Wednesday 29 February 2012

Nec Laudibus, Nec Timore

Matthew Hanley
Pouco depois da sua ascensão ao poder, os Nazis estavam determinados a extirpar qualquer influência católica fora das paredes das igrejas – fosse nas escolas, nas organizações privadas ou profissionais e por aí fora. Soa-lhe familiar? (Pense no Decreto de Obama sobre contracepção). Nessa altura, como agora, os objectivos socialistas de um Estado totalitário obrigavam a rebater a influência da Igreja Católica.

Em 1933 Clemens August von Galen foi consagrado bispo da diocese de Múnster. Foi a primeira consagração durante o regime de Hitler. Sentindo-se no dever de falar claramente sobre as ameaças políticas emergentes, condenou o “neopaganismo da ideologia nacional-socialista” e, também, o programa de eutanásia e de confiscação de propriedade da Igreja.

Ao falar desta forma aberta estava a arriscar a sua própria vida. O Leão de Múnster, como se tornou conhecido, é louvado ainda hoje pela sua corajosa defesa da fé face à opressão política.

Não obstante, alguns críticos tentaram caracterizá-lo como sendo um reaccionário politicamente motivado e temporalmente desajustado, em vez daquilo que era: um pastor católico fiel. Embora a história o tenha ilibado dessas acusações, elas são as mesmas que hoje são feitas a quem se pronuncia claramente em defesa das crenças católicas de hoje.

O lema episcopal que von Galen escolheu era: Nec laudibus, nec timore; não queria ser motivado “nem pelos elogios, nem pelo medo dos homens.” (Uma tradução comum é “nem os elogios nem as ameaças me distanciarão de Deus”).

O seu lema é intemporalmente pertinente – o sólido guia para pronunciar a verdade na caridade. Mas estava também muito em linha com as necessidades de uma situação particular naquele tempo e lugar que, como nos nossos dias, se tornava crescentemente hostil ao Cristianismo.

O lema também se relaciona com a mensagem quaresmal de Bento XVI para 2012, no qual insiste que: “Não devemos ficar calados diante do mal.” O Papa especifica que uma das razões pelas quais nos mantemos em silêncio é “por respeito humano” – por outras palavras, porque procuramos aquela forma de laudibus (louvor) a que o Leão de Múnster renunciou. Bento XVI lembra-nos que o dever de repreender e admoestar, por mais que temamos essa perspectiva, é de facto uma dimensão importante da caridade cristã.

Nancy Pelosi – há muito a precisar dessa tal caridade, juntamente com outros católicos soi dissant que traem a Igreja e a República – apelidou o decreto tirânico de Obama uma “decisão corajosa” e declarou, com duplicidade que a apoiaria “juntamente com os meus correligionários católicos”. Depois da farsa do “compromisso” foi ainda mais longe e disse que achava que o Governo devia obrigar a Igreja Católica a “pagar directamente por contraceptivos e medicamentos abortivos.”

Após anos e a anos de persistência ultrajante como esta, será injusto interpretar a falta de uma repreensão apropriada por parte dos nossos bispos, incluindo a imposição de sanções canónicas adequadas, como uma falta de caridade?

A caridade é exigente e todos ficamos aquém. Ainda assim é irónico que enquanto, como católicos, lutamos pela liberdade de continuar a providenciar serviços caritativos sem sermos obrigados pelo Governo a cobrir “serviços” imorais, ainda não conseguimos exercer adequadamente esta outra forma de caridade que está completamente ao nosso alcance.

São Tiago advertiu que a fé sem obras de caridade é morta. Talvez uma das explicações para a forma diferente com que os bispos individuais abordam este assunto – e refirmo-me aos casos claramente graves e persistentes de escândalo público – é que de alguma forma eles (como todas as pessoas) têm diferentes níveis de .

Estamos a lidera, claro está, com algo muito mais importante que estes assuntos de disciplina interna da Igreja, mas no fundo tudo se resume a uma crise mais alargada de fé: o Obamacare é um namoro profunda e comprovadamente imprudente com o socialismo, que é “irreconciliável com o verdadeiro Cristianismo.” (Pio XI, Quadragesimo Anno. N. 120)

O decreto de Obama é a codificação coerciva do libertinismo da revolução sexual, que é igualmente antitético à compreensão cristã do amor e da sexualidade humana. O método de fazer avançar estes fins destrutivos implica espezinhar a liberdade religiosa e a consciência individual.

A forma unânime como os bispos rejeitaram o decreto é, sublinhe-se, uma razão para esperança e uma prova de fé. Os tempos pedem homens e mulheres caridosos com um espírito nec laudibus nec timore para iluminarem com a fé a escuridão que invadiu a nossa cultura.

Isto implica uma preocupação verdadeira em conhecer e viver segundo o conteúdo da fé – e como o Arcebispo Chaput observou recentemente: “a imprudência ingénua não é uma virtude evangélica.” É algo que merece ser repetido agora que Obama quebrou de forma descarada a promessa que fez, enquanto era homenageado na Universidade Católica de Notre Dame, no sentido de “honrar a consciência daqueles que discordam” com as suas posições terríveis.

E o que dizer de “esta coisa da consciência”, como La Pelosi se referiu depreciativamente? “Uma consciência tranquila é mais preciosa que a liberdade ou a vida.” As palavras são de uma operária de fábrica lituana chamada Nijole Sadunaite, perante um juiz da KGB, quando se recusou a testemunhar contra um padre acusado de ensinar religião, em 1970.

Ela tinha sido acusada pelos soviéticos de ter uma doença mental, mas mesmo depois de lhe ter sido proposta a liberdade a troco da incriminação, permaneceu firme: “Se me desse a juventude eterna e todas as coisas bonitas do mundo” em troca, “então todos esses anos se transformariam para mim num inferno. Mesmo que me mantivessem num hospital psiquiátrico para o resto da minha vida, desde que soubesse que ninguém tinha sofrido por minha causa, passaria o dia a sorrir... Preferia sofrer mil mortes do que ser livre por um só segundo com a sua consciência.”

Esta nobre mulher de fé seguiu a sua consciência e acabou por sofrer anos de exílio e trabalhos forçados. Quando terminará o crescente ataque à consciência nos nossos tempos?


Matthew Hanley é autor, juntamente com Jokin de Irala, de ‘Affirming Love, Avoiding AIDS: What Africa Can Teach the West’, que foi recentemente premiado como melhor livro pelo Catholic Press Association. O seu mais recente relatório, ‘The Catholic Church & The Global AIDS Crisis’ está disponível através do Catholic Truth Society, editora da Santa Sé no Reino Unido.

(Publicado pela primeira vez na sexta-feira, 24 de Fevereiro 2012 em http://www.thecatholicthing.org/)

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3 comments:

  1. Muito bem, Filipe d'Avilez. Deus o abençoe. MP

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  2. Miguel do Brasil24 May 2018 at 00:11

    Belíssimo artigo!

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  3. MAS A IGREJA CATÓLICA FOI CÚMPLICE NO EXTERMÍNIO JUDEU OU É MAIS UMA HISTÓRIA CONTADA PELA HISTÓRIA?

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