Esta é que eu não esperava! Nem eu nem quase ninguém, está
visto.
Uma lista das principais notícias do dia, com análise,
reacções etc. já está disponível aqui. Este post serve para partilhar alguns
dos meus pensamentos sobre este assunto.
Em primeiro lugar quero deixar uma coisa bem clara. O Papa
lá sabe porque é que tomou esta decisão. Ele sabe melhor que ninguém o seu
estado de saúde e sabe melhor que ninguém as dificuldades que enfrenta no
dia-a-dia, concluindo, evidentemente, que não estava em condições para
continuar este serviço.
Por isso não quero que pareça uma crítica quando digo que
esta notícia me deixa triste e que se ontem me perguntassem se esta era uma
possibilidade diria que não e pelas seguintes razões.
Eu acho que uma das maiores lições que a humanidade recebeu
nos últimos anos foi poder assistir ao envelhecimento e à morte de João Paulo
II. Numa altura em que a fragilidade e a morte se escondem, em lares, em
quartos fechados, debaixo de plásticas… o mundo não sabe envelhecer e não sabe
como tratar a morte. O mundo ocidental, pelo menos.
João Paulo II mostrou que a dignidade humana não se prende
com a capacidade de falar, de reagir, de andar. É inerente à nossa condição.
Morreu quebrado, mas sem perder um pingo de dignidade.
A tradição na Igreja sempre foi de os clérigos morrerem nos
seus cargos. De Papa a bispo diocesano. Há claras desvantagens… a possibilidade
de ficar anos com um bispo frágil e adoentado, sem energia, que se cansa. Mas
as vantagens parecem-me superiores. Os fiéis afeiçoam-se à pessoa, criam com
ela laços de familiaridade, o Bispo torna-se mesmo um pai para os seus fiéis.
Como as coisas estão agora, com os bispos obrigados a
resignar aos 75 anos, soa-me sempre a funcionalismo público e dá a ideia que
depois de uma certa idade as pessoas perdem o seu valor. Cria, sobre tudo,
distanciamento em relação aos fiéis que não têm tempo para criar a tal ligação.
É pelo menos isso que eu, com a minha curta experiência, sinto.
Nas Igrejas orientais acontece o contrário, os bispos e
Patriarcas ficam até resignarem por vontade própria ou até morrerem e não me
parece que venha mal ao mundo por isso.
Respeito com devoção filial a decisão de Bento XVI. Não
tenho dúvidas que terá medido bem as consequências do seu acto. Mas penso que o
pior que poderia acontecer agora seria instalar-se a ideia que um Papa deve
sempre resignar mal começa a enfraquecer. Espero que isso não aconteça.
As próximas semanas serão de grande entusiasmo e novidade. Fiquem
atentos a este espaço, que irei actualizando na medida do possível. Temos quase
dois meses para todas as análises e especulações.
Filipe d’Avillez
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