O incidente com o
jornal Charlie Hebdo chocou-nos a todos e gerou uma onda de solidariedade por
todo o mundo, mas também fez sair cá para fora os lugares-comuns de sempre, que
em nada contribuem para o debate.
Começo com um que
ouvi esta manhã de um respeitado comentador de assuntos internacionais, quando
questionado sobre a importância da religião neste fenómeno do terrorismo.
Resposta pronta: “Isto não tem nada a
ver com a religião! Isto é terrorismo puro”.
Desculpa? Um
grupo de homens que se identificam acima de tudo como muçulmanos atacam um
jornal conhecido por gozar com a sua religião (entre outras), gritando palavras
de ordem como “Deus é Grande” e “Vingámos o profeta” e isso não tem nada a ver
com religião?
No dia seguinte
outro homem que se identifica como
muçulmano mata a tiro uma mulher polícia e, passadas 24 horas, entra numa loja judaica
de produtos kosher onde faz reféns, e isto não tem nada a ver com religião?
Uma coisa é
discutir se estes homens e os seus actos são verdadeiramente representativos da
religião que dizem professar, (já lá vamos), mas dizer que isto não tem nada a
ver com religião é absurdo. Claro que tem tudo a ver com religião. Pode haver
outros assuntos à mistura, não nego. Pode ter a ver com imigração, com
políticas de integração, com racismo, com muita coisa. A Ana Gomes até acha que
a culpa é da austeridade... mas não me venham dizer que não tem nada a ver com
religião.
Nunca é demais
repetí-lo: A religião é um fenómeno potentíssimo, no sentido em que move o ser
humano a fazer coisas de grande dimensão. Para o bem, como felizmente vemos
tantas vezes em tantas pessoas fantásticas que se dão inteiramente para ajudar
os seus irmãos e vizinhos, mas também para o mal, como já vimos muitas vezes na
história e vimos por estes dias em Paris.
“Isto não é o verdadeiro Islão”
Antes de mais
convém ver quem é que está a dizer isto.
Se for o Sheikh
David Munir, como muitas vezes o faz, é uma coisa. Ele é uma autoridade na
comunidade islâmica, é um conhecedor do Islão e um líder muçulmano com um longo
passado de participação civil e em actos de diálogo inter-religioso. Podemos
discutir com ele se tem razão ou não, mas aceito a autoridade que ele tem para
dizer que o que aqueles dois irmãos fizeram não é representativo do verdadeiro
Islão.
O que não aceito
é que o Zé da Esquina, que aparece como convidado para falar no telejornal, mas
sabe tanto sobre o Islão como eu sei sobre física quântica, diga que isto, ou
qualquer outra coisa, é representativo do verdadeiro islão. Como não aceito que
o diga o Obama ou o Cameron, ou o Passos Coelho, ou sequer o o Papa Francisco.
Não é
representativo porquê? Acaso eles se consideram mais conhecedores dos
ensinamentos islâmicos que os pregadores que radicalizaram estes e tantos
outros terroristas? Sabem recitar o Alcorão? Sabem explicar as suas passagens?
Sabem explicar as incongruências que existem no texto?
Não é o
verdadeiro Islão porquê? Porque não vos apetece? Porque é politicamente
correcto dizê-lo? Porque ouviram o Sheikh David Munir a dizê-lo? É que se for
esse o caso então citem-no, mas não falem como se tivessem um pingo de
autoridade para estar a dizer a dois muçulmanos qual deles é que é verdadeiro e
qual é que é falso.
Eu não sei se
isto é o verdadeiro Islão ou não. O que sei é que neste momento há uma divisão
no interior do Islão (uma de muitas), entre as pessoas que acham que sim e as
que acham que não.É um problema, e é grave, seria ingénuo negá-lo. É uma questão que mundo muçulmano tem de enfrentar e tem de
tentar resolver. É um debate que tem de se travar a nível teológico e a nível
filosófico, e não com slogans e frases bonitas. Não basta catalogar uma
corrente como não-islâmica e esperar que desapareça. Não vai desaparecer.
