Começo por confessar que passei grande parte da minha
juventude fascinado por matemática e ciência – quanto mais abstractas melhor:
Física particular fundamental em vez de química; Cosmologia em vez de biologia.
Na minha ingenuidade juvenil este parecia ser o caminho para a sabedoria, para
o verdadeiro cerne das questões.
Acabaria por tomar consciência do meu erro, mas ainda
hoje gosto de ler sobre estes assuntos – acabo de ler uma análise fascinante
sobre aquilo que se sabe actualmente acerca de partículas subatómicas. É claro
que tudo isto tornou-se bastante complexo. A ciência mais básica requer agora
níveis de conhecimento matemático muito elevados e fora do alcance do mero
amador. Ainda assim, sinto orgulho e humildade quando penso no trabalho e no
génio dos cientistas e engenheiros que, não só através de teorias mas também
através do desenho e desenvolvimento de maquinaria e experiências, conseguiram
levar-nos de volta ao tempo de Planck, que parece ser o limite máximo de
observação neste universo, ou isto:
Trata-se de uma equação bastante simples, na realidade,
que significa cerca de 10-43 segundos depois do Big Bang. Se ao menos os nossos
filósofos e teólogos abordassem os seus respectivos assuntos com esta ambição e
precisão!
Os cientistas têm feito descobertas fantásticas mesmo em
relação às realidades mais humildes e minúsculas. Até meados do século XX, o
átomo continuava a parecer um minissistema solar. Não é uma visão inteiramente
falsa e serve para alguns propósitos, mas a imagem complicou-se através da
descoberta de partículas com nomes como quark, muon, tau, já para não falar de
novas forças, campos e antimatéria.
Tudo isto pode parecer inútil para a pessoa comum, mas é
precisamente através desta análise cuidadosa dos elementos constitutivos do
universo (pelo menos assim pensamos, por enquanto), que a nossa raça gloriosa e
trágica conseguiu chegar ao Big Bang que poderá, eventualmente, apontar para
algum tipo de transcendência. Como a boa filosofia e teologia perceberam há
muito tempo, o nosso mundo de seres contingentes tem de depender de algum ser
que esteja, necessariamente, para além das “coisas”. Mas esta não é a única
razão para nos interessarmos pelos avanços científicos.
Vale a pena lembrar que a calúnia de que a Igreja é contra
a ciência não surgiu por que a Igreja se opunha à ciência em si. A resistência
a Copérnico, Kepler e Galileu baseava-se na teimosa fidelidade a uma modelo
científico anterior, o sistema geocêntrico de Ptolomeu, por parte de alguns
clérigos (não todos). A Comédia Divina de Dante encarna brilhantemente a
profunda interligação entre essa ciência e as verdades espirituais na alta
Idade Média.
A grande ironia é que a Igreja não estava sequer a
defender uma cosmologia bíblica (na medida em que se pode dizer que a Bíblia
tem uma cosmologia), mas o sistema ptolemaico desenvolvido por gregos pagãos.
Essa cosmologia serviu bem no seu tempo, mas foi ultrapassado, como todos os
modelos acabam por ser, por avanços registados posteriormente. (O livro “The
Discarded Image” de C.S. Lewis é o melhor e mais sábio guia dessa
mundivisão ultrapassada). Mas há aqui uma lição.
Alguns dos meus amigos afirmam que o Big Bang, ou outras
teorias científicas, estão ligadas à doutrina da criação. É interessante que o
padre belga Georges Lemaître, o matemático que propôs pela primeira vez uma
teoria para um universo inflacionário em 1927, apesar da resistência de
Einstein, protestou quando Pio XII fez essa mesma ligação. A física é o limite
da ciência, que tem apenas relações indirectas com a metafísica. Se o Big Bang
acabar por ser apenas mais um modelo intermédio, não fará qualquer diferença à
noção da Criação.
O padre Robert Spitzer conhece bem a ciência actual e
aborda-a com a cautela necessária – aliada a um génio fora do comum – no seu
recente “New
Proofs for the Existence of God”. Outros, infelizmente, são menos contidos
ao abraçar ou criticar a ciência moderna.
Entre estes últimos incluo os nossos irmãos e irmãs na
comunicação social. É impressionante o quão pouco aprendem ou recordam no que
diz respeito à relação entre religião e ciência. A maioria dos jornalistas não
sabe quase nada sobre ciência moderna, mas partem do princípio que deve
levantar obstáculos à crença religiosa.
O Papa Francisco afirmou recentemente que a evolução e a
criação não são incompatíveis – uma verdade que praticamente não precisa de ser
repetida. O resultado foi um furor mediático. Num discurso à Academia
Pontifícia das Ciências em 1996, João Paulo II disse que a evolução era
“mais do que uma hipótese”. A reacção foi parecida. Nessa altura eu fui
convidado para falar na CNN e disse ao pivot incrédulo que tinha aprendido
essencialmente a mesma coisa dita por freiras com hábito completo durante os
anos 60 no meu liceu católico (ainda por cima nas trevas do mundo anterior ao
Concílio Vaticano II).
Os católicos não são fundamentalistas. Estamos
constantemente a repetir isto não só aos media, mas a família, amigos e
colegas, agentes da praça pública. Acreditamos tanto na fé como na razão e
acolhemos a ciência e as tecnologias apropriadas, como fazem a maioria das
pessoas sãs. Não devia ser necessário estarmos sempre a recordar toda a gente
deste facto, mas é um peso que carregamos graças a certos tipos de cristãos que
temem a razão humana, que nos foi dada por Deus.
Encontramo-nos num conflito constante com jornalistas
preguiçosos e pouco rigorosos e um estabelecimento educacional que continua a
acreditar que Cristóvão Colombo descobriu que o mundo era redondo (leiam Dante,
amigos!).
Pensam todos que quem acredita no Cristianismo
tradicional deve acreditar também, como os mais extremos de entre os
fundamentalistas, que o mundo começou há 4000 anos e que a evolução é
incompatível com a Bíblia.
Daí que se compreenda a palhaçada das reacções cada vez
que um Papa – como fizeram todos desde Pio XII na década de 50 – declara que a
Criação e a evolução não são contraditórias. Temos muito a reparar nesta
cultura, nem que seja para fazer justiça aos nossos antepassados. O tempo de
pegar nesse fardo, seja qual for a nossa posição na vida, já tarda.
Robert
Royal é editor de The Catholic Thing e presidente do Faith and Reason Institute
em Washington D.C. O seu mais recente livro The God That Did Not Fail: How
Religion Built and Sustains the West está agora disponível em capa mole da
Encounter Books.
(Publicado pela primeira vez em The
Catholic Thing na sexta-feira, 4 de Novembro de 2014)
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