Stephen P. White |
Para os fiéis, a razão da esperança num reavivar da
devoção àquilo que é a fonte e o ápice da vida cristã, deve ser clara.
Sondagens recentes indicam que a crença na Verdadeira Presença é preocupantemente
baixa entre católicos (mesmo um em cada três dos praticantes acreditam que a Eucaristia
não é mais do que um símbolo). Há muito tempo que a prática dominical está em
baixo, e a tendência acelerou com as políticas de controlo da pandemia.
Se a devoção à fonte da fé católica está a enfraquecer,
não surpreende que o resto da vida sacramental siga pelo mesmo caminho. Os índices
de casamento pela Igreja estão em queda e, previsivelmente, os nascimentos e
baptismos também. As primeiras comunhões e crismas estão a decrescer e as
ordenações também desceram, embora não tão dramaticamente.
Os números, puros e duros, não são a única ou até a
melhor forma de julgar a saúde da Igreja, mas a estes números desencorajadores
podemos também acrescentar as profundas divisões políticas, culturais e sociais
entre católicos americanos; os efeitos da crise dos abusos; profundo desacordo
sobre questões de fé (incluindo, como já foi referido, sobre a liturgia e a
natureza da própria Eucaristia). No meio de tudo isto a vontade urgente de se
fazer algo – algo em grande, e rapidamente – torna-se fácil de compreender.
Mas se uma renovação da fé é desejável, vale a pena
perguntar se um Reavivamento Eucarístico (e a Peregrinação Eucarística e o
Congresso Eucarístico do ano que vem) são o género de coisa que pode despertar
uma renovação genuína.
Simplesmente chamar à iniciativa um “Reavivamento
Eucarístico” não faz com que o seja, tal como a “nova evangelização” e a
“sinodalidade” também não o são só porque os termos são repetidos
constantemente.
Poderá o Reavivamento Eucarístico ser um grande exercício
de fogo de vista? Um grande espetáculo pensado para dar a ideia de que se está
a “fazer alguma coisa” sem abordar os problemas de fundo que afectam a Igreja
nos Estados Unidos?
Há críticos desta iniciativa que parecem convencidos de
que será isso mesmo: uma distracção cara e vistosa do verdadeiro trabalho e
missão da Igreja. Claro que se pode colocar a mesma questão (como se tem feito,
há décadas) sobre as Jornadas Mundiais da Juventude.
Para serem bem-sucedidos, os grandes eventos como o
Congresso Eucarístico ou a Jornada Mundial da Juventude, não podem ser
autocentradas. Na melhor das hipóteses, tais eventos fornecem a ocasião para os
seus participantes saírem dos seus ritmos de vida diária, para tomarem parte
num espetáculo edificante, e não uso o termo “espetáculo” de forma pejorativa.
Lembro-me bem de quão emocionante foi ajoelhar-me no
campo quente e poeirento de Tor Vergata, com mais dois milhões de pessoas, e de
rezar na vigília antes da missa com o Papa João Paulo II na Jornada Mundial da
Juventude, em Roma. Esse foi um espetáculo no melhor sentido da palavra. Não
foi o género de coisa que se vê todos os dias, ou sequer mais do que uma vez.
O grande desafio, claro está, é o que vem depois.
A medida segundo a qual os grandes eventos eclesiais como
o Congresso Eucarístico ou a Jornada Mundial da Juventude devem ser julgadas é
complicada de discernir. Nem tudo é quantificável, sobretudo em matéria de fé,
como se fosse possível medir a eficiência da Providência. Ele conduz todos os
corações de acordo com os seus próprios desígnios e a seu tempo. Se o nosso
trabalho, por mais bem-intencionado que seja, não for o Seu, nenhum dos nossos
esforços vingarão. Se escutarmos o Seu chamamento, e perseverarmos, nem a nossa
fraqueza, nem o nosso pecado o deterão.
Um reavivamento duradouro e transformador raramente
começa com um grande plano, pelo menos não com um plano nosso. E quase nunca
acontece de cima para baixo (o que não significa que os líderes eclesiais não
possam fazer muito para encorajar ou frustrar esse esforço). Em todas as eras
da Igreja o reavivamento começa da mesma forma: homens e mulheres respondem ao
chamamento de Deus de uma forma radical. Deus age, nós respondemos.
Se respondermos generosamente, podemos ter confiança de
que o Senhor estará ao volante. Mas mesmo aí devemos esperar o reavivamento não
de acordo com os nossos planos e ambições, mas de acordo com os estranhos
caminhos da Providência. Aquilo que não podemos esperar é permanecermos iguais.
E, se vamos ser honestos, esse é o grande risco. Se forem
como eu, a coisas mais assustadora que há é precisamente a ideia de estar
constantemente em mudança. Mas esse é o risco inerente ao encontro com Cristo.
Como Paulo encoraja os Efésios: “Renunciai à vida passada, despojai-vos do
homem velho, corrompido pelas concupiscências enganadoras. Renovai sem cessar o
sentimento da vossa alma, e revesti-vos do homem novo, criado à imagem de Deus,
em verdadeira justiça e santidade.” (Efésios 4, 22-24)
E é assim, afinal, que se desperta um reavivamento.
Começa com a corajosa resposta de um coração aberto, transformado por um
encontro com o Senhor.
O Congresso Eucarístico – o evento em si – não é o
objectivo do Reavivamento Eucarístico. Antes, é a convocatória. Os nossos
pastores convidam-nos a renovar e aprofundar a nossa devoção a Cristo na
Eucaristia. Eles sabem que não será uma convenção, por mais meritória e
espetacular que possa ser, a renovar a Igreja, mas uma Pessoa: Jesus Cristo.
Ele chama-nos a cada um pelo nome. Vamos responder com corações generosos?
Teremos a coragem de responder ao convocatória?
Stephen P. White é investigador em Estudos Católicos no
Centro de Ética e de Política Pública em Washington.
(Publicado em The Catholic Thing na Quinta-feira, 10 de Agosto de
2023)
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