Verdadeira muçulmana, ou enganada? |
“O Islão é isto mesmo”
Aqui aplica-se
exactamente a mesma lógica, mas ao contrário. É isto mesmo, por alma de quem? Porque
vêem alguns muçulmanos a comportarem-se assim? Então os milhares que vivem
pacificamente, que defendem os seus vizinhos cristãos, que pagam impostos e não
sonhariam olhar de lado para um polícia, quanto mais matá-lo a sangue frio...
estão enganados?
Também aqui, não
reconheço a 99% das pessoas que o dizem qualquer autoridade para o fazerem.
Claro que podem ter a sua opinião, mas ninguém é obrigado a dar-lhes
importância.
Mas esta frase
tem uma agravante. É que enquanto a anterior corre o risco de ser demasiado
ingénua, não é uma particular ameaça. Esta, pelo contrário, incita à divisão
social e ao ódio e, acima de tudo, só pode servir para radicalizar ainda mais
os muçulmanos que a ouvem.
Estes terroristas
que atacaram o Charlie Hebdo odeiam-nos. Não odeiam só os que fazem caricaturas
de Maomé, odeiam-nos a todos, as nossas religiões, o nosso estilo de vida, a
nossa maneira de vestir, os nossos hábitos, a nossa democracia, os nossos
valores, os nossos direitos. A pior coisa que podemos fazer, em resposta aos
seus ataques, é incentivar divisão social e purgas que, levadas ao extremo,
representam precisamente o mesmo que eles querem: separação, ausência de
direitos e liberdades, morte e terror.
Então não podemos dizer nada?
Eu sei que custa
muito, hoje em dia, assumirmos que não temos certezas, mas é um exercício de
humildade que nos fica bem. Quando me pedem a opinião sobre estes assuntos eu digo
sempre que não sei. Os terroristas e o Estado Islâmico representam o verdadeiros
Islão? Ou são os Sheikhs David Munir e os milhares de muçulmanos, como é o caso
em Portugal, que vivem a sua vida em paz, contribuem para a sociedade e não
chateiam ninguém?
Não sei. Não sou
muçulmano e por isso não tenho nada que opinar sobre isso, da mesma maneira que
acharia de uma tremenda arrogância o Sheikh David Munir ou outro qualquer vir
opinar sobre quem representa o verdadeiro Cristianismo, os católicos liberais,
ou os conservadores, ou os protestantes, ou os lefebvrianos.
O que posso dizer
é que sei muito bem de quais gosto mais! Disso não há a menor dúvida. Posso
dizer que independentemente de quem tem razão nesse debate teológico interno,
eu preferia sentar-me à mesma mesa com alguém da linha do Sheikh David Munir do
que com alguém que abraça os ideias dos jihadistas. E isso já não é coisa
pouca, a meu ver.
Porque aquilo que
eu amo sobre a nossa sociedade e os nossos valores não são as caricaturas
nojentas que jornais como o Charlie Hebdo tanto gostam de publicar, são os
valores que permitem que eles o façam e que ao mesmo tempo protegem a minha
liberdade de dizer que não os quero ler, não os acho piada e não quero ter nada
a ver com eles. Os valores que eu amo são os que me permitem sentar à mesma
mesa que um muçulmano e partir pão com ele e discutir com ele temas do Céu e da
Terra, de vida ou de morte, em paz. A salvaguarda desta realidade é algo que é
muito mais importante, nesta altura, do que a repetição de frases politicamente
correctas, mas racionalmente ocas.
