Anthony Esolen |
Tenho ouvido dizer que a Igreja tem de mudar se quer
continuar a ter relevância para os homens e as mulheres do nosso tempo. Claro
que o que isso quer dizer é que as pessoas querem um “vale tudo” ao nível da
sexualidade. É a única coisa que lhes preocupa. O que é que lhes interessa que
a Igreja mude ou não mude os seus ensinamentos, mesmo que o pudesse fazer? Não
os seguem de qualquer maneira.
Mas talvez estejam a ser demasiado cautelosos. Porquê
mudar a esposa quando se pode ir atrás do próprio Cristo? Porquê travestir a
noiva com lingerie Astarte’s Secret, quando podemos simplesmente colocar novas
palavras na boca do noivo, suscitar nele um novo interesse?
O Senhor diz que não vem para abolir a lei e os profetas,
mas para os cumprir. Ele é o verdadeiro e único agente da evolução
moral. Ele revela a verdade que estava escondida nas sombras, ou
encrustada nos costumes locais ou tribais. Ele é o fogo que refina,
transformando o minério em ouro. Os seus ensinamentos transformam o nosso pó em
infinito.
A lei permite-nos, por causa da dureza dos nossos
corações, amaldiçoar os nossos inimigos. Jesus diz: “Façam o bem a quem vos
persegue, porque assim serão como o vosso Pai Celeste, que envia as chuvas
sobre os justos e os injustos”.
A lei permite-nos, por causa da dureza dos nossos
corações, orgulharmo-nos pelas esmolas que damos, como os mais banais dos
pagãos. Jesus diz: “Não deixeis que a vossa mão esquerda saiba o que faz a mão
direita”.
A lei permite-nos, por causa da dureza dos nossos
corações, livrar-nos das nossas mulheres em certas situações: por serem chatas,
queimarem a sopa, e por aí fora. Jesus diz, “Não separe o homem o que Deus
uniu”.
Isto é desenvolvimento, evolução, consumação. É como a
diferença entre a fragilidade de uma árvore muito nova e a solidez do tronco de
um carvalho. É como a diferença entre o vocabulário hesitante de uma criança e
a eloquência de Cícero. Mais: é como as fracas e esporádicas visões do bem que
temos nesta vida, abrindo caminho para visões serenas do paraíso.
Contudo, nós não queremos este desenvolvimento, queremos
cobri-lo, vezes sem conta. Não queremos ser transformados do nada ao infinito, queremos
esconder-nos nos nossos casulos. Não queremos a casa do Pai, que tem muitas
moradas, queremos a barraca do mundo, com calendários bolorentos na parede. Não
queremos a Palavra, queremos a gaguez.
Queremos um Jesus que encaixe nisto tudo, um deus que
possamos arrumar definitivamente na caverna e, por isso, decidi fazer uma
tradução mais adequada das suas palavras:
“Ouvistes-me dizer, que o vosso ‘sim seja sim e o não
seja não’. Para quê? Olhem os torrões de terra, como se desfazem. As vossas
palavras não valem menos que eles? Contentem-se com talvez. Digam o que
quiserem, para tornar os vossos dias confortáveis, porque são poucos, e passarão.”
“Ouvistes-me dizer, quem não pegar na sua cruz e
seguir-me não é digno de mim. Mas para quê? A cruz de nada me valeu. Não tenho
baptismo de fogo com que purificar a terra. Não se preocupem. Tentem não fazer
sofrer os outros, mas ao mesmo tempo tentem não se expor demasiado ao
sofrimento.”
“Bem-aventurados os que têm recursos financeiros, pois
deles serão as boas escolas e os subúrbios.”
“Bem-aventurados os que se riem, pois não precisam de se
preocupar.”
“Bem-aventurados os que acreditam neles mesmos, pois
povoarão a terra.”
“Bem-aventurados os que zombam dos justos, pois
serão menos que os hipócritas”.
“Bem-aventurados os indiferentes, pois serão deixados em
paz.”
"Sejam porreiros como eu e o Pai é somos porreiros" |
“Bem-aventurados os manhosos de coração, pois verão
pornografia.”
“Bem-aventurados os que fazem cedências, pois ganharão
eleições.”
“Bem-aventurados os que perseguem os justos, pois serão
chamados filhos de Deus.”
“Bem-aventurados os que usam o meu nome para fazer como
entenderem, para conquistar os aplausos dos homens enquanto oprimem os
ignorantes e os fiéis, pois deles serão as boas escolas e os subúrbios.”
“Vós sois o sal da terra. O sal nunca perde o sabor, por
isso não stressem.”
“Vós sois a luz do mundo. Se esconderem uma candeia
debaixo do alqueire, que diferença é que faz? Não se preocupem com isso.”
“Ouvistes-me dizer, não separe o homem, e essas coisas
todas. Esqueçam. Divorciem-se à vontade, mas tentem ser simpáticos e ajudem os
vossos filhos a aguentar.”
“Ouvistes-me dizer que não é o que entra no homem que o
torna impuro, mas o que sai do seu coração. Coisas como fornicação, adultério,
decepção, cobiça, homicídio e por aí fora. Mas não nos apressemos. Um homem
pode ser um fornicador e ainda assim ser um tipo porreiro. Um homem pode trair
a sua mulher, roubar o negócio do seu sócio, apunhalar o vizinho, expor
crianças a ordinarices, mentir sob juramento, mas isso não quer dizer que não
seja um gajo porreiro.”
“Sede porreiros, como o vosso deus imaginário é porreiro.”
“Quando rezardes, não sejais como os hipócritas, que vão
à missa para celebrar como eu ordenei. Retiro o que disse. Eis como deveis
rezar:
Nosso amigo que estais nos céus, dai-nos o que queremos e
o que não queremos, arruma para o lado. Ámen.
Pois o reino dos céus pode ser comparado a um homem que
fez uma festa para o seu filho e obrigou toda a gente a juntar-se a ele, quer
quisessem quer não. Agora desandem e deixem-me em paz.”
Anthony Esolen é tradutor, autor e professor no Providence College. Os seus mais recentes livros são: Reflections on the Christian Life: How Our Story Is God’s Story e Ten Ways to Destroy the Imagination of Your Child.
(Publicado pela primeira vez na Terça-feira, 26 de
Março de 2015 em The Catholic Thing)
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