Por David G. Bonagura Jr. |
Às vezes as novas descobertas científicas parecem
desafiar a nossa compreensão religiosa do mundo, como quando aprendemos que é o
Sol e não a Terra que se encontra no centro do sistema solar. Mas este facto
não só não afecta a centralidade do ser humano na criação de Deus (o dogma que
supostamente era posto em causa na altura), como acrescenta uma nova
perspectiva sobre outra verdade da revelação: que Cristo, representado na
iconografia primitiva como o sol, é o verdadeiro centro e fonte de vida da
criação e das nossas vidas.
Não há, por isso, qualquer razão para afirmar – como fez
um biólogo recentemente no New York Times – que a ciência e a religião são
irreconciliáveis. Nem nos devemos contentar em dizer que a ciência e a religião
se resumem a “magistérios não coincidentes” que dizem respeito,
respectivamente, a factos e a valores. Pelo contrário, os “factos” da ciência
são a fundação racional sobre a qual assentam a revelação sobrenatural e os
seus “valores”. Claro que a ciência e a fé têm objectos diferentes, que têm em consideração
as suas diferenças inerentes mas, com o São
João Paulo II, sabemos que não existe “razão para qualquer concorrência
entre razão e fé: cada um contém o outro e cada um tem o seu campo de acção”.
Mais do que qualquer outra teoria científica
contemporânea, a evolução constitui um feroz ataque à compreensão
judaico-cristã da origem da humanidade. Desde os autocolantes nos carros que
mostram um peixe, símbolo do Cristianismo, com pernas (às vezes com a legenda
“Darwin”) ao recente artigo no Times que tenta explicar porque é que a fé e a
teoria da evolução são incompatíveis, certo defensores da evolução têm afirmado
publicamente que a sua versão da génese da humanidade é correcta e que o
Genesis não passa de uma história parva.
É fundamental para a Igreja enfrentar os desafios da
teoria da evolução e das origens da humanidade, uma vez que ela ensina de forma
infalível que os seres humanos são feitos à imagem e semelhança de Deus, que
dotou cada um de uma alma imortal. (A Igreja nunca ensinou como é que
isto se passou, uma vez que isso nunca nos foi revelado). Algumas teorias da
evolução (existem muitas variações) contradizem esta verdade, afirmando que a
existência da humanidade é um acidente material resultante de mutações
genéticas e não de intervenção divina. Tais teorias devem ser consideradas
incompletas, uma vez que excluem Deus do processo de criação.
Num famoso discurso, São João Paulo descreveu a teoria
da evolução como “mais do que uma hipótese”, embora tenha usado o mesmo
discurso para apontar os problemas com certas abordagens filosóficas da teoria.
Mas deixemos de lado os méritos da teoria da evolução em si. O biólogo do Times
dá aos seus leitores três razões pelas quais a teoria da evolução exige que se
abandone a fé judaico-cristã na criação. Estas razões, que dizem mais respeito
a conclusões humanas do que à ciência, podem ser desmontadas dentro do âmbito
científico.
Pe. George Lemaitre, autor da teoria do Big Bang |
Em segundo lugar, o autor aponta para as ligações
filogenéticas entre diferentes espécies. Mas este facto também não faz nada
para excluir Deus do processo da criação. Na melhor das hipóteses a diferença
extraordinária que existe entre os seres humanos e outros primatas com uma
estrutura de ADN semelhante (alguma vez se viu um chimpanzé a debater as suas
origens?) aponta para a existência de uma alma
humana infundida nos humanos por Deus. Esta é a grande diferença entre
homens e bestas. O autor tem razão num ponto, porém: “Nenhum traço literalmente
sobrenatural foi alguma vez encontrado no Homo sapiens”. A biologia evolutiva,
por si, não é capaz de medir a alma imaterial, que é produto de Deus e não da
criação material.
Por fim, o problema do mal é colocado de uma perspectiva
evolutiva: a predação, a doença e a morte mostram que os humanos “são
produzidos por um processo natural e totalmente amoral, sem qualquer indicação
da existência de um criador controlador e benevolente”. Mas o esforço levado a
cabo pelos homens – em todos os tempos e em todas as culturas e religiões –
para encontrar sentido no sofrimento e atribuir códigos morais à procriação,
mostram que há muito a dizer sobre estes animais racionais do que meramente a
sua natureza animal. Os biólogos têm tentado encontrar um “gene moral”, mas o
sentido e a moralidade transcendem os limites daquilo que qualquer outro animal
pode fazer. É estranho que uma espécie supostamente gerada pelo acaso, sem
qualquer sentido, tenha esta vontade inata tão intensa de encontrar sentido em
todas as coisas.
Pedimos desculpa ao nosso professor de biologia, mas os
seus alunos e leitores não precisam de abandonar a sua fé judaico-cristã à luz
da teoria da evolução. Pelo menos em termos das três críticas que ele propõe,
não há nada na dimensão científica da evolução que exclua o papel de Deus na
criação dos humanos e na infusão das suas almas. Pelo contrário, talvez o
professor é que precisa de reavaliar a sua fé na evolução, interpretada a uma
luz intencionalmente ateia.
David G. Bonagura, Jr. é professor assistente de Teologia
no Seminário da Imaculada Conceição, em Huntington, Nova Iorque.
(Publicado pela primeira vez na Quinta-feira, 23 de
Outubro de 2014 no The
Catholic Thing)
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