Randall Smith |
No ano que passou assistimos a uma série de conflitos
mediáticos à volta de escolas católicas que despediram professores que tinham
engravidado fora do casamento, ou que revelaram ser homossexuais. Neste artigo
não tenciono comentar nenhum caso específico.
A verdade é que o problema com a maioria dos comentários
a casos deste género é que nos falta o conhecimento dos detalhes relevantes
para tomar uma decisão sábia. Da mesma forma que casos difíceis dão más leis, a
falta de conhecimento dos detalhes impede-nos de dizer coisas que contribuam
para um debate útil. A prudência recomenda que tenhamos um melhor sentido do
contexto relevante do que aquele que lemos, vemos e ouvimos nas notícias.
Assim, por exemplo, precisaríamos de saber se a
professora solteira que engravidou se opõe abertamente aos ensinamentos da
Igreja, o que normalmente não sabemos. Uma grávida solteira, seja professora ou
aluna, pode acabar por ser fonte de boas lições para a comunidade, dependendo
da situação. É preciso pensar, por exemplo, se ao exilar uma mulher nestas
situações a escola católica não está a colaborar com as forças do mal,
pressionando-a a fazer um aborto.
Conheço demasiados casos de raparigas de famílias
conservadoras, católicas e piedosas, por exemplo, que optaram por abortar
simplesmente porque tinham demasiada vergonha de revelar a verdade aos seus
pais. O que é pior, em vários casos pais ou irmãos que são supostamente “bons”
católicos desviam o olhar quando suspeitam que vai haver um aborto. “Problema”
resolvido. Escândalo evitado. Deixa de ser necessário comparecer diante da
comunidade como um daqueles pais,
alguém que criou uma filha que engravida solteira.
Quanto aos pais católicos dos rapazes que engravidaram as
raparigas, bem, isso tende a nem sequer ser um problema. A resposta é simples,
mantê-lo na escola, agir como se nada fosse e negar qualquer responsabilidade.
Por estas razões, e outras, expulsar mulheres grávidas
das escolas, sejam professoras ou alunas, tende a parecer-me uma má ideia.
Porém, se eu fosse um pai pobre a tentar ajudar os meus
filhos a escapar à pobreza para terem um futuro melhor, imagino que não veria
com bons olhos enviar a minha filha para uma escola onde dezenas de raparigas
engravidaram antes de casar e na qual, por várias razões, a gravidez nestas
situações se tornou socialmente “aceitável”, quase como um rito de passagem. O
primeiro beijo, o primeiro namoro, o primeiro baile e agora o primeiro filho
fora do casamento. Isso é um problema. Mas também o é uma escola que exila as
raparigas, mal engravidam, mas nada faz para responsabilizar os rapazes
envolvidos. O contexto em que se tomam as decisões é fundamental.
De igual forma, uma pessoa que vive a sua atracção
homossexual de forma casta enquanto ensina numa escola católica é muito
diferente de uma que viola abertamente os ensinamentos da Igreja.
Mas por outro lado isso aplica-se a toda a gente numa
escola católica. Uma escola católica que despediria um homossexual casto, que
vive fielmente os ensinamentos da Igreja, ou uma grávida solteira, mas que nem
pensaria em despedir uma freira que passa a vida a criticar o Magistério, age
de má-fé. A gravidez pré-matrimonial ou a atracção homossexual são as únicas
razões pelas quais se pode despedir um professor católico? Se sim, temos um
problema.
Não é menos apropriado ter um funcionário com atracção
por pessoas do mesmo sexo, mas que vive esse desafio de forma honesta em
autêntica fidelidade ao Magistério da Igreja a ensinar numa escola católica do
que seria ter outra que se esforça por ser fiel no que diz respeito aos
ensinamentos sobre pornografia, luxúria ou consumismo, ou gula ou toda uma
série de outros vícios e pecados. Se as instituições católicas só pudessem
contratar pessoas sem pecado, as escolas estariam vazias e eu desempregado.
Conheço muitos homens e mulheres que falam abertamente
sobre as suas atracções homossexuais e que escrevem eloquentemente sobre a
forma como vivem em acordo com os ensinamentos da Igreja. Um deles é casado com
uma mulher e tem três filhos lindos. Seria para mim um orgulho tê-los como
colegas na universidade católica onde dou aulas. Alias, qualquer um deles seria
preferível aos colegas que se dizem católicos mas que odeiam os ensinamentos do
Magistério com uma paixão profunda que só um filho revoltado pode sentir pelos
seus pais. Porque é que pessoas destas aceitam trabalhar numa universidade
católica? Não faço ideia.
As escolas deviam prestar menos atenção a quem se
intitula “católico” e muito mais a encontrar pessoas que acreditam
verdadeiramente na missão da escola e estão aptas a ajudar a fazê-la cumprir.
Quanto a despedir pessoas unicamente para “evitar escândalo” (um caminho que
lida certamente à hipocrisia), lembremo-nos que nos dias que correm, o mero
facto de se ser católico já é motivo de escândalo. Nesta cultura em que
vivemos, uma escola autenticamente “católica” é simplesmente uma escola de
escândalo. Esta realidade tem sido frequente ao longo da história.
Na maioria destas disputas há que tomar uma decisão
ajuizada. Há diferentes “bens” a procurar e “males” a evitar. Quando estes
casos se tornam distracções no grande circo mediático tende-se a assistir a uma
corrida à condenação, com uma parte a criticar os dirigentes da escola, como se
fossem intolerantes cheios de ódio e a outra a defender a escola como se
estivessem a defender a Santa Madre Igreja.
São Paulo adverte-nos a mantermo-nos ocupados e não nos
intrometermos na vida alheia. Condena os fofoqueiros e os preguiçosos, que vão
de casa em casa e que dizem o que não devem.
Os media ganham dinheiro com polémicas. Temos um dever
para com os nossos irmãos católicos de agir com paciência e prudência. Temos de
proteger as ovelhas, sem nos juntarmos à matilha de lobos que uivam à porta do
curral.
Randall Smith é professor de teologia na Universidade de
St. Thomas, Houston.
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direitos de reprodução contacte: info@frinstitute.org
The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.
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