Agora tb há o super-islão
ReplyDeleteFilipe, gosto normalmente do q escreve, do seu equilíbrio. Este agora foi um dos melhores textos q li sobre o atentado "Charlie". Dois apontamentos: 1. eles não gostam do nosso estilo de vida, etc, etc, é certo, mas não gostam especialmente de uma publicação insultuosa para a sua religião, e ainda mais para a cristã (sendo aqui menos polticamente incorretos). 2. Os valores não permitem q o façam. E o abuso da liberdade de expressão tem consequências gravíssimas, inclusivamente práticas, inclusivamente para essa mesma liberdade. O atentado não é alheio a esse abuso. E a liberdade de expressão saiu por acaso fortalecida deste atentado?
ReplyDeleteQue gostes ou nao das "caricaturas nojentas do jornal charlie hebdo" como tu proprio qualificas nao da o direito a ninguem de sair por ai a matar!!!! Que eu saiba ninguem sai por ai a matar humoristas portugueses so porque gozaram com um politico ou com Deus ou com São José. ...
ReplyDeletefoi a liberdade de expressão que atacaram quando mataram essas pessoas... esse direito que te permitiu de escrever o que escreveste.... Charlie Hebdo era o simbolo desse direito...
Obrigado pelo comentário.
DeleteEspero que não pareça, no meu texto, que eu considero que alguma coisa tenha dado o direito aos terroristas de matar quem quer que seja! Longe disso. Claro que não. E como eu próprio disse, a liberdade que permite que eles façam as caricaturas é a mesma que me permite achar alguns dos seus trabalhos nojentos, infantis e de mau gosto.
Penso que nem os jornalistas do Charlie Hebdo gostariam que de repente os seus trabalhos fossem considerados acima da crítica, afinal de contas é isso que eles próprios representam.
Cumprimentos!
Ao contrário do que pretende Filipe Avillez, há uma alternativa à atitude toleirona e irresponsável de quem se esganiça a lamuriar que não pode opinar nada e só tem que engolir o que dizem asnos sonsarrões, manhosos dissimulados como o xeque Munir. Há até uma responsabilidade elementar de quem se pronuncia, por exemplo como jornalista, sobre uma qualquer ideologia, seja o marxismo, a ideologia de género, o islamismo, ou outras: a de estudar e conhecer minimamente aquilo sobre o qual se fala.
ReplyDeleteOra, não é assim tão difícil nem assim tão inacessível conhecer minimamente o islão, estudando passagens fundamentais dos seus textos chave – corão e sunna (hadith) – e compreendendo o que é a atitude interpretativa da vastíssima maioria dos muçulmanos sobre esses mesmos textos base da sua ideologia/religião, de maneira a formar uma atitude crítica e eticamente responsável sobre o mesmo. Uma coisa é conhecer uma religião por dentro, coisa que só aos seguidores é acessível, outra saber o suficiente para um juízo de valor e uma apreciação responsável.
O primeiro ponto básico é que, para os muçulmanos, o corão é um ditado literal do Alá para ser entendido no seu sentido mais imediato. Todas as palavras que nele se contêm não podem ser ignoradas e têm de ser tomadas no seu sentido mais simples e directo. Islão significa submissão total, no sentido da relação senhor/escravo, ao ditado do deus. O corão contém diversíssimas passagens de incitamento a uma violência brutal e sanguinária – por ex.: Qur'an, Sura 5 (the Table Spread) verse 33: "The only reward of those who make war upon Allah and his Messenger and strive after corruption in the land will be that they will be killed or crucified, or have their hands and feet on alternate sides cut off..." – não é por acaso que, em África e noutras partes, milhares de cristãos e descrentes no islão têm sido assassinados, crucificados e amputados em pés e mãos opostos pelos jihadistas. Como não há hermenêutica no islão no mesmo sentido que se dá no Ocidente, por exemplo, à interpretação dos textos bíblicos, como há uma obrigação de tomada de todas as passagens do corão no seu sentido mais literal e directo, como não há qualquer mediação ética, qualquer apelo à consciência, ao discernimento moral, à semelhança do que sucede, por exemplo, no cristianismo, como estas passagens do corão são, aparentemente, contraditórias com outras em que, aparentemente, se apela à tolerância, o muçulmano suficientemente conhecedor dos preceitos fundamentais da sua religião, mas ainda com resquícios de arrepios de consciência, vê-se numa situação quase, senão mesmo, esquizofrénica. A solução prescrita é o recurso ao exemplo de vida de Maomé, tido como o exemplo de máxima perfeição humana, de acordo com os relatos dos seus feitos e ensinamentos recolhidos por muçulmanos pios nos Hadith. Ora, esta solução é, na verdade, catastrófica. É que nos hadith não são poucos os relatos que descrevem a violência implacável e bestial de Maomé e que o revelam como um verdadeiro facínora.
