Recentemente
falou-se muito numa campanha absurda sobre os direitos dos caracóis. O facto de
haver campanhas a favor do direito à vida dos caracóis diz muito sobre os
nossos dias e mereceria todo um outro artigo, mas não é sobre isso que gostaria
de falar hoje.
Pouco
tempo depois apareceu uma campanha que claramente partia dessa dos caracóis mas
era contra o aborto. Vários jovens deixaram-se fotografar com dois cartazes. Um
mostrava um feto in utero, outro
dizia: “Gostava de ser esquartejado vivo? Ele também não”, como se pode ver na
foto.
Peço
agora a vossa paciência para um pequeno exercício. Olhem novamente para a foto,
e depois olhem para estas
Notam
alguma diferença?
Antes
de avançar, quero deixar uma coisa muito clara. Eu não conheço as pessoas que
apareceram nas fotos da campanha do “esquartejado”, mas vocês são meus irmãos e
minhas irmãs. A vossa causa é a minha causa. A “vossa” verdade não é vossa nem
minha, é simplesmente a verdade. Eu não duvido por um segundo das vossas
melhores intenções em terem participado nesta “campanha”. Por isso, por favor
não leiam o resto deste artigo como um ataque, mas sim como um alerta e uma
recomendação fraterna que torno pública pela simples razão de que me parece que
seria benéfico para todos os que trabalham pela causa pró-vida que estas coisas
se digam.
Vamos
então por pontos.
1)
Nunca, nunca, mas mesmo nunca, apresentar um slogan pró-vida acompanhado de uma
foto de um homem/rapaz, sozinho, com ar sombrio. Se eu fosse uma rapariga que tivesse
passado pela tragédia de abortar o meu filho, olhava para aquela foto e só me
apetecia partir os dentes todos daquele rapaz ao pontapé.
Sejamos
claros. Nós perdemos o referendo e não há outro no horizonte. Neste momento não
estamos a tentar ganhar votos, voltámos à missão mais importante de todas que é
a de salvar vidas e isso faz-se tocando o coração das pessoas que, em última
instância, vão tomar a decisão de dizer sim, ou não. Essas pessoas são
raparigas, muitas da mesma idade deste rapaz e a reacção que queremos despertar
nelas não é uma de total alienação, como aqui acontece.
Por
isso, de preferência, uma campanha pró-vida deve recorrer sobretudo a jovens
mulheres. Eu sei que nesta do “esquartejado” também participaram algumas
raparigas, mas novamente todas com ar sombrio, que intencionalmente ou não se
confunde com julgamento.
Queremos
sorrisos! Isso é fundamental. Olhem para as outras fotos que coloquei. Estão a
ver algum olhar sombrio? A nossa causa não é uma causa triste, é a causa da
vida. Quem tem a verdade do seu lado não pode, como é evidente, deixar de
sentir tristeza pelo que se passa nas clínicas onde estas vidas são ceifadas,
mas também não pode deixar de manifestar esta enorme alegria que nos move.
A
marca de todos os eventos pró-vida em que tenho participado, desde as campanhas
dos referendos até às caminhadas pela vida anuais, tem sido sempre a alegria e
isso não é encenado, é natural e espontâneo, porque nós somos assim e um olhar
até superficial sobre os nossos adversários ideológicos nesta causa mostra que
isso é algo que nos distingue. Não tenhamos medo de o mostrar.
2)
“Esquartejado”? A sério? Não consigo pensar em pior palavra para colocar numa
frase destas.
Eu
sei que é verdade, que nalguns procedimentos de aborto é isso que acontece.
Quando não é assim, são queimados com solução salina, ou aspirados… Cada coisa
é pior que a outra.
Mas
a palavra “esquartejado” é tão terrível, tão visual, tão grotesca, que eu olho
para a frase e fico a sentir-me mal. Não é esse o efeito que queremos criar nas
pessoas. É que se isso me acontece a mim, imaginem como se sentirá uma rapariga
que tenha passado por isso… A nossa luta não passa por encher as pessoas de
remorsos até verem a luz.
Afinal é possível usar a palavra "esquartejar" de forma positiva. Mas só com um sorriso!! |
O
outro problema é que esta frase coloca toda a ênfase do sofrimento e da dor no
bebé. Simpatia pela mulher? Nem vê-la. Pelo contrário, uma vez que ela terá
sido cúmplice no esquartejamento. Este não pode ser o caminho. Nós defendemos a
vida. A vida do bebé que é morto num aborto, e a vida da mulher que fica
irremediavelmente cicatrizada, no coração e por vezes na carne, pelo que fez ou
pelo que a convenceram a fazer. Queremos mostrar que essa dor também nos
interessa e também nos move, também a queremos evitar.
Dir-me-ão
que aqui o objectivo era aproveitar o sururu causado pela “causa” dos caracóis
e nada mais. Tudo bem, eu aceito isso. Mas mesmo aí seria possível fazer a
coisa pela positiva. Imaginem a mesma cena, mas com uma pessoa sorridente e o
segundo cartaz a dizer algo do género: “Preocupados com o sofrimento? E ele,
não vale um caracol?” Ou apenas: “Não me digas que ele não vale mais que um
caracol”. Querem o cenário perfeito? Mulheres grávidas, a sorrir, com a barriga
à mostra e com uma destas frases escritas na pele.
Com
estas frases consegue-se o mesmo efeito – pôr a nu o quão absurdo é haver quem
se preocupa com o sofrimento dos caracóis quando a nossa lei nos permite matar
seres humanos indefesos – mas sem grande parte dos problemas que já apontei.
Estão
sempre a dizer-nos que Portugal está na cauda do mundo civilizado. O resultado
disso é que noutros países, que estão supostamente na frente, esta luta já se
trava há meio século. Eles já cometeram todos os erros que se podem cometer,
aprenderam com eles e corrigiram a rota. Isso significa que nós não temos de os
cometer outra vez. Vejam o que de melhor se faz lá fora e adaptem à nossa
realidade.
A
quem organizou esta campanha: Nota máxima pelo sentido de oportunidade, nota
máxima pela vontade e pela iniciativa. Sobre a mensagem e o meio usado… Muito a
melhorar, mas pelo menos vocês estavam a fazer alguma coisa, o que já é meio
caminho andado!
A nossa é a causa dos sorrisos! |
Filipe d'Avillez
Obrigada Filipe por este comentário no qual me revejo tanto!
ReplyDeleteBoa! Gostei mesmo. Obrigada! críticas (construtivas) destas fazem falta.
ReplyDeleteTão típico dos sonsinhos santarrões... Cristo correu à pancada com os vendilhões do templo. O que não deveria ter feito a esta trupe abortista. Um culto satânico combate-se mesmo com sorrisos, balõezinhos e cartazes...
ReplyDeleteNão passam de "gatekeepers" estes sonsos.