Randall Smith |
Imaginem que estão na Alemanha em 1930 e alguém
desenvolveu um programa pastoral dirigido a judeus. Um grupo ouve falar deste
programa e insiste que se não incluir esforços para converter esses judeus ao
Cristianismo, será “anticristão”. O maior acto de caridade que se pode ter para
com aqueles que estão separados de Cristo, diz, é assegurar que entram para o
caminho da salvação. Deixá-los na ignorância e erro seria “anticristão”. E
mais, tendo em conta a “questão judaica” que está a assolar o país, não seria
melhor para todos se os judeus simplesmente concordassem tornar-se cristãos?
Outro grupo insiste que a única forma de lidar com
qualquer judeu é afirmar a sua identidade judaica. Qualquer tentativa de o
“mudar” seria preconceituosa. É verdade que há judeus como a Edith Stein que se
converteram, mas ela é um embaraço para este grupo, porque o seu exemplo
complica aquilo que acreditam ser o “verdadeiro ecumenismo” e o “diálogo
salutar com o povo judaico”. Esse diálogo saudável não deve, segundo eles,
envolver qualquer referência à fé cristã – algo que eles acreditam ser lesivo
para a relação respeitável que devia existir com esta minoria tradicionalmente
vitimizada. A única forma de lidar com as questões políticas que envolvem os
judeus, diz este grupo, é sublinhar a terrível vitimização que tem sofrido às
mãos dos cristãos e fazer com que “ser judeu” seja algo que toda a gente no
país encara como uma coisa nobre. Qualquer outra coisa seria “anticristã”.
O primeiro grupo odeia o segundo e considera que estão a
abandonar o seu dever de pregar o Evangelho e ganhar almas para Cristo. O
segundo grupo odeia o primeiro e considera que são racistas ignorantes,
preconceituosos e hipócritas que não têm a sofisticação nem a educação para
saber como lidar com judeus.
Mas a pessoa que estabeleceu o programa pastoral em 1930
não faz parte nem de um campo nem do outro, e decide que o melhor que tem a
fazer é juntar as pessoas para conversar. Cristãos a falar claramente sobre o
seu cristianismo, ouvindo judeus a falar sobre as suas experiências a lidar com
cristãos. Convida a Edith Stein para falar, não como modelo do caminho que
todos devem percorrer, mas como uma pessoa com experiência dos dois mundos que
pode ajudar os cristãos a compreender os judeus e os judeus a compreender os
cristãos.
O primeiro grupo odeia-o porque não está a tentar
converter todos os participantes ao cristianismo, deixando-os assim na
ignorância e no erro. O segundo grupo odeia-o porque ele fala abertamente do
seu cristianismo, algo que eles partem do princípio que vai alienar os judeus,
e porque isso contraria a sua ideia de conceder aos judeus um lugar especial na
sociedade. Para eles, convidar a Edith Stein, uma judia convertida, é prova provada
de que o programa pastoral é insensível, porque a sua conversão é um escândalo
para os judeus que conhecem. No final de contas nenhum dos dois grupos converte
muitos judeus ou ajuda a diminuir a perseguição que os judeus sofrem na Europa.
Agora vejamos outro caso:
Um jovem no auge da sua carreira é convidado a assumir um
cargo de liderança na “Courage”, um grupo católico para homens e mulheres com
atracção homossexual. O grupo nem tenta “converter” pessoas de homossexual para
heterossexual, nem faz segredo das suas convicções morais sobre a imoralidade
da actividade homossexual. Embora aceitem inteiramente o ensinamento da Igreja,
os seus membros também acreditam que demasiados cristãos tratam mal homens e
mulheres com atracção homossexual; que a Igreja não se pode limitar a desejar
que o problema desapareça; e que é importante estender a mão a pessoas que, em
muitos casos, estão a sofrer, são incompreendidas e precisam da orientação
espiritual e do amor da Igreja.
Só para deixar claro, a analogia que apresento aqui não é
entre judeus e pessoas com atracção homossexual; é entre as reacções ao
primeiro desafio pastoral e ao segundo.
Toda a gente fala em “diálogo”, mas demasiadas vezes o
que isto significa é “diálogo à minha maneira”. Para o primeiro grupo, significa
que estas pessoas devem vir ter connosco de forma penitente, para que nós,
católicos, possamos dizer-lhes quão maus são. Para o segundo significa que
devem vir ouvir-nos, penitentes, dizermos quão maus católicos somos.
Porque é que alguém iria ter com qualquer um dos grupos?
Em relação ao primeiro, as pessoas que se sentem culpadas sobre algo não querem
ser condenadas novamente. Preferem ir a um grupo de apoio, ouvir, aprender e
reflectir na companhia de outros. Quanto ao segundo, porque é que alguém
haveria de querer ir ouvir pessoas a choramingar sobre a sua própria culpa?
Como é que isso as ajuda? Essas pessoas limitaram-se a pegar no meu problema e
apropriar-se dele. As pessoas que estão a sofrer não querem que lhes digam que
não têm razões para isso. E, claro, ninguém devia mentir sobre o que a Igreja
diz, só para “construir pontes” – fazendo-se passar pelo cúmulo da
sensibilidade.
E o nosso jovem amigo convidado para trabalhar na
Courage? Aceitará o emprego? Se o fizer, será criticado por ambos os lados –
tratado com suspeição pelos partidários de um dos lados por causa do seu
trabalho com os homossexuais, ou como um preconceituoso ignorante que trabalha
com um daqueles grupos obedientes à Igreja, pelo outro. Se fosse amigo dele, o
que é que aconselharia?
Será que estas divisões partidárias sobre “a melhor
forma” de ajudar cristãos homossexuais está mesmo a ajudar alguém? Ou devemos
deixar as pessoas fiéis ao ensinamento da Igreja fazer o seu melhor, e deixar
os homens e mulheres homossexuais que procuram orientação da Igreja ajudar-nos
a fazer sentido de tudo isto? Podemos falar honestamente sobre aquilo que a
Igreja ensina e eles podem falar honestamente sobre quem são e como ouvem
aquilo que lhes estamos a dizer. Se nós, enquanto Igreja, dizemos que nos
interessamos pelos homossexuais, sobre as suas vidas e bem-estar, então
precisamos de pastores que estejam dispostos a proclamar e a escutar a verdade.
Randall Smith é professor de teologia na Universidade de
St. Thomas, Houston.
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