Wednesday 24 May 2023

Deus é Bom

Stephen P. White

A minha filha mais velha foi crismada esta Primavera e escolheu como padroeiro o Papa João Paulo II. Foi uma escolha dela, mas da qual eu não poderia aprovar mais. O bispo veio à nossa paróquia e selou-a com o Espírito Santo. A sua cabeça ficou com a fragrância do Crisma, tal como no dia do seu baptismo. Cresceu tanto, como as crianças tendem a fazer, para a eterna alegria (mas também tristeza) dos seus pais.

Agora entrámos na época das Primeiras Comunhões. Na nossa paróquia, tal como noutras paróquias por todo o país, meninos e meninas estão a receber Nosso Senhor na Eucaristia pela primeira vez. O meu filho fez a sua Primeira Comunhão no passado fim-de-semana, juntamente com muitos dos seus amigos e colegas. Foi um momento de grande alegria, com pais e avós cheios de orgulho, a babarem-se com a inocência dos pequenos.

Chegámos meia hora antes da missa começar. O meu filho voltou-se para mim e perguntou: “Pai, quando chegar a hora da Comunhão, já terá passado uma hora desde o pequeno-almoço?” Disse-lhe que seriam quase três horas, não tinha de se preocupar com isso hoje. Sorrimos os dois, mas por razões diferentes: ele, porque tinha cumprido o jejum eucarístico, eu por causa da sua inocência.

Disse-lhe que quando ele recebesse a Eucaristia estaria a receber o próprio Deus – o Deus que criou o universo, que fez tudo o que é bom, que nos criou a nós. Disse-lhe que estaria a receber o mesmo Deus que libertou o seu povo da escravatura no Egipto e que cuidou dele mesmo quando os israelitas pecaram. Disse-lhe que estaria a receber o mesmo Jesus que nasceu a Maria, em Belém, que trabalhou lado-a-lado com José, que curou os doentes e deu vida aos mortos – que sofreu, morreu e ressuscitou para nos libertar do pecado.

E disse-lhe que quando recebemos o corpo e sangue de Jesus, quando estamos unidos tão intimamente a Ele, estamos também unidos a todos os que estão unidos a Ele – aos grandes santos, aos nossos antepassados no céu, à nossa família e amigos, de longe e de perto. Disse-lhe que penso muitas vezes no meu pai, que morreu quando o meu filho era ainda muito pequeno, e como posso sempre encontrar-me com ele no Senhor, na missa. Disse-lhe que por causa disso nunca me sinto sozinho, e que ele, o meu filho, nunca estará sozinho.

E penso para comigo: Ele sabe tudo isto, mas compreende? Compreende verdadeiramente tudo o que eu gostaria que ele percebesse? Sabe o que tudo isto significa? É tão novo. Mas depois lembro-me da expressão na sua cara quando voltou para o seu banco depois de comungar. Radiante. Até brilhava. E não posso se não pensar: Será que eu compreendo? Será que eu compreendo mesmo o que tudo isto significa? Ou tornei-me demasiado sofisticado para o meu próprio bem? “Em verdade vos digo, se não vos transformardes e tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus”. Graças a Deus pela inocência das crianças.

Estamos na época das ordenações. Na minha diocese o bispo ordenará nove novos padres este fim-de-semana. Conheço alguns destes homens. São bons tipos, serão excelentes padres. Somos abençoados.

Esses nove homens foram chamados pelo seu bispo para servir a Igreja com toda a sua vida. Ao responder a esse chamamento estão, sem dúvida, a sacrificar muito mais – e a ganhar muito mais – do que até eles podem verdadeiramente compreender. Serão mudados para sempre, conformados através do sacramento da Ordem ao sacerdócio do Sumo Sacerdote.

Alguém me disse em tempos que se um homem nunca sentiu alguma vontade de ser padre é porque simplesmente não compreende o que é um padre. Acredito que seja verdade. Que homem não compreende o desejo de ser posto de parte, para defender o seu rebanho, para guiar e pastorear as suas ovelhas, até dar a vida por elas?

Que homem não deseja aquela liberdade de compreender aquilo pelo qual está a dar a vida? Que homem não quer dar àqueles que lhe foram confiados um dom maior do que qualquer dom feito por mãos humanas? Que homem não se comove com as palavras do salmo: “um sacerdote para sempre, na ordem de Melquisedeque”?

O matrimónio não é assim. O matrimónio termina na morte: “Na ressurreição eles nem casam nem são dados em casamento, mas são como os anjos do Céu”. Isto costumava entristecer-me. Não porque amo a minha mulher (e amo), nem porque imagino que o Céu será menor por não haver casamento. Sentia-me triste porque todos gostaríamos que as coisas boas perdurassem, até depois da morte. Ficava triste simplesmente porque um dom tão maravilhoso como é o casamento – um dom que nem se perdeu na queda, nem foi levado pelo dilúvio – não perdura na morte.

Mas para aqueles de nós que somos abençoados com filhos, pode-se dizer que perdura, sim. A aliança matrimonial poderá não perdurar para além da morte. O matrimónio poderá não afectar-nos de forma ontológica e indelével, como o baptismo e a ordem. Mas o meu filho será sempre meu filho e da minha mulher. As minhas filhas serão sempre filhas dos dois. A paternidade perdura. A maternidade perdura. Para além da morte.

O Pentecostes está a chegar. Este tempo pascal, tão cheio de graça para a nossa família, a nossa paróquia e nossa diocese terminará na grande solenidade do Espírito Santo. O nosso mundo está quebrado. A nossa Igreja também está ferida. Sobra pecado e sofrimento. Mas o “mundo real” de lá fora não é um mundo diferente daquele que está atravessado pelos ritmos da liturgia, dos sacramentos e da graça.

Não há dúvida de que o Espírito Santo se move pelo mundo. E no meio de todo este aparente caos Ele respira riqueza e a bondade e ordem: Ele renova todas as coisas. É uma maravilha de contemplar.


Stephen P. White é investigador em Estudos Católicos no Centro de Ética e de Política Pública em Washington.

(Publicado em The Catholic Thing na Quinta-feira, 18 de Maio de 2023)

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1 comment:

  1. Que maravilha! Aqui em casa, houve o casamento do primogénito a 13 de maio, e haverá o crisma de outros três filhos na vigília do Pentecostes... Maria sabe como preencher o seu mês de graça!

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