Thursday, 15 June 2023

Pe. Mário Rui: Afastamento levantado

[Nota: Rigorosamente, o processo ainda não foi arquivado, apenas foram levantadas as restrições ao ministério do Pe. Mário Rui. Contudo, este levantamento indica que o processo será formalmente arquivado muito brevemente. Fica feito o reparo, com o meu pedido de desculpa pela falta de rigor

O processo relativo ao Pe Mário Rui, do Patriarcado de Lisboa, foi arquivado. O arquivamento foi comunicado pelo Patriarca ao próprio na quarta-feira, dia 14, e torna-se pública a partir desta quinta-feira. Não sei se haverá comunicado no site do Patriarcado (se não há, devia haver), mas a informação também me foi confirmada por fonte próxima da Comissão Diocesana e sei que o próprio sacerdote fez questão de enviar uma longa declaração a amigos e paroquianos.

Antes de mais, esta é obviamente uma boa notícia. O arquivamento é sinal de que não foram encontrados quaisquer indícios que corroborem a denúncia anónima que foi feita contra ele à Comissão Independente. Sei que a alegada vítima também nunca se deu a conhecer, por isso não havia qualquer matéria que pudesse levar a que o processo continuasse.

Os textos que eu escrevi sobre o Pe. Mário Rui deram sempre azo a bastante discussão e muitas críticas, o que só atesta a sua enorme popularidade junto de muitos fiéis. Mas sempre fiz questão de dizer que nesta matéria de abusos é importante seguir os processos à letra. Isto implica que era importante investigar esta denúncia, o que foi feito, mas significa também que, uma vez arquivado o processo, esta decisão também deve ser aceite por todos e, por isso, o Pe. Mário Rui deve ser considerado inocente e tratado como tal.

Se bem se recordam, juntamente com o Pe. Mário Rui foram preventivamente afastados mais três padres do Patriarcado de Lisboa. Ao que consegui apurar, os processos destes sacerdotes estão um pouco mais atrasados, daí hoje só ser notícia a conclusão deste.

Em relação a este processo, algumas notas:

O processo decorreu mais ou menos dentro do tempo previsto, de três meses. Em tempo de Igreja, e mesmo em tempo de justiça civil, pode-se dizer que foi rápido e eficaz, dentro das expectativas deixadas por anteriores processos no Patriarcado de Lisboa e não só, o que mostra que as reformas impostas por Roma estão também a funcionar a este nível.

Nestes três meses o que é que se passou? A Comissão Diocesana recebeu do Patriarcado a lista de padres referidos em denúncias e recomendou ao patriarcado o afastamento provisório deste padre em particular, entre outros, para melhor investigação; foram recolhidos alguns dados provisórios e enviados para Roma; o Dicastério para a Doutrina da Fé mandou abrir uma investigação ao nível do Patriarcado e esta decorreu, sem que tivessem sido encontrados outros indícios que validassem quer a denúncia original, quer qualquer outra situação que se enquadre na tipologia de abuso de menores; o processo foi arquivado.

Este é um dado muito significativo. O abuso de menores tende a ser um padrão de comportamento. É raro – embora exista – o abusador que só abusa de um menor em toda a sua vida. Logo, os abusadores tendem a deixar um rasto por onde passam, que pode ser identificável numa investigação. Ora, durante o seu ministério o Pe. Mário Rui esteve muito envolvido em muitos ambientes onde teve contacto com menores, nomeadamente escolas, agrupamentos de escuteiros, movimentos, etc., O facto de, durante a investigação, não se ter encontrado qualquer outro indício para além da denúncia citada pela Comissão Independente, e que por falta de denunciante nunca passou de anónima, abona muito a favor da inocência do acusado.

Com o levantamento do seu afastamento provisório, o Pe. Mário Rui volta agora ao ministério activo, sem qualquer restrição.

Disse, numa primeira instância, que não apreciava o tom e o estilo com que ele escreveu uma primeira declaração, quando soube que era acusado, e mantenho essa minha opinião em relação a esta segunda declaração que ele publica hoje, em que dá conta do arquivamento. Discordo sobretudo das críticas que faz à Comissão Diocesana, que me parece que apenas cumpriu o seu mandato e as orientações vindas do Vaticano. Todo este processo já é suficientemente difícil, não me parece útil nem desejável minar o trabalho dos que foram escolhidos pelo Patriarca para o levar a cabo, por mais que uma pessoa em particular se tenha sentido injustiçado pela acusação que lhe foi feita.

