Cabecinha também estiveram muito envolvidos. O deputado Ribeiro e Castro lançou umas perguntas parlamentares nesse sentido e recebeu umas respostas que nos permitiram analisar o que fazer.

Com o apoio destes amigos estivemos dois anos a trabalhar nisto, a enviar informações e explicações, porque as pessoas precisavam de saber quem são os judeus portugueses, onde vivem, se são muitos, se são poucos, todas estas informações foram trocadas ao longo de dois anos.

Ficámos ansiosos quando soubemos que a lei ia ser votada agora, esperava que só fosse depois das autárquicas, por causa do contexto dos problemas que Portugal está a passar agora. Acordámos bastante cedo e ficámos a acompanhar as votações no Canal Parlamento. Assim que saiu a notícia comemorámos muito. A minha esposa chorou bastante. É uma luta, embora não esteja 100% terminada, espera-se que tudo acabe bem. Foi uma notícia grandemente recebida, o meu primo em Israel ficou muito feliz e outros judeus sefarditas também.

Há cerca de dois anos tinha sido apresentado um projecto na Câmara de Lisboa mas as reacções não foram muito positivas.

Estamos a falar de quantas pessoas? Será uma medida mais simbólica? Quantas pessoas poderão vir a pedir a nacionalidade?
A comunidade sefardita de origem portuguesa é relativamente pequena dentro da comunidade sefardita em geral. Muitos poderiam interessar-se pelo ponto de vista simbólico e nostálgico. Eu mesmo sempre tive a intenção de viver em Portugal, mesmo quando vivia em França, há sete anos, sempre visitei o país, tenho inúmeros amigos lá e gostava que as minhas filhas crescessem lá, porque considero uma sociedade muito sadia. Quando a minha família saiu foi para Itália, mas sempre tive muito mais carinho por Portugal.

Estimo que pelo menos, de início, talvez umas 50 pessoas, das que eu conheço pessoalmente, estarão interessadas. Há outros que eu não conheço e que poderão querer aproveitar-se disto, nem que seja de maneira simbólica.

Com esta medida Portugal fez as pazes com a comunidade sefardita?
Eu creio que sim, acho que não se pode apagar o que se fez no passado mas pode-se consertar coisas para o futuro.

O povo português, historicamente, nunca foi um povo anti-semita. Historicamente, tirando o período da inquisição, não cultivou o anti-semitismo. Por isso a meu ver este gesto, sim, acho que sim, fecha uma página da história, que não pode ser apagada, mas a vida segue.

Os sefarditas têm muito isto, não tendem a lamentar-se das coisas, mas sim lembrar-se das coisas que se passaram e as lembranças boas da vida na Península Ibérica foram o que ficou para os sefarditas, muito mais do que as atrocidades no período inquisitorial.

Wednesday 17 April 2013

Igreja não é babysitter e a morte de uma lenda

Nem a Igreja é nossa babysitter...
Dias depois de eu ter escrito sobre o caso Gosnell o julgamento começa a merecer mais destaque na imprensa e na sociedade nos EUA, mas também em Portugal.

O Papa Francisco continua a fazer homilias públicas todas as manhãs, que por sua vez dão cada uma três ou quatro notícias. Hoje disse que a Igreja é, para os católicos, uma mãe… e não uma babysitter!


Amanhã Francisco recebe o novo embaixador português e, das suas mãos, uma garrafa de vinho do Porto com 20 anos.

O Corpo de Deus deixou de ser feriado, mas não é por isso que os católicos devem deixar de participar na respectiva procissão, pede o Patriarca de Lisboa.


E por fim, morreu George Beverley Shea. Menos conhecido em Portugal, era uma lenda da música gospel, como podem constatar:

Homens como Cristo, Cabeça da Igreja

Randall Smith
Durante o Inverno, depois de um nevão particularmente pesado, saí de manhã cedo e liguei o motor do carro da minha mulher, depois arranquei uma camada de gelo de dois centímetros do vidro e retirei cerca de 30 centímetros de profundidade de neve do caminho entre a casa e o carro. Enquanto a minha mulher retirava o carro da entrada da garagem não pude deixar de pensar para comigo, enquanto permanecia ali de pé na neve, cansado e com frio: Adoro ser casado!

A sério.

Casei-me um pouco tarde, por isso as alegrias de fazer coisas como limpar a neve para outro poder retirar o carro, ou retirar gelo do seu pára-brisas, estavam-me vedados durante os meus anos de solteiro. Estou verdadeiramente arrependido disso agora, embora seja difícil perceber, mesmo em retrospectiva, como é que Deus poderia ter lidado comigo de outra forma. Para poder gozar um casamento é necessário deixar de ser um egoísta tonto. Infelizmente, ainda não estava preparado.

