Pe. Bevill Bramwell, OMI |
Nada na forma como o cargo foi originalmente constituído
indicaria que se deveriam comportar assim, mas em vez de darem testemunho na
cultura, alinharam com ela. Nem todos os bispos o fazem, mas os que fazem são
em número suficiente para que a sua taxa de consumo e ambição sejam um problema
para a presença da Igreja no mundo.
Os palácios episcopais podem ser um grande problema.
Claro que há bispos que vivem em casas modestas, mas quanto ao resto, as suas
residências são um gigantesco contratestemunho para o trabalho oficial da
Igreja. A Igreja é um corpo de testemunho. Por razões legais, está organizado
numa série de corporações. Mais importante, a Igreja é fundamentalmente um
testemunho de Jesus Cristo no mundo. E isso não implica ter muito dinheiro ou
um estatuto social mais elevado.
O problema, do ponto de vista teológico, é que o bispo
está limitado pelos parâmetros materiais da vida de Jesus Cristo e é
simplesmente impossível dar testemunho credível de Jesus Cristo enquanto se
vive uma vida significativamente mais rica que a de Jesus Cristo – a não ser
que a mensagem da Igreja seja um mero acrescento. Viver a vida de Cristo é uma
coisa pessoal, no sentido em que compromete toda a pessoa, corpo e alma. Cada
aspecto da existência do indivíduo deve manifestar Cristo. Isto aplica-se
igualmente aos padres, mas isso é tema para outra conversa.
Fatos Armani ou passatempos caros demonstram uma
dependência de coisas materiais e não do Espírito. Também podem sugerir que a
pessoa se imagina superior àquelas que a rodeiam, ou que se sente mais à
vontade com as classes altas. Depois existem as outras benesses do trabalho –
os convites para restaurantes caros, onde a conta é paga por outro; bilhetes
grátis para grandes eventos; casas de férias emprestadas, e por aí fora,
aparentemente sem limite.
Devia ser difícil, psicologicamente e espiritualmente,
pregar o Evangelho aos domingos enquanto se vive este tipo de vida durante o
resto da semana. Pelo menos se conhecer o Evangelho.
Uma vez perguntei sobre um caso de consumismo suspeito e
responderam-me que o bispo podia fazer o que quisesse com o seu salário
diocesano. Um excelente argumento – no mundo secular. O problema do testemunho
mostra a falsidade da proposição. Há bispos que recebem o mesmo salário de
padres com o mesmo tempo de serviço.
Os nossos valores não devem radicar no mundo secular. Se
assim fosse, as conversões e a redenção seriam supérfluos. Para além disso, já
existem bastantes organizações e pessoas a espalhar os valores seculares. A
espalhar os valores contrários existe apenas a Igreja. Uma Igreja que é
verdadeiramente contracultura. Demasiados católicos tentam viver nas margens de
dois sistemas de valores contraditórios.
Residência do Arcebispo de Chicago, EUA |
A necessidade do dinheiro, contudo, desencadeia toda uma
corrente de eventos relacionados com a angariação de fundos, como os bispos a
serem tratados como ornamentos em jantares faustosos e bajulados por ricos.
E vai mais longe, estamos sempre a ouvir histórias de
bispos a tratar de forma especial ricos ou poderosos e até a menosprezar a
doutrina da Igreja.
Algumas devem ser verdade, uma vez que situações como
católicos ricos a defenderem impunemente o aborto têm-se tornado um verdadeiro
escândalo público. A afirmação de que estão a ser tratados de forma “pastoral”
já não cola ao fim de todo este tempo.
Estamos perante um temor dos ricos? Ou dos poderosos? Ou
será a vontade de ser aceite por eles? Será que os directores espirituais
destes bispos falam com eles sobre estas questões? Afinal de contas, o trabalho
de um director espiritual é ajudar o dirigido a tornar-se mais católico, ou por
outras palavras, a assumir mais do ensinamento católico como verdadeiro. De tal
forma, aliás, que se deve vivê-lo na prática.
Por último, devemos perguntar também em que hotéis
chiques é que se encontra a Conferência Episcopal e em que restaurantes se
juntam para comer durante as reuniões. Talvez se optassem por locais mais
simples isso ajudaria a quebrar a ilusão de que os bispos se devem sentir
magicamente em casa entre os ricos e os poderosos. Mandar vir umas pizas para
uma reunião de trabalho talvez fosse simultaneamente um bom testemunho público
e um acto de humildade.
Rezemos para que Deus nos conceda um corpo de bispos a
viver vidas consistentes e a ensinar doutrina consistente – não movidos pela
arbitrariedade, mas vivendo a vida e Cristo – o único Cristo.
(Publicado pela primeira vez no Domingo, 11 de Agosto,
2019 em The Catholic Thing)
Bevil Bramwell é sacerdote dos Oblatos de Maria Imaculada
e professor de Teologia na Catholic Distance University. Recebeu um
doutoramento de Boston College e trabalha no campo da Eclesiologia.
© 2019
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