(continua no próximo comentário)
Pedro Borges, Lisboa
(continuação do comentário anterior)
ReplyDeleteA mero título de exemplo:
(Bukhari)
Volume 4, Book 52, Number 259:
Narrated Abu Huraira:
Allah's Apostle sent us in a mission (i.e. am army-unit) and said, "If you find so-and-so and so-and-so, burn both of them with fire." When we intended to depart, Allah's Apostle said, "I have ordered you to burn so-and-so and so-and-so, and it is none but Allah Who punishes with fire, so, if you find them, kill them."
Volume 4, Book 52, Number 270:
Narrated Jabir bin 'Abdullah:
The Prophet said, "Who is ready to kill Ka'b bin Al-Ashraf who has really hurt Allah and His Apostle?" Muhammad bin Maslama said, "O Allah's Apostle! Do you like me to kill him?" He replied in the affirmative. So, Muhammad bin Maslama went to him (i.e. Ka'b) and said, "This person (i.e. the Prophet) has put us to task and asked us for charity." Ka'b replied, "By Allah, you will get tired of him." Muhammad said to him, "We have followed him, so we dislike to leave him till we see the end of his affair." Muhammad bin Maslama went on talking to him in this way till he got the chance to kill him.
Ou violação de cativas e escravatura sexual:
Book 8, Number 3373:
Abu Sa'id al-Khudri (Allah be pleased with him) reported: We took women captives, and we wanted to do 'azl with them.We then asked Allah's Messen- ger (may peace be upon him) about it, and he said to us: Verily you do it, verily you do it, verily you do it, but the soul which has to be born until the Day of judg- ment must be born.
Book 8, Number 3432:
Abu Sa'id al-Khudri (Allah her pleased with him) reported that at the Battle of Hanain Allah's Messenger (may peace be upon him) sent an army to Autas and encountered the enemy and fought with them.Having overcome them and taken them captives, the Companions of Allah's Messenger (may peace te upon him) seemed to refrain from having intercourse with captive women because of their husbands being polytheists.Then Allah, Most High, sent down regarding that: "And women already married, except those whom your right hands possess (cf. sura iv. 24)".
(continua no próximo comentário)
Pedro Borges, Lisboa
(continuação do comentário anterior)
ReplyDeleteO xeque Munir e os seus correligionários sabem muitíssimo bem que o próprio Maomé fez a mesmíssima coisa e pior do que fizeram os ignóbeis assassinos do Charlie Hebdo. Este tipo de acções estão, portanto, em perfeito acordo com o exemplo e os ensinamentos do profeta do islão e com o corão. Os relatos dos Hadith nos quais se descreve como Maomé mandou assassinar implacavelmente e com requintes de malvadez aqueles que se lhe opuseram, mormente caricaturando, através de poemas e canções jocosas, a sua ignorância crassa das escrituras sobre as quais pretendia dar lições são o desmentido tremendo das aleivosias do xeque Munir quando este diz que os brutais assassinatos em França não nada têm a ver com o islão e que Maomé era um exemplo perfeito de homem pacífico. Aliás, um dos mais notórios assassinatos levados a cabo pelos esbirros de Maomé foi o de uma mulher chamada Asma Bint Marwan (cf. Ibn Ishaq, Ibn Sa'd, Ibn Isham e Al Tabari), apunhalada no sono enquanto segurava um bebé lactente por um discípulo cego do dito chamado Umair, porque tinha composto versos satíricos sobre Maomé. Quando Umair levou a Maomé a notícia do assassinato, Maomé exclamou para os outros sequazes: "contemplai um homem que ajudou o Senhor e o seu profeta. Não lhe chameis Umair o cego, mas antes Umair o que vê bem." Isto é o verdadeiro islão, sem disfarces. Não é por acaso que o islão é, por todo o lado, a “religião” (diríamos com mais propriedade a ideologia) do ódio. Enquanto os muçulmanos não enfrentarem criticamente esta realidade, o islão permanecerá intrinsecamente terrorista. E este é o segundo ponto básico.
