Friday 19 May 2023

Não basta selo, é preciso não parecer ser do Estado Novo

A polémica religiosa desta semana foi a questão do selo. Os serviços postais da Cidade do Vaticano apresentaramu m selo comemorativo da JMJ que parecia decalcado do livro de leitura da terceira classe do Estado Novo e houve quem não gostasse. Também houve quem não gostasse do facto de no selo figurar o Padrão dos Descobrimentos. Como explico aqui, tenho alguma simpatia pelos primeiros, e nenhuma pelos segundos. A polémica – polemicazinha, vá – chegou de volta à Santa Sé, que decidiu retirar o selo de circulação, tornando-o de um momento para o outro uma joia para os coleccionadores, entre os quais não me incluo.
 
Nem toda a gente criticou o selo. Houve até quem gostasse bastante. O que tenho tentado explicar a essas pessoas é que o gosto pessoal pelo selo ou a sua estética involuntariamente Estado Novo, é irrelevante. A questão está em saber se um selo que remete imediatamente para uma época política divisiva em Portugal serve para representar um evento desta importância e magnitude. Parece-me evidente que não. Da mesma forma, eu gosto muito deste desenho alternativo que fiz usando tecnologia de inteligência artificial, que também evoca um importante símbolo nacional, mas duvido que ele seja consensual.
 
A maioria de esquerda no Parlamento, com a honrosa excepção do PCP, conseguiu finalmente que a eutanásia fosse legalizada e promulgada. Eu estou a preparar um artigo sobre o assunto que espero poder partilhar para a semana, mas entretanto podem ver várias reacções de grupos católicos e religiosos aqui.
 
O Patriarcado de Lisboa emitiu um comunicado pedindo a todas as vítimas ou testemunhos de abusos sexuais na Igreja para por favor contactarem a Comissão Diocesana. Também eu já escrevi sobre esta necessidade. Não basta desejar uma Igreja mais segura, é preciso fazer alguma coisa nesse sentido.
 
A Fundação AIS em Portugal inaugurou uma exposição sobre o drama dos raptos e violência contra raparigas cristãs em países onde estas são minoria.
 
Na semana passada falei do importante gesto que foi o Papa Francisco convidar o Papa Tawadros, da Igreja Copta Ortodoxa, a falar com ele numa audiência geral. Nessa altura ainda não sabia que o Papa iria decidir inscrever no martirológio católico os 20 coptas ortodoxos e um ganês de confissão desconhecida que foram mortos pelo Estado Islâmico em 2015. Um gesto ecuménico magnífico e belíssimo.
 
Não deixem de ler o artigo desta semana do The Catholic Thing em que Robert Royal alerta para a importância não só de identificar e combater os vícios que existem no nosso tempo, mas também as virtudes desordenadas que podem causar ainda mais prejuízos.É um texto importante para compreender o estado actual da nossa cultura, e vem com uma excelente citação de G.K. Chesterton.

1 comment:

  1. "Da mesma forma, eu gosto muito deste desenho alternativo que fiz usando tecnologia de inteligência artificial, que também evoca um importante símbolo nacional, mas duvido que ele seja consensual" --> em relação a isto não posso criticara opinião do autor do blog pois cada um é responsável pelo que escreve. Mas o que é curioso é o tipo de ironia do autor nas mais variadas argumentações: parte sempre do principio de superioridade moral em relação aos demais projectando nos outros a estupidez que lhe é bem patente....

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