Ao longo da última semana foram nomeados dois bispos auxiliares para o Porto. São nomeações muito importantes, porque embora o Porto estivesse com dois bispos auxiliares, D. Pio Alves, já tinha ultrapassado há muito a idade de resignação, que foi finalmente aceite.
Para além disso, D. Manuel
Linda, o actual bispo do Porto, está numa situação bastante fragilizada pela
forma como tem estado a lidar com a questão dos abusos na sua diocese. Recorde-se
que na lista que a Comissão Independente fez chegar à diocese do Porto constavam
os nomes de sete padres no activo. Três foram provisoriamente afastados de
funções enquanto decorre a investigação prévia, mas os outros quatro não, embora
os seus processos também tenham sido entregues a Roma. Esta diferença de
tratamento nunca foi explicada e, tanto quanto eu consegui apurar não parece ter
havido grande critério. D. Manuel Linda tem 67 anos, ou seja, está a oito anos
da idade de resignação. Caso esteja para ficar no Porto até ao final, precisa
de ajuda e apoio para poder cumprir as suas funções. Deus queira que os novos
bispos auxiliares, Joaquim Dionísio e Roberto Mariz, possam dar esse apoio.
Mas as nomeações para o Porto eram
apenas duas das muitas que faltavam em Portugal. Vejamos algumas das outras
situações.
Setúbal – A longa espera
A situação da Diocese de
Setúbal é verdadeiramente lamentável. Há quase um ano e meio que D. José
Ornelas deixou a diocese para assumir Leiria-Fátima, e desde então Setúbal está
sem timoneiro. É certo que tem um administrador apostólico, mas não é a mesma
coisa. Os padres precisam de um bispo como referência e os leigos precisam de
um pastor que os reúna e confirme na fé. A sensação entre os católicos – clero e
leigos – de Setúbal é de abandono e isso é uma grande pena.
Auxiliares
Setúbal é a única diocese sem
bispo diocesano, desde que D. Nuno Almeida passou de auxiliar de Braga para
bispo de Bragança, que também estava sem bispo há mais de um ano. Mas essa
passagem de D. Nuno Almeida para Bragança deixou Braga sem auxiliar e Lisboa
também tem menos um auxiliar do que é normal, desde a morte prematura de D.
Daniel.
Resignações à porta
Mas essa é a contagem mais
conservadora… Porque realisticamente Lisboa vai precisar ainda de outro auxiliar
para substituir D. Joaquim Mendes, que tem já 75 anos e por isso já submeteu o
seu pedido de resignação e muito provavelmente precisará de outro para
substituir D. Américo Aguiar que dificilmente se manterá como auxiliar muito
mais tempo.
E, por fim, há uma série de
bispos diocesanos que também estão à beira da idade da resignação, ou então já
a ultrapassaram. Para começar, D. Manuel Clemente. O Patriarca de Lisboa faz 75
anos em Julho. Seria normal, noutras circunstâncias, o Papa adiar a aceitação
da resignação de um arcebispo até aos 77 anos, ou mesmo mais, mas neste caso D.
Manuel nunca escondeu o facto de não estar bem de saúde e de estar muito
cansado, e até disse na Missa Crismal deste ano que seria a última vez que
celebra enquanto Patriarca, por isso está claramente de saída. É evidente que,
em condições normais, não haverá nomeação antes da Jornada Mundial da
Juventude, mas o processo já está a andar e por isso não deve tardar vir um
novo Patriarca para Lisboa.
(Isso levantará outra questão,
que é o facto de D. Manuel Clemente ainda ter mais cinco anos como cardeal
eleitor, o que deverá atrasar a elevação a cardeal do seu sucessor, não
obstante a existência de uma bula que estipula que o novo Patriarca de Lisboa
seja feito cardeal no primeiro consistório depois da sua eleição, o que já foi
ignorado no caso de D. Manuel).