O terceiro ponto é o de que Filipe Avillez, com a sua autoproclamada impotência judicativa em relação ao islão, se inscreve afinal, profundamente, nas ideologias do relativismo e do indiferentismo moral, da tibieza de princípios e de ideais, da morte do pensamento e do politicamente correcto, o que não é surpreendente se atendermos à sua crassa incompreensão do papel salutar da sátira e até da profanação.
Pedro Borges, Lisboa
Pedro, obrigado pelo comentário.
ReplyDeletePenso, contudo, que ele define precisamente aquilo com o qual não concordo.
Escreve: "Ora, não é assim tão difícil nem assim tão inacessível conhecer minimamente o islão"
Mas o meu problema é precisamente com as pessoas que conhecem "minimamente" o Islão. Saber quais são os cinco pilares e coleccionar uma série de hadites e de passagens do Alcorão é fácil e pode-se fazer para o bem e para o mal, como escolheu fazer aqui.
Mas repare que eu não estou a dizer em lado nenhum, como parece alegar, que o que se passou não é o verdadeiro Islão. Metade do meu texto é a criticar as pessoas que dizem isso.
Tudo o que estou a argumentar é que não nos cabe a nós, isto é, não muçulmanos que não conhecem profundamente o Islão, por dentro, dizer se isto é o Islão verdadeiro ou não. Mas podemos dizer, e digo-o, que "isto", os ataques ao Charlie Hebdo, as decapitações de jornalistas e trabalhadores humanitários e tudo o resto que o acompanha, é mau. Mais, é mal. É puro mal. É para ser combatido e esmagado.
Portanto se isto é o verdadeiro Islão, então o verdadeiro islão é o puro mal. Se não é o verdadeiro Islão, então é puro mal de qualquer maneira. Portanto não não há aqui qualquer relativismo, como infere, muito pelo contrário.
Nem eu digo em lado nenhum que não podemos ter opinião. O que digo é que não temos autoridade para determinar se é ou não é, aplicando-se isto tanto a um lado como a outro. Mas tudo o resto podemos dizer, claro, e devemos, nem eu deixo de o fazer.
Também não digo que só os muçulmanos têm essa autoridade. Conheço católicos e outros cristãos que conhecem o Islão melhor que muitos muçulmanos, a quem também reconheço. O padre Samir Khalil Samir, por exemplo, é uma referência nesta área e até criticou o Papa Francisco quando ele escreveu, no Evangelli Gaudium, que o verdadeiro Islão é pacífico. Aliás, eu não me coibí de criticar o Papa nessa altura também.
Por fim, para deixar claro, eu não digo que é preciso concordar com a opinião do Sheikh David Munir, aliás digo claramente que penso que podemos discutir o que ele diz. Mas reconheço a autoridade que ele tem para fazer essa afirmação de que o Islão não é aquilo, mesmo que não concorde.