Conheço muitas raparigas católicas solteiras que são talentosas e bonitas (onde é que andavam quando eu era mais novo?), e todas têm a mesma queixa. Onde estão todos os – aliás, – onde está qualquer bom homem católico que esteja pronto para casar? Costumava pensar que estavam apenas a carpir – as pessoas gostam muito de se queixar. Mas começo a entendê-las melhor. À medida que procuro encontrar esposos adequados para as muitas jovens católicas que estão ansiosamente à procura, descobri que de facto não há muito por onde escolher.

Adoro os meus alunos católicos. Alguns são mesmo porreiros. Mas mesmo os melhores deles não estão propriamente prontos para a alta competição, pelo menos por enquanto, e sabem-no. De facto, sabem-no até bem demais. Muitos não se imaginam a casar durante os próximos dez, talvez mesmo vinte anos – se é que se imaginam a casar sequer.

Não é por isso que deixam de desejar ter sexo, claro, mas essa é outra história. Desde que as noções de “casamento” e “sexo” foram basicamente separados na nossa sociedade, a falta de casamento não costuma apresentar um obstáculo demasiado difícil de ultrapassar para o desejo sexual de todos excepto os que (A) tiveram uma educação moral escrupulosa (cujo poder regulador tende a esvanecer perante o assalto constante de televisão, jogos de computador e pornografia); ou (B), os que são excessivamente "nerds" e incapazes de manter relações com mulheres. A triste verdade é que enquanto nos preocupamos em preencher as cabeças dos nossos filhos com informação técnica sobre coisas como computadores e sexo, fazemos pouco ou nada para os preparar para a vida de casados.

Deixem-nos ser felizes!

Ainda assim, por mais que possamos, e devemos, fazer muito melhor na preparação dos nossos jovens rapazes para a vida de casados, continuo a ter uma dúvida insistente: Talvez os homens, enquanto tal, nunca estejam preparados. Isto é, talvez seja só a partir do casamento que verdadeiramente crescemos e nos tornamos adultos civilizados e responsáveis. Talvez seja por isso que as sábias culturas do passado tentavam casar os seus jovens relativamente cedo: Não por causa do instinto sexual, mas porque queriam tornar os seus adolescentes irresponsáveis e confusos em esposos úteis e produtivos que pudessem, pela primeira vez na vida, fazer algo de realmente significativo que lhes desse verdadeira satisfação.

A questão é esta: Não me parece que a maioria dos homens possa ser mesmo feliz a não ser que estejam a sustentar, sacrificar-se ou a trabalhar desinteressadamente por uma esposa. Sei que pode ser difícil para um rapaz novo acreditar nisto, mas confiem em mim: cuidar de uma esposa é uma daquelas coisas que dá sentido à vida. Às vezes há sexo, outras vezes não. Mas o mais importante é que fez alguma coisa pela sua mulher e a vida dela é melhor por sua causa. Há algo no fundo de cada homem que não está completo até ele se sacrificar por algo maior do que ele. Para a maioria de nós, isso costuma ser a família.

A este respeito fico admirado com a forma como  muitas pessoas tratam as passagens de Efésios 5 e 1 Coríntios 1 – que traçam a analogia entre “maridos” e “Cristo”, por um lado, e “esposas” e “Igreja”, do outro. O significado da analogia parece-me claro em Efésios 5,25: “Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela”.

Pagãos tolos que somos, ouvimos a palavra “Senhor” ou “Cabeça” e pensamos: “É suposto eu assenhorear-me da minha mulher e controlá-la, e ela deve ser-me submissa”. Talvez isso fosse verdade se o Deus cristãos fosse como Zeus, mas não é. Onde é que fomos buscar a ideia de que Cristo se tornou “cabeça da Igreja” assenhoreando-se dela e exigindo “submissão” aos seus caprichos? O elemento essencial do domínio de Cristo está no seu sacrifício desinteressado por nós na cruz. Nós, enquanto Igreja, somos chamados a receber esse sacrifício com gratidão e amor.

Desta perspective, as mulheres são solicitadas a receber este sacrifício por parte dos seus maridos e compreender que os seus maridos provavelmente não ficarão satisfeitos nem felizes enquanto não souberem que alcançaram algo másculo e responsável que torna a vida das suas mulheres muito melhor do que seria. De facto, quando uma mulher compreender que este tipo de sacrifício é essencial para o bem-estar do homem, e decide-se a descobrir que tipo de coisas o marido pode fazer por ela e aceita de bom grado esses dons, estará a ajudá-lo a tornar-se tão preenchido como possível nesta vida.

