Anthony Esolen |
O homem pecador tem dificuldade em não ser seduzido por essa
meretriz que é o Poder. Mesmo os apóstolos, sentados à mesa com Jesus na última
ceia, esqueceram-se por momentos que Ele tinha dito que um deles o iria trair.
Começaram a discutir sobre quem seria o maior de entre eles. Então Jesus
repreendeu-os com o que deve ter sido um suspiro de infinita paciência.
Aquele homem do interior da Galileia sabia bem do vazio que
é a busca do poder. “Os reis deste mundo”, explicou “têm poder sobre o povo, e
os governadores são chamados ‘Amigos do Povo’”. Eis que as pessoas são levadas
a agradecer aos simpáticos benfeitores que lhes colocam cargas sobre os ombros:
“Mas entre vocês não pode ser assim. Pelo contrário, o mais importante deve ser
como o menos importante; e o que manda deve ser como o que é mandado.”
Nas próximas semanas os cardeais da Igreja Católica elegerão
um novo sucessor de São Pedro. Não demorará muito tempo. Haverá alguns custos
com voos, estadias e refeições. É tudo. Os cardeais vão rezar pela orientação
do Espírito Santo. Sem dúvida haverá preferências diferentes e muitas ocasiões
para discussão.
Os representantes do carnaval vão encher as ruas de Roma,
frustrados com o silêncio do Vaticano. Se o novo Papa for como Bento XVI,
sentir-se-á humilhado pela sua “vitória”. “Simão, Simão, escute bem”, disse
Jesus, tendo admoestado os apóstolos para que o maior se fizesse mais pequeno,
“Satanás já conseguiu licença para vos pôr à prova. Ele vai peneirar-vos como o
lavrador peneira o trigo a fim de separá-lo da palha. Mas eu tenho orado por
ti, Simão, para que não te falte fé. E, quando te voltares para mim, anima os
teus irmãos.”
Não sei quem é que o Espírito levará os cardeais a escolher.
Mas isto sei: que o mundo não o vai compreender, independentemente de quem
seja. O mundo fala a linguagem do carnaval; do desejo de riqueza, fama e poder.
O mundo considera um “erro” se Pedro fala a verdade, dentro e fora de época. O
mundo só conhece uma forma de contabilizar o sucesso: corpos a passar pelos
torniquetes.
O mundo riu-se quando a Igreja, na pessoa do seu esposo,
morreu no Calvário. A Igreja morrerá de novo, e o mundo rir-se-à de novo; e a
Igreja ressuscitará de novo, e o mundo negá-lo-á; e assim será até ao fim dos
tempos. Aqui, o carnaval; ali os santos e os pecadores, dedicando-se aos
trabalhos da fé, esperança e caridade.
Às vezes o carnaval e a Igreja misturam-se com demasiado
à-vontade; às vezes a Igreja consegue acalmar a sede de sangue do carnaval,
tornando-o um pouco mais humano; às vezes é o carnaval que consegue colocar um
palhaço ou um bobo numa posição de autoridade na Igreja; mas “tudo o que há no
mundo - a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens - não
provém do Pai, mas do mundo.”
A Igreja pode amar o mundo estando nele, mas não é do mundo;
renuncia ao carnaval, contentando-se em ser apelidado de louco, para bem dos palhaços
com as suas caras pintadas e os sapatos de palhaço que se atropelam para chegar
aos lugares reservados aos VIPs.
Os marreteiros continuarão a especular sobre “Porque é que o
Papa Resignou”. Porque é que algum homem desistiria assim da meretriz Poder? Julgá-lo-ão
de acordo com os seus corações. O homem ou está de tal forma incapacitado que
já não tem prazer na meretriz, ou foi obrigado a abandoná-la contra a sua
vontade.
Farão ouvidos moucos ao que o Papa Bento XVI disse. Ele não
procurou o trono de Pedro. Servir a Igreja fielmente é, em qualquer altura, uma
responsabilidade assombrosa; quanto mais assombrosa não será nestes tempos
loucos? Ele vai fazer exactamente o que disse que ia fazer; nem os seus
inimigos o podem acusar de falsidade. Vai subir à montanha, procurar a face de
Deus, e rezar incessantemente até ao fim dos seus dias, para o bem da noiva a
quem foi chamado a servir.
João Paulo II deu ao mundo um testemunho eloquente do amor
que o sofrimento paciente pode soltar. A sua fragilidade foi uma repreensão
firme à idolatria mundana da força. O mundo não compreendeu os seus últimos
dias; o carnaval teme tanto o silêncio da oração como o silêncio da morte.
Agora o Papa Bento XVI vai dar ao mundo o testemunho
eloquente de uma ascensão ao silêncio. Os palhaços do carnaval, quando
retirados do palco principal, não sabem estar quietos, têm de se pôr em bicos
dos pés, misturando-se com o público, posando e dando nas vistas e procurando
roubar a atenção ao novo Supremo Animador.
Bento XVI não o fará. Enquanto o carnaval toca o seu ruído
patético e incessante, o Servo dos Servos de Deus estará de joelhos, tremendo
de velhice, mas em paz, em comunhão com aquele que é Ele mesmo uma comunhão de
amor.
E quem sabe, talvez alguns dos que passeiam na feira virem
os olhos na sua direcção.
Anthony Esolen é tradutor, autor e professor no Providence
College. O seu mais recente
livro é: Ten
Ways to Destroy the Imagination of Your Child.
(Publicado pela primeira vez na Quinta-feira, 28 de Fevereiro
2013 em http://www.thecatholicthing.org/)
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Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de
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The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.
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