Morreu ontem o cardeal australiano George Pell.
O cardeal foi um homem muito
importante para a Igreja, sobretudo ao longo da última década. Foi o escolhido
pelo Papa Francisco para ajudar a pôr ordem nas finanças do Vaticano, tendo
enfrentado forte resistência, e a dada altura viu-se acusado de ter cometido
abusos sexuais sobre dois menores na Austrália.
Mesmo os mais avessos às
teorias da conspiração, como eu, têm suspeitas de que possa haver uma ligação
entre estes dois factos, sobretudo depois de se ter sabido que houve
transferências de valores avultados da Santa Sé para a Austrália, ordenadas
pelo Cardeal Becciu, um dos seus principais rivais na Curia romana, e que ainda
estão por explicar.
Pell foi condenado em primeira
e em segunda instância por ter abusado de dois acólitos depois de uma celebração
na Catedral de Sidnei, quando era lá arcebispo. Cumpriu pena de prisão
efectiva, até que a sua condenação foi revertida pelo Supremo Tribunal
australiano, e saiu em liberdade.
Não há palavras para descrever
a imensa injustiça que sofreu este homem, mas há aqui uma lição que é importante
também para nós em Portugal.
Na altura em que Pell foi
acusado e julgado a Austrália estava a acabar de atravessar um longo processo
de revelação e investigação de crimes de abuso e de encobrimento por parte da
Igreja Católica. Houve um inquérito levado a cabo por uma Comissão Real independente,
que chegou a recomendar que fosse levantado o segredo de confissão.
Tudo isto para dizer que o
ambiente na Austrália estava no ponto de histerismo para que mesmo num caso em
que muito evidentemente não havia qualquer prova de culpa, um homem do estatuto
de George Pell acabasse por ser condenado à prisão.
Portugal está neste momento a
atravessar o mesmo processo que a Austrália e tantos outros países já
atravessaram. Temos tido uma onda de revelações – não um tsunami, mas uma onda –
e estamos a aguardar a publicação de um relatório da Comissão Independente, que
certamente trará ainda mais casos a público. Gerar-se-á – e bem – uma onda de
indignação por estes crimes e por quaisquer eventuais casos de encobrimento que
se comprovem.
O que não podemos permitir é
que essa indignação chegue ao ponto do histerismo, pois é nesse estado que se
cometem injustiças.
O combate aos abusos sexuais,
seja dentro seja fora da Igreja, deve ser implacável, mas deve ter sempre como
bitola a justiça e a verdade.
Será demais pedir que em
Portugal reine a serenidade sobre este assunto nos próximos meses, mas que
nunca se caia na injustiça e na mentira, pois isso não beneficia ninguém.
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