Lembrei-me deste aniversário há pouco tempo quando alguém
me perguntou sobre a pregação de São Tomás. Tomás era, como se sabe, um
dominicano, membro da “Ordem dos Pregadores”, fundada por São Domingos. Porquê
uma ordem dos pregadores? Porque no princípio do Século XIII havia muito pouca
pregação para os leigos na Igreja.
Em muitos locais não se fazia pregação de todo (o que não
é tão bom como possa parecer). Ou quando existia pregação era mal feita e cheia
de erros doutrinais (soa familiar?). Os padres do Quarto Concílio de Latrão
(1215) decidiram que era preciso mudar isto, por isso encarregaram os bispos de
alocar recursos para formar bons pregadores. São Domingos fundou a Ordem dos
Pregadores em parte como resposta a este chamamento na Igreja.
Embora São Tomás pertencesse à Ordem dos Pregadores,
surpreendentemente pouca atenção tem sido dada à sua pregação ao longo dos
séculos. Felizmente, porém, a Comissão Leonina publicou recentemente uma edição
crítica dos seus cerca de 20 sermões autênticos, e existe uma boa tradução para inglês do Pe Mark-Robin Hoogland, disponível através da Catholic University of
America Press.
Tendo em conta o estilo bastante peculiar destes sermões,
eu escrevi um livro chamado “Lendo os Sermões de Tomás Aquino: Um guia para principiantes”. O objectivo é compreender que cada palavra no versículo bíblico
inaugural tem a função de uma mnemónica que permite ao ouvinte recordar o
conteúdo de todo o sermão, simplesmente recordando o versículo bíblico.
Perguntam-me frequentemente o que é que São Tomás tem
para ensinar aos pregadores modernos? É uma questão complicada. O seu estilo,
embora fosse a norma para quase toda a gente no Século XIII, é difícil de compreender
hoje em dia. Mas há algumas lições.
A primeira é evidente: uma boa pregação está ligada à
própria santidade. E, porém, há muitos santos pastores que não são
necessariamente bons pregadores. A pregação, tal como a escrita, a canalização
ou a jardinagem, é uma capacidade que tem de ser treinada e aprendida.
A segunda lição, que é parecida, é que um bom pregador
prepara-se. Não é possível pregar da forma como Aquino e Boaventura faziam, no
que era chamado o estilo de “sermão moderno”, sem uma preparação séria. Era
impossível simplesmente improvisar.
A terceira coisa que podemos aprender com este estilo de
pregação é o valor de construir um sermão de forma a ser lembrado. Se os fiéis
saem da missa e alguém pergunta sobre o que é que foi a homilia, e ninguém se
lembra, então temos um problema. Mais importante ainda, se os fiéis não se
recordam sequer das leituras, então o mais provável é que a homilia tenha sido
um fracasso.
São Tomás Aquino |
Até o Papa Francisco tem sugerido que a pregação precisa
de ser reformada, embora me pareça que ele se estivesse a referir à sua
excessiva duração. Não me parece que esse seja o principal problema. As más
homilias tornam-se aborrecidas depois de trinta segundos. As boas passam a
voar. Mas para resolver um problema, primeiro é preciso reconhecer que ele
existe.
Posso, contudo, oferecer mais um conselho. Eu argumento,
no livro “Aquino, Boaventura e a Cultura Escolástica de Paris Medieval”, que as
aulas sobre livros da Bíblia que eram dadas nas universidades medievais pelos
mestres tinham como objectivo dar aos seus alunos recursos para pregar. Essa
era a uma preocupação central.
Compare-se isso com a nossa prática moderna.
Independentemente das suas forças e fraquezas, os estudos bíblicos segundo o método
histórico-crítico raramente dão boa matéria de pregação. Já ouvi pregadores a
tentar fazê-lo, e correu sempre mal.
Não me refiro a explicar o sentido de palavras-chave no
Grego ou Hebraico original. Tenho um colega na universidade que o faz, e os
seus alunos ficam fascinados. Mas isso deve-se mais à paixão que ele claramente
tem por cada texto e cada palavra: “Eu adoro este versículo, é belíssimo!”, diz
ele, e nós brincamos, dizendo, “o senhor padre diz isso sobre todos os
versículos”. Não, estou a falar mais de comentários do género: “Na verdade esta
epístola não foi escrita por Paulo”, ou “isto foi acrescentado ao Evangelho
mais tarde, por um editor”. Muita da pesquisa em que isto assenta é demasiado
especulativa, e o efeito que tem sobre a assembleia é como serrar o tronco em
que estamos sentados.
“Bom, senhor padre, se não temos de prestar atenção às
Escrituras, então também não temos de prestar atenção a si. Porque a única
razão pela qual estamos a prestar atenção a si é porque achamos que nos ajudará
a compreender melhor a palavra de Deus. Por isso, se nos está a dizer que isto
não é a palavra de Deus, vamos desligar-nos”.
Se calhar estamos a precisar de um novo curso: A Bíblia
para Pregação: Como não tornar a melhor história de sempre e o livro mis
importante de sempre vazios, insignificantes e aborrecidos”. Podemos listá-lo
no catálogo como Introdução à Pregação.
Randall Smith é professor de teologia na Universidade de
St. Thomas, Houston.
(Publicado pela primeira vez em The Catholic
Thing na terça-feira, 1 de Agosto de 2023)
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