António e Marta Pimenta de Brito |
Que projecto é este?
António: É um site de encontros para católicos em que o primeiro
objectivo é promover o encontro das pessoas e em segundo lugar a partilha da fé
e dos valores.
Falámos com a
Igreja e temos já alguns apoios na Igreja, desde o bispo-auxiliar de Lisboa D.
Nuno Brás, ou o secretário-geral das Conferências Episcopais Europeias, o padre
Duarte da Cunha, e outras pessoas.
E de facto a ideia
é encontrar solteiros, pessoas que querem casar e desejem encontrar uma pessoa e nós, através desta plataforma
online proporcionamos esse encontro e ao mesmo tempo também fornecemos
conteúdos, ligados à questão da fé, valores, “lifestyle”, valores humanos e
também organizamos eventos. Ou seja, não é só algo online, é algo que também se
realiza cá fora, com encontros, retiros, palestras, mas também caminhadas,
workshops sobre vários temas, a nossa vida, encontros, etc.
É um modelo que já existe noutros países, não
é?
António: Exactamente.
Marta: Esta plataforma nasceu há dez anos em alemão. Não só em países como a
Alemanha, Suíça e Áustria mas também noutros como a Eslovénia e a República
Checa. Nós somos o décimo país a entrar e ficamos responsáveis por todos os
países de expressão portuguesa e todos os portugueses espalhados pelo mundo,
que são bastantes, se pensarmos que um terço dos portugueses está fora de
Portugal.
Não existe nada disto em Portugal... No Brasil
também não?
Marta: No Brasil existe, e na América Latina este tipo de sites são conhecidos.
Aliás, o termo dating é de origem anglo-saxónica e quer na cultura da América
do Norte, quer na cultura latina da América do Sul existem diferentes tipos de
site.
Mas especificamente católicos, no Brasil, já
existe?
António: Temos ideia que existe um, ou dois. De qualquer forma este site que
estamos a desenvolver também se adapta muito não só ao Brasil mas também a
Portugal, cada um tem as suas especificidades culturais, e essa adaptação
também é importante. Depois, pertencer a um grupo que já tem muita
credibilidade, já tem apoio na Igreja, neste caso na Igreja alemã, e nas outras
igrejas de outros países. Portanto é um grupo que tem credibilidade, por ser
algo que é apoiado pela Igreja e nesse sentido acaba por ter essa força.
Marta: E tem por base um modelo europeu, tendo nascido na Alemanha.
Fazendo um bocadinho de advogado do Diabo... A
cultura dos "dates" não é uma coisa portuguesa. Acham que os
portugueses se vão adaptar a esse conceito dos encontros? Nós
estamos mais habituados a conhecer as pessoas através de interacção social...
António: Essa é uma boa questão, que nós nos colocámos, obviamente e todos
colocam, especialmente algumas pessoas ainda muito no paradigma do escrito.
Hoje em dia vivemos quase 30% do nosso tempo na internet.
Voltando à questão
do termo "date", de facto é verdade que é um termo mais
anglo-saxónico, até porque eles assumem muito mais esta questão do encontro.
Quando se encontram é para ver se dá ou não dá. Nós aqui "engonhamos"
um bocadinho, andamos a organizar cafés, depois é ou não é.
Por outro lado, a
vantagem de ser católico, é que nós não andamos propriamente com um sinal na
testa a dizer que somos católicos. Aqui acaba por facilitar um bocadinho. Mas o
online ajuda-nos a triar certas coisas. Temos um questionário, que não é
obrigatório, em que a pessoa pode falar um bocadinho sobre si: "O que é
que eu faria numa situação com um mendigo na rua?", "O que é que faço
num sábado à tarde?" Pequenas coisas da personalidade.
Por outro lado, em
relação aos valores, que Papas aprecio mais ou com os quais me identifico mais?
Que santos? O que é que faria numa determinada situação? Triamos todas estas
características e fazemos uma combinação. Há partida a pessoa fica a conhecer o
perfil da outra.
Portanto o site recomenda pessoas conforme o
nosso perfil?
Marta: Mas cada pessoa pode também fazer a procura. A pessoa começa por fazer um
perfil e vai descrevendo-se da forma que melhor o define, com diferentes
características, como a cor dos olhos, mas também os santos que mais o
inspiram, a forma como passam um sábado e pode fazer a pesquisa em que coloca
determinados parâmetros, por exemplo a zona geográfico. Por exemplo, se é de
Lisboa e prefere procurar pessoas na zona da Grande Lisboa, pode fazer esse
tipo de pesquisa.
A questão da
combinação é no sentido de facilitar e é uma proposta, mas a própria pessoa
pode ir pesquisar perfil a perfil.
