Nascido: 29 de Junho de 1944 Ordenado padre a 29 de Agosto de 1970 e bispo a 2 de Agosto de 1984 |
O’Malley, que já tinha feito os possíveis para ultrapassar
escândalos semelhantes noutras dioceses por onde tinha passado, tem por isso
excelentes credenciais no que toca a lidar com aquele que é provavelmente o
mais complicado problema que a Igreja tem de enfrentar actualmente. Em Boston o
Cardeal instaurou uma política de tolerância zero para com padres suspeitos de
abusos sexuais, acabando com a prática de encobrimentos que foi uma parte tão
grande do escândalo até então. Criou também políticas globais para lidar com
situações que pudessem surgir entretanto, que são consideradas pioneiras.
Numa medida que lhe garantiu a simpatia de muitos fiéis,
O’Malley não hesitou em vender o palácio episcopal para ajudar a pagar as
indemnizações às vítimas, tendo-se mudado para um pequeno quarto no seminário
da diocese.
Em reconhecimento desse facto, Sean O’Malley foi um dos
bispos encarregados de levar a cabo uma visitação apostólica à Igreja irlandesa
para tentar averiguar as raízes do escândalo sexual que também abalou a
credibilidade dessa igreja.
Foi na Irlanda que O’Malley teve um gesto simbólico muito
forte, ao prostrar-se no chão diante de um altar despido, juntamente com o
arcebispo de Dublin, Cardeal Martin, em Fevereiro de 2011. Depois os dois
arcebispos lavaram os pés a oito vítimas de abusos sexuais.
O’Malley começou a sua vida sacerdotal como monge capuchinho
e está fortmente imbuído da espiritualidade franciscana. Aquilo que lhe falta
em experiência na curia romana, onde nunca viveu, tem em experiência
missionária, tendo trabalhado nas Ilhas Virgens Americanas, com sem abrigo e
vítimas de HIV.
No único livro que tem publicado em Portugal, “Anel e
Sandálias” (Paulinas), escreve sobre a aparente contradição entre ser monge e bispo:
“As sandálias e o anel tornaram-se os símbolos de uma vocação de frade
capuchinho chamado a servir como bispo, uma combinação incómoda. Ser
franciscano quer dizer procurar o último lugar à mesa e ser o menor dos irmãos.
A função de Bispo na Igreja é de autoridade apostólica e de paternidade. Ser ao
mesmo tempo o irmão mais pequeno e o pai é um verdadeiro desafio. Não sei se
tenho tido sucesso num ou noutro desempenho, mas sei que estou grato a Deus
pelo privilégio destas duas vocações”.
Interessantemente, O’Malley é também um grande amigo e
admirador de Portugal. Tem um doutoramento em literatura espanhola e
portuguesa, trabalhou com a comunidade portuguesa na diocese de Washington e
visita frequentemente o país, onde ainda tem bons amigos.
Muitos cardeais hesitam perante a possibilidade de eleger um
Papa de uma superpotência mundial, mas com a sua humildade franciscana O’Malley
é tudo menos o estereótipo do americano arrogante. Acresce que O’Malley
simplesmente não é muito conhecido na Igreja Universal e, como é natural, a
maioria dos cardeais irá votar em alguém que conhece bem. Por outro lado o
conhecido vaticanista John J. Allen Jr, escreveu no dia 19 de Fevereiro um
artigo no qual afirma que O’Malley tem estado a tornar-se um nome cada vez mais
repetido, e em termos elogiosos, tanto no Vaticano como na imprensa
italiana, o que é muito importante.
É de facto alguém que eu tenho vindo a seguir desde há uns anos, principalmente desde que o Santo Padre nos visitou e estive perto de D. Sean O'Malley, pela sua simplicidade, conhecimento da Sagrada Escritura, resoluta limpeza de situações anómalas e... um pouquinho de amor à língua lusa, sendo Doutorado em Literatura Espanhola e Portuguesa antiga, oremos para que o Espírito Santo guie os Srs. Cardeais!
ReplyDeleteNo final dos anos 90, creio, orientou um retiro para os bispos da nossa conferência episcopal. Li o livro com as conferências em português. Há portanto pelo menos esse livro também publicado.
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