George Sim Johnston |
Fala-se muito, hoje em dia, da crise do casamento. Os
níveis de divórcio são altos e demasiadas crianças vivem em famílias
monoparentais e frequentemente as pessoas acabam por se sentir isoladas e sós
quando chegam à meia-idade. Mas fala-se pouco de namoro. Como é que se chega a
um casamento? Como é que uma pessoa de 25 anos devia lidar com toda a cena do
namoro?
Segundo o filósofo Leon R. Kass, a razão pela qual se
fala tão pouco de namoro é porque “os próprios termos: ‘cortejar’ e ‘pretendente’
são arcaicos e se hoje as palavras mal se usam é porque o fenómeno praticamente
desapareceu. Actualmente não existem normas de conduta socialmente definidas
para ajudar os jovens a orientarem-se para o casamento. Para a grande maioria o
caminho para o altar é território desconhecido: É cada casal por si, sem
bússola, frequentemente sem um objectivo”.
Esta ausência virtual de guiões para o namoro não tem
precedentes. Até há pouco tempo, a sociedade possuía normas claras para
governar a “dança” entre um homem e uma mulher antes do casamento. Há razões
pelas quais isso já não acontece, salvo raras excepções.
Em primeiro lugar, vivemos naquilo a que Barbara Dafoe
Whitehead chama uma cultura de divórcio. Muitos jovens adultos têm os pais
divorciados e por isso falta-lhes não só bons conselhos como um modelo
convincente para o matrimónio. O fim doloroso dos casamentos dos seus pais
deixa-os reticentes quanto à ideia de compromisso.
Em segundo lugar, tem havido uma grande mudança de
prioridades em relação ao trabalho e à família. Hoje as pessoas querem ter
independência financeira antes de pensar sequer em casar, enquanto os seus pais
(e certamente os seus avós) costumavam casar antes de terem uma situação
financeira clara. Há cinquenta anos esperava-se que os jovens casais
subsistissem com pouco nos primeiros anos do casamento e isto tendia a
fortalecer a relação.
“Se esperar até aos trintas”, escreve Charles Murray, “é
provável que o seu casamento seja uma fusão. Se casar antes é natural que seja
um start-up… Quais são as vantagens de um casamento start-up? Em primeiro
lugar, ambos terão memória das suas vidas em conjunto quando tudo estava ainda
por definir (…) e cada um saberá que sem o outro não seria a pessoa que é
hoje”.
Em terceiro lugar, muitos solteiros tendem a viver o que
Kay Hymowitz apelida de uma “adolescência pós-moderna”. Este estado de
suspensão emocional tem sido retratado em séries como Seinfeld. Homens novos (e
algumas mulheres) que não vêem qualquer razão convincente para se tornar
adultos; podem nem saber bem o que a palavra significa.
Para os homens este atraso em aceitar as
responsabilidades da vida adulta explica-se em parte pela disponibilidade de
sexo sem compromissos. “Se a cultura oferece acesso sexual sem exigir
compromisso pessoal em troca”, escreve James Q. Wilson, “muitos homens optarão
sempre pelo sexo”.
O sexo, em tempos reservado para o casamento, é agora
visto como parte essencial do namoro. Isto não clarifica o pensamento nem
enriquece as emoções. O sexo casual criou um clima de cinismo entre os jovens,
que entraram no hábito de tratar os membros do sexo oposto como um meio para
atingir um fim. A transformação do sexo numa actividade casual faz mirrar o
sentido do namoro e, portanto, do próprio casamento.
Estado de suspensão emocional |
A revolução sexual foi iniciada pela introdução da pílula
contraceptiva para mulheres. A pílula era suposto “libertar” as mulheres, mas
teve uma série de efeitos imprevistos – pelo menos pelos que a promoviam mais
vigorosamente.
A pílula concedeu aos homens uma autorização em branco
para ter sexo sem responsabilidades, tornou-se algo que podiam exigir sem se
preocuparem com as consequências. Tornou-se fácil aos homens tratar as mulheres
como objectos de prazer (e algumas mulheres adoptaram a mesma atitude). Esta
transformação de prazer físico em comodidade esvaziou o acto sexual do seu
sentido nupcial. Fez com que os homens e as mulheres passassem a olhar uns para
os outros de formas que têm pouco a ver com a aliança de permanente doação
própria que é o casamento.
A pílula também ajudou a criar uma cultura de engate que
– como até escritoras feministas de tendência liberacionista como Donna Freitas
admitem – tem causado muita dor e frustração, sobretudo entre mulheres. Não é
difícil ver que a promiscuidade sexual tanto nos campus universitários como mais
tarde tem resultado em muitos homens e mulheres a entrar para o casamento com
uma atitude consumista em relação ao sexo.
A pílula também ajudou a criar uma cultura de coabitação
antes do casamento. Em 1960, o ano em que a pílula foi introduzida, quase
ninguém coabitava antes de casar. Agora 60% já o faz. E acontece que a
coabitação não é uma boa rampa de acesso ao casamento. Para começar, ensina aos
casais uma noção de compromisso “light”. Apelidos diferentes e contas bancárias
separadas, a certeza de que se podem separar “a qualquer instante”. Muitos
casais descobrem apenas tarde de mais que a coabitação e o casamento não são de
todo a mesma coisa.
A transformação da instituição do casamento terá de
passar pela restauração do namoro, embora de uma forma diferente do que era há
60 anos. Recentemente uma aluna de 23 anos contou-me que o que se faz
actualmente é juntar-se a um tipo que pode ou não vir a ser seu marido e nem
pensar em casar até perto dos trinta. A sua geração precisa de ouvir as razões
pelas quais isto é uma fórmula para a infelicidade aos cinquenta anos.
George
Sim Johnston é autor de “Did
Darwin Get It Right? Catholics and the Theory of Evolution” (Our Sunday
Visitor).
(Publicado pela primeira vez no sábado, 4 de Julho de
2015 em The Catholic Thing)
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