Chegámos de madrugada à autoproclamada República de
Artsakh, um território historicamente povoado por arménios, dentro do Azerbaijão.
Quando a União Soviética se desintegrou, os Arménios de Karabakh, que era
administrada pelo Azerbaijão, declararam independência, o que conduziu a uma
guerra. Foram cometidas atrocidades de parte a parte, morreram famílias
inteiras, mas os arménios venceram e consolidaram o seu controlo sobre a
região. Declararam uma independência que nunca foi reconhecida por ninguém, nem
sequer pela Arménia, e assim viveram durante 30 anos, rodeados de inimigos, ligados
ao mundo exterior apenas pelo corredor de Lachin, que lhes permitia ter acesso
à Arménia.
Tudo isso acabou ontem.
Depois de anos a rearmar-se e a incentivar um ódio étnico
e cultural aos arménios, e com o apoio imprescindível da Turquia, o Azerbaijão voltou
a atacar Karabakh, como tem feito sempre por esta altura do ano, ao longo dos
últimos dois anos. Desta vez, com o corredor de Lachin bloqueado por alegados activistas
ambientais, sabendo que a Arménia não se iria comprometer com uma guerra total
contra os azeris, e sem o apoio da Rússia, as autoridades de Nagorno Karabakh
anunciaram a sua rendição. Artsakh morreu.
Quando a Rússia invadiu a Ucrânia, perguntei neste texto o que aconteceria se Moscovo perdesse a guerra, acrescentando
que perder a guerra, neste contexto, era tudo o que ficasse aquém da ocupação
de Kiev em três dias. Uma das minhas previsões era exactamente a tragédia que
agora se está a desenrolar à nossa frente.
Mas esta é também, de certa forma, uma derrota
diplomática para o Vaticano. Em 2016 Francisco visitou tanto a Arménia como o
Azerbaijão. O objectivo era tentar promover a pacificação. Mais recentemente o
cardeal Parolin também esteve em missão entre os dois estados para tentar impedir
o recrudescimento do conflito. Ao menos tentaram, mas sem sucesso.
É também o recordar de tragédias colectivas do passado.
Os azeris são turcomanos, e existe uma expressão na Turquia e no Azerbaijão: Um
povo, dois estados. Por isso mesmo, e pela importância da mão de Erdogan nisto
tudo, os arménios sentem que este é apenas mais um capítulo do terrível
genocídio de 1915.
Como me disse um arménio quando estive lá em 2016: “Em 1915
mataram os arménios ocidentais, agora querem acabar o trabalho”.
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