Friday 3 February 2012

Lefebvrianos dispostos a deixar morrer “a geração Vaticano II”

O bispo Fellay com Bento XVI
A reintegração dos lefebvrianos da Sociedade de São Pio X na Igreja poderá levar cinco a dez anos, disse ontem o superior-geral desta organização, o arcebispo Bernard Fellay.

Numa homilia ontem, no Minnesota, Estados Unidos, Fellay falou de forma franca sobre as negociações com Roma e as perspectivas de sucesso das mesmas. Deixando bem claro que uma resolução será difícil.

Quem se interessa pelo assunto deve ler o texto completo aqui, em inglês. Contudo, realço os seguintes aspectos.

Afinal, nada está perdido. No final do ano passado, com base em palavras do mesmo Fellay, tinha-se ficado com a ideia de que a SSPX ia simplesmente rejeitar a proposta de Roma. Desde então a sociedade mandou uma resposta para o Vaticano que, pelos vistos, dava alguma margem de manobra e por isso as negociações continuam.

Os Lefebvrianos estão dentro ou fora da Igreja? A resposta não é simples. Vejamos esta passagem da homilia: “Mesmo se estamos a lutar contra Roma estamos ainda, por assim dizer, com Roma. Lutamos com Roma, ou se preferirem, contra Roma, mas ao mesmo tempo ao lado de Roma. E dizemos, e continuamos a dizer, que somos católicos. Queremos permanecer católicos”.

O que eu tenho dito antes é que este estatuto de “dentro mas simultaneamente fora” é incomportável durante muito mais tempo. Se as negociações falharem definitivamente então a SSPX pode-se considerar definitivamente fora, com tudo o que isso implica, e que descrevi aqui.

Contudo, o bispo tem razão ao apontar uma incoerência nas atitudes de Roma: “Seria mais fácil estarmos fora. Teríamos muito mais vantagens. Tratar-nos-iam muito melhor! Olhem os protestantes, como lhes abrem as portas das suas igrejas. A nós fecham-nas”. Não são apenas palavras, são factos. Bem sei que as disputas são tanto mais dolorosas quanto mais próximas são as pessoas, mas vejam isto pelos olhos dos tradicionalistas: Deve doer ver que as antigas catedrais se abrem mais rapidamente a celebrações protestantes do que a comunidades seguidoras de Lefebvre.

Fellay continua a usar um tom pouco realista quando diz que estão dispostos a negociar mas que a única solução viável é que a Igreja renuncie a todos os “erros” do Concílio Vaticano II. Contudo, olhando mais de perto entrevê-se outra possibilidade: “Dissemos-lhes muito claramente, se nos aceitarem como somos, sem nos obrigarem a aceitar estas coisas, então estamos prontos. Mas se querem que aceitemos estas coisas, então não estamos”.

Portas fechadas, ou prestes a abrir?
Ou seja, deixem-nos voltar sem nos obrigarem a aceitar o que o Concílio diz e não nos chateamos mais. “Live and let live”. Curiosamente há precedentes para esta atitude, o que não significa que Roma aceite. Se SSPX está dividida internamente, a Igreja Católica também. Há muita pressão no sentido de não permitir a reentrada desta sociedade sem que ela ceda, sobretudo no que diz respeito à questão da liberdade religiosa e do diálogo ecuménico, as duas grandes questões do Concílio que eles não aceitam. O que nos leva a…

O factor tempo
Fellay refere que uma solução poderá ser possível, mas que não prevê que isso aconteça num futuro próximo. “Talvez em cinco, ou dez anos”, diz.

Como é que se pode ler esta frase? Basicamente o que Fellay está a dizer é que daqui a cinco ou dez anos a “geração Vaticano II” já terá, efectivamente, partido para conhecer o seu Criador. E insinua que a geração seguinte será mais compreensiva, sem uma ligação tão forte ao concílio.

Fellay está a apostar em algo que muitos já notaram, que a nova geração de sacerdotes (e por conseguinte a próxima geração de bispos) é significativamente mais conservadora e tradicionalista que a actual.

Tudo bem, mas não deixa de ser uma aposta arriscada. Como estará a SSPX dentro de cinco a dez anos? Manter-se-á unida? O que achará uma nova geração de lefebvrianos que nunca esteve em comunhão plena com Roma? Sentirão a falta? Vale a pena correr esse risco? Ou será tudo isto bluff, tendo em conta a próxima ronda de negociações que se aproxima?

Em conclusão, contudo, pode-se dizer que esta intervenção de Fellay é substancialmente mais positiva no seu tom do que aquelas que ele teve antes de enviar a resposta para Roma. Para todos os efeitos a bola está agora no campo do Papa, que estará a meditar uma contraproposta. Por enquanto só sabemos que a proposta que está em cima da mesa “já é bastante diferente daquilo que nos foi apresentado a 14 de Setembro”, nas palavras de Fellay, por isso a situação não está tão negra como parecia estar em finais do ano passado.

E agora? Cá estaremos para ver.

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