Casey Chalk |
A vasta maioria dos testemunhos de conversão ao
Catolicismo focam tudo o que se ganha ao entrar na Igreja fundada por Jesus.
Isso é bom, a Igreja não é apenas algo que Ele estabeleceu há milénios, é onde
Ele continua a residir. Mais, sendo verdadeiramente universal, engloba tudo o
que é bom, verdadeiro e belo. Em todo o caso pode ser útil para potenciais convertidos,
bem como para aqueles que os irão encontrar, descrever também aquilo que se
perde.
Comunidade: Eu fazia parte de uma pequena e
conservadora comunidade cristã alinhada com a Igreja Presbiteriana na América
(PCA). A minha congregação da PCA contava com uns 150 fiéis ao domingo. Eu
conhecia praticamente todas as famílias e elas conheciam-me. Conversávamos depois
do serviço, às vezes durante horas. Tinha visitado as casas de muitos deles.
Quando uma família tinha um bebé era anunciado na igreja e os diáconos
asseguravam que não lhes faltava nada, incluindo refeições enquanto se adaptavam.
Havia dois serviços compridos ao domingo, estudos bíblicos e vários eventos durante
a semana ou fim-de-semana… A nossa vida rodava intimamente à volta de um
pequeno grupo de pessoas. Era uma verdadeira bênção, envolvendo abertura aos
outros, sacrifício e amor profundo. É difícil esconder as nossas falhas e
falhanços numa comunidade destas; quando somos amados apesar de os nossos
pecados serem conhecidos, o Evangelho ganha vida.
Em contraste, na minha primeira missa depois de regressar
à Igreja não houve qualquer convite para eventos depois da celebração. Nada
sobre grupos de jovens ou estudos bíblicos. Ninguém na paróquia sabia que era a
minha primeira vez lá. Era anónimo. Aos poucos acabei por descobrir vários
grupos sociais católicos, mas a missa de domingo continuou a resumir-se a uma
hora por semana sentado sozinho, sem que ninguém me abordasse. A paróquia
católica que frequentei durante os primeiros anos após a minha conversão ficava
a algumas centenas de metros do quartel dos bombeiros onde a minha congregação
presbiteriana se reunia para os serviços. Isolado na minha nova paróquia,
senti-me muitas vezes tentado a descer a rua e voltar para lá.
Uma cultura partilhada: Enquanto cristão reformado
fazia parte de um mundo pequeno e paroquial. A denominação tinha apenas cerca
de 330.000 membros em todos os Estados Unidos, e talvez uns poucos milhões de
pessoas no resto do país que se identificariam como “reformados” ou “calvinistas”.
Paradoxalmente, isto teve o efeito de aprofundar os nossos laços neste pequeno “gueto”
calvinista. Líamos os mesmos livros, cantávamos os mesmos cânticos e falávamos
a mesma linguagem. Também partilhávamos uma herança comum com os nossos “santos”,
homens em grande medida desconhecidos fora do nosso pequeno mundo, como J.
Gresham Machen, Charles Hodge, B.B. Warfield, Robert Lewis Dabney.
Orgulhavamo-nos muito desta cultura reformada. Na verdade tínhamos de o fazer.
Uma comunidade cristã assim tão pequena precisa de uma grande fonte de riqueza
cultural partilhada para conseguir sobreviver.
Quando deixei o presbiterianismo deixei para trás quase
tudo isso. As paróquias católicas não cantavam os cânticos que eu conhecia, não
liam os livros que me tinham formado e não estavam interessadas no que o meu
pequeno mundo de cristianismo tinha para oferecer. Sejamos claros, eu sabia que
a maior parte da minha formação cristã era imprecisa ou incompleta, e que os “santos”
reformados eram pouco em comparação com a santidade ou o brilhantismo de um São
Tomás de Aquino, São Francisco de Sales ou Santa Teresa de Lisieux.
Em muitos aspectos tive de recomeçar tudo do início,
aprendendo a cantar a Salve Rainha em latim, desenvolvendo um conhecimento e
apreciação das diferentes correntes culturais, litúrgicas e teológicas que
existiam na Igreja e encontrando algo no Catolicismo a que poderia chamar meu.
Sete anos mais tarde tenho sem dúvida mais orgulho e lealdade para com a Igreja
Católica e a maravilhosa diversidade das suas manifestações culturais do que
alguma vez tive para com o calvinismo. Mas tive de passar por isso sozinho.
Pessoas: Deixei para trás algumas centenas de
presbiterianos com quem já tinha desenvolvido uma relação espiritual profunda.
Meses depois da minha conversão uma rapariga calvinista com quem tinha tido um
namoro sério – e com quem tinha querido casar – disse-me que se eu regressasse
ela concordava em casar comigo. Isso é que é guerra espiritual! Disse que não
(depois de algumas noites em branco!). Muitas das minhas outras relações não
românticas com ex-correligionários persistem, graças a Deus. Mas tristemente
essas relações estão agora incompletas, estamos agora separados pelo facto de
não podermos comungar dos elementos mais universais do Cristianismo Católico: A
Eucaristia e a união com o episcopado apostólico.
Estas feridas são verdadeiras e são a razão pela qual
escrevo estas linhas. Em breve estaremos a celebrar o Natal e já sei o que está
no topo da minha lista: a unidade de todos os cristãos, sobretudo estes meus
irmãos calvinistas. Quando entrei na Igreja Católica ganhei Cristo e tudo o que
Ele tão generosamente ofereceu ao seu corpo místico. Mas perdi a comunhão de
alguns dos meus melhores amigos, aqueles por quem rezo, para que um dia se
juntem a mim em Roma.
A sua separação (e a de todos os protestantes) é uma
verdadeira perda e deve encorajar-nos a todos a ajudá-los a descobrir não só a
verdadeira herança apostólica, mas também a fonte e o cume de tudo o que
anseiam: comunhão com Cristo na Eucaristia. É aí que encontraremos aquilo pelo
qual Ele rezou com tanto fervor em João 17: que sejamos um – uma boa coisa pela
qual rezar nesta época de Advento.
Casey Chalk é um autor que vive na Tailândia, onde edita
um site ecuménico chamado Called to Communion. Estuda teologia em Christendom
College, na Universidade de Notre Dame. Já escreveu sobre a comunidade de
requerentes de asilo paquistaneses em Banguecoque para outras publicações, como
a New Oxford
Review e a Ethika
Politika.
(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing no Sábado, 2 de Dezembro de 2017)
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