E se isso implica que ela tenha de passar menos tempo a limpar neve no Inverno, pois bem, esse é um esforço que ela terá de fazer.


Randall Smith é professor de teologia na Universidade de St. Thomas, Houston.

(Publicado pela primeira vez no quinta-feira, 11 de Abril 2013 em http://www.thecatholicthing.org/)

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Tuesday 16 April 2013

Parabéns Bento XVI, obrigado políticos espanhóis!

Happy Birthday to you!
Os noticiários foram dominados pelo que se passou em Boston ontem à noite. O bispo local é, recorde-se, o Cardeal Seán O’Malley. O Cardeal, que se encontrava na Terra Santa, regressou imediatamente para os Estados Unidos e já manifestou a sua proximidade com as vítimas.

Mal começaram a circular as notícias começaram também as reacções. O Cardeal Dolan foi dos primeiros a falar.


Esta manhã, na missa que celebra em Santa Marta, o Papa criticou aqueles que querem regressar ao período pré-conciliar.

Essa missa foi celebrada por intenção de Bento XVI, que hoje faz 86 anos e festejou em Castel Gandolfo, na companhia do seu irmão.

Com tudo isto pode ter passado despercebido a muitos o facto de o Governo espanhol ter anunciado que quer mudar a lei do aborto, tornando-o muito mais restrito. Um elemento do PP espanhol diz que a lei “não vai agradar aos bispos”… permita-me discordar Sr. Alonso, acredito que vai agradar bastante mais que a actual!

Quem estiver pelo Porto, não deixem de participar na exposição itinerante “São Francisco de Assis – Património Vivo no Porto”. Quem não estiver, não deixem de ir visitar o novo site da iMissio com a qual tenho a honra de passar a colaborar.

São Francisco de Assis - Património Vivo no Porto

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Monday 15 April 2013

Papa nomeia conselho de cardeais e sefarditas recuperam direitos


Durante o fim-de-semana o Papa Francisco alertou para o perigo da incoerência entre os católicos e desafiou-os a dar testemunho de Cristo com coragem.



E no Porto prepara-se uma alternativa para os jovens que não possam ir às JMJ no Brasil: “Rio in Douro”.

A expressão “Cultura da Morte” é apenas uma coisa vaga e ideológica? Não, não é. Tem um rosto e um credo. Conheça-os aqui.

Por fim um aviso: No próximo dia 20 de Abril, pelas 21h30, na Sé de Lisboa, o Cabido da Sé Patriarcal promove um concerto de homenagem ao Prof. Sibertin Blanc. Os organistas são antigos alunos do Prof. Sibertin.

Kermit, o Assassino

Está a decorrer nos Estados Unidos o julgamento de Kermit Gosnell, um abortista que é acusado de homicídio de pelo menos sete bebés e de uma mulher que morreu ao seu cuidado.

Os sete bebés em causa foram fruto de abortos tardios e nasceram vivos, ao contrário do que é suposto. Por isso foram mortos já fora das mães, cortando-lhes as colunas com um par de tesouras. Gosnell é acusado dos sete casos comprovados, mas um funcionário dele admite ter feito o mesmo em “centenas” de casos e diz que era prática comum na clínica.

Para além deste pequeno horror, quando finalmente as autoridades decidiram intervir e encerrar as duas clínicas operadas por Gosnell, encontraram, entre outras coisas, frascos com restos de fetos abortados, guardados dentro de frigoríficos que continham alimentos. No relatório formal sobre o caso, a acusação mais leve tem a ver com um gato recheado de pulgas que se passeava por uma das clínicas e o facto de os instrumentos não serem esterilizados, o que levou inúmeras mulheres a contrair infecções venéreas.

É possível que Gosnell seja condenado à morte pelos seus crimes, sobretudo os de homicídio.

Imagino que a maioria dos meus leitores estejam neste  momento um pouco cépticos. Se este monstro existe mesmo, se tudo isto é verdade, porque é que nunca ouvimos falar dele? A razão é simples. É que até há uma semana, e apesar de este caso datar de 2011, nenhuma grande cadeia de notícias nos EUA se tinha dignado a falar do assunto.

Contrastemos isto com o caso trágico da mulher indiana que morreu por complicações relacionadas com a sua gravidez o ano passado, na Irlanda. Lembram-se como isso foi transformado numa gigantesca campanha a favor da liberalização do aborto naquele país? Houve abaixo-assinados, manifestações de solidariedade... tudo sem que tivesse sequer havido um inquérito sobre as circunstâncias da morte! Se bem me lembro, até algumas deputadas portuguesas se meteram ao barulho.

