Hoje o Papa publicou a sua mensagem de Quaresma para 2013.
Nela ele fala da problemática da caridade e da fidelidade à missão da Igreja,
ou seja a evangelização.
Não é a primeira vez que Bento XVI fala deste assunto. Em
Dezembro publicou um “motu proprio” em que se exigia às organizações sociais
católicas uma maior adesão à doutrina da Igreja.
Este é um problema grave e que, no meu entender, será uma
das grandes questões que a Igreja terá de enfrentar nos próximos anos.
Pode parecer que estou a exagerar, mas é um problema que se
põe recorrentemente. Por um lado a Igreja é chamada a ajudar os mais pobres, os
mais fracos, os famintos, os sem-abrigo etc. Mas o Papa lembra que essa ajuda,
do ponto de vista católico, deve-se distinguir por ser também um trabalho
evangélico. Ou seja, é importante dar de beber a quem tem sede, mas mais
importante é dar a conhecer a existência daquela água viva que mata a sede de
eternidade.
Frequentemente, porém, assistimos a um divórcio entre os
dois aspectos. Vemos pessoas a fazer um trabalho meritório na área social, mas
que se envolvem de tal forma no aspecto social das questões que perdem o norte
no que diz respeito à fé. Escrevi sobre isto o ano passado quando escrevi sobreas freiras e assistentes sociais que ajudam prostitutas na zona do Intendente.
O problema também se pode pôr ao contrário e não é raro ver
pessoas a criticar o trabalho de outras, escudando-se numa fidelidade absoluta
ao magistério, mas que não traduzem essa fé toda em caridade de qualquer
género. O Papa chama a isso uma “árvore sem frutos”.
Para colocar a questão em perspectiva, e para ter noção do
dilema que apresenta, vejamos o seguinte caso prático.
Imaginemos um país onde a adopção por “casais” homossexuais
é legal e onde é proibido discriminar com base na orientação sexual. O que faz
uma agência de adopção católica se o Estado a quer obrigar a contemplar os
ditos casais para colocação de crianças? Vejamos que o Estado tem aqui poder de
influência precisamente porque estas instituições funcionam sempre com algum
financiamento público.
Deve fechar portas em vez de comprometer a sua identidade
católica, ou deve continuar a trabalhar, com base na ideia de que o serviço que
presta a todas as outras crianças pesa mais que o mal que deriva de ter de
colocar algumas com homossexuais?
O mesmo se pode aplicar a hospitais e a escolas, então, que
dizer? Uma escola católica deve ensinar aos seus alunos que o “casamento” entre
homossexuais é legítimo, só porque recebe financiamento do Estado?
As indicações que têm vindo do Vaticano nos últimos tempos
são muito claras. As instituições jamais devem sacrificar a sua identidade. O
argumento é bastante simples, Jesus não disse “Ide por toda a Terra e abri
escolas e orfanatos”, mas sim “Ide por toda a Terra e fazei discípulos entre
todas as nações”. As escolas e os orfanatos são importantes, mas é preciso que
esse trabalho caritativo decorra do sentido de missão, e não seja falsamente separado
dela, sob pena de se tornar mero “activismo moralista”.
Já agora, e para terminar, o exemplo dos orfanatos não é
rebuscado. No Reino Unido já não existe um único orfanato católico, por
exactamente essa razão. Não se pense que o problema não chegará a Portugal nos
próximos tempos.
Filipe d’Avillez
*Verdadeira Caridade. É o que dá trabalhar na área de
religião durante alguns anos, ficamos com estes tiques e começamos a dar
títulos em latim aos nossos textos…
Caro Filipe,
ReplyDeleteRaciocínio escolástico e com a noção clara do processo histórico!
Cumprimentos
In Domino
Ibsen
Muito bem, Caro Filipe. Não há qualquer dúvida. Se os católicos não são coerentes com a doutrina da fé cristã, na sua acção social, dão um contra-testemunho de que essa doutrina é descartável ou secundária. E se é, então os católicos são os mais infelizes dos homens.
ReplyDeleteFernando C.