Surpreendentemente, descobri que nem tudo tinha sido
cor-de-rosa na primeira vaga do feminismo. O que eu pensava que levaria apenas
dois dias de trabalho para o meu livro The End of Woman: How Smashing Patriarchy has Destroyed Us, rapidamente se
transformou em meses. Quanto mais fundo ia, pior era.
Emergiram três factores comuns: o oculto; a igualdade
radical dos sexos (que mais tarde se transformaria em “abaixo o patriarcado”) e
o amor livre. O que descobri foi que não só a primeira vaga tinha sido
claramente uma ideologia anticristã, como plantou as sementes para o que mais
tarde se tornaria um tipo de ideologia ainda mais sinistro.
A segunda vaga – por ter estado por detrás da legalização
do aborto – pode ser descrita como a ideologia mais mortífera da história da
humanidade. (O comunismo matou “apenas” 100 milhões de pessoas no Século XX, e
tem vindo a decrescer.) Só nos Estados Unidos já foram abortados 60 milhões de
crianças desde a decisão Roe v. Wade, em 1973. Morrem mais crianças devido ao aborto
em todo o mundo do que por todas as outras doenças juntas. A culpa pode ser
colocada exclusivamente aos pés do feminismo, uma ideologia que ensinou as
mulheres a acreditar que as suas crianças são um obstáculo à sua felicidade, e
não o caminho para a mesma.
Desde o início que o feminismo tem colocado a pergunta:
“Como podemos ajudar as mulheres a ser mais como os homens?”, em vez de
perguntar: “Como podemos ajudar as mulheres, enquanto mulheres?” Considerou-se
que a vida dos homens era superior e, por isso, a imitar na medida do possível.
Assim nasceu o mito da mulher independente-e-infértil.
Daí foi apenas uma questão de tempo até que Margaret
Sanger introduziu a era do contraceptivo, seguido de perto pelo aborto, que
permitiria finalmente às mulheres ter aquilo que consideravam ser a invejável
vida sexual dos homens, sem a necessidade frequente de nove meses de gravidez e
dezoito a criar um filho.
A transformação lenta de mulher para um ideal desordenado
de masculinidade abriu a porta aos esforços tecnológicos actuais para
transformar mulheres em pseudo-homens e homens em pseudo-mulheres. Entretanto,
os dados continuam a mostrar que as mulheres não estão mais satisfeitas com a
implementação crescente de princípios feministas. As métricas revelam que as
mulheres actuais estão mais deprimidas, com mais tendências suicidas, viciadas
em substâncias, com maiores taxas de divórcio e com maiores taxas de doenças
sexualmente transmissíveis.
Entretanto, ao longo das décadas mulheres cristãs têm
tentado construir um feminismo mais saudável do que aquele que nos foi
oferecida pela segunda vaga. Muitos tentaram ir beber à primeira vaga; outros
esperavam conseguir redimir o termo, tal como João Paulo II. E outros
simplesmente usam o termo para significar “pro-mulher”, ignorando toda a
bagagem ideológica.
Mas a questão permanece: pode-se ser cristã e feminista?
Um cristão pode envolver-se no oculto? Essa é fácil,
claro que não. E o amor livre? Também um não fácil. E destruir o patriarcado?
Esta é ligeiramente mais complicada, mas a fé cristã, desde as suas raízes mais
antigas na tradição judaica e no Antigo Testamento, deixa claro que a Igreja
Cristã, e a Igreja Católica em particular, é um patriarcado.
Nos seus comentários às escrituras, Brant Pitre e John
Bergsma sublinham a mudança dramática que aconteceu com a queda, em Génesis 3:
Houve uma inversão das normas. Ficou tudo de pernas
para o ar. Na ordem divina estabelecida em Génesis 1-2, Adão, vice-rei de Deus,
deve obedecer a Deus. Deve ainda comunicar a vontade de Deus a Eva, sua esposa,
e juntos devem governar sobre os animais. Ao longo de Génesis 2 o animal (a
serpente) governa sobre Eva, Eva comunica a vontade do animal a Adão e, em
conjunto, os três desafiam Deus.
Este mesmo padrão primordial encontrou uma casa no
feminismo. As mulheres adquiriram uma nova autoridade no feminismo enquanto
rebaixam, dominam ou ignoram totalmente qualquer autoridade dos homens e de
Deus.
Há quem argumente que pode, de facto, existir um
feminismo cristão. Cabe-lhes a responsabilidade de mostrar muito claramente
aquilo que significa feminismo para eles, para ter a certeza que a sua
definição não inclui qualquer uma das características-chave do feminismo
mainstream.
Mas a questão principal deve ser: porquê? Porque é que
alguém quereria associar-se a uma ideologia que tem sido tão mortal, tão
ineficiente – aliás contraprodutiva, mesmo – em conduzir as mulheres à
felicidade?
Não há nada que equivale ao catolicismo no que diz
respeito a honrar a dignidade inata das mulheres. A ideologia feminista não é
necessária para revelar ou levar a cabo a posição pro-mulher do cristianismo.
Demasiadas mulheres têm caído no mito da mulher independente, em oposição a
Deus, homens, maridos ou filhos.
Acrescentar a mensagem corrompida do feminismo ao
cristianismo não tem gerado claridade, antes conduziu a uma profunda confusão
sobre o que significa ser mulher hoje, sobretudo uma mulher que diz querer
seguir Cristo.
Carrie Gress é doutorada em Filosofia pela Catholic
University of America. É editora
de Theology of Home e autora de muitos livros, including The Marian Option, The Anti-Mary Exposed, e co-autora de Theology of Home. É ainda mãe de cinco filhos que educa em casa. O seu mais recente livro é The
End of Woman: How Smashing the Patriarchy Has Destroyed Us
Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing na segunda-feira, 9 de Outubro de
2023)
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