Randall Smith |
Ligaram-me de um dos gabinetes de “relações públicas” da
minha universidade, esta semana, a perguntar se poderia falar com um jornalista
de uma estação de televisão local sobre o tiroteio na escola de Oregon.
“Porque é que querem um teólogo?”
“Porque o atirador poderá ter seleccionado as suas
vítimas por serem religiosas.”
Como muitas outras, a nossa faculdade quer que os
docentes aceitem estas entrevistas para que o nome da instituição apareça na
televisão e as pessoas saibam que ela existe. Noutras universidades querem que
os docentes dêem entrevistas para parecerem “peritos”, mas quem tiver essas
expectativas terá uma grande desilusão. Os jornalistas não querem mais do que
seis segundos do que quer que se seja sobre um assunto, normalmente os seis
segundos mais banais e pouco esclarecedores que consigam encontrar. Assim, um
perito sobre padrões de votação dirá, sagazmente: “E por isso é importante que
todos votem”.
A avó dele poderia ter dito o mesmo. Mas eles vieram até
à faculdade, montaram o equipamento, procuraram um bom ângulo para a câmara e
filmaram-no a fazer meia dúzia de comentários inteligentes para que pudessem
ficar com os seis segundos em que diz o que qualquer outra pessoa poderia ter
dito. Essa frase é, provavelmente, o que eles queriam que ele dissesse à
partida. Mais valia terem arranjado bonecos de ventríloquo da Disney,
poupava-lhes tempo.
Mas precisamos da publicidade gratuita e eu respeito
isso, por isso tento dizer que sim sempre que possível e penso num bom local
para fazer a entrevista, onde o “camera man” possa obter uma boa imagem do
campus. Sei que eles só procuram um “sound bite”, por isso quando aparecem digo
ao jornalista: “Posso dizer estas duas frases. Se quer alguma delas então vamos
despachar isto”. Normalmente ficam todos contentes, porque como eu eles também
não querem perder o seu tempo, uma vez que ainda têm de voltar para a estação,
editar e publicar a reportagem. Estão-se nas tintas para o que eu tenho a dizer
e eu estou-me nas tintas para o facto de eles estarem nas tintas, desde que não
se enganem no nome da universidade e a filmem (e na medida do possível a mim)
de um ângulo lisonjeador.
Por isso quando apareceu a jornalista eu tinha um local
seleccionado e estava pronto para ela me perguntar sobre este tipo que tinha
morto pessoas religiosas. Estava preparado para dizer que é cedo na
investigação e que não devemos chegar a conclusões precipitadas; que as pessoas
tendem a tornar estas tragédias ideológicas, mas que devíamos ser pacientes e
esperar pelos factos; que no massacre de Columbine um dos atiradores tinha
perguntado a uma rapariga se era cristã e que quando ela disse que sim ele
disparou sobre ela, mas que os investigadores não concluíram que o tiroteio
tinha sido o resultado de ódio anticristão. Ia-lhe dizer que, quando pessoas
loucas fazem coisas loucas, tirar conclusões rápidas sobre as suas “razões” –
como se não fossem loucas – é um erro de palmatória.
Resumindo, ia tentar evitar tornar isto uma questão
ideológica sobre o ódio de crentes por parte de secularistas, em primeiro lugar
porque não havia provas para suportar essa conclusão e também porque me parece
perigoso retirar conclusões gerais destas situações trágicas, para além da
conclusão óbvia de claramente não estarmos a lidar com estes indivíduos
perturbados da maneira certa. Parti do princípio que a jornalista encontraria
algo relativamente inócuo para retirar disso tudo – provavelmente a última
frase sobre o tratamento inadequado, que qualquer pessoa poderia ter dito.
Foi por isso com total surpresa que, depois de tudo
montado, ela me perguntou: “Porque é que a religião causa tanta violência?”
Vigília pelas vítimas do tiroteio no Oregon |
Um dos meus colegas diz que eu deveria ter respondido: “Mas
você está a culpar as vítimas?” É uma boa frase, devo admitir, mas ela teria
simplesmente cortado essa parte, como faria se eu tivesse dito “o que é que
torna os secularistas tão intolerantes e predispostos à violência?”
Por isso disse-lhe que, embora qualquer coisa possa ser
usada para fins malévolos, a religião não é mais causa de violência que muitas
outras coisas, como nacionalismo, xenofobia ou várias formas de utopia.
“Mas”, insistia ela, uma e outra vez, “não acha que a
religião é particularmente uma causa de violência?”. Pensei para mim: “Espero
que ela não esteja a pensar ir à mesquita mais próxima fazer as mesmas
perguntas”. Não estava.
“Porque é que a religião é tão fracturante?”, quis saber.
Disse-lhe que o Papa Francisco acabara de discursar diante de uma sessão
conjunta do Congresso e que e esse episódio não tinha parecido particularmente
“fracturante”. Pelo contrário, os congressistas pareciam mais conciliadores do
que em qualquer altura dos últimos anos.
Claramente, esta mulher ouvia as palavras “violência” e
“religião” e não conseguia senão juntá-las, partindo do princípio que uma era a
causa da outra.
Nesse espírito, considerem os seguintes pares de
palavras:
Negros/Problemas
Estrangeiros/Perigo
Mulheres/Fraqueza
Se alguém ligasse automaticamente a primeira palavra à
segunda, saberíamos o que concluir sobre o assunto. Preconceito ignorante.
Teria isso dado um “sound-bite apropriado”? “Desculpa,
minha senhora, mas não percebe que a sua pergunta a revela como uma
preconceituosa ignorante?”
Olhando para trás, talvez devesse ter optado pelo “mas
você está a culpar as vítimas?” e depois assegurado que estava a conseguir captar
boas imagens das roseiras.
Randall Smith é professor de teologia na Universidade de
St. Thomas, Houston.
©
2015 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os
direitos de reprodução contacte: info@frinstitute.org
The Catholic Thing é um fórum de opinião
católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade
dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o
consentimento de The Catholic Thing.
No comments:
Post a Comment