Pe. Jerry J. Pokorsky |
Quando pensamos nos grandes homens da história, quem é
que nos vem à cabeça? E quais são os atributos dessa grandeza? Nos tempos de
Cristo, os Césares eram grandes homens. Conquistaram muito território, que
mantinham a grande custo. Para serem grandes homens gastaram muito dinheiro dos
tributos pagos pelos seus súbditos e derramaram, em batalha, muito sangue de
pessoas normais.
De igual modo, Herodes o Grande também foi considerado
“grande” porque mandou construir um magnífico Templo para os Judeus e era implacável
na defesa do seu poder. Na sua velhice assassinou os Santos Inocentes,
comprovando novamente que a fasquia terrena de grandeza pode ser medida pela
quantidade de dinheiro dos seus súbditos que um líder gasta e quanto do seu
sangue derrama.
Quando os Apóstolos discutiam entre eles quem era o
maior, provavelmente não estavam a pensar em termos de gastar os rendimentos de
outros ou de derramar muito sangue. Mas poderão ter estado a pensar nalgumas
das regalias da grandeza. Afinal de contas, os grandes líderes, antes de
pensarem em conseguir grandes feitos, precisam de pensar um pouco naquilo que
vão obter, pessoalmente, com essa grandeza.
Cristo ouve a sua discussão e utiliza essa ocasião para
lhes ensinar algo sobre a verdadeira grandeza: “Se alguém desejar ser o
primeiro, será o último e o servo de todos”. E “quem receber uma criança como
esta em meu nome, recebe-me a mim; e quem me recebe a mim, recebe-me não a mim
mas ao que me enviou”.
Lendo sobre os grandes homens da história, não me parece
que isto seja matéria de grandeza, pelo menos aos olhos do mundo.
Mas a grandeza cristã não pode ser medida em termos mundanos.
O maior homem nascido de uma mulher (antes da inauguração do Reino), de acordo
com Jesus, é João Baptista. Ele confrontou Herodes sobre a moralidade do seu
casamento e em resultado disso foi decapitado. Em termos terrenos foi um
perdedor.
São Tomás Moro limitou-se a manter silêncio quando
enfrentado com o adultério de Henrique VIII, mas o seu silêncio era testemunho
que chegue e por isso também ele perdeu a cabeça. Em termos terrenos, Tomás
Moro era um perdedor.
São Isaac Jogues pregou Cristo aos indígenas dos Grandes
Lagos, em Nova Iorque. Brutalmente torturado, fugiu apenas para pedir para ser
enviado novamente para a América para pregar novamente. Foi trucidado. Tanto
quanto consigo perceber da leitura da história, muito poucos índios Iroquois se
converterem ao Catolicismo. Os peditórios continuam a render pouco dinheiro. Em
termos terrenos – e mesmo, talvez, em termos puramente eclesiais – São Isaac
Jogues era um perdedor.
Compreendo bem essa situação. Na minha primeira missão
como padre houve uma altura em que me deliciava com as boas sensações que nos
chegam da alegria dos fiéis quando um pároco novo, recém-ordenado, chega à
paróquia. Por isso imaginarão como me perturbou o facto de encontrar
resistência quando proclamei o Evangelho. Certa vez o Evangelho de domingo era
o ensinamento de Jesus, “Mas eu vos digo, quem se divorciar da sua mulher e
casa com outra comete adultério”. O ensinamento de Cristo é suficientemente
claro, e por isso a minha homilia foi toda sobre a primeira leitura.
Verdadeira grandeza |
Depois da missa fui confrontado por um paroquiano
zangado. Quem era eu para dizer: “Aquele que se separa da sua mulher e casa com
outra comete adultério”?! Defendi-me dizendo que me tinha limitado a ler o
Evangelho. “Não me crucifique a mim! Crucifica Jesus!” (Ok, talvez não tenha
dito exactamente isso.)
Essa foi das primeiras lições salvíficas que tive
enquanto padre. Se verdadeiramente aspirava a ser grande, devia aspirar a pegar
na minha cruz e sofrer com Cristo. “Em verdade vos digo, nenhum servo é maior
que o seu mestre e nenhum mensageiro é maior que aquele que o enviou” (Jo.
13,16).
Suponho que a grandeza, como o mundo a compreende, sempre
foi medida por popularidade e sondagens. Mas se um candidato político, hoje,
baseasse o seu programa e campanha nos Dez Mandamentos e no Evangelho, quanto
tempo levaria até que fosse cercado pelas multidões, gritando “Crucifica-o!
Crucifica-o!”? Jesus avisa-nos – incluindo aqueles de entre nós que pregamos o
Evangelho: “Ai de vós quando todos falarem bem de vós, pois foi assim que os
seus antepassados trataram os falsos profetas”. (Lc 6,26)
Há razões pelas quais os maiores dos santos cristãos
foram assassinados, tal como Cristo foi assassinado no Madeiro sagrado. Se eles
tivessem escolhido a via da grandeza do mundo, talvez escapassem às masmorras,
ao fogo e à espada. Mas a sua grandeza não era deste mundo. Eles escolheram a
via estreita da Verdade e da Cruz, o único caminho seguro para a verdadeira
grandeza da Ressurreição.
O padre Jerry J. Pokorsky é sacerdote na diocese de
Arlington e pároco da Igreja de Saint Michael the Archangel em Annandale, Virgínia.
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