Outra questão, será que em Portugal existe
gente suficiente para um site como este funcionar? Já têm objectivos a esse
respeito
António: Claro, a pergunta é importante, porque este projecto não só é algo com
objectivo pastoral, de ajudar as pessoas, mas é algo que é gerido
profissionalmente e tem de ser sustentável. A plataforma é complexa, e exige
manutenção e daí também ter um preço, mas de facto Portugal é eminentemente
católico. Olhamos para alguns países, como Espanha que ainda tem bastante
anti-clericalismo, que nós também temos, mas temos muito menos. Portugal é um
país católico e mesmo que às vezes, como dizem os números da Universidade
Católica, que 80% do país é católico, havendo um aumento do número de
evangélicos, por exemplo, mas 20% vão à missa. Podemos dizer que os convictos
são esses, mas muitas outras podem não ir ao culto mas continuam a identificar-se
com a Igreja e com os seus princípios. Portanto esta iniciativa vem na melhor
altura, não só no sínodo da família, como há muitas pessoas que sendo um país
católico que por várias circunstâncias na vida não conseguiram encontrar aquela
pessoa, mas que têm esse desejo profundo de amar e ser amado ainda, e de
encontrar alguém e ser felizes.
Falando em números, qual é a vossa expectativa?
Marta: Nós neste momento temos, a cada minuto, os números de interessados a
deixar o email e estamos bastante optimistas de que realmente a nossa
expectativa inicial dê bons frutos e prevemos que daqui a um ano possamos já
ter resultados concretos de termos conseguido, através da plataforma,
proporcionar encontros que de outra forma não seriam possíveis. Ou por distância,
ou porque as pessoas [não têm tempo], e Portugal é um país em que se trabalham
muitas horas, o que muitas vezes dificulta que as pessoas tenham
disponibilidade de encontrar a sua cara metade e que partilhe os valores
cristãos. Como dizia há pouco o António, não temos escrito na testa que somos
católicos. Portanto estamos optimistas e o feedback das pessoas, porque já
temos uma página de Facebook e temos a página em que as pessoas podem pedir
mais informações e todos os dias recebemos emails e mensagens de pessoas
bastante interessadas, a perguntar por exemplo se com 62 anos, sendo uma pessoa
viúva se pode inscrever, mas temos também jovens que nos perguntam se não é
Deus que escolhe? Se Ele não tem um plano para eles. Todo o feedback que temos
recebido nos faz pensar que podemos continuar a estar optimistas e que isto vai
ajudar muitos casais a chegar ao altar católico.
António: Estes sites são um bocado diferentes daqueles para encontros ocasionais,
como aquele que esteve recentemente nas notícias, que tem cerca de 34 milhões
de utilizadores. Não é esse o nosso campeonato nem o nosso objectivo. Por ser
de relações sérias e por ter um pagamento associado, se as pessoas vão é porque
querem algo sério. O pagamento não é só porque querem algo sério, é porque o
sistema é complexo e tem moderação. Mas é para dizer que este site não tem o
volume que têm os sites de encontros ocasionais, que são os números que
sabemos.
Nós não temos isto
para ficarmos ricos, é antes de tudo uma missão, mas quero dizer que os números
não são astronómicos, mas também não são demasiado diminutos. Podemos dizer que
o site alemão já tem 5000 membros e já conseguiu ter 400 casamentos...
Marta: Este foi fundado há 10 anos. Mas nós quando falamos de 5000 membros é uma
média, porque há pessoas que saem e outras que entram, alguns porque casam.
Dos países que já fazem parte, há algum que se
assemelhe a Portugal em dimensão ou prática religiosa, que possam ter como
modelo mais próximo?
Marta: Temos por exemplo a Lituânia, que é também um país católico, de dimensão
não igual à nossa, e depois também a questão de características culturais, ser
uma cultura de leste ou de oeste, portanto totalmente igual nunca podemos dizer
que é. Também a nível histórico somos muito diferentes e temos diferenças
geracionais também bastante acentuadas na nossa cultura, portanto não diria que
existe um país que possa ser exactamente um modelo para o nosso país.
António: O que é muito curioso e muito surpreendente para nós é o acolhimento que
tem tido nos media tradicionais, não-católicos, a nossa iniciativa.
Esperaríamos que fosse ao contrário, tendo em conta que é uma iniciativa a
favor da família. Mas de facto tem tido um acolhimento bastante interessante.
Mas é engraçado que
muitas pessoas não-católicas, ou menos praticantes, vêm ter connosco e dizem
que sempre quiseram casar, não sabem é como. Obviamente isto é um desafio,
temos de acolher todos, e também, obviamente é um desafio, mas ao mesmo tempo é
surpreendente e interessante. É um desafio, mas é também gratificante.
Há um pagamento associado, qual é o valor?