O caso de Savita Halappanavar é trágico, evidentemente. Mas é mais trágico que centenas de bebés nascidos vivos e depois mortos por excisão das suas colunas vertebrais? É mesmo? É este o mundo em que vivemos? É mais trágico que a Savita tenha morrido por não se lhe ter feito um aborto (se é que isso foi assim tão simples), do que Karnamaya Mongar, uma mulher de 41 anos, tenha morrido às mãos de Gosnell quando lhe faziam um aborto?

Então o que é que se passa aqui? Passa-se que chegámos ao ponto em que a imprensa que, nos EUA como em Portugal, é na sua maioria favorável ao aborto legal, considera que dar destaque a casos como os de Gosnell pode ser politica e socialmente prejudicial para a sua causa. São escrúpulos que estão manifestamente ausentes quando um candidato ao senado diz que é raro uma mulher engravidar quando é violada..., como se passou nas últimas eleições americanas.

Da próxima vez que ouvir falar em “cultura da morte”, lembre-se que não é apenas uma expressão vazia. Tem um rosto, o de Gosnell, e tem um credo, que é o que impede a imprensa liberal americana de abordar a questão.

Neste artigo, por uma questão de pudor, evitei entrar em detalhes gráficos sobre os horrores praticados por Gosnell. Mas poderão encontrar muito mais informação sobre o caso e sobre a cobertura mediática, nestas ligações:

Thursday 11 April 2013

O regresso dos judeus, bebés e beijinhos papais


Os judeus descendentes daqueles que fugiram ou foram expulsos da península ibérica no século XVI poderão vir a receber cidadania portuguesa. O assunto está a ser discutido hoje no Parlamento, mas mesmo se for aprovado ainda não há detalhes sobre como funcionará.

Bento XVI não beijava bebés… até chegar a Portugal. O Papa Francisco sempre beijou bebés, mas adivinhem qual a nacionalidade da primeira criancinha a receber essa honra? Pois é… podemos concluir que os bebés portugueses são mais queridos que os outros?

Os bispos portugueses estiveram reunidos por estes dias em Fátima. Prometem ser uma presença activa quanto aos problemas do país nesta fase e confirmaram que o pontificado de Francisco vai ser consagrado a Nossa Senhora de Fátima.

Em mais uma prova de que as religiões são irracionais e temem a ciência, o Vaticano está a organizar a segunda conferência internacional sobre células estaminais adultas. (Para quem não notou, isto é para ler com ironia…)

Surgiu ontem a notícia de que Bento XVI estaria gravemente doente. A Santa Sé nega.


Por fim dois avisos, ambos para amanhã. O lançamento do livro do meu bom amigo Frei Bernardo Corrêa d'Almeida. Escrito antes da eleição de um sucessor de São Pedro jesuíta que adoptou o nome Francisco, o livro é sobre São Pedro, escrito por um franciscano, com prefácio de um jesuíta. O lançamento é às 21h30 (ver anexo)

Também amanhã, mas mais cedo, pelas 15h00, realiza-se um debate sobre o perdão, que tem por base o livro “Incondicional? - O apelo de Jesus ao perdão radical”, editado em Portugal pela Letras d’Ouro”. Quem me conhece sabe como este tema é importante para mim, recomendo vivamente a participação, no auditório Lusitania - Rua do Prior, nº 6, à Lapa, Lisboa.

Wednesday 10 April 2013

Odiar o Papa?

Austin Ruse
Que coisa terrível que é um suposto católico odiar o Papa. Ódio é uma palavra muito forte? Que coisa terrível que é não gostar do Papa, ficar enraivecido com o Papa, ou desconfiar sequer do Papa. Mas lendo alguns blogues tradicionalistas nos tempos mais recentes vê-se tudo isto.

Claro que muitos de nós ficámos um bocado preocupados ou até desiludidos quando foi anunciado o nome de Bergoglio. Quase nunca tínhamos ouvido falar dele. Da Argentina? Interessante, mas essa não é uma das terras da teologia da libertação? E ele não tinha sido o candidato progressista contra Ratzinger em 2005? Afinal esta última acusação era simultaneamente verdade e mentira. Verdade que era o candidato dos progressistas, mentira no sentido em que ele não o queria.

Eu estava nas Nações Unidas quando saiu o fumo branco, num painel convocado pela Santa Sé para discutir a violência contra as mulheres. A sala de conferências estava cheia de feministas radicais que adoram ir a estes eventos para poder atacar a Igreja. Quando saiu o fumo branco os telefones de católicos fiéis começaram a tocar em todo o mundo. Também naquela pequena sala na ONU se podiam ver algumas caras felizes, incluindo o núncio, radiante.

Muitos de nós encontramo-nos no bar da ONU, ligámos os computadores e esperamos pelo “Habemus Papam”. Foi uma espera agonizante. Estava com um grupo grande de estudantes de Steubenville e quando foi anunciado Bergoglio o nosso entusiasmo esmoreceu significativamente. A confusão era palpável. Bergoglio quem?

