Francis J. Beckwith |
Há cristãos
cujas vidas parecem uma Quaresma sem Páscoa. – Papa Francisco
A minha primeira atracção pela filosofia chegou
através da apologética cristã. Desde que me lembro, os aspectos cognitivos da
minha fé – e como justificá-los – ocuparam a minha mente. Em 1968, quando os
meus pais me perguntaram o que queria para a minha Primeira Comunhão, pedi uma
Bíblia. Todos os meus colegas pediram uma medalha ou outra, mas eu fui atraído
pelo λόγος. Era um puto católico fora do comum.
Na adolescência abandonei a Igreja e tornei-me evangélico.
Sentia-me atraído por autores que se dedicavam a defender as credenciais
intelectuais do Cristianismo. Antes de ir para a Universidade de Fordham, em
1984, para fazer o meu mestrado e doutoramento em filosofia estudei numa
faculdade evangélica onde tirei um mestrado em apologética.
Ao longo dos anos, como
já referi nestas páginas, comecei a discernir em mim o desejo desordenado
de tratar as minhas crenças cristãs apenas como dados sobre os quais podia
exercer o poder desapaixonado da razão, como se fossem apenas uma colecção de
proposições que eu devia comprovar para minha satisfação. Em vez de ver o
conjunto das minhas crenças como um aspecto integral mas não exclusivo de uma
caminhada que não se pode percorrer sem as virtudes teológicas da fé, esperança
e caridade, abordava-as como se não passassem de uma colecção de problemas a
resolver.
Comecei também a descobrir que alguns dos meus
heróis da apologética evangélica não eram, afinal, pessoas muito simpáticas.
Eram intelectualmente brilhantes, claro, e enfrentavam quem fosse preciso com
uma variedade de argumentos inteligentes e sedutores. Mas no fim de contas não
queria ser como eles. Não obstante os seus apelos por um Cristianismo
intelectualmente sério, alguns tendiam a aceitar atalhos intelectuais em vez de
dedicar o tempo necessário para pesar paciente e cuidadosamente os argumentos
dos seus críticos.
Houve dois, em particular, que à medida que
envelheceram se tornaram caricaturas da sua juventude tão promissora. As
virtudes que antes os tinham servido tão bem – a juventude, o charme e o
raciocínio rápido – começaram a esvanecer na medida em que os vícios, mal contidos
na sua juventude, se começaram a realçar. A dada altura deixaram de ser pessoas
com mau feitio mas com imensas qualidades, tornando-se velhos zangados,
descansando sobre louros antigos.
Razão e coração |
Quando reentrei para a Igreja Católica, há quase
oito anos, descobri um fenómeno semelhante. Alguns apologistas católicos eram
como o primeiro grupo que tinha encontrado quando era protestante: tinham
argumentos fantásticos, mas almas feias. Pareciam estar sempre zangados,
rejeitando os seus críticos como tolos cegos movidos por má-fé.
Mas os outros, para minha grande alegria, eram
como o segundo grupo. Compreendiam que a evangelização não tem a ver com
apresentar argumentos aos nossos vizinhos para os ganhar para Jesus; passa por
introduzir os nossos irmãos a Jesus através do nosso exemplo para que se sintam
atraídos a ouvir os nossos argumentos.
Acredito que seja isto que o Papa Francisco nos
esteja a tentar ensinar sobre a Nova Evangelização. Como o próprio escreve na
sua exortação apostólica “Evangelii
Gaudium”, de 2013:
É verdade que,
na nossa relação com o mundo, somos convidados a dar razão da nossa esperança,
mas não como inimigos que apontam o dedo e condenam. A advertência é muito
clara: fazei-o “com mansidão e respeito” (1 Pd 3, 16) e “tanto quanto for
possível e de vós dependa, vivei em paz com todos os homens” (Rm 12, 18). E
somos incentivados também a vencer “o mal com o bem” (Rm 12, 21), sem nos
cansarmos de “fazer o bem” (Gal 6, 9) e sem pretendermos aparecer como
superiores, antes “considerai os outros superiores a vós próprios” (Fl 2, 3).
(Publicado pela primeira vez na Sexta-feira, 26
de Setembro de 2014 em The
Catholic Thing)
Francis
J. Beckwith é professor de Filosofia e Estudos Estado-Igreja na
Universidade de Baylor. É
autor de Politics
for Christians: Statecraft as Soulcraft, e (juntamente com Robert P. George
e Susan McWilliams), A Second Look at
First Things: A Case for Conservative Politics, a festschrift in honor of
Hadley Arkes.
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autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o
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