Pe Brian Graebe |
A prática da Igreja comprova essa generosidade. O
sacramento requer um elemento muito comum – a água – e qualquer pessoa, mesmo
um ateu, pode administrá-lo validamente. Seja qual for a questão psicológica
que uma pessoa transgénero esteja a atravessar, ou com a qual se confronta, a
graça salvífica de Deus está ao dispor de todos os que a procuram de coração
sincero. Na medida em que reafirma estas verdades básicas, a resposta do
Dicastério para a Doutrina da Fé sublinha a visão acolhedora e inclusiva da Igreja
a que o Papa Francisco tem dado prioridade.
Ao mesmo tempo, contudo, o documento peca por aquilo que
deixa de fora. No rito do baptismo a Igreja, na pessoa do seu ministro, deve
afirmar não apenas a verdade sobrenatural do sacramento, mas também a verdade
natural do recipiente.
Ao longo do rito do baptismo o ministro, normalmente um
padre, opta por pronomes masculinos ou femininos, com base no sexo do
baptizando. Um homem pode acreditar que é uma mulher, e talvez até escolha usar
um nome de mulher. Em si, isso não o deve desqualificar de ser baptizado.
Contudo, o padre tem obrigação de se referir a ele como um homem. Por exemplo,
na oração antes do baptismo propriamente dito, o padre diz: “Ajudemos com as
nossas preces este nosso irmão, preparado para receber a vida nova do Baptismo.
Oremos a Deus nosso Pai, para que, na sua grande misericórdia, o guie e
acompanhe até à fonte baptismal.” Só nesta oração, a masculinidade – se for o
caso – do catecúmeno é afirmada três vezes.
A Igreja não pode ser cúmplice do erro. Referir-se a este
catecúmeno como uma mulher, usando a linguagem correspondente, seria tomar
parte de uma mentira e semear mais confusão. Pastoralmente, a escolha da
linguagem a usar no rito devia fazer parte de uma conversa mais longa com o
candidato, bem antes da realização da cerimónia, em que o padre explica, com
sensibilidade e com clareza, a antropologia da Igreja, procurando também
compreender melhor o entendimento e motivação do candidato em procurar o
sacramento. Infelizmente, estas considerações – pastoral, doutrinal e litúrgica
– não constam da recente resposta do Vaticano.
Mas este problema não está limitado ao baptismo. A
afirmação do sexo biológico estende-se também ao papel de uma pessoa
transgénero enquanto padrinho ou testemunha. A Igreja pede que haja, sempre que
possível, um padrinho, pelo menos um, embora possa haver – e frequentemente haja
– dois. Nesse caso deve ser um padrinho e uma madrinha.
Aceder ao pedido de que este homem seja uma madrinha,
junto de um padrinho, seria uma distorção do significado espiritual da
instituição de padrinho e, novamente, confirmaria e perpetuaria o erro
identitário de que este indivíduo sofre. Tal acomodação representa uma falsa
compaixão e a subordinação da verdade objectiva à subjectividade dos
sentimentos.
Os sacramentos não são propriedade da Igreja, mas de
Cristo. Servem para conformar a alma mais perfeitamente com Ele, que é a
verdade e que nos convida a permanecer nessa verdade. Essa verdade inclui a
biologia da pessoa, que Deus criou homem e mulher.
Ao deixar de fora estas importantes considerações, o
documento do Vaticano levanta mais questões do que aquelas a que responde. A
confusão dos nossos tempos requer que a Igreja seja uma voz cada vez mais firme
no deserto, por mais impopular ou desconfortável que isso possa ser.
O fenómeno transgénero não dá quaisquer sinais de
retroceder. Pelo contrário, existe um esforço agressivo em todos os sectores da
sociedade – e até dentro da Igreja – de o normalizar e até de penalizar quem
utiliza os “pronomes errados”.
Por isso, a Igreja tem de ter a coragem das suas
convicções. O seu acolhimento é também, e sempre, um convite e um desafio à
conversão, convidando cada alma a deixar para trás o “velho eu” e revestir-se
de Cristo. Essa é a identidade que o baptismo oferece, e a transformação que
promete.
Brian A. Graebe, é padre na arquidiocese de Nova Iorque e
autor de Vessel of Honor: The Virgin
Birth and the Ecclesiology of Vatican II (Emmaus Academic).
(Publicado em The Catholic Thing na terça-feira, 14 de Novembro de
2023)
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É por causa de padres transfóbicos, como esse, que muitas pessoas LGBT se sentem afastadas da Igreja. Esse padre nem percebe que o uso dos pronomes não se refere ao sexo biológico, mas sim ao género com que cada um se identifica. O que ele defende nesse texto é um desrespeito pela pessoa. Tudo contrário ao que Jesus Cristo ensinou..
ReplyDeleteMuito claro. O ponto é que a Igreja quando se refere ao uso dos pronomes, refere-se ao sexo biológico. Se uma pessoa não quer ser batizada com o pronome relativo ao sexo biológico, ninguém a obriga. Na Igreja o corpo revela a pessoa, há uma unidade inseparável entre corpo e alma. Se o corpo é masculino, a alma também é masculina. O que é visível revela o invisível e por isso não pode ser diferente. Há muitas razões para que as pessoas se possam sentir mal no seu corpo e por isso devem ser objeto de terapia exploratória - tentar perceber o porquê. Mas isso não pode mudar a realidade biológica. Negar a realidade é entrar na ideologia e isso sim é desrespeitar a essência da pessoa.
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ReplyDeleteA Igreja está no mundo há 2000 mil anos e já assistiu ao enterro de muitos impérios, ideologias, doutrinas, ditadores, imperadores, perseguidores, etc. e continuará a assistir a este desfile, onde agora se incluem as ideologias de turno.
Ou se tem a convicção de que Jesus é Deus e que ele encarnou há 2000 mil anos e fundou a Igreja (católica) ou não se tem essa convicção.
Se se tem tal convicção, então também se tem a convicção de que Deus fez o homem à sua imagem e semelhança, homem e mulher.
E não vamos nós alterar isto e proceder como Adão e Eva no paraíso terreste.
Penso que uma pessoa trans que esteja convicta disto não só aceita o que este sacerdote diz, como o faz seu e não quer de modo algum que seja de oura maneira.
Se não se tem aquela convicção, então tudo é possível, porque «eu é que sei» o que é a verdade.