Stephen P. White |
A minha filha mais velha foi crismada esta Primavera e escolheu como padroeiro o Papa João Paulo II. Foi uma escolha dela, mas da qual eu não poderia aprovar mais. O bispo veio à nossa paróquia e selou-a com o Espírito Santo. A sua cabeça ficou com a fragrância do Crisma, tal como no dia do seu baptismo. Cresceu tanto, como as crianças tendem a fazer, para a eterna alegria (mas também tristeza) dos seus pais.
Agora entrámos na época das Primeiras
Comunhões. Na nossa paróquia, tal como noutras paróquias por todo o país,
meninos e meninas estão a receber Nosso Senhor na Eucaristia pela primeira vez.
O meu filho fez a sua Primeira Comunhão no passado fim-de-semana, juntamente
com muitos dos seus amigos e colegas. Foi um momento de grande alegria, com
pais e avós cheios de orgulho, a babarem-se com a inocência dos pequenos.
Chegámos meia hora antes da
missa começar. O meu filho voltou-se para mim e perguntou: “Pai, quando chegar
a hora da Comunhão, já terá passado uma hora desde o pequeno-almoço?” Disse-lhe
que seriam quase três horas, não tinha de se preocupar com isso hoje. Sorrimos
os dois, mas por razões diferentes: ele, porque tinha cumprido o jejum
eucarístico, eu por causa da sua inocência.
Disse-lhe que quando ele
recebesse a Eucaristia estaria a receber o próprio Deus – o Deus que criou o
universo, que fez tudo o que é bom, que nos criou a nós. Disse-lhe que estaria
a receber o mesmo Deus que libertou o seu povo da escravatura no Egipto e que
cuidou dele mesmo quando os israelitas pecaram. Disse-lhe que estaria a receber
o mesmo Jesus que nasceu a Maria, em Belém, que trabalhou lado-a-lado com José,
que curou os doentes e deu vida aos mortos – que sofreu, morreu e ressuscitou
para nos libertar do pecado.
E disse-lhe que quando
recebemos o corpo e sangue de Jesus, quando estamos unidos tão intimamente a Ele,
estamos também unidos a todos os que estão unidos a Ele – aos grandes santos,
aos nossos antepassados no céu, à nossa família e amigos, de longe e de perto.
Disse-lhe que penso muitas vezes no meu pai, que morreu quando o meu filho era
ainda muito pequeno, e como posso sempre encontrar-me com ele no Senhor, na
missa. Disse-lhe que por causa disso nunca me sinto sozinho, e que ele, o meu
filho, nunca estará sozinho.
Estamos na época das ordenações.
Na minha diocese o bispo ordenará nove novos padres este fim-de-semana. Conheço
alguns destes homens. São bons tipos, serão excelentes padres. Somos
abençoados.
Esses nove homens foram chamados
pelo seu bispo para servir a Igreja com toda a sua vida. Ao responder a esse
chamamento estão, sem dúvida, a sacrificar muito mais – e a ganhar muito mais –
do que até eles podem verdadeiramente compreender. Serão mudados para sempre,
conformados através do sacramento da Ordem ao sacerdócio do Sumo Sacerdote.
Alguém me disse em tempos que
se um homem nunca sentiu alguma vontade de ser padre é porque simplesmente não
compreende o que é um padre. Acredito que seja verdade. Que homem não
compreende o desejo de ser posto de parte, para defender o seu rebanho, para
guiar e pastorear as suas ovelhas, até dar a vida por elas?
Que homem não deseja aquela
liberdade de compreender aquilo pelo qual está a dar a vida? Que homem não quer
dar àqueles que lhe foram confiados um dom maior do que qualquer dom feito por mãos
humanas? Que homem não se comove com as palavras do salmo: “um sacerdote para
sempre, na ordem de Melquisedeque”?
O matrimónio não é assim. O
matrimónio termina na morte: “Na ressurreição eles nem casam nem são dados em
casamento, mas são como os anjos do Céu”. Isto costumava entristecer-me. Não
porque amo a minha mulher (e amo), nem porque imagino que o Céu será menor por
não haver casamento. Sentia-me triste porque todos gostaríamos que as coisas
boas perdurassem, até depois da morte. Ficava triste simplesmente porque um dom
tão maravilhoso como é o casamento – um dom que nem se perdeu na queda, nem foi
levado pelo dilúvio – não perdura na morte.
Mas para aqueles de nós que
somos abençoados com filhos, pode-se dizer que perdura, sim. A aliança
matrimonial poderá não perdurar para além da morte. O matrimónio poderá não
afectar-nos de forma ontológica e indelével, como o baptismo e a ordem. Mas o
meu filho será sempre meu filho e da minha mulher. As minhas filhas serão
sempre filhas dos dois. A paternidade perdura. A maternidade perdura. Para além
da morte.
O Pentecostes está a chegar. Este
tempo pascal, tão cheio de graça para a nossa família, a nossa paróquia e nossa
diocese terminará na grande solenidade do Espírito Santo. O nosso mundo está
quebrado. A nossa Igreja também está ferida. Sobra pecado e sofrimento. Mas o
“mundo real” de lá fora não é um mundo diferente daquele que está atravessado
pelos ritmos da liturgia, dos sacramentos e da graça.
Não há dúvida de que o
Espírito Santo se move pelo mundo. E no meio de todo este aparente caos Ele
respira riqueza e a bondade e ordem: Ele renova todas as coisas. É uma maravilha
de contemplar.
Stephen P. White é investigador em Estudos Católicos no
Centro de Ética e de Política Pública em Washington.
(Publicado em The Catholic Thing na Quinta-feira, 18 de Maio de 2023)
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Que maravilha! Aqui em casa, houve o casamento do primogénito a 13 de maio, e haverá o crisma de outros três filhos na vigília do Pentecostes... Maria sabe como preencher o seu mês de graça!
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