David G. Bonagura Jr. |
Recentemente um
comentador desportivo estava a tecer considerações sobre a razão pela qual um
treinador e ex-estrela da NBA não tem conseguido arranjar trabalho naquele
campeonato, sugerindo que talvez se deva ao facto de ser “muito religioso”. Não
é que haja problema em ser religioso, acrescentou rapidamente, mas esse factor
poderia tornar mais complicado lidar com ele.
Não acredito que
o comentador tivesse más intenções, estava a falar de improviso e por isso não
estava a exprimir uma opinião cuidadosamente pensada, mas sim um preconceito
absorvido e não raciocinado. Mas isso faz com que o comentário seja ainda mais
impressionante: De onde é que esta ideia surgiu? Porque é que se havia de
associar o facto de uma pessoa ser religiosa com um carácter complicado, isto
é, inflexível, teimoso, difícil ou antipático?
Num conflito
cultural em que as percepções parecem contar mais que a realidade, os inimigos
da religião conseguiram utilizar os media, a indústria do entretenimento, as
escolas e as leis para criar esta associação que o comentador fez. “Extremismo
religioso”, por exemplo, faz parte do léxico comum, mas o seu sentido deixou de
se aplicar só a violência cometida sob a capa de crenças religiosas para
abranger também as crenças que entram em conflito com os valores das elites seculares.
A indústria
cinematográfica mostra regularmente as personagens cristãs como sendo tolos ou
vilões. Na praça pública as afirmações baseadas na fé ou na Bíblia são
frequentemente recebidas com cepticismo, hostilidade, ou simplesmente
ridicularizadas. As conversas sobre os benefícios da fé são recebidas com a
evocação das crusadas, a inquisição ou guerras religiosas.
Sejamos claros: O
Cristianismo é a maior força para o bem que o mundo alguma vez viu. Ponto
final. Não há nada que se aproxime sequer. As instituições caritativas, o cuidado pelos vulneráveis e marginalizados,
arte, arquitectura, música e filosofia, tudo isto tem sido sustentado e
avançado por cristãos que procuram a glória de Deus e o benefício da
humanidade. Os valores e os ideais que são mais queridos pelo mundo hoje –
liberdade, justiça e igualdade – derivam todos da reflexão filosófica e da
prática cristã.
Então o que é que
a religião tem – sobretudo o Cristianismo, contra qual tanta revolta se tem
feito sentir nas últimas décadas – que faz com que possa ser retratada de forma
tão negativa? Juntamente com o mandamento da caridade, o Cristianismo inclui um
estrito código de proibições morais que contrariam a ética secular de autonomia
radical individual – o alegado “direito
a definir o nosso próprio conceito de existência, o significado, o universo e o
mistério da vida humana” ao ponto de poder fazer o que nos apetecer em privado
e definir o nosso próprio género ou raça.
À medida que a
opinião popular parece deslocar-se mais em direcção ao libertinismo, não é
segredo nenhum que um Cristianismo fervoroso permanece como último obstáculo a
um colapso moral completo. E aqueles que desejam acelerar esse colapso estão a
fazer os possíveis para difamar o Cristianismo sempre que podem.
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Nos últimos anos,
enquanto o enfoque das questões fracturantes passou
do aborto para o casamento, a retórica passou a descrever os cristãos como “intolerantes”
– somos portadores de “ódio” e “fobias” – por não cederem às exigencias da
libertinagem cultural. A convicção moral tem sido descrita intencionalmente
como sendo ódio por indivíduos. O juízo de actos confunde-se intencionalmente
com o juízo de pessoas. Os cristãos que se atrevem a defender a moral
tradicional foram obrigados a recuar até uma posição em que dificilmente
conseguem ganhar terreno numa cultura que vive de sound-bites.
E é assim que nos
vemos perante a afirmação do nosso comentador desportivo. Esta sua ideia
tornou-se parte da narrativa dos media generalistas que são a linha da frente
da ofensiva desta guerra cultural. Numerosos filmes, programas de televisão,
protestos,
livros
e videoclips, vistos por mais de 100 milhões de pessoas, têm contribuído, aos
poucos e de formas diferentes, para retratar a religião, e o Cristianismo em
particular – uma religião baseada no amor por Deus e pelo próximo – como um
obstáculo anacrónico e opressor à satisfação pessoal.
Sobretudo entre
jovens este preconceito tornou-se prevalecente. Não admira, por isso, que uma
pessoa religiosa seja descrita como “de trato difícil” – porque quando uma
pessoa abraça uma crença parte-se do princípio que ela seja um obstáculo aos
desejos de outra, seja em actos privados, seja num jogo de basquete.
Tendo em conta
esta situação, como é que os cristãos podem contrariar este preconceito que se
formou contra eles? Se a percepção supera a realidade, então aquela velha
exortação de que “saberão que somos cristãos por causa do nosso amor” deixa de
ter o mesmo encanto, uma vez que para os inimigos da religião o amor define-se como
deixando as pessoas fazer o que lhes apetece. Mas o abandono da moral cristã
tradicional não é solução – o protestantismo “mainstream” já mostrou que não se
pode separar Cristo da moralidade.
Ao longo de dois
milénios os cristãos têm conseguido converter pessoas que acreditam em toda a
espécie de diferentes deuses. Mas converter aqueles que apenas acreditam em si
mesmos parece um desafio ainda mais difícil. No tribunal da opinião pública os
sentimentos e as emoções superam a fé e a moral.
Existe, contudo,
um precedente historic, embora não seja um paralelo perfeito, que nos dá
esperança. Os jacobinos radicais da Revolução Francesa, na sua tentativa de
purgar tudo o que era bom, acabaram por ser destituídos por aqueles que não
estavam dispostos a render-se ao caos total. Aos cristãos resta rezar para que aqueles
que foram levados a desconfiar da religião compreendam que os verdadeiros
suspeitos são os que a no banco dos réus.
David G.
Bonagura, Jr. é professor assistente de Teologia no Seminário da Imaculada
Conceição, em Huntington, Nova Iorque.
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