Randall Smith |
Se os estudos mostrassem que ler alto para os seus filhos
todas as noites é extraordinariamente benéfico para o seu futuro sucesso e
desenvolvimento (e mostram), não leria para os seus filhos? Ou se descobrisse
que o seu filho era diabético, deixava-o comer montes de açúcar? Amar os seus
filhos não tem a ver só com emoções fofinhas que sentimos quando olhamos para
eles, é um compromisso que assumimos de fazer o que for preciso para o seu bem,
mesmo quando é difícil.
Vejamos as coisas desta maneira: Se conhecesse uma mãe que
insistisse que amava muito os seus filhos, mas que depois não tinha paciência
para se levantar do sofá para lhes dar de comer, o que é que acharia? Até podia
ser amor no sentido de emoções, mas não no sentido de compromisso.
As crianças precisam de mais do que apenas comida, água e
roupa. Precisam tanto, se não mais, de cuidado e compromisso e um sentido de
pertença. Se um progenitor não estiver disposto a pôr de lado as suas
diferenças com o outro para dar estas coisas a um filho, o que devemos concluir?
Ninguém está a insinuar que esse tipo de reconciliação é
fácil. Mas por outro lado também não é fácil aturar o chefe todos os dias, nem
é fácil aturar o polícia que nos manda encostar por excesso de velocidade, mas
aturamos.
Agora, aqui está um homem ou uma mulher ao lado de quem
você se colocou, diante de toda a sua família e amigos, e jurou, diante de
Deus, amar, honrar e proteger até ao fim da vida e não é capaz de dizer uma
palavra simpática sobre ele ou ela, quando o que está em causa é o bem-estar dos
seus filhos?
Conheço pessoas que insistem que seriam capazes de
caminhar sobre brasas pelos seus filhos. Não sei como é que isso os poderia
ajudar, mas imaginemos que ajudava. O que é que se passou de tão grave que não
conseguem pôr o orgulho de lado para evitar infectar os seus filhos com ódio
por um dos seus pais?
Não ignoro nem desprezo o facto de que “surgem
problemas”. Os problemas surgem nos empregos. Surgem na escola. Surgem quando
tentamos reparar a canalização ou mudar uma vela do carro. Digam uma actividade
humana em que não surjam problemas? Os problemas surgem, é preciso lidar com
eles. O que eu estou a sugerir é que esses problemas podem ser resolvidos (ou
deveriam ser) se, como diz, ama verdadeiramente os seus filhos.
Há casos em que o pai ou a mãe dos seus filhos não é o
seu esposo ou esposa. Estas situações prestam-se de forma particular a
resultados trágicos. Já é difícil pôr de lado as diferenças e o orgulho quando
estamos a lidar com uma pessoa que conhecemos, respeitamos e a quem nos
comprometemos para a vida. Isso pode ser impossível quando se trata de alguém
que mal conhecemos. Mas é por essa razão que a Igreja sugere que as pessoas não
tenham relações sexuais com alguém a não ser que conheçam, respeitem e se tenham
comprometido com ela para a vida. Este conceito será assim tão ridículo quanto
a malta “fixe e sofisticada” faz crer?
Independentemente do que tais pessoas possam dizer, a
realidade da reprodução humana implica que você será o pai biológico daquela criança
para o resto da vida. Você e o seu parceiro criaram uma vida nova, algo
inteiramente novo, sem precedentes e irrepetível no universo.
Criar uma vida nova é provavelmente a coisa mais
fantástica que dois seres humanos podem fazer. Consegue pensar numa melhor? Uma
grande tacada de golfe? Ganhar muito dinheiro a trabalhar para uma grande
empresa? Marcar um grande golo? Nenhuma destas coisas é má, mas não se
aproximam da criação de um novo ser humano.
O Dr. Frankenstein ficou famoso por dizer “Consegui!
Arranjei um emprego bem pago na Google”? Ou “Afasta-te Igor, esta tacada vai
espantar o mundo!”? Há sempre outro emprego melhor e uma tacada ainda mais
incrível. Mas nunca, nunca haverá outra criança, com capacidades infinitas e
que seja precisamente uma “imagem de Deus” como aquela que foi produzida por si
e pelo seu esposo ou esposa.
Por isso não dê cabo de tudo, transformando o que devia
ser o maior milagre que dois seres humanos podem alcançar juntos na pior
tragédia da sua vida. Guarde as relações sexuais para alguém com quem se
comprometeu a amar e servir para o resto da sua vida.
Se cometeu um erro e está a fazer o melhor que pode dessa
situação, então que Deus o abençoe. Ele não o abandonará nem a si nem aos seus
filhos. Não estou a escrever isto para condenar. Na minha experiência, estes
pais seriam os primeiros a alertar outras pessoas para não cometerem os mesmos
erros.
Para os restantes, por favor não se enganem a vós mesmos,
pensando que podem amar os vossos filhos e dispor simplesmente do seu pai ou da
sua mãe. As crianças não funcionam assim. Podemos desejar que sim, mas quantas
vezes é que a realidade se conforma aos nossos desejos?
Precisamente. As crianças também não.
Randall Smith é professor de teologia na Universidade de
St. Thomas, Houston.
©
2015 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os
direitos de reprodução contacte: info@frinstitute.org
The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As
opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o
consentimento de The Catholic Thing.
No comments:
Post a Comment