Anthony Esolen |
“No pensamento”,
escreve o tio Escritorpe [Screwtape], personagem criado por C.S. Lewis em Vorazmente Teu, “as modas servem para distrair
as atenções dos homens dos verdadeiros perigos”. É uma estratégia simples, mas
eminentemente eficiente.
Dirigimos a revolta de cada geração contra os
vícios que representam menor ameaça e fixamos a sua aprovação nas virtudes mais
próximas do vício que estamos a tentar tornar endémico. O objectivo é pô-los a
correr de um lado para o outro com extintores sempre que há uma inundação e
todos a refugiarem-se do lado do barco que já está quase debaixo de água. Logo,
promovemos a moda de se expor os perigos do Entusiasmo no preciso momento em
que estão todos a ficar mundanos e mornos... Nas épocas cruéis pômo-los de
guarda contra o Sentimentalismo, nas eras fúteis e preguiçosas, contra a Respeitabilidade
e nos lascivos contra o Puritanismo.
Ao leitor
ocorrerão vários exemplos actuais deste fenómeno. Precisamente quando o Islão
procura expulsar todos os cristãos e judeus do Médio Oriente, e os jihadistas decapitam
repórteres, fuzilam crianças e incendeiam aldeias inteiras cheias de mulheres e
crianças, os habitantes do Ocidente sonâmbulo e indiferente à religião
revoltam-se contra a islamofobia.
Numa altura em
que é considerado crime de lesa-majestade sugerir que as mulheres possam ter
quaisquer limitações, seja de corpo, espírito ou mente, e quando os homens de
classe operária vêem os seus empregos a desaparecer ou os ordenados a descer, ficamos
muito preocupados por saber se uma menina universitária de uma faculdade chique
devia ter de pagar um punhado de dólares para financiar hormonas sintéticas,
para poder continuar a levar uma vida dissoluta e despreocupada.
Recentemente
uma estrela da equipa de futebol americano Minnesota Vikings foi acusado de ter
batido no seu filho de quatro anos. Pegou num ramo e chicoteou-lhe as pernas,
uma e outra vez. As fotografias são terríveis. Desde esse dia temos ouvido
muitas discussões sobre o que a entidade empregadora devia fazer sobre o
assunto e as mais severas condenações para o caso de não fazer nada.
Não faço
questão nenhuma de defender jogadores de futebol americano chicoteadores. Mas
parece-me um claro exemplo da estratégia do Escritorpe. Não me parece que a
nossa seja uma época em que se exagera na disciplina das crianças. Tenho muito
pouco de bom para dizer sobre a escola pública, mas é um facto que em muitas
escolas simplesmente não se consegue educar ninguém, porque as salas de aula
estão fora de controlo. O problema é particularmente grave em sítios onde as
crianças crescem sem a figura paternal.
O perigo vem
de duas direcções diferentes. Uma criança insolente e teimosa pode sempre
ameaçar os seus pais com uma queixa falsa de abusos, o principal perigo vem de
miúdas a quererem-se vingar de mães solteiras.
Entretanto, os
rapazes crescem sem pais e nunca aprendem a controlar a sua agressividade. Ensombram
a mãe, os professores, a enfermeira da escola e a directora. Não querem saber
se essa atitude traz caos e confrontação. É o prato do dia.
Estamos a
prejudicar muito as nossas crianças e muito pouco desse dano vem de um chicote.
Regressemos à entidade patronal do jogador e aos jornalistas e adeptos que
estão a exigir o seu despedimento. Não me pronunciu sobre o que deve ser o
castigo. Só sublinho a total cegueira das pessoas que seguem esta moda moral.
As pernas do
rapaz não sofreram danos permanentes. Mas, e se o jogador tivesse feito algo
infinitamente mais danoso para o seu filho? E se ele tivesse dito à mulher: “Vou-te
deixar por outra mulher” e simplesmente ter abandonado o rapaz, mandando-lhe um
cheque de vez em quando por descarga de consciência?
Aí alguém
pediria para ele ser despedido? Ninguém. Mas porque não? O abandono abre feridas que nunca saram, não são
feridas na pele, mas no coração.
Não basta
dizer que o divórcio é legal mas espancar uma criança não é. Ninguém nega que o
jogador devia ser castigado segundo a lei. Mas os críticos pedem uma punição
muito para além do que a lei impõe. Estão a pedir à Liga de Futebol Americano
para se dissociar desta enormidade moral. É isso que me parece estranho.
Se o homem
tivesse abandonado o seu filho, ninguém pestanejava. Seria interessante saber
quantos dos seus críticos já conceberam filhos fora do casamento, quantos
abandonaram, quantos corromperam, gabando-se das suas desventuras sexuais ou
deixando pornografia ao seu alcance? Isto para não falar das crianças
esquartejadas no útero. Esses chicotes não deixam sequer criança para
cicatrizar.
Claro que não
vamos ouvir qualquer comentador a pedir tolerância zero para o divórcio,
ilegitimidade ou aborto. Esses pecados estão na moda. Também são omnipresentes.
As térmitas
estão a transformas as vigas em pó, mas estás preocupado com uma racha no chão
da cave. Tens os ossos corroídos por cancro, mas estás preocupado com a cintura.
E depois de tapares a racha, perderes dois quilos e despedires o jogador,
congratulas-te por seres tão responsável e dizes que está tudo bem.
Quem se ri é o
Escritorpe.
Anthony Esolen é
tradutor, autor e professor no Providence College. Os seus mais recentes
livros são: Reflections on the Christian Life: How Our Story Is God’s Story e Ten Ways to Destroy the
Imagination of Your Child.
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Screwtapeletters, um dos melhores livros de sempre!
ReplyDeletePara a comunicaçao tudo o k e normal para eles e anormal.Se o pai estivesse a beijar o filho nos labios era normal.
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