Francis X. Maier |
Desde o Concílio Vaticano II que os católicos, e muitos
outros cristãos, têm valorizado o diálogo e a cooperação inter-religiosa,
sobretudo com o judaísmo, mas também com o Islão. Os resultados – como eu vi em
primeira mão nos anos em que trabalhei na área inter-religiosa de uma diocese –
têm sido muitíssimo benéficos. Contudo, vale a pena recordar que enquanto o
Cristianismo tem as suas raízes no Judaísmo, a nossa relação com o Islão é um
assunto muito diferente. Daí que valha a pena meditar seriamente sobre alguns
dos seguintes pensamentos:
Islão e a Palavra de Deus:
Quem conhece o Antigo e o Novo Testamentos e depois lê o
Alcorão, pode ver claramente o processo através do qual ele reduz
completamente a Revelação Divina [ênfase no original]. É impossível não
reparar no afastamento daquilo que Deus disse sobre Si mesmo, primeiro no
Antigo Testamento, através dos profetas, e por fim no Novo Testamento, através
do seu Filho. No Islão toda a riqueza da autorrevelação de Deus, que constitui
a herança do Antigo e do Novo Testamento, é definitivamente posta de lado.
Alguns dos nomes mais belos da linguagem humana são
atribuídos a Deus no Alcorão, mas no final de contas Ele é um Deus fora do
mundo, um Deus que é apenas majestade, nunca Emmanuel, Deus connosco.
O Islão não é uma religião de redenção…
Por esta razão, não só a teologia, mas também a
antropologia islâmica é muito distante do Cristianismo.
– São João Paulo II, em Atravessar
o Limiar da Esperança
Islão e Conflito:
O mundo, tal como o académico Bat Ye’or tão
brilhantemente demonstra, divide-se em duas regiões: o dar al-Islam e o dar
al-harb; por outras palavras, o “domínio do Islão” e “o domínio da guerra”.
O mundo já não se encontra dividido em nações, povos e tribos. Antes, estes
encontram-se localizados em bloco no mundo da guerra, onde a guerra é única
relação possível com o mundo exterior. A Terra pertence a Allah, e os seus
habitantes devem reconhecê-lo; para atingir este objectivo só existe um método:
guerra. A guerra, por isso, é claramente uma instituição, não apenas uma
instituição acidental ou fortuita, mas uma parte constituinte do pensamento,
organização e estruturas deste mundo. A paz com este mundo da guerra não é
possível. Como é evidente, por vezes pode ser necessário travá-la; existem
circunstâncias em que é melhor não travar guerra. O Alcorão também prevê isto.
Mas isso não muda nada: Para o Islão, a guerra permanece uma instituição, pelo
que deve ser resumida logo que as circunstâncias o permitam.
– o já falecido Jacques Ellul, distinto
teólogo e crítico social protestante francês, do prefácio que escreveu para The Decline of Eastern
Christianity Under Islam: From Jihad to Dhimmitude, de Bat Ye’or
Islão, política e cultura:
As duas religiões que têm uma dimensão “política” não a
adquiriram do mesmo modo. O Cristianismo ganhou terreno no mundo antigo contra
o poder do Império Romano, que perseguiu os cristãos durante quase três séculos
antes de adoptar a religião cristã. Já o Islão, depois de um período breve de
provações, triunfou durante a vida do seu fundador. Depois conquistou, pela
guerra, o direito a operar em paz, e até mesmo o direito de ditar as condições
de sobrevivência para os seguidores das outras religiões “do livro”. Em termos
modernos, podemos dizer que o Cristianismo conquistou o Estado através da
Sociedade Civil; o Islão, pelo contrário, conquistou a sociedade civil através
do Estado [ênfase no original].
Assim, desde o início, o Cristianismo colocou-se à parte
do domínio político, e os seus textos fundadores dão testemunho de uma
desconfiança dos assuntos políticos… Para o Islão, a separação entre o político
e o religioso não tem direito a existir. Chega a ser chocante, pois parece um
abandono dos assuntos humanos ao poder do mal, ou a despromoção de Deus para um
lugar fora da sua esfera própria. A cidade ideal deve ser aqui na Terra. Em
princípio, ela até já existe: é a cidade islâmica.
– Remi Brague, vencedor do prémio Ratzinger e
professor emérito de filosofia medieval e árabe na Sorbonne, em A
Lei de Deus
Não obstante a sua relação de herança comum com o
Judaísmo e o Cristianismo, remontando a Abraão, e apesar do seu respeito formal
por Jesus e por Maria, o Islão tem muito pouco em comum com a fé cristã. O
Islão rejeita a Trinidade, a Encarnação e a Redenção. Nega a veracidade dos Evangelhos,
e nega as origens e o propósito da Igreja. Na verdade, o Islão reconhece o
Judaísmo e o Cristianismo apenas como aberrações na sua própria história
sincretista.
Hoje, em estados islâmicos como o Sudão, o Egipto, o
Irão, o Paquistão, a Turquia, o Bangladesh e a Indonésia, os cristãos enfrentam
desde a marginalização e o assédio até à violência explícita. A razão é
simples. Independentemente de todas as forças do Islão, o preconceito antijudaico
e anticristão tem um historial longo e frequentemente amargo no Islão, não
obstante afirmações em contrário.
Isto não constitui uma licença para agirmos de igual
modo, mas exige, isso sim, que tragamos para os nossos encontros modernos com o
Islão – tanto no Médio Oriente como aqui no ocidente – uma abordagem realista e
firme, e uma memória histórica correcta. À luz do Evangelho, Maomé não é um verdadeiro
profeta e o Alcorão não é a Palavra de Deus. Como Jesus Cristo afirmou, apenas
ele é o caminho para o Pai. E no final de contas os muçulmanos não O conhecem.
Sem o nosso testemunho activo junto do mundo Islâmico, nunca o conhecerão.
Francis X. Maier é conselheiro e assistente especial do
arcebispo Charles Chaput há 23 anos. Antes serviu como Chefe de Redação do
National Catholic Register, entre 1978-93 e secretário para as comunidades da
Arquidiocese de Denver entre 1993-96.
Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing na quarta-feira, 25 de Outubro de
2023)
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