Então começámos a receber emails de amigos com citações sobre as lutas que Bergoglio tinha travado em defesa da vida e da família na Argentina. Eram muito fortes. Ninguém espera que o Bispo de Roma seja heterodoxo nos assuntos mais importantes do dia, mas falará abertamente deles? Claramente este novo Papa fá-lo-á.

Quando Francisco baixou a cabeça e pediu a nossa bênção os estudantes com quem eu estava choraram e rezaram por ele ali mesmo. As feministas radicais que estavam à nossa volta percebiam o que se estava a passar – e estavam horrorizadas.

Mas imediatamente os nossos amigos tradicionalistas e os seus blogues começaram a encher-se de queixas. Um amigo meu no Facebook alertou que Bergoglio “não é amigo da missa tridentina”, o sine qua non do Tradicionalismo. Esta suposta frieza de Francisco pela missa tradicional tem sido repetida vezes sem conta desde a sua eleição.

Para além da missa tridentina, os tradicionalistas estão sempre alerta para detectar qualquer coisa que lhes pareça modernismo. Será que o turíbulo foi abanado o número certo de vezes tanto à esquerda como à direita?

Taylor Marshall - Uma voz sensata no meio da raiva
Taylor Marshall – um ex-padre anglicano convertido ao Catolicismo que trabalhou durante uns tempos na Catholic Information Center em Washington D.C. – é chanceler do Fisher More College no Texas e um autor influente nos meios tradicionalistas, mas com um estilo sensato. No dia 14 de Março, meras horas depois da eleição de Francisco, postou isto no seu blogue:

O Papa Francisco ainda não tinha sido eleito há duas horas e o sarcasmo começou a ser cuspido nas caixas de vários blogs. Muitos do grupo tradicional reagiram contra o Papa Francisco com palavras que eram francamente ofensivas. Se um dos meus filhos falasse assim de um padre (ou de qualquer pessoa mais velha, já agora), o rapaz levava uma palmada no rabo e uma longa estadia num quarto escuro.

Em poucos minutos do aparecimento de Sua Santidade na varanda, alguns "trads" começaram uma campanha online afirmando que ele era um perseguidor dos padres ortodoxos na Argentina. Depois disseram que proibiu a Missa Tradicional na sua diocese. Depois estavam a gozar com ele por não usar a mozeta papal encarnada. Também exprimiram desagrado sobre o facto de Sua Santidade ter rezado em italiano e não em latim. Depois, mostraram-se alarmados por ele ter tirado a estola imediatamente depois da bênção. A seguir fizeram um grande alvoroço sobre o facto de a tapeçaria que se desenrolou sobre a varanda não ser a do predecessor de Sua Santidade. E estes comentários não são sequer os piores. E nem sequer quero enumerar algumas das outras coisas que têm escrito online. [Em português aqui]

Marshall tinha razão; os blogues e as suas caixas de comentários estavam cheios de pânico, fúria, até ódio, e não eram só os habitués dos comentários que se estavam a passar. Horas depois do anúncio a Remnant TV entrevistou John Rao, um comentador frequente, que é também um dos mais proeminentes líderes dos círculos tradicionalistas raivosos. Rao afirmou: “As perspectivas não são boas. Parece que a eleição resultou de maquinações políticas por parte de um ou outro elemento daquela facção do Colégio dos Cardeais que está associado ao suposto espírito do Concílio, seja como for que interpretam isso, e que não quer saber se a Igreja morre, desde que esse espírito se mantenha.”

Príncipes da Igreja que não querem saber se a Igreja morre? Pensem bem no que estas pessoas estão a dizer. Que arrogância, que falta de fé. Que atitude de dissensão em reclamar a autoridade de se pronunciar sobre o que é verdadeiramente católico ou não.

Quando eu era tradicionalista tínhamos um grande desprezo por João Paulo II. Quase passei ao lado do seu pontificado inteiro – até sair dessas fileiras. Eles gostavam mais do Bento XVI por causa da bênção que ele deu à missa tridentina e as suas práticas mais tradicionais em geral. Mas agora dizem que Bento XVI frustrou o Espírito Santo ao resignar e que a elevação do Papa Francisco é o castigo.

Que bênção que foi, naquele dia, poder estar com estudantes católicos fiéis que choraram de alegria ao ver o nosso novo Santo Padre, e que dor de alma são aqueles que ficam zangados só de o ver, que ainda estão zangados e que sempre estarão.


