(Este é o segundo
artigo de Austin Ruse sobre este tema. O primeiro encontra-se aqui e o segundo,
aqui)
Duas semanas antes de morrer, quando tinha 16 anos, Brendan
Kelly foi-se deitar com a ajuda de uma tia. Os tratamentos à base de
esteróides, usados para combater o desgaste causado pela quimioterapia, tinham
levado este rapaz, já por si grande, a pesar mais de 90 quilos. Portanto era
difícil pô-lo na cama, ainda mais por causa das feridas que lhe cobriam todo o
corpo.
Todo o seu corpo doía, excepto a cabeça. Por isso a sua tia
fez-lhe umas festinhas na fronte e ele disse: “Tia Kelly, estou tão feliz. Tudo
o que é preciso para se ser feliz é abrir o coração a Jesus”.
Uma psiquiatra que tinha sido contratada para o ajudar a
ultrapassar as principais dificuldades causadas pela leucemia acabou por não cobrar
a maioria das consultas. Depois de ele morrer ela disse que falar com Brendan
era como falar com Deus. Como é que se pode cobrar uma experiência dessas?
Disse também que a morte do rapaz tinha sido a experiência mais difícil da sua
vida.
O Brendan tinha uma capacidade sobrenatural de identificar a
dor dos outros e de a curar, como um cirurgião. A sua mãe era treinadora da
equipa de basebol das raparigas. Uma das miúdas na equipa vinha de uma família
disfuncional. Era má e pouco comunicativa. Mas o Brendan não lhe deu descanso,
sentava-se com ela, encostava a cabeça no seu ombro, falava com ela, tentava
fazê-la rir e falava-lhe de Jesus.
Durou
semanas. De início ela odiou. Eventualmente sorriu, depois riu-se e
eventualmente transformou-se numa pessoa inteiramente nova, que ainda hoje é.
Este género de coisas era uma constante na vida de Brendan.
O Brendan nasceu com trissomia 21. Aos quatro anos foi
diagnosticado com leucemia, um cancro com altos índices de remissão, mas cujo
tratamento é devastador. Inunda-se o corpo de quimioterapia e depois dá-se
doses cavalares de esteróides. Isto pode ser feito intervaladamente durante
meses e os efeitos são terríveis.
Após o diagnóstico a sua família candidatou-se à fundação
Make-a-Wish: Ele queria conhecer o Papa. De início a fundação não acreditou,
até então nenhuma outra criança tinha feito esse pedido. Por isso
encontraram-se com ele em privado. Ofereceram-lhe a Disney World, uma viagem de
submarino e encontros com estrelas de basebol. Queriam garantir que o encontro
com o Papa era o seu desejo e não o dos seus pais. Mas ele insistiu.
Em Setembro de 2001 a família juntou-se a outras em Castel
Gandolfo, para se encontrarem com João Paulo II. Quando o Papa entrou, em vez
de esperar pela sua vez, o Brendan correu de encontro a ele e deu-lhe o braço
enquanto ele cumprimentava todos os outros peregrinos. O Brendan não saía de lá
por nada, e o Papa estava encantado. Passou o tempo todo a olhar para ele e a
sorrir.
Quando o Papa começou a sair, aliás, quando já estava fora
da porta e a desaparecer de vista, o Brendan gritou: “Adeus Papa!”. João Paulo
Magno voltou atrás e a família tirou a fotografia que ilustra este artigo.
O Brendan era um místico. Conversava continuamente com Jesus
e com o seu anjo da guarda. Depois de se confessar, certa noite, fez uma
penitência que durou muito tempo. Lá fora o seu pai perguntou-lhe o que tinha
demorado tanto. O Brendan respondeu que tinha estado a falar com Jesus. “No
sacrário?”, perguntou o seu pai. “Não, na luz por cima do sacrário”, respondeu.
Segundo o pároco, padre Drummond, não havia uma única luz acesa na Igreja.
O Brendan não passava por uma Igreja sem soprar um beijo e
gritar, “Olá Jesus”. Esta reacção era para ele tão natural que um padre do Opus
Dei ainda a usa como exemplo de um estado avançado de vida interior.
Estava tão apaixonado pela Eucaristia que depois da
quimioterapia, quando ele tinha de estar em isolamento porque o seu sistema
imunitário estava de rastos, a família ficava à porta da Igreja, dentro do carro.
Quando chegava altura da comunhão o padre Drummond descia do altar, saía da
Igreja e dava a Brendan o Santíssimo Sacramento através da janela.
A leucemia perseguiu-o durante a sua vida quase toda. Foi
diagnosticado aos quatro anos e foi submetido a um tratamento de dois anos e
meio. Regressou aos 10 anos e foram mais dois anos de tratamento. Aos 14 voltou
de novo e fez um transplante de medula.
Oferecia o seu sofrimento pelos outros. Entre as suas
intenções especiais estava a Bella Santorum [filha do político Rick Santorum],
que devia ter morrido à nascença devido às suas malformações. Quando estava a
sofrer de forma particularmente dura o Brendan gritava: “Amo-te Bella”. A Bella
ainda vive.
Há muitas histórias fantásticas sobre Brendan Kelly. Certo
dia o seu pai recebeu um e-mail urgente de um colega que tinha acabado de ser
feito refém por terroristas em Bombaím e pedia as orações de Brendan. O Brendan
fê-lo e disse que o homem seria salvo. O facto de ele ter sido salvo nessa
mesma noite é menos interessante do que, num momento de absoluto terror, ele
tenha solicitado a intercessão de um rapaz com síndrome de Down e leucemia.
O Brendan era um rapaz normal. Adorava desporto e filmes e
tinha um sentido de humor infantil. Não queria estar doente, nem morrer, e
perguntava porque é que Deus atendia todas as orações que ele fazia por outros,
mas não por ele mesmo. Por vezes sofria de ansiedade e até depressão. O padre Drummond
diz que até isto o Brendan estava disposto a carregar como a sua cruz.
Quando o padre Drummond lhe perguntou se queria ser acólito
ele respondeu imediatamente que sim. Quando lhe disseram que teria de usar uma
batina e uma sobrepeliz ficou com um olhar distante e sussurrou: “adoro-os”.
Brendan Kelly foi sepultado há um mês com a sua batina e a
sobrepeliz. Brendan Kelly, rogai por nós.
Austin Ruse é presidente do Catholic Family & Human
Rights Institute (C-FAM), sedeado em Nova Iorque e em Washington D.C., uma
instituição de pesquisa que se concentra unicamente nas políticas sociais
internacionais. As opiniões aqui expressas são apenas as dele e não reflectem
necessariamente as políticas ou as posições da C-FAM.
(Publicado pela primeira vez na Sexta-feira, 14 de Junho
2013 em The
Catholic Thing)
©
2013 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os
direitos de reprodução contacte: info@frinstitute.org
The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.
The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.
No comments:
Post a Comment