Wednesday 16 August 2023

Como despertar um reavivamento

Stephen P. White
Há algum tempo que estão a ser feitas preparações para o Congresso Eucarístico Nacional que terá lugar no próximo verão em Indianapolis. O Congresso Eucarístico será o culminar de três anos de reavivamento eucarístico nos EUA, levado a cabo para despertar uma relação mais profunda com Nosso Senhor na Santa Eucaristia.

Para os fiéis, a razão da esperança num reavivar da devoção àquilo que é a fonte e o ápice da vida cristã, deve ser clara. Sondagens recentes indicam que a crença na Verdadeira Presença é preocupantemente baixa entre católicos (mesmo um em cada três dos praticantes acreditam que a Eucaristia não é mais do que um símbolo). Há muito tempo que a prática dominical está em baixo, e a tendência acelerou com as políticas de controlo da pandemia.

Se a devoção à fonte da fé católica está a enfraquecer, não surpreende que o resto da vida sacramental siga pelo mesmo caminho. Os índices de casamento pela Igreja estão em queda e, previsivelmente, os nascimentos e baptismos também. As primeiras comunhões e crismas estão a decrescer e as ordenações também desceram, embora não tão dramaticamente.

Os números, puros e duros, não são a única ou até a melhor forma de julgar a saúde da Igreja, mas a estes números desencorajadores podemos também acrescentar as profundas divisões políticas, culturais e sociais entre católicos americanos; os efeitos da crise dos abusos; profundo desacordo sobre questões de fé (incluindo, como já foi referido, sobre a liturgia e a natureza da própria Eucaristia). No meio de tudo isto a vontade urgente de se fazer algo – algo em grande, e rapidamente – torna-se fácil de compreender.

Mas se uma renovação da fé é desejável, vale a pena perguntar se um Reavivamento Eucarístico (e a Peregrinação Eucarística e o Congresso Eucarístico do ano que vem) são o género de coisa que pode despertar uma renovação genuína.

Simplesmente chamar à iniciativa um “Reavivamento Eucarístico” não faz com que o seja, tal como a “nova evangelização” e a “sinodalidade” também não o são só porque os termos são repetidos constantemente.

Poderá o Reavivamento Eucarístico ser um grande exercício de fogo de vista? Um grande espetáculo pensado para dar a ideia de que se está a “fazer alguma coisa” sem abordar os problemas de fundo que afectam a Igreja nos Estados Unidos?

Há críticos desta iniciativa que parecem convencidos de que será isso mesmo: uma distracção cara e vistosa do verdadeiro trabalho e missão da Igreja. Claro que se pode colocar a mesma questão (como se tem feito, há décadas) sobre as Jornadas Mundiais da Juventude.

Para serem bem-sucedidos, os grandes eventos como o Congresso Eucarístico ou a Jornada Mundial da Juventude, não podem ser autocentradas. Na melhor das hipóteses, tais eventos fornecem a ocasião para os seus participantes saírem dos seus ritmos de vida diária, para tomarem parte num espetáculo edificante, e não uso o termo “espetáculo” de forma pejorativa.

Lembro-me bem de quão emocionante foi ajoelhar-me no campo quente e poeirento de Tor Vergata, com mais dois milhões de pessoas, e de rezar na vigília antes da missa com o Papa João Paulo II na Jornada Mundial da Juventude, em Roma. Esse foi um espetáculo no melhor sentido da palavra. Não foi o género de coisa que se vê todos os dias, ou sequer mais do que uma vez.

Para mim, como para tantos outros, foi um momento edificante e de graça. Via-se o mesmo nas faces dos jovens nas fotografias da Jornada Mundial da Juventude em Portugal, a semana passada. Esses momentos têm efeitos profundos e duradouros. Há todo um lote de iniciativas e de ministérios, ainda pujantes, que remontam directa ou indirectamente à Jornada Mundial da Juventude de 1993, em Denver.

O grande desafio, claro está, é o que vem depois.

A medida segundo a qual os grandes eventos eclesiais como o Congresso Eucarístico ou a Jornada Mundial da Juventude devem ser julgadas é complicada de discernir. Nem tudo é quantificável, sobretudo em matéria de fé, como se fosse possível medir a eficiência da Providência. Ele conduz todos os corações de acordo com os seus próprios desígnios e a seu tempo. Se o nosso trabalho, por mais bem-intencionado que seja, não for o Seu, nenhum dos nossos esforços vingarão. Se escutarmos o Seu chamamento, e perseverarmos, nem a nossa fraqueza, nem o nosso pecado o deterão.

Um reavivamento duradouro e transformador raramente começa com um grande plano, pelo menos não com um plano nosso. E quase nunca acontece de cima para baixo (o que não significa que os líderes eclesiais não possam fazer muito para encorajar ou frustrar esse esforço). Em todas as eras da Igreja o reavivamento começa da mesma forma: homens e mulheres respondem ao chamamento de Deus de uma forma radical. Deus age, nós respondemos.

Se respondermos generosamente, podemos ter confiança de que o Senhor estará ao volante. Mas mesmo aí devemos esperar o reavivamento não de acordo com os nossos planos e ambições, mas de acordo com os estranhos caminhos da Providência. Aquilo que não podemos esperar é permanecermos iguais.

E, se vamos ser honestos, esse é o grande risco. Se forem como eu, a coisas mais assustadora que há é precisamente a ideia de estar constantemente em mudança. Mas esse é o risco inerente ao encontro com Cristo. Como Paulo encoraja os Efésios: “Renunciai à vida passada, despojai-vos do homem velho, corrompido pelas concupiscências enganadoras. Renovai sem cessar o sentimento da vossa alma, e revesti-vos do homem novo, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade.” (Efésios 4, 22-24)

E é assim, afinal, que se desperta um reavivamento. Começa com a corajosa resposta de um coração aberto, transformado por um encontro com o Senhor.

O Congresso Eucarístico – o evento em si – não é o objectivo do Reavivamento Eucarístico. Antes, é a convocatória. Os nossos pastores convidam-nos a renovar e aprofundar a nossa devoção a Cristo na Eucaristia. Eles sabem que não será uma convenção, por mais meritória e espetacular que possa ser, a renovar a Igreja, mas uma Pessoa: Jesus Cristo. Ele chama-nos a cada um pelo nome. Vamos responder com corações generosos? Teremos a coragem de responder ao convocatória?


Stephen P. White é investigador em Estudos Católicos no Centro de Ética e de Política Pública em Washington.

(Publicado em The Catholic Thing na Quinta-feira, 10 de Agosto de 2023)

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