Matthew Anderson |
As mais recentes tendências revelam esta
dinâmica. Apenas 39% dos católicos vão semanalmente à missa (isto antes da
pandemia). Cerca de três quartos dos católicos acreditam que a Igreja devia
mudar a sua posição sobre a contracepção (não obstante isto ser uma
impossibilidade teológica). E ficou famosa a sondagem da Pew Research Center,
em 2019, que revelou que 70% dos católicos não acreditam na Presença Real na
Eucaristia, apesar de esta ser, nas palavras do Concílio Vaticano II, a “fonte
e cume da vida cristã”.
Porque é que esta desconexão afecta tantos
católicos modernos? E como é que a poesia pode ajudar? Dito de forma simples, a
poesia introduz os estudantes num mundo simbólico, o que é uma condição
essencial para a crença nos sacramentos.
Muitas vezes tentamos ensinar a fé a
jovens que têm uma mundivisão moderna e relativista, mas essa é uma perspetiva
que ataca na raiz a natureza intrínseca de elementos-chave do catolicismo, tais
como os sacramentos.
Em “Uma era secular”, Charles Taylor fala
da diferença entre a mundivisão moderna e a mundivisão sacramental em termos da
origem do significado das coisas. Na visão moderna “as coisas só têm sentido na
medida em que despertam em nós certas respostas”. Na visão pré-moderna e
secular “os sentidos não se encontram apenas nas mentes, mas também nas coisas,
ou em vários sujeitos extra-humanos, mas intra-cósmicos”.
Actualmente um jovem que esteja a crescer
com uma mundivisão moderna tende a acreditar que o sentido das coisas é uma projeção
da mente. As coisas não têm sentido em si; o único sentido que podem ter é
aquele que lhes damos. Esta mentalidade está na raiz de assuntos tais como a
redefinição do casamento e o fenómeno transgénero. Vendo os sacramentos dessa
perspetiva a Eucaristia é o Corpo de Cristo se assim quisermos, mas se não
quisermos não é. Assim os sacramentos tornam-se apenas símbolos, compostos
apenas pelo sentido que lhes quisermos dar. Essa mentalidade é o sopro da morte
para a fé.
Encostei-me ao portão de
uma talhadia
Quando a Geada era
cinzenta-espectro
E os resquícios do
Inverno tornavam desolada
O olhar cansado da
jornada.
Troncos entrelaçados
rasgavam as alturas
Como cordas de liras
despedaçadas
E os homens que
assombravam as redondezas
Tinham regressado às
lareiras das casas
Neste poema Hardy recorre a imagens de
espectros e de assombros, resquícios e troncos entrelaçados para transmitir a
imagem de uma paisagem desoladora, solitária e sem esperança. Usa também o som
de palavras como “sky” e “nigh”, no original [alturas e redondezas na tradução]
para dar à cena alguma severidade. O efeito final é misterioso e sombrio,
preparando assim a entrada em cena de um pequeno tordo que, mais adiante no
poema, irá cantar uma melodia feliz no meio desta paisagem, como se estivesse
preenchido de “alguma Esperança bendita, de que ele tinha conhecimento, mas eu
ignorava”.
Com esta utilização de imagens e de sons o
poema depende da existência de um sentido intrínseco das coisas materiais em si
mesmas, preparando assim o palco para a incongruência da esperança do tordo.
Por outras palavras, depende de uma visão sacramental da realidade. Se
usássemos a mundivisão subjetiva o poema simplesmente deixaria de fazer sentido.
Se os resquícios do inverno são uma realidade gloriosa porque acontece eu
gostar do inverno, e os troncos entrelaçados como cordas de liras despedaçadas
são apenas uma opção paisagística avant-garde, então o aparecimento do
tordo e da esperança no meio da desolação já não tem qualquer significado. É
precisamente o significado das coisas que conduz o leitor à compreensão da beleza
da esperança.
Quando confrontamos os jovens com a poesia
é ela própria, através da sua natureza, que lhes ensina que as coisas têm
sentido. A poesia funciona como um antídoto ao relativismo da modernidade.
Conduz ao mundo encantado de que falava Taylor, um mundo em que as folhas e as
árvores, o pôr-do-sol e as tempestades têm sentido. Mas, mais que tudo isso, prepara-os
para aceitar uma Fé em que, como disse o Venerável Fulton Sheen, “a maior
história de amor de todos os tempos está contida numa pequena hóstia branca”.
Matthew Anderson é o director da Chesterton
Academy of St. George, um colégio clássico de tradição católica que vai abrir
em Jackson, Michigan, no Outono de 2022. É licenciado em Teologia Sistemática
pela Christendom College Graduate School of Theology e reside em Jackson,
Michigan, com a sua mulher Elizabeth e os seus cinco filhos, de onde escreve
sobre fé e cultura.
(Publicado pela primeira vez no Sábado, 9
de Outubro de 2021 em The Catholic Thing)
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Excelente!!!!!
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