Filipe, obrigado pela sua resposta. O que diz é-me, todavia, incompreensível. Se Cristo se tivesse rodeado de um bando de assassinos desapiedados que executassem os seus detractores segundo as suas ordens, se Cristo não fosse Cristo e fosse Maomé e com o nome de Cristo se empenhasse em campanhas de latrocínio e chacina, não só dos desgraçados comerciantes das caravanas que saqueava como de tribos inteiras, passaria pela cabeça de alguém minimamente razoável dizer “á..., não podemos isolar esses actos. O cristianismo é a religião da paz e Cristo é o exemplo máximo do homem pacífico. Se os cristãos imitam a Cristo nessa violência ignóbil, não podemos atribuir a responsabilidade nem a Cristo nem ao cristianismo, pois é sabido que o cristianismo é a paz. Quem somos nós para julgar”?!?
DeleteLeu alguns dos hadices em que o Mafoma legitima a violação de cativas pelos jihadistas. Porque é que acha que os militantes do Estado islâmico praticam a violação em grande escala de cativas? Porque é que acha que chacinam populações inteiras de não seguidores do islão? Porque são todos uns transviados alucinados? Porque é que acha que nos países muçulmanos se sanciona legalmente o casamento (e a consumação desse mesmo casamento) de homens feitos com meninas de nove anos e mais novas?
O que é que é assim tão difícil de entender nestes dados muito simples e elementares sobre o islão: que o corão é considerado por noventa e muitos por cento dos moçulmanos como uma revelação literal e indiscutível, acima de qualquer reflexão histórica e ética, acima de toda e qualquer forma de razão. E que o Mafoma é o exemplo máximo de perfeição humana. E que isto não é coisa pensada pelos “fundamentalistas”, conceito aliás forjado pelo patético jornalismo ocidental e que não faz sentido nenhum no contexto global do islão, mas que é o conjunto da sociedade muçulmana que pensa assim. Desafio-o a encontrar um único muçulmano capaz de uma apreciação crítica, honesta, moral dos hadices que lhe citei e que são incontornáveis na sua fidedignidade.
É evidente que há muitos muçulmanos que não fazem mal a uma mosca, são cidadãos modelo, e alguns muselmann são até excelentes pessoas. Tal como durante a vigência do regime nacional socialista, havia muitos nazis que não eram psicopatas e eram até extremamente pacíficos. Ora, a questão não é a da bondade do muselmann, mas a da malignidade da ideologia que professa. Sim, estes “mínimos” não são mais do que suficientes?
A responsabilidade pelo sangue derramado, pela abjecta degradação humana que o islão persegue, recai também sobre esta tibieza judicativa, sobre este indiferentismo moral, sobre a estupidez crassa de um politicamente correcto que é afinal uma espécie de racismo retorcido. Porque, como diz Clara Ferreira Alves no seu texto desta semana do Expresso (finalmente, alguém no espectro dos comentaristas dos jornais que começa a demonstrar algum discernimento), o islão representa uma ameaça tão séria como o nazismo que sucedeu a Weimar e não se sabe quantos morrerão até percebermos isto.
Pedro Borges
Onde disse: "Porque é que acha que nos países muçulmanos se sanciona legalmente o casamento (...) de homens feitos com meninas de nove anos e mais novas", queria dizer "em alguns países muçulmanos".
DeletePedro Borges
Pedro Borges,
DeleteOs judeus não seguem um profeta que recebeu ordem para chacinar povos inteiros? Não têm como símbolo de quase perfeição um pastor tornado Rei que mandou matar o melhor amigo depois de lhe ter engravidado a mulher?
Porém, não classificamos o Judaísmo como uma religião inerentemente violenta, pois não?
Tem de haver mais alguma coisa que explica a diferença. Claro que a justificação corânica e dos hadites é importante e não deve ser ignorado, mas enquanto houver vários líderes muçulmanos, de autoridade reconhecida, que sejam capazes de explicar essas passagens e colocá-las num contexto que não permite o seu uso actual, eu tenho de admitir que não posso tecer juízos definitivos, porque não tenho autoridade para isso, por mais que a minha opinião seja num sentido ou no outro.