Austin Ruse é presidente do Catholic Family & Human Rights Institute (C-FAM), sedeado em Nova Iorque e em Washington D.C., uma instituição de pesquisa que se concentra unicamente nas políticas sociais internacionais. As opiniões aqui expressas são apenas as dele e não reflectem necessariamente as políticas ou as posições da C-FAM.

(Publicado pela primeira vez em www.thecatholicthing.com na Sexta-feira, 05 de Abril de 2013)

© 2013 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução contacte:info@frinstitute.org

The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.

Monday 8 April 2013

Mais um passo no mundo do ciberespaço!

Quem me conhece sabe o quão difícil foi convencerem-me a entrar para o Facebook. Mas a verdade é que acabei por ceder e o grupo do Actualidade Religiosa já conta com mais de mil membros e discussões e conversas do maior interesse.

Agora, e porque também começava a sentir falta, aderi ao twitter. A conta está em meu nome, mas tenciono usar principalmente para assuntos profissionais, ligados ao meu trabalho na Renascença, na informação religiosa e à actividade deste blogue.

Por isso, quem quiser seguir-me está à vontade, é só clicar aqui.

Aproveito para agradecer a todos os que tornam este trabalho tão interessante, que têm a paciência de me ler e que vão seguindo o que faço, não poucas vezes expressando simpático apoio!

Ser cristão sem medo sim, mas deixem-nos chorar...

"Não tenham medo de ser cristãos e de viver cristãmente" - Papa Francisco

O Papa Francisco foi “entronizado” ontem, embora o termo já não seja esse, na Basílica de São João de Latrão. Na sua homilia disse que por piores que sejam os nossos pecados, Deus perdoa sempre e para Ele nunca somos apenas números.


Ainda ontem de manhã o Papa falou no Regina Caeli e pediu que os cristãos não tenham medo de o ser.

Medo não digo, mas ansiedade pelo menos, é o que sentem os cristãos do Egipto actualmente. Cinco morreram nos últimos dias, o mais recente for morto quando extremistas muçulmanos atacaram o cortejo fúnebre das anteriores vítimas (ver imagens).


E Jónatas Pires, dos Pontos Negros, quer dar força aos sem-abrigo, apoiando o Serve the City – Lisbon, uma organização que se preocupa mais em ajudar estas pessoas a sentir-se pessoas do que em dar-lhes comida, embora também o faça. Saiba como pode ajudar Jónatas Pires a concretizar este belo sonho e leia a interessante entrevista na íntegra aqui.

Sunday 7 April 2013

Projecto "Tudo é Vaidade II" ajuda organização de apoio aos sem-abrigo

Jónatas Pires com alguns dos "fãs" mais especiais
do Tudo é Vaidade II
Transcrição integral da entrevista ao músico Jónatas Pires e a Alfredo Abreu, da Serve the City - Lisboa, a propósito do projecto "Tudo é Vaidade II". Podem ver e ouvir a reportagem aqui.


Qual a história por detrás do disco Tudo é Vaidade?
Divido a autoria das letras com o Kohelet, que escreveu o Ecclesiastes, porque fui basicamente inspirar-me no que ele tinha escrito e essas canções são basicamente um retratamento do Eclesiastes do princípio ao fim.

A ideia nasceu no verão de 2011 quando me pediram que fizesse uma canção para cada dia do acampamento da Juventude Baptista Portuguesa, onde íamos estudar o livro de Eclesiastes. Depois surgiu a ideia de pegar nas músicas e fazer um disco e pareceu-nos bem usar o disco para servir um propósito maior que o deleite auditivo. Tínhamos conhecimento de um projecto social que existe em Rabo de Peixe, na Ilha de São Miguel, que consiste em fornecer senhas de alimentação a crianças que não têm acesso a mais de uma refeição completa por dia.

Todo o percurso foi feito ao longo de alguns meses. O disco saiu, começou a ser vendido directamente às pessoas, e pela internet, e conseguimos enviar cerca de 6500 euros para lá o que resulta em hoje em dia estarem cerca de 52 crianças a serem apoiadas diariamente com refeições pagas e mais algumas ajudas a famílias e crianças fora de Rabo de Peixe.

Essa estrutura que ajuda as crianças em Rabo de Peixe já existia?
Sim, o projecto começou com dois professores colocados em Rabo de Peixe. Depois de perceberem das necessidades gritantes que havia entre os alunos começaram a pagar do próprio bolso as senhas a alguns alunos. Depois foram apelando a amigos e foi-se espalhando, e como foi crescendo foi chegando mais dinheiro e criaram uma estrutura.

Ainda são professores mas continuam a colaborar com pessoas de lá, incluindo os técnicos do Rendimento Social de Inserção, para identificar os casos de maior necessidade. Os apoios são dados directamente às crianças, os cartões da escola são carregados e com isso eles podem comer.

