Agora finalmente os que insistem em dizer Cardeal Patriarca vão ter razão! |
Em bom rigor, como expliquei aqui em Janeiro de 2014, D. Manuel Clemente deveria ter sido
nomeado Cardeal no consistório de 2014. Deveria, digo, não porque me apetece,
não pelos seus lindos olhos, não porque “é costume”, mas porque existe uma bula
que estipula que o Patriarca de Lisboa é nomeado Cardeal no primeiro
consistório depois de tomar posse e essa bula, com força de lei, nunca foi revogada.
O ano passado,
contudo, não foi e quem quiser saber o que eu concluí disso pode ler o texto. O
que interessa é que este ano já foi. O que é que mudou?
Em primeiro
lugar, mudou o facto de D. José Policarpo, infelizmente, já não estar vivo. Se
estivesse, ainda seria eleitor e poderia por isso ser um impedimento à elevação
de D. Manuel Clemente, por força de uma tradição mais recente da Igreja, mas
que não é uma regra escrita, que estipula que não haja mais que um cardeal
eleitor por diocese.
Contudo, olhando
para dioceses como Veneza, que também é patriarcado, e Bruxelas, ambas
consideradas dioceses “cardinalícias”, vemos que isso não é garantia nenhuma.
Francisco voltou, novamente, a ignorar os bispos daquelas dioceses que assim
continuam a não ser cardeais. Em vez disso decidiu elevar bispos de países como
Tonga, Cabo Verde e Birmânia, algumas das quais, tanto quanto sei, nunca tinham
tido um cardeal nem teriam grande esperança de vir a ter.
Está mais que
visto que o Papa não liga à tradição das dioceses “cardinalícias” e por isso eu
diria que a inclusão de D. Manuel Clemente na lista se deve sobretudo à
existência da bula. Sei perfeitamente que não passaria pela cabeça do Patriarca
fazer “lobbying” para ver este seu direito reconhecido, mas já não diria o
mesmo sobre o Ministério dos Negócios Estrangeiros que poderá bem ter insistido
junto da Santa Sé para que esta honrasse a sua própria lei. Não tenho aqui
qualquer informação privilegiada, é uma mera suposição.
Mas a verdade é
que, olhando para a lista dos novos cardeais, a inclusão de D. Manuel é um
facto importantíssimo para a Igreja portuguesa que muito nos deve alegrar.
Lembremo-nos que para além da não inclusão de várias dioceses que
tradicionalmente têm cardeais, não houve um único nomeado da América do Norte,
por exemplo.
Um espelho do mundo
O ano passado
falou-se muito de o Papa ter incluído nomeações de países como o Haiti e
Burkina Faso. Na altura isso até podia ser lido como uma mensagem, o Papa a
querer abanar um bocadinho a consciência dos cardeais com as suas primeiras
nomeações e brincar um bocado com a sua fama de imprevisibilidade. Mas as
nomeações deste ano mostram que não se tratou de uma ideia passageira. Esta
tendência veio, julgo eu, para ficar, e vai marcar a Igreja de forma importante
nos próximos anos e, se assim continuar, no próximo consistório.
Como? Para
começar, um grupo de cardeais completamente disperso, que só se conhecem e
estão juntos nos consistórios que de tempos a tempos são convocados, têm maior
dificuldade em formar grupos de pressão e lobbies para eleger os seus
candidatos preferidos. E atenção que vejo ambas as coisas como normais, não é
um comentário depreciativo. Ora, se isso acontecer, e ao contrário do que se
pensava ser a tendência com Francisco, quem fica a ganhar mais são os cardeais
da cúria romana, que se conhecem bem e estão juntos a toda a hora. É apenas um
dado interessante, claro que a Igreja tem muito a ganhar em ter presente uma
voz que fale pelos católicos do Tonga e das outras ilhas do Pacífico, bem como
do Haiti, de Cabo Verde e tantos outros sítios.
Outras ausências
Por fim, o ano
passado lamentei a não inclusão do Patriarca da Igreja Greco-Católica da
Ucrânia na lista dos novos cardeais, sendo ele o líder da maior das Igrejas
Católicas de Rito Oriental. Este ano o líder da Igreja Católica Etíope foi
incluído, o que me parece excelente, mas o ucraniano não. É pena, sobretudo,
porque existe a possibilidade de essa exclusão ser para não “ofender” Moscovo.
Se for o caso é lamentável. Esperemos que não seja.
No comments:
Post a Comment