Sobre o que diz Clara Ferreira Alves, claramente de acordo. O fundamentalismo islâmico é uma ameaça equiparável ao nazismo, na sua vontade destruídora e conflituosa. Mas isso não resolve o problema de saber se é ou não é esse o verdadeiro Islão..
Porque afinal de contas, este é um assunto secundário. Perdemos tempo (enquanto sociedade, não nós os dois) a discutí-lo, o que é importante é combater a ameaça que existe. Mas para isso é também preciso, e aí estamos de acordo, abandonar a posição políticamente correcta de dizer que isto não é, de certeza, o verdadeiro Islão. Talvez seja! E se os muçulmanos moderados querem provar o contrário que o façam, com mais energia e vontade do que têm empregado até agora.
Cumprimentos,
Filipe Avillez,
DeleteOra, precisamente. Para que uma qualquer religião não descambe de relação verdadeira com Deus para ideologia maléfica, é necessário que os seus seguidores compreendam profundamente que quaisquer das suas passagens nas quais se cauciona o assassinato, a chacina, o exercício de poder arbitrário, gratuitamente opressivo e justificado apenas no facto de emanar de uma comunidade que simplesmente por o ser estaria acima de todas as considerações de bem e de justiça, não são revelação, são infiltração maligna no que, fora isso, até pode ser verdadeira revelação. É simples: tudo o que não é justo e bom, tudo o que não é amor e desejo honesto de verdade, não é de Deus. E isso tem de ser sustentado e defendido com toda a clareza, se não queremos colocar-nos ao mesmo nível do islão e da imensa turba de muselmanner. É verdade, no entanto, que muitos, com esse patrioteirismo, esse nacionalismo religioso que tudo justifica, são nominalmente uma coisa, mas substantivamente outra, designadamente, muçulmanos. Daí, o enorme potencial de crescimento do islão.
Mas não compreender o fosso que separa o judaísmo e o cristianismo do islamismo é não compreender nada. Não perceber o contraste abissal entre a profundidade moral, a complexidade, a unidade, a sumptuosa riqueza literária dos textos bíblicos, judeus e cristãos, e a boçalidade, a estupidez, a selvajaria, a imoralidade e amoralidade, a pobreza literária confrangedora, a gramática desconchavada, a grande animalidade do deus do corão, é não perceber nada. Não perceber o abismo de diferença na relação que os judeus têm com os seus textos sagrados, o grau e nível de exegese e de interpretação que lhes é permitido e a relação sobretudo jurisprudencial que os muçulmanos têm com os seus textos sagrados, é não querer perceber nada.
A nossa época, dominada por uma ideologia que se constrói na abolição de hierarquias de valor, na diluição de estratificações morais, na ausência de considerações cuidadas e judiciosas sobre o bem e o mal, sobre a justiça e a injustiça, anseia pelo nivelamento, precisa desesperadamente, sob pena de auto-anulação, de afirmar que o islão tem o mesmo valor que tudo o resto. É incapaz de compreender o grau de anulação da consciência, o deserto ético, que o islão significa, o totalitarismo desumanizante que a sua submissão total representa. Como a virulência da literalidade, a profundíssima desconfiança da tradução em todos os sentidos, marcam todo o islão, não apenas algumas franjas, como muitos ingénuos continuam a insistir, com a marca indelével de um potencial terrorista intrínseco.
Aponte-me um único líder muçulmano, de autoridade reconhecida, que seja capaz de explicar cabal, honesta e frontalmente as passagens corânicas e dos hadices que lhe citei e que seja capaz de as colocar num contexto que elimine a sua abjecta imoralidade. Um único.
Quanto à Clara Ferreira Alves, parece-me que ela se referiu ao islão actual, ao islão político (falta dizer que todo o islão é político, iminentemente político – os próprios muselmanner dizem que o islão não é uma religião, mas uma ideologia), não a essa invenção mediática do “fundamentalista”.