Bem vistas as coisas,
portanto, Lisboa deverá contar, num futuro relativamente próximo, com um novo
Patriarca e de três bispos auxiliares, sendo que a primeira nomeação a ser
conhecida deverá ser a do Patriarca, que depois terá uma palavra importante a
dizer na escolha dos seus auxiliares.
Temos ainda o caso do bispo de
Beja, D. João Marcos, que tem apenas 73 anos, mas está com problemas de saúde e
já pediu ao Papa que aceite a sua resignação antecipada.
E D. Manuel Felício, bispo da
Guarda, já atingiu os 75 e por isso também já submeteu a sua resignação. E o
bispo de Portalegre-Castelo Branco, D. Antonino Dias, faz 75 anos no final
deste ano.
Feitas as contas, entre as
posições vacantes e as que estão prestes a ficar vacantes, Portugal está a
precisar de 9 bispos num futuro imediato, ou dez se incluirmos D. Manuel
Quintas, bispo do Algarve, que faz 75 em Agosto de 2024.
Porquê a demora na nomeação de
substitutos? Bom, a razão mais evidente é que as nomeações vêm todas de Roma e
Roma tem muito com que se preocupar. Como estão estas dioceses vacantes ou a vagar
em Portugal, há largas centenas no resto do mundo e todas elas precisam de
atenção.
Mas poderá ser mais que isso.
Constou-me que em algumas situações os padres abordados para serem nomeados
bispos têm recusado. Não sei de casos particulares, portanto não quero generalizar,
mas essas recusas podem ter vários fundamentos. É evidente que nalguns casos
pode ser por genuína humildade, o padre pode sentir que não é capaz de
desempenhar bem esse cargo; pode ser por medo, e basta ver em Portugal a porrada,
por assim dizer, que os bispos têm levado nos últimos meses para entender que poucos
cobiçam estar nessa posição; e por fim, infelizmente, nalguns casos pode ser
porque o candidato aspira a mais do que ser apenas bispos de uma diocese
perdida no interior, preferindo uma outra diocese mais movimentada e com outras
perspectivas de “carreira”. Se for este último caso, então talvez devamos
agradecer as recusas, porque aquilo de que menos precisamos são de pastores que
escolhem as suas ovelhas consoante o prestígio que delas podem retirar.
Aos padres que me lêem, caso recebam essa chamada, lembrem-se que a função não é para vocês, é para o resto da Igreja, e sem me querer intrometer no vosso discernimento e nas vossas orações, peço-vos a coragem de dizer que sim e de não deixar os rebanhos sem pastor por demasiado tempo, não vão elas começar a tresmalhar.
Na minha humilde opinião, não vejo necessidade de haver bispos auxiliares que não seja a de fazerem um "estágio" para mais tarde serem nomeados bispos diocesanos. De resto, nada há que façam que não possa ser feito por vigários (a não ser ordenações, mas não me parece que haja propriamente falta de bispos para as fazer). Deste ponto de vista, não entendo por que razão Lisboa precisa de ter três bispos auxiliares, por exemplo.
ReplyDeletePlenamente de acordo, os Bispos Auxiliares e ainda por cima com Sés Titulares são uma vergonha para o ecumenismo. Durante anos tivemos sucessivos Arcebispos de Mitilene que eram os Bispos auxiliares mais importantes do Patriarcado a seguir ao Sr. Patriarca. Ora na ilha de Lesbos havia outro Bispo de Mitilene (Ortodoxo grego). Um dia contaram-me que no antigo Restaurante Dionisios ao pé dos Jerónimos um grego perguntou se era o seu Bispo que estava cá em Lisboa. Surreal...
DeleteExperimente acompanhar o fim de semana de um bispo auxiliar, sobretudo por esta altura de crismas e visitas pastorais
ReplyDeleteO que faz o bispo auxiliar no fim de semana que descreve que não possa ser feito por um vigário geral ou episcopal?
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