Quantas pessoas vão
nesta peregrinação e quanto tempo dura?
Trata-se de uma peregrinação que eu considero um programa
longo, são duas semanas. Inclui a totalidade de Israel e também a Península do
Sinai, incluindo a subida ao Monte Sinai e a visita ao Convento de Santa
Catarina.
É uma peregrinação singular porque feita a partir da
Universidade Católica, mas também porque reúne dois grupos, um que vem
directamente de Macau, constituído por 17 pessoas, que vêm via Hong Kong, e um
grupo de Lisboa, incluindo pessoas ligadas à universidade, na sua maioria, e
outras menos próximas. As ligadas à universidade são essencialmente as que
frequentam os cursos que eu oriento, ou pessoas amigas. De Lisboa vão 16
pessoas.
É uma tradição a Universidade
Católica peregrinar à Terra Santa?
Eu já orientei outras iniciativas semelhantes a esta, a
partir da universidade. A primeira, propriamente, que remonta a uma relação com
a universidade foi em 1988, em que participou D. José Policarpo que nesse mesmo
ano tinha sido nomeado reitor. Várias vezes fiz peregrinações destas com grupos
de finalistas. Depois a tradição interrompeu-se e desde o meu regresso
desenvolvi mais neste sentido.
Da sua parte não será
a primeira vez. Que experiência tem da Terra Santa?
Estudei em Israel durante dois períodos de tempo que
perfazem cinco anos, quatro a fazer o meu doutoramento, de 1980 a inícios de
1985, depois mais tarde por alguns meses entre 2003 e 2004, em licença sabática
para preparar a minha agregação. Portanto posso dizer que conheço melhor Israel
que Portugal, pelo menos na sua diversidade geográfica, histórica, espiritual,
nos seus caminhos e itinerários. Para além disso dirigi já várias viagens. Uma
das que faço frequentemente é precisamente ao monte Sinai, ao qual espero subir
em breve pela 12ª vez.
Portanto vou lá num ritmo relativamente anual, às vezes com
duas ou mais visitas, se bem que desde que sou director da Faculdade de
Teologia tenho menos tempo. Para além disso tenho cartão de guia de peregrinações,
pelo que não só organizo e preparo os programas, como faço de guia na
totalidade da peregrinação, não só espiritual. Isso dá-me uma satisfação muito
grande porque acredito e sinto que uma peregrinação à Terra Santa é um
belíssimo instrumento de evangelização e de fazer uma nova catequese, que
contextualizada, localizada, quer histórica e geograficamente pode retirar-se e
colher-se mais benefícios espirituais, tanto em grupo como individualmente.
Para mim é um instrumento muito importante, que por outro
lado, como sou professor de Sagrada Escritura, me ajuda a actualizar e a passar
aos peregrinos aquilo que já escutaram e sentiram a partir do texto, ou no
estudo exegético e hermenêutico dos textos bíblicos.
É importante, a seu
ver, viajar com um guia, alguém que já conheça o local e as suas histórias?
Essa é uma questão muito importante. Em Israel há bons
guias, conheço alguns bons, excelentes, respeitadores, conhecedores da
realidade cristã e atenciosos. Não diria que todos, mas uma parte sim. O que é
importante quando se prepara uma viagem à Terra Santa, se se quer que seja
verdadeiramente uma peregrinação e os peregrinos colham os melhores frutos
dessa experiência e dêem por bem empregues os custos e os sacrifícios que fazem
para poder beneficiar desses momentos, creio que uma viagem dessas deve ser bem
preparada e deve ter alguém, se não o guia primeiro da peregrinação, pelo menos
um bom assistente espiritual.
O que sucede muitas vezes é que os programas são de descanso
disfarçado, são viagens quase iguais às outras, os grupos compram os programas
e não propõem os seus programas.
No meu guia da Terra Santa deixei algumas propostas de
programas que se podem fazer, para grupos, sacerdotes, orientadores de
peregrinações, com motivações, lugares, itinerários, percursos adequados, o que
permitirá aos grupos beneficiar mais. Portanto uma viagem à Terra Santa, para
ser uma peregrinação, tem de ter esta matriz, esta identidade específica. Caso
contrário não será uma peregrinação, chamem-lhe uma visita turística, um
percurso, um itinerário de matriz histórica, tudo isso tem o seu lugar, mas
acho que para uma identidade específica de um grupo em peregrinação, e para
poder beneficiar dessa riqueza, que pode proporcionar, tem de ser bem
acompanhada e bem organizada, não deixar que sejam as agências a fazer os
percursos, mas que cada guia, chefe ou responsável do grupo, saiba de facto ter
uma identidade específica para conferir a esse grupo.
Isso é uma tarefa muito importante e creio que com isso
todos beneficiam e as viagens podem tornar-se de facto um momento privilegiado
na vida de cada pessoa.
Durante a
peregrinação existe algum contacto com as comunidades cristãs locais?
Procuramos algum contacto. Não é fácil. Os contactos que
acima de tudo procuramos é sermos recebidos por alguém da Custódia da Terra
Santa, que nos apresenta as dinâmicas pastorais e motivações fundamentais que
presidem à espiritualidade da Terra Santa e à presença dos cristãos.
Os contactos com as comunidades, às vezes ocasionais, acontecem
com grupos que se cruzam connosco ou que celebram ou antecedem as nossas
celebrações. É difícil fazermos visitas porque as comunidades só se reúnem ao
domingo, Sábado ou sexta-feira, de acordo com as possibilidades que têm, e isso
é de facto muito difícil, porque os itinerários são marcados por um ritmo
acelerado. Para podermos fazer mais esse contacto com os santuários, as
experiências dos lugares, o percurso das estradas e dos itinerários bíblicos, o
nosso tempo é muito limitado. Mesmo com duas semanas, muito fica por fazer.
Para os cristãos não
há centros de peregrinação obrigatórias, como existe no Islão, por exemplo, mas
acha que todos os cristãos devem tentar ir à Terra Santa?
Eu diria que isso era um ideal, desde que fosse uma
experiência espiritual, não uma obrigação ou uma necessidade.
Um contacto com a Terra Santa pode ajudar os cristãos a
interiorizar, a percepcionar, a ter aquela experiência interior, de uma
dimensão mais contextualizada e mais vivenciada daquilo que é a realidade
bíblica, dos dinamismos da experiência e da teologia bíblica. Contextuar,
situar no espaço e no tempo, ter uma geografia bíblica da realidade da palavra
bíblica é uma experiência importante e um elemento importante.
Na minha experiência os inúmeros grupos que têm ido comigo,
muitos dizem que a partir da visita toda a riqueza da palavra tem um novo
sabor, um novo sentido.
No comments:
Post a Comment