(continua no próximo comentário)
Pedro Borges
(continuação da resposta)
DeleteRecomendo-lhe ainda que leia, pelo menos, as orações diárias dos muçulmanos.
De um site brasileiro:
“A única súplica no Rak'a é a recitação do Al-Fatiha (Surata 1 do Alcorão). Isto é o que eles rezam para:
Guia-nos ao caminho reto, o caminho daqueles a quem você têm favorecido,
Não daqueles que incorreram a vossa ira, nem daqueles que se desviaram.
A frase "aqueles que tenham incorrido a vossa ira" vem Surata 2:61, que diz:
Vergonha e miséria foram carimbados em cima [os israelitas] e provocou a ira de Deus; porque eles não acreditaram nos sinais de Allah e matou seus profetas injustamente; porque eles eram rebeldes e transgressores.
A frase "aqueles que se desviaram" vem Surata 04:44, que diz:
Considere aqueles a quem uma parte das Escrituras foi dada [isto é, os cristãos]. Eles compram erro para si e desejam ver o desvio.
Assim, a única súplica na oração muçulmana padrão está pedindo a Alah para manter o muçulmano longe do caminho dos judeus e cristãos. Esta oração é recitada dezessete vezes ao dia por muçulmanos devotos.
A oração sexta-feira é ainda mais ofensivo para judeus e cristãos, pois requer não apenas duas recitações de Al-Fatiha, mas também Surata 62 - A Congregação Sexta-feira - e Surata 63 - Os hipócritas. Surata 62 condena especificamente gentios como sendo "em erro grosseiro", e os judeus são comparados com "um burro carregado de livros." Já a Surata 63, condena "hipócritas", aqueles que renunciaram à sua fé muçulmana. "Eles são o inimigo. Proteger-se contra eles."
Percebe como as orações diárias, frequentes, de todos (todos!), os muçulmanos, não apenas dos “fundamentalistas” ressumam de ódio?
Pedro Borges
Ah, e só mais uma coisa...
ReplyDeleteEu percebo perfeitamente o valor da sátira, mesmo quando é profanadora. Mas por que carga de água é que tenho de gostar, alguém me explica?
Eu não gosto das caricaturas do Charlie Hebdo, nunca na vida as compraria nem as promoveria. Mas não contesto em lado nenhum o direito de as fazer nem justifico de maneira nenhuma o atentado contra eles.
Tenho visitado dezenas e dezenas de sites e blogs e tenho visto como todos eles estão tratando do fato com medonha ingenuidade.
ReplyDeleteNão se dão conta de tanta conspiração envolvendo este fato, mas se inclinam para falar das vítimas, que eram além de comunistas, blasfemas e insultadores da fé alheia. Não poupavam nem mesmo a fé cristã. Apesar de serem bastante rasos com a fé judaica, já que dois dos integrantes blasfemos eram judeus.
NÃO QUERO DIZER COM ISSO, QUE CONCORDO COM O OCORRIDO.
Não repararam que tudo isso foi um False Flag?
A própria foto acima, que está relacionada ao vídeo no momento da invasão ao jornal, nem mesmo foi questionada. Não perceberam que o policial deitado não foi alvejado um momento sequer????
False Flag, meus caros!
Vejam o vídeo: Ao fundo o Rubens divulga o vídeo da ação dos terroristas, notem que numa das cenas quando um terrorista se aproxima do policial deitado no chão, o tal terrorista não atira no policial mais no chão próximo ao policial. (+ ou - 3 min do vídeo).
https://www.youtube.com/watch?v=2chSGe-Qj2A
False Flag total!
E mais: http://www.libertar.in/2015/01/ele-foi-morto-por-pessoas-que-fingiam.html
Se os donos do poder e a mass media não retirarem a máscara, ela vai cair de podre.
anônimo Eduardo (Brasil)