Com este último desenvolvimento, actualizei a lista de casos para reflectir o arquivamento do processo do Pe. Mário Rui e também a cronologia.

13 comments:

  1. João de Castro Pernas15 June 2023 at 15:08

    Graças a Deus

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  2. Juizo do P. Mário Rui sobre os factos: Excelente; juízo do Filipe Avillez sobre os mesmo factos: insatisfatório

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  3. Grande Pe Rui, fraca hierarquia local e central!

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  4. Provavelmente não faria a mesma análise se fosse visado por uma denúncia anónima deste tipo

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  5. Ainda bem que foi levantada a suspensão, mas mostra que averiguaram mais 3 meses , e nenhum dado novo chegou quer dizer que os dados que tinham não eram suficientes para afastar.... Pois esses dados já tinham sido analisados era Uma denúncia anónima e sem dados concretos só nome de um padre e dados vagos. ... Podiam ter evitado este afastamento pois a denúncia não tinha dados suficientes para afastar, ou analisar como se viu.
    Note-se que Cada caso é um caso, mas neste caso não havia razão para afastamento , nem sequer para tornar público uma denúncia falsa.

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  6. Se o padre Mário Rui fosse jornalista manteria o mesmo juízo, se o Filipe fosse o visado talvez mudasse de opinião

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  7. Muitos parabéns, Felipe Avillez, pela isenção que foi capaz de ter até ao fim. Mesmo quando Portugal inteiro se insurgiu , continuou a pautar-se pelo bom senso e, acima de tudo, por uma ideia de justiça que é fundamental. A de não haver imunidade, mesmo para os mais célebres.
    Só depois de se apurar a verdade, só aí se podem tirar conclusões. Até lá, nada é garantido.
    Desejo, do fundo do coração, que todos os abusadores sejam identificados e castigados. Não há nome para a obscenidade que é o abuso de crianças e jovens.

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  8. Foi feita justiça. Ainda bem!

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  9. Felizmente o padre Mário Rui foi considerado inocente
    Não consigo imaginar a dor de ser acusado inocentemente de um crime tão horroroso como o de abuso de menores.
    No entanto espero que o rigor que levantou uma suspeita tão grave se mantenha para que nenhum culpado fique sem castigo
    Acredito que

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  10. Filipe Avilez, não entendo que possa afirmar as seguintes palavras:

    “Isto implica que era importante investigar esta denúncia, o que foi feito, mas significa também que, uma vez arquivado o processo, esta decisão também deve ser aceite por todos e, por isso, o Pe. Mário Rui deve ser considerado inocente e tratado como tal.“
    Qualquer pessoa deve ser considerada inocente até prova em contrário é tratada como tal, o Padre Mário, não é considerado inocente pelo processo que ocorreu, muito menos pelo processo não ter factos que substanciem a acusação. Seria perigoso a inversão do ónus da prova, parece que o Padre Mário ou qualquer padre tem de provar a inocência quando na realidade é o contrário.

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    1. Olá!
      Não pretendo de forma alguma sugerir o contrário.
      O que quero dizer com essa passagem é que não se deve embarcar numa lógica de: "Onde há fumo há fogo, etc...".
      Claro que a presunção de inocência é uma pedra basilar do nosso sistema.

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  11. O homem indignou-se e ainda bem. Há quem não goste... Malhar nos outros, é refresco. Francamente...

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  12. Presunção de inocência (providencialmente bem-vinda) não significa Inocência por ausência. O próprio conceito implica em si mesmo uma investigação, caso contrário não precisaríamos de presumir. Graças a Deus que o Padre Mário Rui foi declarado inocente. Também não entendo a personalização quando foi tratado de igual forma que os outros acusados (na verdade, o seu processo até foi mais célere), isto segundo directrizes da Santa Sé. Mas repito as boas Graças de Deus e rezo pela Igreja, pelo Pe MR e por todo nós.

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