A tragédia aconteceu na cidade de Qaraqosh, também conhecida
como Baghdeda, ou Bakhtida, que tem a particularidade de ser a única cidade
100% cristã do Iraque. Embora existam cristãos de diferentes ritos e igrejas na
cidade, este parece ter sido um evento da comunidade Siríaca Católica (e não a ortodoxa, como erradamente afirmei de início).
Um acidente destes é sempre uma enorme tragédia, não há
vidas mais valiosas que outras, mas este incidente tem a dimensão acrescida de
representar mais um grave golpe contra a comunidade cristã do Iraque.
Qaraqosh sempre foi um símbolo para a comunidade cristã deste
país. O facto de serem maioria permitiu aos cristãos daqui manterem as suas tradições
e costumes durante os anos de caos que se seguiram à invasão americana de 2003.
Podiam praticar a sua religião sem qualquer medo ou restrição.
O primeiro grande teste para Qaraqosh veio com a ascensão
do Estado Islâmico. A cidade foi ocupada pelos jihadistas quando varreram a
região em torno de Mossul, mas todos os cristãos conseguiram fugir. Contudo, a
instabilidade geral e o medo de que a situação se possa repetir no futuro levaram
muitos cristãos a preferir emigrar, ou a permanecer no Curdistão Iraquiano, que
é mais seguro e estável.
Os cristãos que regressaram a Qaraqosh são aqueles que
resistiram, são aqueles que não quiseram, ou não puderam, sair do país. São,
numa palavra, a esperança para o futuro do Cristianismo no Iraque.
Que 100, ou mais, dos membros dessa comunidade tenham
morrido num acidente desta natureza é mais do que um desperdício de vidas, é um
ataque a essa mesma esperança, mais uma razão na já longa lista de razões para
simplesmente desistirem e saírem para a Europa, América do Norte ou Austrália,
onde de geração em geração os seus costumes, práticas, língua e espiritualidade
se vão dissipando.
Rezemos pelos cristãos do Iraque que, mais uma vez,
enfrentam o desespero e a morte. Que Deus lhes dê coragem para resistir, que a
luz do Evangelho se mantenha naquele país. E que Deus dê eterno descanso às
vítimas deste incêndio, e a graça da recuperação aos feridos.
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