Wednesday, 5 June 2013

As Pequenas Almas Sofredoras, 2ª parte: Margaret Leo de McLean

(Este é o segundo artigo de Austin Ruse sobre este tema. O primeiro encontra-se aqui)

Porque é que um juiz do Supremo Tribunal tem em cima da sua secretária dois desenhos feitos por uma menina que morreu há seis anos? E porque é que o director de um influente “think tank” em Washington D.C. rezou por intercessão da mesma rapariga para salvar o seu pai de um tumor cerebral? E que dizer do importante pensador de Washington que lhe reserva uma devoção particular?

Margaret Leo sofria de uma grave deficiência provocada por espinha bífida, que a deixou paralisada da cintura para baixo. Partes do seu cerebelo e tronco cerebral estavam pressionados contra a abertura da sua coluna. Tinha um tubo no cérebro, que lhe causava muitas dores, para garantir a circulação do líquido cefalorraquiano, sem o qual a sua cabeça incharia, causando-lhe a morte. Barras de titânio foram inseridas para lhe endireitar a coluna, mas acabaram por dobrar-se. Com o passar do tempo uma dessas barras começou a tentar irromper através do seu pescoço.

Vomitava regularmente e não controlava nem a bexiga nem os intestinos. A boca era tão sensível que apenas conseguia comer alimentos moles, como massa.

Mas havia algo que atraía a ela, que era desprovida de poder, tanto os poderosos como as pessoas comuns.

A amizade alegre era o seu dom especial. Interrogava incansavelmente quem lhe aparecesse pela frente no elevador, sempre com um firme e grande sorriso: “Como é que te chamas?” “Para onde vais?”, “Quando é que fazes anos?”. Era notório que estava mesmo interessada em saber. Não era uma rapariga de artifícios. Isso é algo que até atrai juízes do supremo tribunal.

Mas o que essas pessoas não sabiam, porque ela nunca falava nisso, nem mesmo à sua família, era que provavelmente estava a sofrer dores inimagináveis. Pensem numa barra de titânio a ser dobrada pela vossa coluna e prestes a irromper pela pele do pescoço; ou um tubo dentro do cérebro.

Não era propriamente uma “atleta espiritual”. A sua fé era muito infantil. Toda a vida rezou em voz alta a simples oração que a sua mãe lhe tinha ensinado em criança: “Jesus, obrigado por teres vindo a mim na Eucaristia”.

Adorava padres. Aos três anos perseguiu o bispo no fim da missa, gritando: “Papa. Papa. Papa”. Insistia em entrar na sacristia depois da missa para falar com os padres. Sabia sempre quem era o santo do dia. Durante dois felizes anos preparou-se para o Crisma, que recebeu apenas alguns meses antes de morrer.

Na manhã do dia 5 de Julho de 2007 o seu pai reparou que estava com dificuldades a respirar. Ela disse que estava bem, mas ele chamou a ambulância de qualquer maneira. Morreu a caminho do hospital – o tubo no cérebro tinha falhado.

As cerimónias fúnebres desta rapariga de 14 anos estavam repletas de pessoas e rapidamente começaram a circular histórias sobre ela. Homens adultos manifestaram-se profundamente comovidos, alguns ainda levam consigo a sua pagela.

Depois começaram a ocorrer coisas… alguns chamam-lhes milagres.

Primeiro começaram a surgir medalhas do Sagrado Coração nos lugares mais insuspeitos – numa taça de rebuçados de um hotel em São Francisco, debaixo de uma máquina de lavar numa casa de férias, no assento de um lugar de avião.
 
Margaret Leo
Depois, seis semanas após a sua morte, uma ambulância conduziu William Shaunessy (nome falso) à urgência do hospital. Estava a ter convulsões. Um raio-X revelou um tumor enorme no cérebro. Entrou em coma e os médicos temiam a existência de cancro. A sua mulher preparou-se para a sua morte.

Meses antes Shaunessy tinha ido ver um jogo de basebol do seu neto. Leonard Leo, vice-presidente executivo da Federalist Society e um dos conservadores mais influentes da capital, também lá estava.

Shaunessy falou longamente com Margaret, a menina de cadeira de rodas que era filha de Leonard e Sally Leo. A sua simpatia, a sua profunda atenção e a sua “santidade”, como mais tarde ela a descreveu, tocaram-no profundamente. Quando soube da sua morte comentou: “Está certamente no Céu”.

Quando Shaunessy estava às portas da morte, nesse dia 26 de Agosto, a sua família orou por intercessão de Margaret Leo. Acontece que esse era o dia de anos de Margaret. Dentro de poucos dias o “grande tumor” no seu cérebro estava reduzido a uma pequena mancha de sangue seco. Os médicos não o sabem explicar.

O terceiro milagre envolve o seu irmão mais novo, Francis, que foi concebido pouco depois de ela ter morrido. Para choque da família o nascituro foi diagnosticado com precisamente a mesma maleita de que Margaret tinha sofrido, espinha bífida, algo que raramente surge na mesma família duas vezes.

Sally Leo rezou por intercessão de Margaret, pedindo apenas que o rapaz não precisasse de colocar um tubo no cérebro, precisamente a coisa que tinha feito sofrer tanto Margaret e eventualmente levado à sua morte. Mas aconteceu que ele veio mesmo a precisar de um. Dentro de um ano chegou o pesadelo. O tubo falhou e a cabeça de Francis começou a inchar perigosamente.

Antes de a cirurgia começar o inchaço diminuiu. Como precaução os médicos deixaram o tubo lá dentro, caso voltasse a ser preciso. Cinco anos depois continua lá, inutilizado.

Porque é que o juiz Clarence Thomas mantém uma foto dela em cima da sua secretária? E como é que ela comoveu tantos outros? Porque carregou a sua imensa cruz com uma alegria infecciosa, sim, mas também porque se interessava genuinamente por todos aqueles com quem se encontrava, desde o poderoso ao desconhecido.

Em casa dos Leo há uma fotografia de Margaret a conversar com Virginia, a mulher de Thomas, num evento em Washington, o tipo de evento onde ninguém se olha nos olhos, estando sempre à procura de alguém mais importante com quem ir falar.

Aquilo que se nota na foto é o aspecto central da vida de Margaret. Ela está completamente absorvida pela Virginia. Para Margaret, naquele momento, não existia mais ninguém na sala e foi assim que ela viveu a sua vida. Esta menina, completamente desprovida de poder, possuía, afinal, o maior poder de todos: amor. Talvez o maior dom dela tenha sido a capacidade de ver Cristo em todas as pessoas com quem se cruzava. Não podemos deixar de pensar que agora é na cara de Cristo que as vê.

Margarte Leo de McLean, rogai por nós.


Austin Ruse é presidente do Catholic Family & Human Rights Institute (C-FAM), sedeado em Nova Iorque e em Washington D.C., uma instituição de pesquisa que se concentra unicamente nas políticas sociais internacionais. As opiniões aqui expressas são apenas as dele e não reflectem necessariamente as políticas ou as posições da C-FAM.

(Publicado pela primeira vez na Sexta-feira, 31 de Maio 2013 em The Catholic Thing)


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