Brad Miner |
Num artigo anterior eu escrevi sobre um discurso do Sr. Marlin em que ele pedia
um novo Plano Marshall para o Médio Oriente. É com alegria que anuncio que já
se estão a dar os primeiros passos para a implementação de tal plano no Iraque.
Estamos felicíssimos por saber que este mês a AIS espera
repatriar 15 mil pessoas na cidade cristã de Qaraqosh, no Iraq. São três mil
famílias.
Ao todo, na Planície de Nínive, mais de 1200 casas foram
destruídas pelo Estado Islâmico. Mais de 3000 foram danificadas pelo fogo e
ainda mais de 8000 foram danificadas de outras formas e precisam de ser
reparadas. O número de igrejas nas mesmas situações é respectivamente 34, 132 e
197. É aquilo a que se pode chamar um desastre não natural.
Mas como eu escrevi anteriormente, a repatriação dos
cristãos para as suas terras ancestrais depende da existência de paz. E embora
o Estado Islâmico tenha sido expulso de Nínive, resta saber se é possível
garantir o regresso dos cristãos em segurança para Nínive e outros lados.
A história é esta:
Quando o mais recente problema de refugiados começou a
aparecer nas notícias costumava ser em termos de combates entre o Estado
Islâmico e várias milícias e exércitos nacionais, na maioria no Iraque e na
Síria. A maioria de nós já viu fotografias de longas filas de deslocados
internos, a fugir dos combates ou dos ultimatos que o Estado Islâmico fez aos
cristãos: Converter-se ao Islão, abandonar as suas terras, ou morrer. Muito
poucos cristãos optaram por converter-se e alguns foram mortos. Mas a maioria –
juntamente com muitos, muitos muçulmanos – simplesmente fugiu, ou para países
estrangeiros, ou para campos de refugiados.
As manchetes costumam referir-se ao influxo de Muçulmanos
para a Europa, e em muitas situações lidam com a infiltração de militantes do
Estado Islâmico, ou outros terroristas, que desde o 11 de Setembro de 2001 já
mataram, pelo menos, 20,000 pessoas no mundo, com muitos milhares de feridos.
Mas estes são apenas assassinatos em ataques terroristas.
A guerra – em larga medida islamita – na Síria, quase 400 mil pessoas morreram.
Dezanove mil civis morreram no Iraque desde 2014 (acima de 60 mil combatentes
perderam a vida), mas número mais devastador diz respeito ao número de
deslocados internos no Médio Oriente: 4,525,968.
A Ajuda à Igreja que Sofre tem trabalhado em prole destes
refugiados desde o início da crise, e sempre tivemos dois objectivos mente.
Temos procurado fornecer ajuda humanitária imediata a
todos aqueles que foram expulsos das suas casas: água, comida, roupa e medicina
– os essenciais – mas também educação para as crianças, ajudando a garantir que
não se perde uma geração inteira de crianças.
E sempre acreditámos que um dia – tal como aconteceu no
fim da Segunda Guerra Mundial – estes deslocados voltariam para retomar as suas
casas, empregos e herança antiga. Os eventos mais recentes provam que tínhamos
razão – e estamo-nos a preparar para enfrentar o desafio.
Recentemente o jornalista John L. Allen Jr. escreveu na
revista “Columbia”, dos Knights of Columbus, que desde 2011 que a Ajuda à
Igreja que Sofre “gastou 35.5 milhões de dólares a ajudar refugiados cristãos
no Iraque e na Síria, em particular os que se encontram em Erbil e noutros
pontos do Curdistão. O ramo americano da AIS têm contribuído de forma decisiva
para este esforço.”
Allen encontrou um termo maravilhoso para este trabalho
que estamos agora a começar: Dunkirk ao contrário.
Regresso a casa, aos olhos de uma criança cristã do Iraque |
O objectivo da CRN é, de forma simples: “Ajudar os
Cristãos Iraquianos que queiram regressar às suas aldeias na Planície de
Nínive, onde vivem há séculos, e a fazê-lo de forma digna e em segurança”.
Como é evidente estas pessoas (na maioria católicas e
ortodoxas) carregam com elas a sua dignidade, que nunca perderam, não obstante
os sofrimentos e perigos que enfrentaram. Uma ajuda a essa dignidade passa pela
reconstrução e renovação urgente das suas casas, escolas e meios económicos.
Claro que a segurança é uma preocupação constante e algo
que a AIS/CRN não podem fornecer. Para isso é necessária a colaboração entre
oficiais locais e nacionais do Iraque bem como de terceiros interessados. Na
medida em que há paz na área, cabe a esses governos e aos terceiros (isto é,
outras nações que têm interesses no Iraque e que têm consciência moral)
desenvolver formas de proteger os cidadãos recém regressados, sejam católicos,
ortodoxos, yazidis ou muçulmanos.
Os muçulmanos que anteriormente viviam em relativa paz
com os seus vizinhos cristãos não podem se não agradecer os esforços dos
cristãos para reconstruir Nínive, porque também eles serão beneficiários da
renovada actividade económica e, sobretudo, da paz.
Aquilo que a NRC está a estabelecer em Nínive é uma
espécie de lança em África – uma prova de que é possível reestabelecer
comunidades multireligiosas onde diferentes fés podem coexistir de forma
amigável.
Se for possível aqui, pode ser possível noutros lados.
Seja como for, é agora ou nunca.
(Publicado pela primeira vez na terça-feira, 5 de Setembro
de 2017 em The Catholic Thing)
Brad Miner é editor chefe de The
Catholic Thing, investigador sénior da Faith & Reason Institute e faz
parte da administração da Ajuda à Igreja que Sofre, nos Estados Unidos. É autor
de seis livros e antigo editor literário do National Review.
© 2017
The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de
reprodução contacte:info@frinstitute.org
The Catholic Thing é um fórum de opinião católica
inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus
autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o
consentimento de The Catholic Thing.
No comments:
Post a Comment