Marta: Temos a trimestralidade por 24 euros e a anuidade por 60 euros. A
experiência nos outros países é que é mais vantajoso a anuidade, que acaba por
ficar apenas a 5 euros por mês, porque é mais vantajoso. Há casos em que pode
ser, num date que encontrem o marido ou a sua esposa, mas há pessoas que têm a
experiência que só ao terceiro é que se faz o clique.
É uma plataforma que tem custos. Disseram que
não estão aqui para enriquecer, é também uma questão de missão, mas certamente
não têm amplitude para estar a perder dinheiro com esta iniciativa. Quantas
pessoas precisam de ter inscritas a pagar 5 euros por mês, mais coisa menos
coisa, para isto ser rentável e poder continuar.
António: Isso é um número que é preciso ver, só pode ser apurado na altura, porque
há várias questões que têm de ser tidas em conta ao nível de custos de
implementação, mas de facto não é um valor... É um projecto em que investimos,
mas temos toda a confiança que é um projecto que vai ser sustentável. Não é um
projecto que nos vai dar muito dinheiro, nem é esse o objectivo, mas penso que
vai cobrir os custos, isso sim.
Mas não querem dizer quantas pessoas é que
estimam que têm de estar inscritas para isso...
António: É algo que, neste momento, não podemos prever, tendo em conta que ainda
não foi feito o lançamento.
Gostariam de, ou prevêem, ser convidados para
algum dos casamentos que possam surgir daqui?
António: Obviamente gostávamos bastante...
Marta: A nossa principal preocupação é tentar proporcionar, porque sabemos que
nem sempre é fácil encontrar a cara metade e quanto isso é importante, porque
temos diversos estudos portugueses e estrangeiros que nos dizem que aquilo que
as pessoas querem é constituir família e serem felizes e realmente temos muitas
pessoas em Portugal que não conseguiram encontrar, por isso, se daqui a dez
anos pudéssemos ver esses casais felizes, para nós isso é a principal
motivação. Se nos convidariam ou não é acessório.
António: Os casamentos é importante, é uma realidade palpável, obviamente que
também o processo todo que existe, do acompanhamento na fé, tudo isso também é
importante, porque também saem daqui muitos amigos, no exemplo que temos da
Alemanha, não apenas casamentos mas também a amizade e conhecimento entre
todos, também é interessante de ver. E essa caminhada também é importante.
Isso que acabou de dizer é importante... Não
teria feito mais sentido talvez apresentar isto mais como uma rede social para
católicos se poderem conhecer, porque há muitas pessoas que vivem
desacompanhadas na fé, mesmo que não estejam à procura de uma relacionamento
amoroso, ou isso não seja prioridade, querem simplesmente estar em contacto com
outras pessoas... E depois daí podiam surgir eventualmente relações, do que
estar a pôr o enfoque muito na questão do amor?
António: Isso é uma questão, aliás acho que já existe uma rede social desse
estilo, não sei se em Portugal ou se noutro país, talvez o Brasil. Isso é
importante e é importante existir, é interessante, mas não é o nosso objectivo.
O nosso objectivo é mesmo proporcionar um encontro a pessoas que têm valores
comuns e querem encontrar uma pessoa para a vida. Porquê? Porque nós vemos no
nosso caso, como casal, o facto de termos algumas ideias e princípios em comum,
facilita muito a nossa vida. Princípios cristãos como o compromisso, a fecundidade,
a fidelidade, o perdão, muitos outros até relacionados com a nossa vida em
comum, o respeito pelo outro, colocar o outro em primeiro lugar. Tudo isso, nós
tendo essa visão cristã das coisas, facilita muito. Obviamente é importante a
química, mas depois algo sólido que pode perdurar pelo tempo.
As pessoas procuram
muito amar e ser amados, nem todos têm vocação para casar, mas os que têm, nós
queremos que possam chegar a conhecê-lo. Uma rede social, com amigos, tem os
seus objectivos, mas nós queremos outro objectivo. Se a pessoa quer encontrar
alguém, aqui é facilitado esse caminho e esse encontro.
É engraçado que
existe algum preconceito com o online. Mas temos grupos eclesiais de rapazes e
raparigas, universitários, para casais, que acabam muito por fazer essa
abordagem. Aqui, o meio que usamos é a nossa especificidade, o online, porque
as pessoas hoje em dia estão no online. Já não estamos no tempo do Gutemberg,
que foi importante. O online pode ser usado para coisas más, mas também para
coisas boas e é isso que nós queremos também proporcionar, acompanhado também
com a Igreja. Temos padres que nos acompanham, pessoas que nos acompanham e nos
dirigem e através desses meios, apoiados por eles conseguimos, e se Deus
quiser, porque para Deus nada é impossível, acompanhar essas pessoas.
Marta: Exactamente. A nossa prioridade é o casamento.
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