Joseph Ratzinger contribuiu de
tal forma para a Igreja e para o mundo que o seu nome e legado entrarão agora
na grande herança cultural da fé Católica, como matéria permanente para
reflexão sobre numerosas coisas, tanto humanas como divinas.
Houve grandes momentos
públicos na sua vida que deixaram marcas grandes nas recentes décadas. Por
exemplo, foi acusado por alguns de ter sido um progressista durante o Concílio
Vaticano II, mas de ter “passado para o lado negro” durante as manifestações
estudantis de 1960. Mas uma análise rigorosa dos factos (veja-se, por exemplo,
o livro “Bento XVI: Uma Vida”, de Peter Seewald), mostra que essa ideia é
simplesmente errada.
O pensamento de Ratzinger movia-se
de forma calma, silenciosa, consistente e a uma profundidade que não era
afectada nas suas bases pelos tumultos sociais. A sua grande consistência, só
por si, é um ponto de referência que deixa grandes saudades.
Os seus alunos mais radicais
respeitavam-no – e elogiavam-no – por isso, ainda que tenha vindo a reconhecer
os limites do “diálogo” com certo tipo de radicais no meio académico, na Igreja
e no mundo em geral. Tratou-se de um discernimento que o serviu bem quando,
enquanto bispo e prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, teve de
confrontar dissidentes, movimentos como a teologia da libertação e aquilo a que
mais tarde veio a chamar o “Concílio dos Média”, que era bem diferente daquele
que ele e o jovem Karol Wojtyla tinham ajudado a formar.
Para mim houve um encontro
pessoal que resumiu grande parte da sua vida e pensamento. Foi-me pedido que
escrevesse a história da Guarda Suíça por ocasião do seu 500º aniversário e
ofereci-lhe um exemplar de “The Pope’s Army”, no dia 6 de Maio de 2006.
Estávamos rodeados de uma multidão, mas pegou no livro e, tratando-o com o
carinho de um verdadeiro bibliófilo, começou a folheá-lo, olhando com atenção
para diferentes capítulos, e disse: “Isto é maravilhoso, agora posso ler sobre
estes guardas que me protegem”.
Sempre me pareceu que a
escolha do nome Bento – um entre dezasseis com o mesmo nome – era um símbolo de
muitas coisas em que ele acreditava na sua vida. Benedictus, “abençoado”
certamente, por ter nascido quem nasceu, e onde nasceu, e ao longo de uma longa
vida. Benedictus, no sentido da continuidade com Bento XV, que quase um século
mais cedo lidou com a Primeira Guerra Mundial e com os seus efeitos por todo o
mundo. Mas, finalmente, Benedictus porque ainda que fosse Papa – e apesar de tanta
sabedoria – era um mero cristão, numa longa linha que remonta ao próprio Cristo.
Robert Royal é editor de The Catholic Thing e
presidente do Faith and Reason Institute em Washington D.C. O seu mais recente
livro é A Deeper Vision: The Catholic
Intellectual Tradition in the Twentieth Century, da Ignatius Press. The God That Did Not Fail: How
Religion Built and Sustains the West está também disponível pela Encounter
Books.
(Publicado pela primeira vez
na Sexta-feira, 2 de Janeiro de 2023 em The
Catholic Thing)
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