Quando existe uma necessidade mais imediata, por exemplo para uma família que de repente se vê sem nada, sem comida para uma semana, já aconteceu terem de dar uma ajuda directa mais pontual.


Agora surgiu a ideia de fazer um novo disco mas com um enfoque diferente.
Sim. Não nos desligámos do anterior projecto, as pessoas podem continuar a contribuir e a comprar o disco, mas também, desta vez, eu ao experimentar ter ido a um jantar comunitário do Serve The City, senti logo uma vontade muito forte de os poder ajudar da mesma forma, e de escrever canções que tivessem a ver com as pessoas que frequentam esses jantares, e o que elas passam.

Foi sempre com uma perspectiva de poder, através da música e das palavras, as pessoas que atravessam um inverno quase permanente, poderem encontrar pelo menos um cheiro de primavera naquelas canções.

Abordei o Alfredo e eles foram muito generosos na forma como acolheram a ideia.

Alfredo, o que é o projecto Serve the City?
Somos uma organização inspirada por Cristo mas aberta a todos. É uma organização de inspiração cristã mas que congrega pessoas de todas as convicções para servir a cidade. Esta ideia de serviço é também muito ligada a Cristo, que se apresentava como aquele que vinha servir e não para ser servido.

O nosso objectivo é dar alguma coisa da nossa vida para tornar a vida dos outros melhor, e mobilizamos pessoas para projectos de voluntariado. O primeiro grande projecto que tivemos foi este, os jantares comunitários, que inicialmente era destinado exclusivamente a sem-abrigo, mas começámos a descobrir que na comunidade das pessoas que vivem na rua há não só pessoas sem-abrigo, há imigrantes ilegais, toxicodependentes, idosos isolados, muita gente isolada, que vão às carrinhas das diversas organizações buscar algum tipo de alimento.

Foi para eles que criámos este jantar comunitário, que acontece, por enquanto, de quinze em quinze dias e que serve cerca de 250 refeições. O objectivo não é a comida, porque àquela hora em vários lugares de Lisboa há comida disponível para as pessoas da rua. O nosso objectivo é criar um espaço seguro, confortável, onde as pessoas que estão na rua ou que vivem na margem, que se sentem excluídas da sociedade, possam sentar-se à mesa com os nossos voluntários para partilhar uma refeição durante duas horas, o seu percurso de vida, simplesmente partilharem o que lhes vai no coração.

Temos parceiros católicos, a Comunidade Vida e Paz, budistas, o Centro de Apoio ao Sem-Abrigo, protestantes, o Exército de Salvação, a Câmara de Lisboa, a Associação Conversa Amiga, que penso que não tem nenhuma filiação religiosa. Todas estas organizações que já fazem um acompanhamento das pessoas da rua depois vêm sentar-se à mesa com as pessoas que habitualmente servem nos vários lugares da cidade, e aí sim desenvolvem-se relações mais profundas, permitem conversas que vão além do circunstancial. O objectivo não é dar comida às pessoas, é darem-lhes a oportunidade de se sentirem pessoas.

Esta ajuda que poderá vir, se o projecto correr bem, é importante para o vosso projecto…
Sim, porque servimos uma refeição, que tem custos. E não imputamos esses custos aos nossos voluntários, nem às pessoas que vêm da rua. Alguém tem de pagar os jantares, não há jantares grátis. Andamos sempre à procura de patrocinadores, portanto este apoio do projecto do Jónatas permite-nos libertar tempo que gastamos à procura de recursos para aumentar a nossa resposta de acompanhamento das pessoas que estão na rua.

Para isto avançar é preciso atingir um objectivo de financiamento.
[Jónatas] Numa primeira fase de recolha conseguimos juntar os fundos necessários para pagar a gravação do disco e com a ajuda muito generosa da Valentim de Carvalho gravámos lá o álbum, que está agora na fase pós-produção, e o que nos falta é o dinheiro para fazer as cópias físicas do disco, porque acreditamos que a música e os discos ainda é algo que pode ser partilhado de forma física, o que é mais significativo do que simplesmente enviar um ficheiro informático.

Os valores são baixos, porque queremos que seja o mais acessível possível, e mesmo assim possa reverter lucro para os jantares, e neste momento estamos nesta fase. Temos até dia 15 para atingir o nosso alvo. Mas mesmo que cheguemos aos 100%, encorajamos toda a gente a financiar-nos porque temos também outros objectivos.

Estive há dias a tocar alguns temas para alguns utentes da Comunidade Vida e Paz e foi uma experiência fantástica a maneira como as canções encontraram aquelas pessoas, e como elas se encontraram nas canções. Temos um sonho que queremos concretizar de poder oferecer o disco em leitores mp3 a pilhas aos nossos convidados da rua, para que lhes sirva de uma companhia quando eles estiverem em alturas de solidão.

