Pe. Paul Scalia |
A noção de acolhimento tem estado muito nas notícias
católicas nos últimos tempos. O relatório intercalar do sínodo extraordinário
sobre a família colocou questões, por exemplo, sobre a capacidade da Igreja de
acolher homossexuais. Pouco depois, o padre jesuíta Timothy Lannon, presidente
da Creighton University, explicou a sua curiosa decisão de alargar benefícios a
“esposos” de funcionários homossexuais com a ainda mais curiosa frase:
“Perguntei-me, o que é que Jesus faria num caso destes? Só consigo imaginar Jesus
a acolher toda a gente”.
Este Jesus Acolhedor é um bom trunfo. Não acolher, ou não
parecer acolhedor, seria portanto equivalente a discordar de Jesus. Claro que o
Jesus que “acolhia a todos” não é uma invenção do sacerdote. Pelo contrário, é
profundamente real. Mais real do que muitos querem imaginar. Mas dar benefícios
a quem adopta um estilo de vida pecaminoso ultrapassa os limites do significado
cristão de acolhimento. E isto leva-nos a questionar o verdadeiro significado
de acolhimento cristão.
Todos nos queremos sentir acolhidos. Podemo-nos recordar
de momentos em que o sentimento de acolhimento foi palpável, e por isso
encorajador. Com igual facilidade, podemos apontar momentos em que nos sentimos
profundamente mal acolhidos, e por isso sozinhos. Um dos efeitos do pecado é a
alienação e o isolamento. Por isso, falar de Nosso Senhor como aquele que
acolhe é algo que ressoa em todos os corações que desejam a reconciliação e a
cura.
E Ele é, verdadeiramente, acolhedor. As suas acções e a suas
palavras ecoam com acolhimento. As multidões vão ter com Ele precisamente
porque se sentem acolhidas – porque Ele lhes fala de perdão; Ele dá prioridade
aos pobres e excluídos; toca nos intocáveis. Em casa de Simão, o fariseu, acolhe
a mulher arrependida. Zanga-se com os discípulos que impedem as crianças de vir
ter com Ele. Acolhe o clamor do cego Bartimeu, mesmo quando as multidões o
tentam silenciar. E numa variação do mesmo tema, faz-se acolhido em casa de
Zaqueu. Os seus críticos dirigem-lhe palavras que supostamente serão um
insulto: “Este homem acolhe pecadores e come à mesa com eles”. (Lc 15,2)
A sua doutrina invoca esse mesmo acolhimento e
inclusivismo. Entendemos a parábola do grão de mostarda como símbolo do
acolhimento de todas as nações pela Igreja. Conta outra parábola de um Rei que,
querendo encher a sua sala com convidados, ordena os servos: “Ide, pois, para
as encruzilhadas, e convidai para a festa todos os que encontrardes”. É o que
eles fazem, trazendo: “Todos os que encontraram, bons e maus”. (Mt. 22, 9-10).
E talvez de forma mais significativa, na parábola que é vista como um resumo do
Evangelho, o pai acolhe de novo em sua casa o filho pródigo.
Porém…
Jesus cura Bartimeu Acholhimento Evangélico... |
E também não altera a sua doutrina para que as pessoas se
sintam mais bem acolhidas. Quando a multidão fica ofendida com o seu
ensinamento sobre a Eucaristia, é significativo que Ele os deixa partir. A
belíssima parábola sobre a multidão chamada para a festa de casamento termina
com a expulsão de um homem que entrou sem “veste nupcial” e a lição de Jesus:
“Muitos são convidados, mas poucos os escolhidos” (Mt 22,14)
E são estas palavras que chegam ao cerne do que significa
o acolhimento. Por mais que queiramos ser acolhidos e convidados, também
sabemos que cada convite inclui uma expectativa e o entendimento de que não
podemos fazer como nos apetecer quando entrarmos pela porta. “Muitos são
convidados, mas poucos os escolhidos”, porque nem todos moldam as suas vidas às
exigências do convite.
Este acolhimento evangélico deve parecer muito estranho
para o mundo. É um acolhimento... do arrependimento. Um convite... à mudança de
coração. Ele acolhe todos os que se arrependem, que tiram proveito do seu
perdão e da sua cura – todos os que, reconhecendo o seu pecado e a sua
ignorância, abraçam a sua graça e verdade. É, na verdade, o acolhimento mais
importante para uma humanidade pecadora: um acolhimento no seu Sagrado
Coração... Isto, claro, se reconhecermos que precisamos dele.
Como o Senhor, assim a sua Igreja. Para a Igreja ser
autêntica deve proclamar o convite de Jesus de forma universal e acolher todos
os que desejam a graça da conversão. Mas não pode esvaziar esse acolhimento do
seu significado, nem sendo demasiado severa, nem demasiado permissiva. Se os
meios da graça não fossem postos à disposição de todos os que procuram Cristo,
então não seria acolhimento nenhum. Mas ao mesmo tempo seria uma mentira, e por
isso falta de caridade, não dar a conhecer as exigências desse acolhimento
evangélico.
Defraudar tanto o convite como as exigências é não saber
imitar o Bom Pastor.
O Pe. Paul Scalia (filho do juiz Antonin Scalia, do
Supremo Tribunal) é sacerdote na diocese de Arlington e é o delegado do bispo
para o clero.
(Publicado pela primeira vez na terça-feira, 2 de Dezembro
de 2014 em The
Catholic Thing)
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