Não se trata apenas de pôr comida nos estômagos das pessoas mas conseguir chegar aos corações a ajudar a transformar vidas e construir uma cidade melhor e mais solidária, especialmente tendo em conta o tempo que vivemos.

Como é que se pode contribuir?
Quem conhece a plataforma PPL.com.pt, o nosso está na lista de projectos. Mas é mais fácil ir a www.tudoevaidade.com e tem lá as informações todas. Vão tendo actualizações regulares, tem as ligações para a página da recolha de fundos e também tem as ligações para o disco anterior, a fase 1 do projecto. Também estamos no Facebook.com/tudoevaidade

Tudo é vaidade vem da abertura de Eclesiastes, o segundo disco também é inspirado em Eclesiastes?
O segundo é mais abrangente. As imagens mais presentes neste segundo disco são de facto o pão, mesas vazias e mesas cheias, e também a questão da solidão, daquele sentimento de, apesar de estarmos rodeados de imensa coisa, incluindo família e emprego, podemos sentir que não temos nada. Apela a uma redescoberta daquilo que é verdadeiramente importante, o “ter e não ter”.

Não tem uma inspiração tão focada como o primeiro disco, mas sendo mais abrangente também houve coisas que fui buscar a Job, outras a Salmos. Job é um livro espectacular, para escrever sobre sofrimento. Há uma música só sobre a parábola do Senhor que dá um grande banquete e todos os convidados recusam. A música diz que “Há uma grande festa, que nunca termina, onde todos cantam e ninguém desafina.” Esse é o espírito dos jantares do Serve the City.

Musicalmente tenho convidados muito especiais. O Samuel Úria, a Celina da Piedade, que tem um disco a solo lindíssimo, ela toca com o Rodrigo Leão também. Uma cantora portuguesa que canta com os Wray Gunn, a Selma Uamusse. E depois muitos amigos meus, pessoas que decidiram abrir o seu coração sem pedir nada em troca e que abrilhantam o CD de uma forma muito especial.

Nota-se aqui que todo este projecto está muito marcado pela tua fé pessoal. De que maneira alimenta o teu trabalho?
Não só este projecto. Eu tento que toda a minha música, mesmo que não tenha a palavra Cristo, ou Deus, que naquilo que eu crio transpareça a minha cosmovisão. É importante para mim que assim seja, já que vou falar é melhor que tenha alguma coisa a dizer, mas que possa ser algo que leve as pessoas a interpretar aquilo à sua maneira e descodificar aquilo que lá está. Não são músicas sobre o nada, não são um vazio intelectual ou lírico.

Um sem-abrigo de Lisboa
Tentei imaginar muito daquilo porque passam as pessoas que frequentam os jantares. Na Comunidade Vida e Paz, uma música que falava de sepulcros, um senhor que tinha sido coveiro muitos anos e que disse que se identificava com aquilo. Essa é a minha maior felicidade, que as pessoas possam pegar nas canções e sentir que aquilo lhes diz alguma coisa.

Contaste com o apoio dos Pontos Negros?
Claro, eles participam todos. O Silas, o teclista, é quem faz a parte gráfica. Apesar de ser um projecto de âmbito diferente a nossa amizade vai muito para além da música. Aliás, a amizade é algo que é partilhado pelas pessoas que fazem este disco e isso é uma coisa que transparece.

Já chegaste ao ponto em que consegues viver da música?
Já vivi, mas agora não vivo. Estou muito bem como estou. Não é por ter um emprego, de que gosto muito, e dedicar-me a isto não a full-time, que o faço com menos empenho ou dedicação. Quando eu falei com o Alfredo nem estava neste emprego, mas a premissa de nunca tirarmos nada financeiramente deste disco mantém-se e há-de se manter sempre, mesmo que não esteja a ganhar nada. Isto é algo que eu sinto que devo fazer, independentemente daquela que for a minha situação.

Alfredo, o seu trabalho no Serve The City também é voluntário?
Eu sou voluntário, não ganho nada com isto. Temos apenas uma pessoa que é paga porque entre dois jantares há uma enorme quantidade de trabalho a fazer, reuniões a marcar, contactos, follow-up que se faz com pessoas que vêm jantar connosco. Em quase dois anos já envolvemos quase 2500 voluntários, desde gestores de grandes grupos económicos a pessoas desempregadas e até alguns sem-abrigo. Misturamos tudo, o objectivo é mesmo esse, quando uma pessoa entra na sala de jantar não percebe que é o voluntário nem quem é o sem-abrigo.

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